Bandeira brasileira com a expressão “Fora Bolsonaro”, exposta para venda por camelô na avenida Duque de Caxias, em Belém. Quando esse tipo de coisa ocorre é porque existe demanda pelos produtos.
Mês: fevereiro 2022
O Rio de todas as selvas
Em poucos lugares do mundo a cena de se encontrar um cadáver amarrado e espancado na escada de acesso a praia seria possível de acontecer
Por José Ricardo Bandeira
A morte do congolês Moise Kabamgabe covardemente amarrado e espancado até a morte na praia da barra da tijuca, zona nobre da cidade inaugura mais um capítulo desta interminável história sangrenta que é a segurança publica no Rio de janeiro.
Em poucos lugares do mundo a cena de se encontrar um cadáver amarrado e espancado na escada de acesso a praia seria possível de acontecer, talvez na República Democrática do Congo, país em eterna guerrilha (e que eu tive a oportunidade de visitar algumas vezes!) isso fosse uma probabilidade, e foi para fugir desta probabilidade que o inocente Moise resolveu se refugiar no brasil.
Infelizmente ao escolher o Rio de janeiro como seu último e fantasioso destino de vida, ele não pode ter acesso aos dados estatísticos e informações da segurança publica, e esses dados mostram que mais de 70% do território da cidade “quase maravilhosa” hoje é dominado por milicianos e traficantes.
Mas não pensem os desavisados que esses milicianos se limitam apenas as áreas que dominam, pois hoje grande parte dos quiosques das praias da barra da tijuca e recreio dos bandeirantes, já são explorados por esses milicianos que expandem os seus tentáculos criminosos através desses comércios passando uma falsa aparência de legalidade.
E ao amarrar e espancar covardemente uma pessoa eles apenas e tão somente reproduzem o modus operandi praticado nas áreas dominadas por traficantes e milicianos, trazendo para o asfalto e para a cara da sociedade o que era feito as escondidas nas miseráveis comunidades da cidade.
E como não poderia deixar de ser mais uma vez se vê o envolvimento do crime organizado com o poder publico, pois esses quiosques são concessões da prefeitura, e é muito normal durante uma simples caminhada pelo calçadão se deparar com viaturas da polícia militar estacionadas despretensiosamente a frente desses estabelecimentos, causando inclusive transtornos ao trânsito.
Mesmo acreditando naquele velho ditado que “O Rio de janeiro não é para amadores” o que se espera é que a morte deste simples homem que deveria ter sido amparado e protegido pelo país que ele escolheu para viver, possa servir de exemplo e início de uma ofensiva contra essas organizações criminosas, que agora demostram a crueldade e o terror fora das comunidades em que reinam impunemente.
Porém se nada for feito, a cidade do Rio estará fadada a se tornar domínio do crime organizado, onde os cidadãos de maior poder aquisitivo ficarão presos em seus luxuosos condomínios e o povo sem opção subordinado ao julgo das milícias e do crime organizado, e que no futuro certamente também irão se expandir para outros estados e cidades, como uma grande e bem-sucedida franquia do crime.
Prof. José Ricardo Bandeira – É Perito em Criminalística e Psicanálise Forense, Comentarista e Especialista em Segurança Pública, com mais de 1.000 participações para os maiores veículos de comunicação do Brasil e do Exterior. Presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina, Presidente do Conselho Nacional de Peritos Judiciais da República Federativa do Brasil, membro ativo da International Police Association e Presidente da Comissão de Segurança Pública da Associação Nacional de Imprensa.
O Brasil não é para amadores
POR GERSON NOGUEIRA

Quando a CBF instituiu um item no regulamento do Campeonato Brasileiro limitando as demissões de técnicos pelos clubes, muita gente teve dúvidas de que a regra fosse respeitada. Na verdade, chegou a ser cumprida parcialmente, mas permitiu gambiarras como declarações fajutas de técnicos demitidos alegando ter saído de “comum acordo”.
Surgiu, ainda, outra manobra para sabotar a norma imposta para garantir estabilidade aos técnicos. Na prática, auxiliares poderiam assumir o comando dos times, mas com um treinador profissional por trás. A lei estabelecia que não havia restrição se o técnico pedisse demissão ou se a rescisão fosse consensual.
Ontem, o Conselho Técnico dos clubes da Série A derrubou a restrição. Quem puxou a reação foi o presidente do Corinthians, Duílio Monteiro Alves. Alegou que a ideia não tinha efeito prático. Seria uma lei inócua, feita para inglês ver, segundo ele.
Por unanimidade, os clubes apoiaram a posição corintiana e foi aprovado o regulamento de 2022 já sem o limite de apenas uma troca de técnico, como vigorou na temporada 2021.
Algumas situações mostraram em 2021 que os clubes atropelavam a norma sem qualquer cerimônia. O Cruzeiro, por exemplo, demitiu Felipe Conceição e alegou que tudo tinha sido devidamente acordado. Voz solitária a denunciar o artifício, Felipe não recebeu a solidariedade dos colegas de ofício.
Na prática, o objetivo da restrição não foi atingido plenamente. As demissões diminuíram apenas 10% em relação a campeonatos anteriores. Os próprios técnicos não pareceram entusiasmados com a novidade, até porque muitos são favoráveis à liberdade de ir e vir nos clubes.
A instabilidade no emprego é danosa para todos, em qualquer área, mas é público e notório que a dança de cabeças nos clubes parece ter sido incorporada culturalmente às relações do futebol no Brasil. Tanto que raramente um técnico reclama de substituições inopinadas ou interrupção do trabalho após dois ou três meses no cargo.
Volta-se, então, ao ponto de partida, sem que nenhum clube seja obrigado a cumprir esse gatilho legal. Cai em desuso uma das poucas tentativas institucionais de regular e proteger os treinadores. A partir de agora, o “liberou geral” está valendo. E, pelo silêncio ruidoso, os próprios interessados não parecem estar muito preocupados.
O tédio como rotina e a burocracia como prática
A Seleção Brasileira fez anteontem mais um jogo em casa. E até cumpriu dignamente o seu papel. Meteu 4 a 0 no Paraguai para empolgação de quase ninguém, tirando o histriônico profissional Galvão Bueno. Há explicação para esse fastio que a torcida sente hoje. Começa que as Eliminatórias já são letra morta, pois a equipe de Tite se classificou com boa antecedência. Depois, há a tediosa forma de jogar que desestimula qualquer entusiasmo em relação ao escrete.
Além de a camisa verde-amarela ter sido apropriada por grupos e avacalhada por oportunistas, a Seleção pouco tem feito para honrar a tradição de um país que sempre se orgulhou de saber jogar bola.
Nas últimas décadas, essa imagem foi profundamente abalada pela frequência com que o Brasil se fez representar por times horrorosos em Copas do Mundo, sem qualquer vínculo com o talento de gênios como Pelé e Garrincha, ou mesmo de coadjuvantes fantásticos, como Jairzinho, Tostão, Rivellino, Gerson, Nilton, Amarildo, Zito e outros.
De 1994 a 2002 houve um curto período de retomada daquele Brasil bom de bola, com Romário, Bebeto, Ronaldo Nazário, Ronaldinho, Rivaldo, Kaká. Pena que passou muito rápido, e lá se vão duas décadas já.
Estive nas três Copas que traziam esperanças concretas de títulos – Alemanha/2006, África do Sul/2010 e Brasil/2014. As condições eram propícias, mas faltou talento e capacidade competitiva. Pior: sobrou desatenção e soberba, como na desgraça de BH em 2014.
Tite não é culpado pelo clima geral de certa implicância com a Seleção. Herda as mágoas acumuladas de outros carnavais. Acontece que sua única contribuição para isso foi decepcionante. A campanha de 2018 está na galeria daquelas participações opacas do Brasil em Copas, como ocorreu em 1974, 1978 e 1998.
Não há nada de memorável dessas Copas. A trajetória da Seleção desde então aponta para a repetição dos mesmos erros no Mundial do Catar. O que inclui um Neymar longe (outra vez) de sua melhor forma e vários coadjuvantes disciplinadamente empenhados em caprichar no padrão burocrático. Apesar de tudo, espero estar equivocado.
Um aniversário comemorado com paixão
Uma festa e tanto fez o PSC ontem para comemorar seu 108º aniversário de fundação. Além do treino aberto para a torcida, saudável prática que deveria ser mais frequente entre os clubes, o Marketing alviceleste foi extremamente eficiente em ocupar as redes sociais para carimbar a importância da data junto aos torcedores.
São datas que se tornam realmente marcantes pela importância que o clube dá a elas. Muitas agremiações deixam de lado essa memória afetiva, tratam até com desleixo, um erro que se revela danoso com o tempo. Aniversário, de gente ou instituição, é para ser festejado, de preferência com muito barulho e alegria.
Parabéns ao Papão pela data – e pela sensibilidade em jogar luzes sobre sua linda história centenária.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 03)
Urbanitários denunciam Equatorial Celpa ao MPT por descumprimento de portaria
Segundo denúncia do sindicato da categoria, empresa não respeita isolamento de trabalhadores infectados pela Covid-19 e deixa de abrir CAT para os doentes
Na sexta-feira, 28 de janeiro, o Sindicato dos Urbanitários do Pará oficializou denúncia contra a Equatorial Celpa junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e à Superintendência do Trabalho e Emprego (SRTE). A denúncia se refere ao descumprimento da Portaria Interministerial nº 14, do Ministério do Trabalho e Previdência e da Saúde, em 20/01/2022, que determina medidas para prevenção, controle e mitigação dos riscos de transmissão do coronavírus (Covid-19) em ambientes de trabalho.
Os urbanitários alegam que pessoas do corpo gerencial da empresa pressionam e constrangem os trabalhadores afetados pela Covid-19 a exercerem suas tarefas presencial ou remotamente, “o que é uma irresponsabilidade e um atentado contra a saúde do trabalhador de toda a coletividade, contribuindo assim para a maior disseminação do vírus”, critica o presidente do Sindicato dos Urbanitários do Pará, Pedro Blois.
Segundo o sindicato, a empresa também vem se esquivando da obrigatoriedade de emitir Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) aos infectados no ambiente de trabalho pela Covid-19. A entidade sindical vem se colocando à disposição dos trabalhadores para emitir este documento.
ABUSOS
A denúncia feita aos órgãos de fiscalização do trabalho aponta situações vivenciadas pelos trabalhadores, como a obrigatoriedade de retorno ao trabalho mesmo com exames positivos para a Covid; a pressão para trabalharem em home-office, mesmo estando de atestado médico; a ordem para omitirem que estão com Covid-19 e informarem aos colegas de trabalho que estão “apenas gripados”, e descreve ainda que pessoas do corpo gerencial mandam trabalhadores infectados assintomáticos, sem novo exame, retornarem à atividade presencial.
A denúncia do sindicato também expõe a situação da médica do trabalho ligar para os afastados e pressionar para que retornem ao trabalho, a partir de avaliação feita por telefone, sem novo exame. “Se a direção da Equatorial Celpa quer fazer crer que a empresa é um ‘lugar bom para trabalhar’ deve zelar pela saúde de cada um e de todos, agindo com responsabilidade e dentro da legalidade”, alerta o sindicalista.
“A Equatorial é uma empresa de grande porte, que diz que tem ‘foco em gente’, mas que deixa de cuidar da coisa mais valiosa que tem, seus empregados, que lutam no dia a dia para possibilitar lucros milionários. O lucro da Equatorial aqui no Pará foi de R$ 624 milhões em 2020 e R$ 800 milhões nos nove primeiros meses de 2021.Vamos continuar a recolher denúncias e levar aos órgãos de fiscalização. Atitudes precisam ser tomadas para a preservação da vida dos trabalhadores e de suas famílias”, conclui Pedro Blois.
Rock na madrugada – Johnny Cash, “Solitary Man”
Bastidores do rock
Mick Jagger e John Lennon. Londres, 1967.
Bastidores do rock
Tom Petty e The Heartbreakers fazendo uma reverência especial ao público depois da sensacional apresentação no intervalo do SuperBowl XLII, em 2008.
A frase do dia
Pandemia de bilionários e miseráveis

Por Maria Regina Paiva Duarte
Desde o início da pandemia surge um novo bilionário a cada 26 horas, enquanto 160 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza. São informações do relatório da Oxfam “A Desigualdade Mata”, divulgado em 16 de janeiro, onde se constata que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Os 10 homens mais ricos do mundo dobraram suas fortunas na pandemia enquanto a renda de 99% da humanidade caiu, mostra o estudo.
Estimam que as desigualdades são responsáveis pela morte de uma pessoa a cada quatro segundos no mundo. São, pelo menos, 21.300 vidas perdidas diariamente pela fome, falta de acesso à saúde pública, violência de gênero e crise climática.
São dados alarmantes que se confirmam no Brasil: o número de bilionários e suas riquezas aumentou desde a chegada do coronavírus. Vinte ricaços têm mais riqueza (US$ 121 bilhões) do que 60% da população, o que corresponde a 128 milhões de brasileiros.
Reportagem da BBC News Brasil divulgou exemplos desse abismo: o automóvel Porsche, que chega a custar R$ 1,5 milhão, bateu recorde de vendas em 2020 e 2021. A espera para comprar helicópteros chega a 20 meses, sendo que pode custar até R$ 50 milhões. O mercado imobiliário de luxo cresce 81% em lançamentos e o investimento financeiro brasileiro no exterior é recorde. Outro dado da matéria aponta que 2% da população responde por 20% de todo o consumo no país, genericamente falando.
Mas esses artigos de luxo são comprados pelos donos de grandes fortunas que estão na faixa de 0,5% da população, até mesmo nos 0,1% de pessoas que acumulam muita renda e riqueza.
De outro lado, as famílias penam com os preços dos alimentos, energia elétrica, gás de cozinha, gasolina e óleo diesel, que repercutem em todos os demais preços. A inflação está subindo, corroendo salários, e a política de elevação da taxa de juros em nada contribui para a melhora da economia. Ao contrário, afunda o país na crise, empurrando pessoas para a informalidade, para a fome e para a miséria.
Para que essa concentração de renda e riqueza seja freada e haja redistribuição, a tributação dos super-ricos é fundamental, comprovam vários estudos.
Alterar o perfil regressivo do sistema tributário nacional, incrementar a progressividade e elevar sua incidência nos mais ricos é onde estão as possibilidades para elevar a capacidade redistributiva do Estado brasileiro, mostra o Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (FEA/USP) intitulado “Previdência e assistências sociais, auxílios laborais e tributos: características redistributivas do Estado brasileiro no século XXI”, divulgado em 26 de janeiro. Assim, o Estado tem melhores condições para reduzir desigualdade e garantir direitos.
Em fevereiro de 2021, estudo divulgado pelo mesmo Centro de Pesquisa demonstrou que a cada R$ 100,00 transferidos do 1% mais rico para os 30% mais pobres é gerada uma expansão de R$ 106,70 na economia. Também afirmou que uma política de proteção social financiada a partir de tributos sobre o 1% mais rico transfere R$ 125,00 para os 30% mais pobres, elevando multiplicador da economia e gerando um impacto positivo de 2,4% no Produto Interno Bruto (PIB).
Fora as normas tributárias distorcidas historicamente, as políticas econômicas favorecem os mais ricos e não revertem a situação desigual de renda, classe, raça e gênero que já assolava o país há muito tempo e foi agravada na pandemia.
A maioria da população tem renda muito baixa, ganha pouco e é quem, proporcionalmente, mais paga imposto. E a razão para isso é que as classes mais ricas são subtributadas ou pagam zero de impostos, são isentas.
Entramos no terceiro ano de pandemia sem que a crise sanitária e econômica, sem precedentes, tenha terminado. As políticas de auxílio emergencial são importantes, mas insuficientes em meio a um situação pandêmica que ainda não acabou e mostrou que a atuação do Estado é fundamental.
Toda essa desigualdade não é aleatória e tampouco definitiva. Propostas e projetos de lei já existem para cobrar mais de quem ganha mais. Mas exige ação! Está em andamento, com o engajamento de mais de 70 entidades, a campanha “Tributar os Supre-Ricos”, cujas propostas no Congresso Nacional, se aprovadas, podem arrecadar aproximadamente R$ 300 bilhões ao ano.
Parte delas já tramita no Congresso Nacional, desde setembro de 2021. Em parceria com a Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid-19 – Vida e Justiça, com apoio de 60 parlamentares de quatro partidos, as propostas agora podem ser apreciadas e votadas.
As políticas econômicas são fortemente influenciadas pelos que concentram renda, riqueza e, consequentemente, poder. Portanto, dificilmente a situação de desigualdade será revertida sem forte pressão popular, das entidades, associações, sindicatos, movimentos sociais.
A tributação dos super-ricos deve ser prioridade para enfrentar a desigualdade, o principal problema brasileiro. Deve fazer parte de um projeto de país, servindo como instrumento potente e eficaz de redistribuição.
As eleições são uma oportunidade para impulsionar o debate sobre esse tema crucial. Cada um pode se contribuir com essa mudança condicionando seu voto a quem defende a redução da igualdade com justiça fiscal.
O Relatório da Oxfam traz mais um dado alarmante: se um imposto único de 99% sobre os ganhos obtidos pelos 10 maiores bilionários durante a pandemia poderia pagar vacinas suficientes para a população do mundo. E certamente seguiriam sendo bilionários!
Se as vacinas fossem distribuídas a todos os países, não teríamos,muito provavelmente, o efeito da Ômicron e outras variantes e a maioria estaria imunizada e mais vidas seriam salvas. A desigualdade mata, como afirma a Oxfam. Para minorar o genocídio gerado pela desigualdade, é fundamental tributar os super-ricos.
(*) Maria Regina Paiva Duarte – presidenta do Instituto Justiça Fiscal e integrante da coordenação da campanha Tributar os Super-Ricos
O que se passa com o Remo?
POR GERSON NOGUEIRA

Quem assistiu o jogo Paragominas x Remo, domingo à tarde, viu um dos piores jogos do time azulino desde aquele Remo x Vitória pela Série B do ano passado. Os jogadores eram diferentes, mas o time foi tão improdutivo quanto. Não havia vida inteligente, prevaleciam os chutões e nenhum plano bem definido de propor o jogo.
Futebol, como se sabe, desde os tempos de Gentil Cardoso, é um esporte dominado pela troca de passes, ocupação de espaços, aceleração de jogadas e aprofundamento em direção à área adversária. Quem não consegue fazer esses movimentos está naturalmente fadado ao fracasso.
As críticas feitas à atuação de domingo foram um pouco exageradas, pois não levam em conta o pouco tempo que o técnico Paulo Bonamigo teve para organizar a equipe e definir um esquema de jogo. Ocorre que clubes de massa sofrem a pressão natural de torcidas exigentes – e impacientes.
No caso do Remo, a cobrança se acentua pela decepção com o rebaixamento à Série C com requintes de tortura ao torcedor. Ao contrário do Brasil de Pelotas, rebaixado desde o começo do returno da Série B, o Remo foi caindo aos poucos, mas sempre alimentando a esperança de que iria se salvar nas rodadas finais. Teve chance até o último jogo, e fracassou.
Bonamigo herda, ainda, a frustração com a perda do Parazão 2021, quando o Remo era favorito absoluto. Tinha o melhor e mais caro elenco, foi ganhando todos os jogos e acabou sendo eliminado (invicto) em atuação descuidada (e desplugada) diante da Tuna.
Tudo isso compõe o caldo de insatisfações acumuladas pelo torcedor. Para piorar, os dois jogos iniciais no campeonato reforçaram a impressão de que o time é tecnicamente limitado. E é. Nada tão inferior aos demais participantes, mas alguns furos abaixo do principal rival.
A comparação de desempenho expõe a diferença. Enquanto o Remo fez um gol em dois jogos, o PSC marcou seis nas duas rodadas, incluindo o clássico com a Tuna.
A falta de repertório pode ser corrigida. Há tempo ainda para isso, mas a dúvida é se Bonamigo dispõe das peças necessárias para fazer com que o meio-campo funcione. Anderson Uchoa (foto), remanescente de 2021, deveria ser o motor do time, mas se perdeu em meio às deficiências do setor, aí incluídos seus companheiros mais próximos, Pingo e Erick.
O meio tem que ditar a temperatura e a intensidade. É assim desde que a bola foi inventada. Os times usam linhas e desenhos diferentes para chegar ao campo inimigo. Para isso, precisam de recursos (dribles, passes, lançamentos) e velocidade. É a isso que hoje chamamos de transição.
Ocorre que o Remo não avança porque não cria as condições para isso. Só chega ao ataque à base de bolas longas e mal endereçadas. Quando tenta trocar passes acaba parando no bloqueio porque não há qualidade para transpor as linhas de marcação. Desse jeito, mesmo com três atacantes – Bruno Alves, Brenner e Ronald –, o ataque fica anêmico e inofensivo.
A solução só virá com a constatação de que a fórmula está errada. As decisões de Bonamigo e o desempenho dos jogadores nos próximos jogos irão dizer se os problemas estão sendo encarados de frente.
As idas e vindas de Fazendinha
O PSC confirmou a rescisão contratual com o meia Willian Fazendinha, que retorna ao Castanhal, de onde jamais deveria ter saído. Após uma passagem apagada em 2021, vindo de boa campanha no Castanhal, ele não conseguiu abrir espaço no novo elenco formado por Márcio Fernandes.
Atuou apenas oito vezes com a camisa alviceleste, sem marcar presença. Para surpresa geral, chegou a renovar com o Papão para esta temporada, mas foi ficando de lado já na pré-temporada. Não jogou na estreia diante do Bragantino e nem foi relacionado para o clássico com a Tuna.
Meia habilidoso, Fazendinha era protagonista no Castanhal desde 2020. Sua performance mais lembrada é a do ano passado, quando atuou em 25 partidas e marcou quatro gols. Voltar ao Japiim é a decisão mais sábia.
Projeto abre vagas para futebol feminino
A Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Seel) abriu o período de matrículas para a turma de futebol feminino do projeto Gol do Brasil. A iniciativa da CBF atenderá garotas com idades entre 6 e 17 anos. As vagas são limitadas (44) e as matrículas podem ser feitas às segundas e quartas-feiras, das 9h às 15h, na sede da Seel, em Belém.
Os exageros que pautam a mídia delirante
Misto de preguiça e tédio, vejo e ouço a uma distância segura um daqueles programas de TV dedicados a incensar jogadores e clubes do futebol paulista 24 horas por dia. O apresentador, fingindo entusiasmo delirante, apresenta “o principal nome do futebol brasileiro hoje, recém chegado de uma década brilhando na Europa”. A curiosidade aperta, me aproximo então para descobrir quem é o dito cujo.
Ninguém menos que Willian, figura apagada em duas Copas do Mundo ocupando lugar de jogadores melhores que Tite não consegue ver. É daquele mesmo grupinho de “bonzinhos” a que o treinador está preso desde 2018 – Gabriel Jesus, Fernandinho, Fred & cia.
Os adjetivos generosos têm uma explicação: Willian foi revelado pelo bem-amado Corinthians e voltou a Itaquera. A realidade é que o mercado europeu exclui quem já não rende mais.
Sem espaço na Europa, os veteranos voltam ao Brasil pela chance de faturar um pouco mais nos últimos contratos da carreira, beneficiando-se do baixo nível do futebol praticado aqui. David Luiz, Rafinha, Diego Costa, Filipe Luís, Douglas Costa, Renato Augusto, a lista é grande.
Enxergar patriotismo ou amor à camisa é apenas devaneio paulistano.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 02)
Rock na madrugada – The Smiths, “Barbarism Begins at Home”
Barbárie: foi nisso que deu o nazifascismo bolsonarista
Por Homero Gottardello, em Jornalistas Livres
O episódio animalesco, hediondo e desumano, em que o congolês Moïse Kabamgabe foi bárbara e covardemente assassinado em um quiosque na Barra da Tijuca, no Rio, ao que tudo indica um “empreendimento praiano” da milícia carioca, não chama atenção só pela monstruosidade das agressões que culminaram na morte do imigrante, mas, principalmente, pelo que estar por vir. A não ser que o Brasil tenha mudado da água para o vinho, nas últimas 72 horas, o mais provável é que não aconteça absolutamente nada e que apenas os miseráveis envolvidos neste lamentável incidente sejam responsabilizados.
O dono do “Tropicália”, Luciano Martins de Souza, apareceu espontaneamente – até porque, até a tarde desta terça-feira, não havia sido sequer intimado pela Polícia Civil –, dizendo que estava em casa, que não dá notícia de nada e que era um funcionário quem tomava conta do negócio. Ou seja, se exime de culpa até porque, se for realmente verdade o que diz, não há como imputar a ele um crime que, efetivamente, não cometeu.
Mas a blindagem de seu nome pelas autoridades e, principalmente, pela mídia hegemônica, chama muita atenção – todo mundo que já avançou um sinal ou parou por 15 segundos em faixa dupla sabe da eficiência do Poder Público para fazer a multa chegar, direitinho, no seu endereço. Dois facínoras assumiram suas participações naquilo que foi, pelas características da execução, um linchamento. São eles os marginais – por óbvio, já que agem à margem da lei – Fábio Silva e Alisson Oliveira. Um terceiro bandido, que também já está preso, não teve sua identidade revelada pela polícia – por que, ninguém sabe, já que trata-se de pessoa perigosíssima que deve ser evitada por quem não quer morrer espancado.
Mas de volta ao assassinato de Moïse Kabamgabe, só mesmo os mais ingênuos, os mais inocentes podem crer que, em uma cidade onde o fuzilamento de uma vereadora não dá em nada, o linchamento de um sujeito de quem ninguém consegue nem pronunciar o nome, corretamente, vai criar um novo paradigma no Direito Penal brasileiro. Infelizmente, o congolês vai entrar para a estatística nacional da desumanidade tão logo o Neymar Jr. sofra uma falta e saia rolando pelo gramado. Simples assim: a ignorância virginal vai sintonizar no Big Brother Brasil e não se fala mais nisso. E não se assustem se, dentro de nossas próprias casas, aquele parente bolsonarista que anda acanhado solte algo do tipo: “Também, quem mandou esse crioulo vir se refugiar por aqui?”. Na minha própria família, dou isso como certo.
A verdade é o “bolsonarismo”, o “olavismo”, o terraplanismo e o “frotismo” – corrente imbeciloide do ex-general golpista Sílvio Frota, do final da década de 70, da qual o “generinho” Heleno é defensor, até hoje – transformaram o Brasil numa pocilga, converteram os brasileiros no povo mais vil de que se tem notícia, desde os primeiros assentamentos na Mesopotâmia, transmutaram uma nação que avançava, industrialmente, em um fazendão periférico. E como se isso não fosse o bastante, a desgraça se abateu sobre nós ao abrigo de brados do tipo “Deus no comando” e “em nome de Jesus”. Hoje, qualquer estudante do liceu francês, do primário alemão, dos educandários portugueses aos chineses sabem que o Brasil é um monturo, uma esterqueira, um chiqueiro, uma lixeira.
Há menos de uma semana, a consultoria especializada IDados divulgou o dado estarrecedor de que, só no Rio, 982 mil jovens não estudam e nem trabalham. Ou seja, os “nem-nem” como são chamados já representam uma parcela expressiva, de mais de 10% da juventude brasileira – ao todo, 12,3 milhões de jovens não têm formação e nem ocupação, no país. Estamos na contramão do mundo e a banalização da violência, em todas as suas acepções, é um indicativo claríssimo do abismo em que estamos mergulhando. Não é à toa que até mesmo no que resta da indústria nacional, há preferência por trabalhadores asiáticos, operários chineses. A indigência intelectual do brasileiro é tamanha que não servimos mais nem para o chão de fábrica. A continuarmos nesta toada, em breve, não serviremos nem para limpar latrinas – e isso não é força de expressão.
Desde 2006, guerras civis congolesas protagonizadas por milícias e exércitos regulares, inclusive de países vizinhos, deixaram o triste saldo de seis milhões de mortos e desaparecidos. De acordo com familiares, foi justamente dessa violência que Moïse Kabamgabe fugiu, quando decidiu se refugiar no Brasil. O jovem africano, de 24 anos, não podia imaginar, nem no seu pior pesadelo, que seria morto aqui de forma tão brutal, de uma maneira tão violenta quanto as que os telejornais internacionais cansaram de mostrar, principalmente na República Democrática do Congo. A diferença é que, lá, a selvageria, as atrocidades, a bestialidade se opera em combate, em meio à conflagração. Mas aqui não precisamos disso para massacrar, trucidar – basta o credor tentar cobrar um miliciano.
Por fim, é importantíssimo – mais do que isso, é indeclinável – termos em mente que essa violência gratuita, que culmina com a barbárie, é produto de uma decadência civilizatória, de um esfacelamento moral, de uma perversão social que abraça o nazifascismo bolsonarista e compreende, em “ultima ratio”, o câncer involutório que sua hoste reflete, simboliza e traduz.