Nós e a terrinha

Por Rodrigo da Costa Dominguez*

“Qualquer semelhança é mera coincidência”, assim já diziam os créditos do final das nossas telenovelas e o jargão popular. No entanto, a convocação da Seleção Brasileira que vai disputar o mundial da África do Sul é de uma temeridade sem tamanhos. Talvez mais do que as pessoas percebam. E também de muitas semelhanças com os nossos descobridores.

Aqui deste lado do oceano, a nossa seleção “irmã” também vem sendo questionada pelos torcedores de uma maneira geral. O treinador de Portugal, Carlos Queiroz, tem sido bastante combatido pela crônica esportiva local, em razão do que o meu professor e orientador de trabalho classifica de triunfo do futebol “cobarde” (não é erro de escrita, mas sim a pronúncia do português nortenho, que troca os “vês” pelos “bês”).

Curiosamente, o meu professor também vê uma chance de sucesso já que a espinha dorsal é “brasileira” e boa: Pepe, que conseguiu recuperar-se à tempo e, salvo algum percalço na preparação final, deverá ir sem problemas; Deco, o protagonista do meio-campo português, e Liedson, em boa fase no Sporting. Agora, as semelhanças. A pendenga já começa pelos “guarda-redes” (os goleiros deles). Convoca-se Daniel Fernandes, que joga no futebol grego e mantém-se apagado, sem uma boa sequência de jogos, e deixa Quim, do Benfica, campeão Português, de fora. E nós, vamos juntos. Doni? Onde? Por quê? É a Coerência, segundo Dunga.

Na zaga, parece que vamos melhor do que eles. Não temos grandes polêmicas em relação aos nossos defensores, salvo seja em relação à esquerda – com Gilberto e Michel Bastos –, ao contrário dos lusitanos Ricardo Costa (ex-Porto, Wolfsburg e atualmente no Lille), assim como José Castro (ex-Acadêmica de Coimbra, atualmente no La Coruña), que foram lembrados pelo “teimador” Queiroz.

No meio campo, os grandes dramas em comum: a superpopulação de “trincos” (os volantes deles), além do que a imprensa portuguesa vêm chamando de Decodependência. De fato, é para trancar qualquer chance de jogo bem jogado ou mais vistoso. E nós, como diria o nosso grande técnico, vamos de Gilberto Silva, Josué, Kleberson, Felipe Melo, Ramires, Elano, Júlio Baptista. E viveremos a Kakádependência.

Na frente, os lusitanos levam o que tem de melhor atualmente, com a exceção de Danny (ex-Sporting, atualmente no Zenit São Petersburgo, da Rússia): Nani, em grande fase no Manchester United, Simão Sabrosa, Hugo Almeida, Liedson e a grande estrela da companhia, Cristiano Ronaldo. E nós, sem Adriano e Neymar, mas com Luis Fabiano, Nilmar, Robinho e Grafite. Um ataque sem nome e que, convenhamos, não intimida nem tampouco assusta os adversários. Muita preocupação defensiva e algum receio de cair fora ainda na primeira fase. É o que nos une neste momento. Que se tome muito cuidado, pois ainda podemos ver uma Costa do Marfim classificar-se em primeiro.

E viva a lusofutebolia, Ó pá!

*Rodrigo da Costa Dominguez é doutorando em História Medieval pela Universidade do Porto – Portugal.

S. Francisco luta para voltar ao futebol profissional

Do blog d’O Estado do Tapajós

O Projeto Sócio Torcedor, que será lançado neste sábado pela diretoria do São Francisco, é uma campanha que pretende arrecadar recursos para colocar o clube de volta ao futebol profissional. O Sócio Torcedor será executado através de doações feitas pelos torcedores ao clube, que terá em contrapartida a chance de concorrer a prêmios em dinheiro, além de outros benefícios que serão apresentados no decorrer do desenvolvimento do projeto.

Para a diretoria do São Francisco, o clube tem como seu maior patrocinador e colaborador o torcedor “franciscano”, pois o clube mais tradicional de Santarém foi reativado e está sendo preparado para assumir sua posição de destaque entre os melhores do Pará. Além dos torcedores, o Leão santareno conta hoje com o patrocínio de várias empresas locais.

A diretoria informa que, neste primeiro momento, os recursos levantados com o projeto e patrocinadores serão empregados no departamento de futebol, e que também está empenhada na recuperação patrimonial do clube. No domingo, a partir das 9h, no Signus Clube, a festa do Leão será para a nação franciscana, com feijoada, atrações musicais e o cadastramento de adesão dos novos sócios torcedores. (Com informações da assessoria de imprensa do SFFC)

Coluna: Confirmação de um talento

Passes espetaculares, leitura privilegiada do jogo, presença e liderança nas ações do time. Pois é, o Santos até perdeu no estádio Olímpico, mas um dia depois de ter sido solenemente esnobado na Seleção Brasil, Paulo Henrique Ganso mostrou a que veio.
Sempre elegante nas passadas, o jovem maestro santista deu passe perfeito para André no primeiro gol. Depois, descolou um lançamento inspirado para Robinho marcar o terceiro nos instantes finais. Incansável, ainda arranjou tempo para invadir a área com a bola dominada, driblando e quase arrancou o empate.
Em noite de vitória categórica do Grêmio, de virada, não deixa de ser uma proeza notável que Ganso tenha conseguido espaço para brilhar. Quem acompanha sua evolução no Santos percebe que, a cada jogo, seu futebol amadurece, torna-se mais generoso em relação à equipe. Não há mais lugar para firulas desnecessárias, nem toques de efeito inútil. O talento é posto a serviço da objetividade. Não existe nada mais moderno, nem de longe, no futebol brasileiro de hoje.
Quando a gente observa esses aspectos, enaltecendo virtudes de Ganso, fica sempre a um passo de ser associado a uma louvação xiita. Ou, ainda, como mais um desabafo em relação às escolhas de Dunga na Seleção. Não é o caso. Realmente, a forma atual de Ganso precisa ser ressaltada, por rara nos campos de futebol.
Existem pouquíssimos meias que jogam de cabeça em pé, aparecem com perigo nas ações ofensivas e ajudam a defender com eficiência. Depois da era dourada, que morreu ali pelos anos 80/90, dá para contar nos dedos os estilistas da meia-cancha, que trafegam com desembaraço e altivez naquele território entre as duas áreas.
Riquelme, Gherrard, Kaká, Lampard, Ronaldinho Gaúcho e Zidane (claro). Chegando agora, Ganso está quase habilitado a reivindicar o direito de entrar para essa seleta galeria. Falta bem pouco.      
 
 
Enquanto Ganso brilhou no Olímpico, Dorival Brito exibiu a habitual face botocuda dos técnicos brasileiros. Para segurar o resultado, lançou um volante aloprado, Rodrigo Mancha, que em apenas nove minutos contribuiu decisivamente para a reação gremista. Depois da lambança, o treinador substituiu Mancha, mas o prejuízo já era irreversível.
 
 
Do baluarte Cláudio Santos, técnico do Colúmbia (Val-de-Cans): “Penso que futebol é momento. Lógico que se não pode desfazer de uma base, criada ao longo desses quase quatro anos, mas Dunga poderia levar Ganso e Neymar em detrimento de, por exemplo, Michel Bastos e Josué. Aliás, por essa tal ‘coerência’ do Dunga, uma coisa é certa: ele nunca será capaz de descobrir um novo Pelé, pois como disse ‘se alguém descobrir um, é só me avisar’. Amigos, ele quer um Pelé pronto. Sabe como é, né? Descobrir um dá muito trabalho e talvez fuja de sua capacidade técnica”. 
 
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 13)