POR GERSON NOGUEIRA
Depois de longo tempo como reserva, Ciro está escalado para o jogo contra o Fortaleza. Em situação normal, deveria ser a grande esperança de gols, mas hoje é apenas uma aposta, ainda sob desconfiança da torcida. O lado curioso é que o atacante teve um começo acachapante no Remo, marcando três vezes contra o Águia logo na abertura do campeonato estadual.
Mais do que os gols, exibiu desenvoltura na área, rapidez nos deslocamentos e um chute mortal, principalmente quando entrava na área pela diagonal. Para coroar tudo, tinha um entrosamento natural com Eduardo Ramos, com quem jogou no Sport-PE.
A impressão inicial logo se desfez. Ciro ainda marcou gols no campeonato, mas depois entrou em fase descendente e não conseguiu mais acertar o pé. Esperava-se que brilhasse na Copa Verde, mas isso também não aconteceu. De candidato a ídolo virou peça descartável no Evandro Almeida, sendo seguidamente incluído em lista de dispensas.
Na verdade, Ciro é um reflexo da própria gangorra experimentada pelo Remo no primeiro semestre. Sob o comando de Leston Junior, a equipe oscilou no certame estadual, surpreendida seguidas vezes por times tecnicamente inferiores e sem jamais mostrar solidez tática.
Leston repetia sempre que o time estava em evolução, mas os resultados o desmentiam. Perdeu o primeiro turno e quando se preparava para perder o segundo foi substituído por Marcelo Veiga, trazido às pressas para tentar corrigir a rota e evitar o desastre.
Jogadores como Ciro afundaram junto com o time, fracassando seguidamente e fazendo partidas bisonhas. O Parazão passou, veio a Copa Verde e nada de o time se acertar. Veiga fez seguidas experiências, sem encontrar a formação ideal.
Ciro seguiu tendo algumas oportunidades, aceitou até se submeter aos caprichos do técnico e chegou a jogar de lateral esquerdo, fechando a marcação. Algo inteiramente surreal para um atacante que joga sempre junto à área ou dentro dela, buscando fazer gols.
Veiga foi embora há menos de três semanas, depois do incômodo jejum de vitórias em Belém ao longo da Série C. Chegou Waldemar Lemos, de postura tão zen quanto a de seus antecessores, mas aparentemente menos enrolado na hora de estruturar o time.
Perdeu na estreia, contra o Salgueiro, mas segue com crédito para tentar a primeira vitória remista no Mangueirão. Anunciou na sexta-feira a firme disposição de lutar para reatar o casamento entre time e torcida. E montou um time que parece mais coerente que o de Veiga.
A presença de Ciro no ataque, ao lado de Edno, é uma das razões dessa boa impressão deixada por Lemos na hora de escalar o Remo para o difícil confronto com o Fortaleza, líder do grupo.
Ciro entra como segundo atacante, capaz de puxar as jogadas pelos lados do campo, uma de suas características mais fortes. Pela maneira de atuar do Remo, terá a chance de fazer jogadas com Eduardo Ramos, com quem sempre se entendeu bem.
A presença de Wellington Saci ou Héricles como segundo homem de criação é outro aspecto que valoriza as observações de Lemos e que pode contribuir para que Ciro tenha mais desenvoltura, com ou sem bola.
O fato é que o desafio de vencer o Fortaleza é tão importante para o Remo quanto para Ciro, que ganha nova chance de conquistar a confiança do torcedor e pode dar a tão sonhada guinada na carreira – como anunciou ao desembarcar em Belém.
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Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda o programa, que começa logo depois do Pânico, por volta de 00h30. Giuseppe Tommaso e este escriba de Baião completam a bancada.
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Saudades do encantamento da torcida
A Eurocopa chega ao fim hoje e vai deixar saudades. Não pela exuberância técnica – pelo contrário, o torneio foi até sofrível em vários jogos. O lado inesquecível fica por conta da generosa presença das torcidas, que brindou o mundo com imagens maravilhosas ao longo das últimas semanas.
Não é possível esquecer jamais a fina simbiose entre o time da Islândia e a galera, marcando o hino com os braços levantados, como se tivesse ensaiado cuidadosamente. Comemoravam ali a espetacular vitória sobre a velha Inglaterra. Depois, murcharam diante dos franceses, mas já tinham feito a obrigação de causar admiração e encanto.
As torcidas de Gales, Croácia, Bélgica, Itália e Espanha também foram fenomenais. Com a facilidade do acesso à França, hordas de torcedores invadiram as cidades sedes, emprestando cor e alegria, risos e choro à disputa.
Em termos de futebol, era até previsível que a França chegasse à decisão. Tem um punhado de jovens e bons atletas, com destaque para Pogba e Griezman, além do excepcional goleiro Lloris. Didier Deschamps sentiu as ausências de Ribery e Benzema, mas soube manter a seleção sempre na ascendente.
Chega à finalíssima com vantagens técnicas sobre Portugal, cuja classificação não era esperada. Atuações medíocres e dependência excessiva de Cristiano Ronaldo marcaram a trajetória do time lusitano.
Por tudo isso, fecho com a opinião de Joachim Low, o derrotado técnico alemão: o título deve ficar com os azuis por simples merecimento.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 10)