POR GERSON NOGUEIRA
O fato de o futebol estar cada vez mais nivelado reforça a necessidade de times organizados e que saibam explorar habilidade individual e conjunto. Não importa tanto a configuração tática, desde que os jogadores sejam adequados à filosofia de jogo. Exemplo óbvio é o que ocorre na Seleção Brasileira. Tite substituiu Dunga e, em pouquíssimo tempo, conseguiu reordenar as coisas utilizando praticamente os mesmos jogadores.
Na quinta-feira, contra a Bolívia, o Brasil jogou no velho estilo. Refiro-me à antiga maneira de atuar, quando a Seleção propunha as ações, tomava iniciativa e envolvia os adversários. Sem reinventar a roda, Tite deu ao time um sentido de competitividade que há muito inexistia no escrete.
A partir de um eixo básico de três jogadores – Neymar, Gabriel Jesus e Phillipe Coutinho –, a Seleção se distribui em campo de acordo com as virtudes e fragilidades do adversário.
Como a Bolívia jogava de maneira espaçada, com meio-campo longe do ataque, o Brasil se apoderou da intermediária, com Neymar e os demais atacantes partindo sempre em direção à área, com dribles e troca de passes em velocidade.
Ficou claro logo nos primeiros movimentos que a noite seria de balaio cheio. À medida que o tempo foi passando os gols foram acontecendo naturalmente. Sem desespero ou precipitação.
A facilidade oferecida pelos bolivianos era aproveitada com extrema objetividade pelos brasileiros. Como as jogadas se multiplicavam, sempre com êxito, o time foi ganhando confiança para ousar ainda mais, buscando situações perto ou dentro da área.
É preciso entender que a Seleção de Tite vem jogando assim desde a vitória sobre o Equador, em Quito. Ousadia e destemor não surgem do nada. Têm origem nas bases que sustentam o time. Quando a defesa é bem aprumada e o meio-de-campo é dinâmico, o principal beneficiário é o ataque.
Construir os setores de uma equipe é trabalho quase artesanal. Tite demonstra zelo em escolher as peças mais compatíveis com suas ideias. Sempre foi um apreciador de marcação forte e aproximação, mesmo quando esses conceitos ainda não integravam a cartilha dos demais técnicos brasileiros.
O Corinthians campeão mundial é o exemplo mais bem acabado dessa conceituação de Tite e expressa a capacidade de unir um time pela afinidade dos jogadores, mesmo quando o grupo não é tão homogêneo. A Seleção ainda carece de maior harmonia no aspecto técnico, mas tem compensado essa deficiência investindo na compactação.
É evidente, a essa altura, que os jovens têm prioridade absoluta na construção do time para 2018. Neymar, pela experiência e cartaz no futebol internacional, é o líder natural da equipe, mas precisa de suporte para render em alto nível.
Cresce então a importância de uma meia-cancha que progressivamente substitua volantes por armadores ou que tenha volantes que saibam se comportar como armadores, principalmente quanto à qualidade do passe.
Renato Augusto, figura exponencial no atual esquema, é um símbolo desta nova era, onde os meias passam a atuar como defensores qualificados, capazes de lançar ou partir com a bola verticalmente, caso seja necessário.
O fato é que Tite, como Guardiola e Ancelotti, descobriu a chave do processo. É mais fácil fazer com que meias joguem como volantes do que o contrário. Daí não ser absurdo imaginar daqui a algum tempo Ganso (ou Diego) se transforme em artífice de jogadas a partir da intermediária, como Pirlo foi até recentemente na Itália.
São perspectivas muito interessantes e perfeitamente viáveis para fazer o Brasil voltar a ser bom de bola.
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Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda o programa deste domingo. Começa logo depois do Pânico, na RBATV, por volta de 00h20.
Na bancada de debatedores, Rui Guimarães e este escriba de Baião.
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Eleição remista pode ter candidato da nova geração
Uma notícia alvissareira sacudiu as hostes azulinas na sexta-feira. Um grupo de jovens sócios e conselheiros do Remo anuncia que vai formar chapa para disputar a próxima eleição presidencial do clube, marcada para o começo de novembro.
Afonso Monteiro, Richard Massoud, Emerson Gomes, Marcelo Carneiro, Fábio Yamada, Paulo Storino, Samuel Bentes, Hilton Benigno, Edgar Medeiros e Dan Levy são alguns dos signatários do comunicado oficial.
Ao contrário de outros cardeais e caciques remistas, mais preocupados com a captação de dinheiro, os integrantes do grupo preferem trabalhar com projetos que modernizem a gestão do clube.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 09)