Ganhador do Prêmio Puskas desiste do futebol para virar profissional de games

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Seis meses após conquistar o prêmio Puskás, de gol mais bonito do futebol mundial em 2015, Wendell Lira anunciou uma mudança radical em sua carreira. A partir de agora, ele, aos 27 anos, é um ex-jogador de futebol e será um profissional dos videogames.

O jogo escolhido é justamente o Fifa, franquia de futebol da EA Sports, em que Wendell já demonstrou potencial. Quando foi receber o prêmio em Zurique, na Suíça, o agora aposentado aceitou o desafio de Abdulaziz Alshehri, o campeão da FIFA Interactive World Cup na época, e não só o venceu como comandou o Real Madrid em uma goleada por 6 a 1 contra o Barcelona do rival.

Wendell Lira inicia sua carreira como jogador profissional com um currículo interessante. Além de ter goleado o campeão, ele conquistou o título goiano do jogo em 2012 e liderou o ranking online brasileiro por 25 dias no último ano, quando quase acabou conquistando uma vaga na disputa da FIFA Interactive World Cup de 2016.

A decisão de abandonar o futebol “real” veio por causa de uma sequência de lesões que teriam tirado a motivação do dono do gol mais bonito de 2015. Após receber o prêmio Puskás, ele assinou com o Vila Nova, mas atuou em apenas nove partidas e não balançou as redes nenhuma vez. (Da ESPN)

https://www.youtube.com/watch?v=t3RVurT8obo

A frase do dia

“Pep não tem uma longa carreira como técnico. Ele é um treinador jovem. Lhe falta experiência. Às vezes, ele fala muito. O futebol é muito simples”.

Frank Ribery, atacante francês do Bayern, sobre Pep Guardiola

Céu e inferno na vida de 2 heróis do tetra alemão

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Cinco dias após a conquista da Copa do Mundo de 2014, Philipp Lahm anunciou que era momento de não defender mais a seleção alemã. Seu ciclo estava encerrado. Aos 30 anos, parava no auge, tanto no âmbito individual, quanto no coletivo.

Lahm representava a geração que reergueu o futebol alemão. O lateral começou a defender o país em 2004 e chegou no Mundial de dois anos depois como uma das tantas promessas de uma seleção jovem e desacreditada que disputaria o torneio em casa. Mesmo sem esbanjar confiança, a Alemanha ainda alcançou um honroso terceiro lugar.

Com o passar dos anos, aquela base seria desfeita, seja por veteranos que pararam ou por jovens que não vingaram. Lahm foi uma constante. De jovem promessa, tornou-se um dos líderes do grupo que viria a encantar o futebol mundial.

A primeira grande impressão veio na Copa da África do Sul, na qual os alemães repetiram o terceiro lugar de quatro anos antes, mas apresentaram um futebol mais convincente, com goleadas sobre Inglaterra e Argentina.

A coroação de Lahm e a nova safra alemã veio em 2014 com o quarto título mundial. O lateral, que foi da esquerda para a direita ao longo de sua trajetória na equipe germânica, fechava em alta uma carreira internacional de superação.

Era o momento certo para os veteranos daquela seleção pararem? Miroslav Klose e Per Mertesacker entenderam que sim e seguiram o mesmo caminho de Lahm. Schweinsteiger, não.

O vice-capitão da Alemanha no Mundial de 2014 seguiu adiante, assumiu a braçadeira e viu a trajetória de ascensão sofrer uma queda e acabar de forma melancólica. O atleta de 31 anos anunciou a aposentadoria da seleção nesta sexta-feira, 22 dias após ter sido um dos vilões na derrota para a França na semifinal da Eurocopa por 2 a 0. Ele cometeu um pênalti infantil no primeiro tempo que originou a inauguração do placar.

Até aquele momento, o volante vinha sendo um reserva na equipe, já que sofreu uma lesão no joelho direito antes da Euro e era dúvida para o torneio. Aliás, as contusões têm sido algo recorrente na carreira dele desde a Copa: foram apenas 58 jogos por clubes nas duas últimas temporadas.

OS 5 QUE MAIS JOGARAM PELA ALEMANHA

Lothar Matthäus (150 jogos), Miroslav Klose (137 jogos), Lukas Podolski (129 jogos), Bastian Schweinsteiger (120 jogos) e Philipp Lahm (113 jogos)

Nem mesmo a mudança de ares proporcionou uma recuperação na carreira do meio-campista, que se transferiu ao Manchester United no meio de 2015. Após um ano na Inglaterra, seu nome é um dos apontados para sair desde a chegada do técnico José Mourinho. Enquanto isso, Lahm manteve o prestígio no Bayern de Munique, pelo qual é tetracampeão alemão, capitão e uma das peças de confiança do novo treinador da equipe, Carlo Ancelotti. (Da ESPN) 

Onde foi que o Brasil se perdeu?

POR TEREZA CRUVINEL

Nestes tempos de espanto diário com a transfiguração do Brasil em algo que vai se tornando irreconhecível, recordo o primeiro capítulo de “Conversa na Catedral”, sem dúvida o melhor romance de Mario Vargas Llosa, e não porque foi escrito quando ele ainda era um intelectual de esquerda. Num reencontro tardio, o fracassado jornalista Zavalita tem uma longa e etílica conversa com Ambrósio, antigo empregado de sua família. Exumando lembranças de um passado esperançoso e sepultado, ele se pergunta algumas vezes: “mas em que ponto foi que o Peru se fodeu?”. Lá estava em cacos o Peru que fora promissor, sob o tacão da ditadura de Odría, nos anos 1960. Aqui estamos nós, sob algo que não tem nome exato, sob esta desconstrução diária do que havia, sob violências de formas diversas e uma incerteza recorrente: haverá salvação para nós e o Brasil? Ou do descarrilhamento atual virá um país despedaçado, em que as partes não se entendem nem se reconhecem?.

No final do ano passado, Lula comparou o Brasil a um trem descarrilhado. Mas era só o começo. Ao longo deste ano, o surrealismo foi se impondo e tudo foi sendo naturalizado. Achamos natural que haja uma presidente eleita e afastada do cargo, sem crime de responsabilidade claro e provado, apesar de algumas demonstrações em contrário e de algumas confissões sobre a desimportância de aspectos jurídicos diante de um imperativo político, a troca de guarda no poder. Aliás, nesta sexta-feira, 29, vésperas do mês preferido pelas tragédias políticas, o vice-presidente em exercício Michel Temer explicou o que entende pelo impeachment: “Essa questão do impeachment no Senado não depende da nossa atuação. Depende da avaliação política –não uma avaliação jurídica– que o Senado está fazendo. Eu penso que o Senado vai avaliar as condições políticas de quem está hoje no exercício e de quem esteve no exercício da Presidência até um certo período.” Ou seja, trata-se da escolha entre Dilma e ele, sem povo, sem voto e sem urna. Se não é golpe, democracia não é. Mas tudo parece natural, a vida segue, os ipês começam a florir.

Parece natural também que o vice, ao ocupar interinamente o cargo, não tenha tido qualquer constrangimento em agir como se tivesse sido eleito, mudando tudo  e até promovendo expurgos, como se  eleito tivesse sido com uma programa oposto ao da eleição em que figurou na chapa vitoriosa.

Deve ter se perdido em algum desvão o país que em 2010 conferia mais de 90% de aprovação ao presidente que, por todas as transformações positivas propiciadas por seu governo, tornara-se o mais popular da História, Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, segundo apurou recentemente o instituto Paraná Pesquisas, 47% defendem a sua prisão. Crimes? Nenhum provado. Mas há uma operação, um juiz e alguns procuradores que mesmo assim estão dispostos a condená-lo por obras em um sítio que não é seu, e num apartamento que desistiu de comprar. Não há provas (atos de ofício) de que Lula, por benefícios que concedeu às empreiteiras, recebeu tais mimos como propina. Não importa, são indícios, dizem eles.

Os mesmos jornais de hoje noticiam com  naturalidade algo que em outros tempos espantaria. Lula apresentou ao Comitê de Direitos Humanos da ONU, através do advogado inglês Geofferey Robertson, uma petição em que denuncia as violações do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e os recorrentes abusos de poder praticados contra sua pessoa pelo juiz Sérgio Moro, que preside os processos da Lava Jato. Lula corre riscos e é perseguido em seu próprio país?, perguntarão lá fora. Aqui, as autoridades ignoraram fato tão grave e singular. Exceto Moro e a Lava Jato, que em represália fizeram vazar mais informações sobre as tais obras no dito sítio: Lula determinou que fossem feitas, informaram sem dar a cara a tapa. Sinceramente, a ditadura civil-militar se incomodava mais quando chegava lá fora uma denúncia sobre os crimes que cometia contra os direitos humanos. Pelo menos desmentia, atribuindo tudo aos “inimigos da revolução”.

Mas o que fez com que tantos, hoje, queiram ver Lula por conta de “indícios” que podem torná-lo inelegível em 2018? Certamente as nuvens de veneno que foram sendo sopradas sobre nós e agora estão chovendo. O Brasil é um país intoxicado e não parece haver antídoto capaz de restaurar sua antiga homeostase, aquele antigo modo de viver em que as diferenças existiam. Em que todos tinham seu Outro, mas não desejavam destruí-lo.

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Mas ficando livre de Dilma, de Lula, do PT e das esquerdas, com políticas “populistas” para os pobres, o país vai entrar nos trilhos, dizem os vencedores do golpe, no palco do grande faz-de-conta. Pois os  mesmos jornais que pintam a paisagem para vender esta ilusão e abrir caminho para agosto são obrigados a publicar notícias que a desmentem.  Nesta sexta-feira de tristes notícias, o Banco Central informou que o resultado das contas públicas para junho e para o primeiro semestre foi o pior da série histórica iniciada em 2001. Mas Temer não veio para sanear o estrago de Dilma?

A última sexta-feira antes de agosto nos informa também, através do IBGE/PNAD, que aumentou o número de pessoas vivendo na angústia do desemprego. A taxa do segundo trimestre fechou em 11,3%, contra os 10,9% do primeiro. É a maior desde que a série foi iniciada em 2012. São 11,6 milhões de pessoas os que não conseguem trabalhar nem pagar as contas. Alguma providência? Temer mandou dar um aumento para a Polícia Federal.

Não há melhora algumas das expectativas sobre a economia, como alardeado. Mas vai se acreditando no faz de conta pois, do contrário, acreditar em quê?

Voltando a Zavalita, onde foi que o Brasil se perdeu? Um Zavalita mais velho recordará que tudo parecia caminhar bem, que houve esperanças e sonhos entre 1945 e 1964,  até que vieram as correntes de ódio e caímos na ditadura de 21 anos. Encerrada a transição, com seus trancos e barrancos, incluindo um impeachment – este com crime demonstrado – a partir do governo Itamar Franco (1992) teve início outra fase em que o trem andou nos trilhos, e andou para a frente. Inflação controlada por Itamar/FHC, Lula promoveu crescimento e distribuição de renda.  Ganharam os mais pobres, ganharam os mais ricos, ganharam as empresas. E aí, veio junho de 2013.  Ainda que as explicações não sejam claras, foi ali que o trem começou a descarrilhar, na economia e na política. Logo depois a Lava Jato ganhou impulso e espalhou o sentimento de desolação. Nada presta, ninguém presta, tudo está podre. E salve-se quem puder. Inclusive com delações premiadas e vazamentos selecionados.

Houve a mudança no cenário externo, é verdade, com a queda nos preços das commodities, afetando as exportações e o crescimento interno.  A própria Dilma reconheceu que houve “erro de calibragem” nas políticas anti-cíclicas, em que o Estado gastou com desonerações, crédito fácil e investimentos próprios para manter a economia aquecida. Isso explica a desorganização fiscal mas não este descarrilhamento completo da vida nacional.

Dilma ganhou em 2014 uma eleição que parecia destinada a perder. Mas tudo teria sido diferente se a oposição tivesse aceitado que perdeu. Pediu recontagem de votos,  deu corda para os que começaram a falar em impeachment, antes mesmo da segunda posse da presidente reeleita. Ela tomou um chá de sumiço inicial e aceitou fazer o que pediam, nomeando um ministro da Fazenda encarregado de implementar um arrocho fiscal. A Câmara passou ao comando de Eduardo Cunha, que tinha uma bancada conservadora de mais de cem deputados, e em vez de ajuste, o Congresso votou pautas bombas, demolidoras das contas públicas. Aí chegamos a 17 de abril, e agora chegaremos a agosto.

A Lava Jato teria sido benigna se, ao atacar a ferida da promiscuidade entre partidos/políticos e empresários, tivesse mirado o sistema, e não o PT e seu governo. Este desvio de objetivo contribuiu para o golpe e terminou nesta caçada a Lula, que o leva a denunciar lá fora as perseguições que sofre em seu país.

Mas quando a demolição de um sistema político começa, não há como salvar algumas paredes. Aí estão novamente as notícias, aqui já registradas, de que a Odebrecht denunciará pelo menos dez governadores e ex-governadores e mais de 100 parlamentares.

O sistema está ruindo e não há quem se habilite a restaurá-lo. Em volta, só destruição: da economia, das regras democráticas, do sistema político-eleitoral e, principalmente, de tudo o que representava o Brasil que não há mais: a tolerância para com a diferença, a capacidade de conviver com o outro, fosse ele pobre ou rico, conservador ou progressista, urbano ou rural. Agora, temos até intolerância religiosa. E uma ideologia retrógrada que vai sendo ministrada sutilmente, que mistura racismo, misoginia e preconceitos de toda ordem.

Quando tudo desmorona, os mais jovens, que viveram os últimos 20 anos esperançosos e não se lembram nem da ditadura nem da hiperinflação, têm ainda mais razões para se perguntar: onde foi que o Brasil se perdeu?

Em seu 50º aniversário, relembre a luta dos trabalhadores pelo 13º salário

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Avanços trabalhistas, porém, não se alcançam pacificamente. Semanas antes da aprovação da medida, o jornal O Globo publicou uma reportagem em que patrões e economistas previam que o 13º sobrecarregaria as empresas e pressionaria a inflação. Para forçar a aprovação, sindicatos de trabalhadores organizaram abaixo-assinados, passeatas, piquetes e greves

POR RICARDO WESTIN, da Ag. Senado

Se fim de ano é sinônimo de dinheiro extra no bolso, os créditos precisam ser dados a uma lei que chegou aos 50 anos na sexta-feira passada. Em 13 de julho de 1962, o presidente João Goulart assinava a criação do 13º salário.

No artigo primeiro, a lei prevê: “No mês de dezembro de cada ano, a todo empregado será paga, pelo empregador, uma gratificação salarial, independentemente da remuneração a que fizer jus”.

Também chamado de gratificação de Natal, o 13º é uma das conquistas históricas dos brasileiros no campo trabalhista, comparável ao salário mínimo, às férias remuneradas e ao FGTS.

Até então, o bônus natalino era um presente que algumas empresas davam, por iniciativa própria, aos funcionários. Muitas vezes, o valor era inferior ao do salário mensal.

O autor do projeto de lei do 13º obrigatório foi o deputado federal Aarão Steinbruch, um advogado que antes de ingressar na política havia sido consultor de sindicatos.

Avanços trabalhistas, porém, não se alcançam pacificamente. No início dos anos 1950, uma proposta parecida havia chegado à Câmara mas foi logo ­derrubada.

Semanas antes da aprovação do texto de Steinbruch, em abril de 1962, o jornal O Globo publicou uma reportagem em que patrões e economistas previam que o 13º sobrecarregaria as empresas e pressionaria a inflação. O título: “Considerado desastroso para o país o 13º mês de salário”.

Para forçar a aprovação do projeto, sindicatos de trabalhadores organizaram abaixo-assinados, passeatas, piquetes e greves. Representantes viajaram à recém-inaugurada Brasília para tentar convencer deputados, senadores e o ministro do Trabalho. Nos protestos, houve presos.

Mercado aquecido

Cinco décadas passaram, e os temores catastrofistas jamais se confirmaram. Não há notícia de empresa que tenha ido à ruína por causa do 13º.

O procurador José de Lima Ramos Pereira, responsável no Ministério Público do Trabalho pelo departamento que combate fraudes trabalhistas, explica que o 13º não é um dispêndio extra para os patrões:

— O empresário não tira do próprio bolso o dinheiro das horas extras, das férias ou do 13º. Inclui esses custos em seu produto ou serviço, repassa para o consumidor final. O 13º não é caridade do empresário.

Pelas regras atuais, o salário extra precisa cair na conta bancária em duas parcelas. A primeira metade, entre fevereiro e novembro. A segunda, em dezembro, até o dia 20.

O que se deu foi justamente o inverso daquelas previsões pessimistas. O salário extra tem se mostrado altamente benéfico para a economia.

Em 2011, pelas estimativas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), só a segunda parcela do 13º injetou R$ 118 bilhões no mercado — 3% do produto interno bruto (PIB). O estudo não contabilizou o adiantamento.

Para o governo, é dinheiro que aquece o mercado, eleva a arrecadação de impostos e, no atual contexto, ajuda a proteger o país da crise internacional. Para o comércio e a indústria, é motivo de festa.

Com a gratificação natalina, as famílias pagam as despesas típicas de início de ano — IPTU, seguro do carro, IPVA, material escolar —, quitam dívidas e, naturalmente, compram os presentes de Natal.

No ano passado, 78 milhões de brasileiros receberam o 13º. Fazem parte desse grupo todos os aposentados, pensionistas e trabalhadores do mercado formal — incluindo domésticos, rurais, temporários e avulsos.

Projetos de lei

O Senado estuda projetos que tratam do 13º.

Um deles, do ex-senador Sérgio Zambiasi, eleva o valor que o patrão deposita na conta do funcionário. A proposta (PLS 685/07) livra o salário extra do desconto do Imposto de Renda e da contribuição ­previdenciária.

Em outra direção, dois projetos determinam que os brasileiros que recebem do governo o benefício de prestação continuada (BCP) façam jus a uma 13ª parcela.

No valor de um salário mínimo, o BCP é pago aos deficientes e idosos pobres que não podem ser sustentados por si sós nem por suas famílias. Divide-se em 12 parcelas.

O primeiro projeto (PLS 165/10) é do ex-senador Mão Santa. O segundo (PLS 79/11), do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE).

“Diferentemente dos trabalhadores, que atravessam essa época [o fim de ano] com alguma tranquilidade, devido à conquista da gratificação natalina, os beneficiários da Assistência Social vivem seu pior momento, diante do acúmulo de dívidas e ansiedade”, argumenta Mão Santa.

Problemas envolvendo o 13º salário são relativamente comuns, segundo o Ministério Público do Trabalho. Há empresas que não dividem o valor em duas parcelas, que pagam o valor errado (ignorando horas extras habituais e adicional de insalubridade, por exemplo) e que simplesmente não depositam o salário extra.

Os prejudicados devem buscar, primeiro, o departamento de recursos humanos da empresa; depois, o sindicato; e, por fim, o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho.

Patrões viam abono de Natal como gorjeta, diz ex-metalúrgico de 83 anos

O Jornal do Senado localizou em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, um ex-metalúrgico que participou das grandes passeatas nos anos 1950 e 1960 pela obrigatoriedade do 13º salário.

Hoje com 83 anos, Miguel Terribas Rodrigues trabalhou de 1943 a 1985 na siderúrgica Aliperti, na capital paulista.  Foi seu primeiro e único emprego. Entrou aprendiz, numa época em que os salários eram semanais, e saiu aposentado.

Por telefone, ele concedeu  ontem a seguinte entrevista:
Antes da lei do 13º, como era o fim de ano na siderúrgica em que o senhor trabalhava?

O abono de Natal dependia do humor da chefia. Alguns chefes não davam nada. Outros até davam alguma coisa, por livre e espontânea vontade, mas costumava ser muito pouco. Os patrões entendiam que o abono de Natal era uma gorjeta — não era obrigatória e era no valor que mais lhes fosse conveniente. Foi nas assembleias do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo que surgiu a ideia de incluir o abono de Natal na pauta de reivindicações dos trabalhadores. Assim, toda vez que pressionávamos os patrões por aumento de salário, pedíamos também o abono. Mais tarde, passamos a lutar para que o abono de Natal se tornasse lei, direito.

Participei de passeatas no bairro da Liberdade, onde ficava a sede do sindicato, na Praça da Sé e na Avenida Paulista.

O que mudou quando o 13º se tornou obrigatório?

Foi ótimo para os trabalhadores. Hoje, quem não conta os dias para receber o abono de Natal? Porém, como naquela época era novidade e não estávamos acostumados a tanto dinheiro, muitos companheiros não souberam aproveitar. Gastavam tudo de uma vez, desperdiçavam. Mas eu não. Eu soube tirar proveito. É claro que com o abono de Natal eu também tomava uma cervejinha e comprava o presente de Natal das crianças, mas não jogava fora. Guardava a maior parte, economizava. Com ele, comprei um terreno e construí minha casa humilde. Agora que estou velho e não posso trabalhar, vejo que foi importante ter usado bem os abonos de Natal.

O que o senhor sente quando lembra que participou de passeatas históricas pelo 13º?

Aquelas passeatas mostram a força dos metalúrgicos. Nós sempre dávamos o primeiro passo, e as demais categorias nos acompanhavam depois. Eu me sinto muito satisfeito de ter participado disso tudo, muito orgulhoso.

Rock na madrugada – The Lovin’ Spoonful, Do You Believe In Magic

O fascismo e sua imbecilidade ilógica

POR MAURO SANTAYANA
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O fascismo de hoje se disfarça de “liberalismo” no plano político e de neoliberalismo no plano econômico.

Célebre por seus estudos sobre a França de Vichy, Robert Paxton dizia que o fascismo se caracteriza por uma sucessão de cinco momentos históricos: a criação de seus movimentos; o aparelhamento do setor público; a conquista do poder legal; a conquista do Estado; e, finalmente, a radicalização dos fins e dos meios – incluída a violência política – por intermédio da guerra.
O fascismo de hoje se disfarça de “liberalismo” no plano político e de neoliberalismo no plano econômico.
Seu discurso e suas “guerras” podem ser dirigidos contra inimigos externos ou internos.
E sua verdadeira natureza não pode ser escondida por muito tempo quando multidões uniformizadas, quase sempre com cores e bandeiras nacionais, descobrem “líderes” dispostos a defender o racismo, a ditadura, o genocídio e a tortura.
Que, quase sempre, são falsa e artificialmente elevados à condição de deuses vingadores.
E passam a ter seus rostos exibidos em camisetas, faixas, cartazes, por uma turba tão cheirosa quanto ignara, irrascível e intolerante, que os exalta com os mesmos slogans, em todos os lugares.
Repetindo sempre os mesmos mantras anticomunistas toscos, “reformistas” e “moralistas”, contra a política e seus representantes – o “perigo vermelho”, a “corrupção” e os “maus costumes”.
Uma diatribe que lembra as mesmas velhas promessas e “doutrina” de apoio a outros “salvadores da pátria” do passado – que curiosamente costumam aparecer em momentos de “crise” aumentados intencionalmente pela mídia, ou até mesmo, a priori, fabricados – como Hitler, Mussolini, Salazar e Pinochet, entre muitos outros.
Não importa que as “bandeiras”, como a do combate à corrupção – curiosamente sempre presente no discurso de todos eles – sejam artificialmente exageradas.
Não importa que, hipocritamente, em outras nações, o que em alguns países se condena, seja institucionalizado, como nos EUA, por meio da regulamentação do lobby e do financiamento indireto, e bilionário, de políticos e partidos por grandes empresas.
Nem importa, afinal, que a Democracia, contraditoriamente, embora imperfeita, aparentemente – por espelhar os defeitos próprios a cada sociedade – ainda seja, para os liberais clássicos, o melhor regime para conduzir o destino das nações e o da Humanidade.
Como ensina Paxton, na maioria das vezes os grupos fascistas iniciais sobrevivem para uma segunda fase, quando, como movimentos ou ainda como mera tendência, discurso ou doutrina – muitas vezes ainda não oficialmente elaborada – passam a se infiltrar e impregnar setores do Estado.
Esse é o caso, por exemplo, de “nichos” nas forças de segurança, no Judiciário e no Ministério Público, que passam então,  também, a prestar dedicada “colaboração” ao mesmo objetivo de “limpeza” e “purificação” da Pátria.
Com o decisivo apoio de uma imprensa – normalmente dominada por três ou quatro famílias conservadoras, milionárias, retrógradas, entreguistas – que atua como instrumento de “costura” e “unificação” do “todo”, por meio da pregação constante dos objetivos a serem alcançados e da permanente glorificação, direta ou indireta, do “líder” maior do processo.
Não por acaso, Mussolini e Hitler foram capa da Revista Time, o primeiro em 1923, o segundo em 1938, e de muitas outras publicações, em seus respectivos países, quando ainda estavam em ascensão.     Não por acaso, nas capas de jornais e revistas, principalmente as locais, eles foram precedidos por manchetes sensacionalistas e apocalípticos alertas  sobre o caos, a destruição moral e o fracasso econômico.
Mesmo que em alguns países, por exemplo, a dívida pública (líquida e bruta) tenham diminuído desde 2002; a economia tenha avançado da décima-quarta para a oitava posição do mundo; a safra agrícola tenha duplicado; o PIB tenha saído de 504 bilhões para mais de 2 trilhões de dólares; e, apesar disso, tenha sido reunida, entre dinheiro pago em dívidas e aplicações em títulos externos, a quantia de 414 bilhões de dólares em reservas internacionais em pouco mais de 12 anos.
Da fabricação do consentimento que leva ao fascismo, e às terríveis consequências de sua imbecilidade ilógica e destrutiva, não faz parte apenas a exageração da perspectiva de crise.
É preciso atacar e sabotar grandes obras e meios de produção, aumentando o desemprego e a quebra de grandes e pequenas empresas, para criar, por meio do assassinato das expectativas,  um clima de terror econômico que permita tatuar a marca da incompetência na testa daqueles que se quer derrubar e substituir no poder, no futuro.
Criando, no mesmo processo, “novas” e “inéditas” lideranças, mesmo que, do ponto de vista ideológico, o seu odor lembre o de carniça e o de naftalina.
Como se elas estivessem surgindo espontaneamente, do “coração do povo”,  ou dos “homens de bem”, para livrar a nação da “crise” – muitas vezes por eles mesmos fabricada e “vitaminada” – e salvar o país.
Afinal, é sempre com a velha conversa de que irá “consertar” tudo, corrigindo a desagregação dos costumes e os erros da democracia, que sempre apresenta como irremediavelmente, amplamente, podre e corrompida até a raíz – como Hitler fez com a República de Weimar – que o fascismo justifica e executa seu projeto de conquista e de chegada ao poder.
É com a desculpa de purificar a pátria que o fascismo promulga e muda leis – muitas vezes ainda antes de se instalar plenamente no topo – distorcendo a legislação, deslocando o poder político do parlamento para outros setores do Estado e para “lideres” a princípio sem voto.
É por meio de iniciativas aparentemente “populares”, que ele desafia a Constituição e aumenta o poder jurídico-policial do Estado no sentido de eliminar, impedir, sufocar, o surgimento de qualquer tipo de oposição à sua vontade.
Para manter-se depois, de forma cada vez mais absoluta, no controle, por meio de amplo e implacável aparato repressivo  dirigido contra qualquer um que a ele venha a oferecer resistência.
Aprimorando um discurso hipócrita e mentiroso que irá justificar a construção, durante alguns anos, de um nefasto castelo de cartas, do qual, no final do processo, sobrarão quase sempre apenas miséria, desgraça, destruição e morte.
É aí que está a imbecilidade ilógica do fascismo.
Tudo que eventualmente constrói, ele mesmo destrói.
Não houve sociedade fascista que tenha sobrevivido à manipulação, ao ódio e ao fanatismo de seus povos, ou ao ego, ambição, cegueira, loucura e profunda vaidade e distorção da realidade de “líderes” cujos sonhos de poder costumam transformar-se – infelizmente, depois de muito sangue derramado – no pó tóxico e envenenado que sobra das bombas, das granadas e das balas.