
Marcos Soares, 41 anos, vem sendo a sensação do futebol brasileiro sub-20. À frente do Santos, já são 12 vitórias seguidas, incluindo confrontos com o arquirrival Corinthians. O que pouca gente sabe é a história desse treinador “cara de pau”, que foi com a cara e a coragem para a Europa tentar aprender com alguns dos técnicos mais badalados do mundo.
“Em 2013, fiz estágio com o Guardiola no Bayern de Munique. Para me aproximar melhor dele antes de viajar eu li um livro dele e vi uns vídeos também. Quando cheguei lá fui conversar com o auxiliar dele, que me apresentou ao Guardiola”, contou Marcos, ao ESPN.com.br.
“Meu primeiro contato com o Guardiola foi marcante pela simplicidade. Eu expliquei que estava começando a carreira e tudo mais e agradeço e disse que queria aprender com ele. Ele falou: Marcos, fique o tempo que quiser. Mas eu não tenho nada para te ensinar. Meu trabalho é este aqui e muito simples. Você pode fazer algo parecido e criar o seu trabalho. Você é muito bem vindo e pode ficar na beira do campo. Ele desceu no mesmo nível que eu”, relembrou o brasileiro.
Marcos foi jogador de futebol profissional, atuando por Mesquita, Serrano, times da segunda divisão portuguesa e também na Malásia. Aposentou-se aos 31 anos com problemas nos dois joelhos, quando passou a aventurar-se como técnico. A primeira experiência foi um estágio no Brasiliense.
“O presidente gostou, e virei auxiliar técnico. Ainda fui interino umas vezes, gerente de futebol e comandei o time em uma Copa São Paulo”, explicou Marcos. Em 2012, após passagem pelo Sobradinho, o treinador resolveu viver a maior experiência da sua vida.
“Resolvi ficar 35 dias na Espanha, que tinha vencido a Copa do Mundo e duas Eurocopas, eu precisava aprender o que estão fazendo por lá. Voltei muito rico de conhecimento. Vi muitos jogos e treinos. Não conhecia ninguém, fui com a cara e a coragem e fiquei na casa de um primo em Madrid e em um hostel em Barcelona. Eu botava um terno e pedia permissão para ver os treinos dos clubes”, declarou Marcos Soares.
“Tive muita ajuda de brasileiros. No Espanyol, o Phillipe Coutinho jogava lá e o vi chegar. Eu expliquei toda situação para ele que me ajudou demais. Ele me apresentou ao Mauricio Pochettino, hoje no Totenham, que me deixou ver uns dias os treinos. No Atlético de Madrid eu fiz contato com o ex-zagueiro Luis Pereira, que é presidente do time B. Ele me apresentou ao Simeone e fiquei uma semana acompanhando. Conversei algumas vezes com ele nesse período. Eu perguntava tudo o que podia sobre como era o trabalho dele, a parte tática e as repetições. Conversei com Miranda e Diego, que mesmo sem me conhecerem me trataram muito bem”, continuou Marcos Soares.
“Já no Barcelona vi um dia dos treinos das categorias de base toda por lá. Foi por meio do Evaristo de Macedo, que arrumou o contato da associação dos ex-jogadores do Barcelona. Esse cara que fez a aponte para mim. No Rayo Vallecano foi a situação mais curiosa de todos. Eu ficava olhando nos jornais quando teria um treino aberto de um clube e ia lá. Fui ver um treino deles o estádio de treino é pequeno. Acabou o treino, tinha uma mureta. Eu passei, entrei devagar e fique num canto. Vi que o Diego Costa estava brincando com uma criança e o chamei. Expliquei minha situação e pedi pra ver o treino. Ele nunca tinha me visto na vida, mas foi muito solicito e disse: ‘Tem um amigo meu do Brasil, está estudando para ser treinador e queria acompanhar uns dias nosso trabalho’. Conversei com a diretoria do time e deu tudo certo. Fui muito bem recebido nessa viagem”, acrescentou.
Além da “cara de pau”, outra coisa que auxiliou bastante o brasileiro foi ser poliglota. “O fato de falar vários idiomas me ajudava demais. Falo espanhol, inglês, francês e arrisco um italiano e isso me abriu portas por lá”, definiu. E engana-se quem pensa que a aventura de Marcos Soares resumiu-se apenas ao futebol espanhol.
“O Marcelo, brasileiro que foi preparado físico do Bayern de Munique até o Jupp Heyncks e era de Brasília, me apresentou ao Dante em um amistoso da seleção brasileira. Conversei com ele, com o Rafinha, e cheguei lá e estava autorizado. Foram duas semanas completas vendo todos os treinos e mais três partidas do Bayern. Vi jogos contra o Mainz, Hertha Berlim e Viktoria Pilzen, pela Champions League. Fiquei em um camarote fora de série”, lembrou o técnico da base do Santos.
No Brasil, a experiência continuou.
“Por meio do Kléber Xavier e do Geraldo Delamore fiquei mais três dias com o Tite no Corinthians campeão da Libertadores de 2012. Um trabalho fantástico”, expressou.
Para buscar mais conhecimento, ele se alistou para trabalhar como coordenador da equipe do Irã durante a Copa do Mundo no Brasil. Ele cuidava de toda logística do time que ficou hospedado em São Paulo. “Fiquei próximo do Carlos Queiroz, ex-treinador da seleção de Portugal e assistente do Ferguson do Manchester United. Um cara fantástico e conversamos demais todos os dias e ele me ajudava e deu uma gama de conhecimento legal. Eu via todas as palestras e os treinos dele e depois trocava ideia sobre o trabalho. Foram 25 dias com ele e até hoje mantemos contato. Ele está no Irã e deve se classificar para a Copa do Mundo”, relembrou.
Hoje sensação no Santos, Marcos chegou no clube com a ajuda de Dorival Júnior, com quem fez estágio no Flamengo e no próprio time da Vila Belmiro. Precisou passar por um processo seletivo com outros quatro concorrentes para ganhar a vaga que ocupa hoje.
“Fiz uma palestra com 80 slides em 40 minutos. Falava do meu modelo de trabalho. Depois respondi mais 20 minutos de pergunta dos funcionários do clube. Depois recebi a noticia que fui aprovado e fiquei muito feliz. Um clube que revela muitos jogadores tão importante para o futebol. Tudo aquilo que fiz, que estudei acabou sendo recompensado e valeu a pena”, disse Marcos.
Sobre o bom momento atual na profissão, com 12 vitórias seguidas, ele explicou que nem tudo foi sempre fácil. “Começo do ano foi difícil, renovamos muito o elenco do sub-20 e pagamos um preço caro. Estávamos em penúltimo na quinta rodada e foi uma pressão danada. Mas confiaram no trabalho e melhorou tudo. Emendamos 12 vitorias seguidas e eliminamos o Corinthians que é uma referência com o Osmar Loss. Passamos pelo Atlético-PR e o América-MG. Vivemos um momento legal, mas nada de empolgar. Temos que ter os pés no chão. Meu plano de carreira é ajudar o Santos por longos anos”, finalizou o técnico “cara de pau”. (Da ESPN)




