Causa & efeito

POR GERSON NOGUEIRA

Diante do futebol de baixa qualidade, exposto na Série A que hoje se encerra, é natural que surjam preocupações quanto ao futuro da Seleção Brasileira. Afinal, sempre houve uma relação de causa e efeito entre as duas coisas. Depois de um campeonato sofrível, repleto de jogos desinteressantes e tecnicamente ruins, qualquer projeção quanto ao escrete passa a ser no mínimo temerária.

unnamedUm fator inesperado, porém, reduz bastante os riscos de um naufrágio imediato. Trata-se do comando técnico. Tite representa hoje a garantia de um projeto minimamente equilibrado na Seleção. Não há nada de revolucionário em seus métodos, mas é justo reconhecer que com ele o critério de escolha dos jogadores voltou a ser racional.

Quando a Seleção penava nas mãos de Dunga, até mesmo jogadores que atuam em centros tecnicamente evoluídos rendiam pouco e se nivelavam aos nativos convocados. Até Neymar e Phillipe Coutinho sofriam com a filosofia imposta por Dunga. Criou-se então um círculo vicioso. O escrete jogava mal, a torcida se exasperava e os jogadores perdiam motivação.

A partir da chegada de Tite, as coisas mudaram por completo. Os jogadores readquiriram o prazer de estar na Seleção, a equipe passou a atuar bem e recuperou a credibilidade junto ao torcedor. Cabe dizer que Tite aproveita, comparativamente, aproveita mais atletas caseiros em suas convocações, ainda que o time titular aproveite um ou dois “nativos”.

Muitos relativizam a má qualidade do futebol praticado no Brasil, entendendo que isso não se reflete na Seleção, formada em sua maioria por atletas que jogam no exterior, mesmo que alguns sejam oriundos de campeonatos periféricos e pouco representativos.

É uma visão imediatista, pois não leva em conta a evolução do futebol a médio e longo prazo. Os atletas “importados” hoje aproveitados na Seleção foram negociados com o futebol internacional porque se destacaram em competições nacionais. Por óbvio, o mesmo ocorrerá nos próximos anos, com jogadores exportados para Europa e Ásia, principalmente.

A tendência é que jogadores acostumados a competições tecnicamente fracas no Brasil tenham dificuldades para se firmar em países do primeiro mundo do futebol, como Inglaterra, Espanha e Itália. O mercado continuará a buscar pé-de-obra aqui nos trópicos, mas a qualidade será cada vez mais sofrível. E serão esses mesmos jogadores que irão engrossar as convocações futuras para a Seleção – pelo questionável critério de participação em grandes torneios.

Portanto, é melhor prevenir que remediar. Só a melhoria do nível técnico dos campeonatos no Brasil permitirá, no futuro, o surgimento de bons jogadores. Para isso será necessário investir em fórmulas mais interessantes de disputa, reciclar técnicos e priorizar as competições de alto padrão, sem descuidar dos torneios de juniores, que constituem a base de tudo.

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Bola na Torre

Sérgio Serra, presidente do Papão, é o entrevistado de hoje no Bola na Torre. Guilherme Guerreiro apresenta, com participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Começa logo depois do Pânico, por volta de 00h20, na RBATV.

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Leão perde a chance de reeditar time cabano

Será neste final de semana a apresentação à torcida do novo elenco do Remo, formado por alguns repatriados (Val Barreto, Zé Antonio, Fininho), poucos remanescentes de 2016 (Flamel) e muitas caras novas, quase todas recrutadas na Segundinha de acesso ao Parazão.

Para o certame estadual, o técnico Josué Teixeira não deverá ter maiores problemas. As dificuldades irão aparecer no momento de encarar competições regionais (Copa Verde) e nacionais, Copa do Brasil e Série C.

A tomar por base os nomes divulgados até sexta-feira, a diretoria do clube está perdendo a chance de reeditar o “esquadrão cabano” dos tempos de Ubirajara Salgado, cuja mística permanece de pé até hoje. Naquela ocasião, como agora, o Remo não tinha dinheiro. Precisou recorrer ao almoxarifado e teve a felicidade de contar com uma boa safra de jogadores.

O time campeão estadual sub-20 poderia ser o ponto de partida para a montagem de um elenco prata-da-casa, de custo baixo e com grandes possibilidades de cativar o torcedor. A notícia de que goleiro, volantes e atacantes estão sendo buscados lá fora indica que o projeto se encaminha para um novo “catadão”, como se viu em temporadas recentes.

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Um estranho no ninho do Parazão

Na relação dos dez técnicos contratados pelos times que irão disputar o Parazão 2017, Junior Amorim é honrosa exceção. O treinador do estreante Pinheirense é o único paraense da gema a integrar a lista.

Nordeste e Sudeste são as regiões predominantes. Nordestinos são: João Galvão (PB), Marcelo Chamusca (BA) e Pedro Manta (CE). Já Samuel Cândido e  Josué Teixeira (RJ) e Lecheva (SP) representam o Sudeste.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 11) 

2 comentários em “Causa & efeito

  1. Penso que a diretoria fez certo em apostar nesses jogadores locais, o Remo não pode dar um passo maior que as pernas e trazer jogadores caros se não teve renda nos últimos 3 ou 4 meses e com a verba dos patrocinadores bloqueadas. Para o Brasileiro espero que os cofres tenham saído do vermelho e sejam contratados jogadores para preencher as posições de maior carência. Lógico que os atletas que se destacarem no Parazão, acredito que a diretoria irá renovar com os mesmos, o que não pode é brincar no Brasileiro que será mais difícil do que está temporada.

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  2. Pra piorar, após o jogo em que conquistou a Copa do Brasil, Renato Gaúcho ainda me dá uma entrevista patética onde afirmou que, quem sabe vai à praia; quem não sabe vai estudar na Europa, menosprezando quem estuda pra exercer o ofício de treinador.
    Era uma deselegante e leviana indireta ao Roger que montou o time que Renato levou ao título, porém, como foi massificada apenas na manhã seguinte, pareceu também dirigida a Rogério Ceni, que assumia o comando do São Paulo e falava de sua preparação pra assumir o cargo no tricolor paulista na mesma manhã.
    Então, ficamos assim: perdemos de 7×1 pra Alemanha, mas não temos absolutamente nada a aprender com outras escolas que estudam, pesquisam e inovam na tarefa de fazer o futebol algo diferente da mesmice aqui praticada. Tite é a exceção, jamais a regra.

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