Mudança (só) de fachada

POR GERSON NOGUEIRA

Quem trabalha com jornalismo esportivo se acostuma desde cedo com as consultas diretas na rua. As pessoas vêm perguntar sobre seus times, assuntar sobre bastidores ou apenas puxar um dedo de prosa. Considero isto um privilégio diário, que reenergiza e traz sempre imensa gratificação pessoal.

Nos últimos dias, as perguntas mais frequentes são sobre as contratações da dupla Re-Pa e sobre a presença do coronel Antonio Carlos Nunes no comando do futebol brasileiro. Sobre os velhos rivais, comentarei em outro tópico. De início, vamos à questão que envolve as mudanças na CBF, até porque quando a eleição aconteceu a coluna estava em recesso.

Em primeiro lugar, não há nenhuma mudança de fato. Tudo o que foi feito até aqui visa deixar as coisas exatamente como estão e sempre estiveram. É mudar para não mudar.

Nunes, por força dos arranjos internos, elegeu-se vice e por ser o mais idoso ficou com a presidência, substituindo temporariamente a Marco Polo Del Nero, que se licenciou. É bem provável que a licença se torne definitiva e Nunes herdará então o comando, como José Maria Marin (sucessor de Ricardo Teixeira) e Del Nero (substituto de Marin).

É importante não perder de vista essa galeria ímpar de nomes, todos extremamente encalacrados com a Justiça norte-americana, que tomou a iniciativa de devassar as finanças e contratos de confederações, federações e da própria Fifa. Teixeira está sob risco de condenação e Marin em prisão domiciliar nos Estados Unidos.

Nunes tem a chance de dar um grito de libertação e provar que não é um reles pau-mandado de Del Nero & cia. Caso seja confirmado na presidência após os cinco meses de interinidade, terá a responsabilidade de tirar o futebol brasileiro do abismo em que se encontra.

Para isso, em primeiro lugar, precisa se atualizar. Logo na primeira entrevista, veio com aquele disparate zagalliano de que o Brasil é que tem a ensinar aos gringos. Uma frase de lascar, principalmente após aqueles dolorosos 7 a 1 em BH.

Exímio na arte do conchavo, Nunes poderia empregar esse talento de forma positiva para unificar interesses legítimos, fazer uma gestão transparente, valorizar os clubes e extinguir os esquemas obscuros que transformaram a CBF em sinônimo de maracutaia.

Como desportista e cidadão, gostaria de poder acreditar nos termos deste parágrafo acima, mas a realidade nua e crua não permite esses devaneios. Seria ilógico esperar uma ruptura institucional por parte de alguém que representa o status quo.

Ao que tudo indica, as coisas continuarão nos conformes, sem contrariar interesses ou bater de frente com questões incômodas – como, aliás, sempre fez na condição de presidente da Federação Paraense de Futebol.

Muita gente, inclusive amigos e respeitáveis colegas de ofício, brande a tese do bairrismo para enaltecer a eleição de um paraense. Menos, menos… O discurso pode ser bonito, mas o Pará nada tem a ver com isso – até porque ele foi eleito na vaga do Sudeste.

Com todo respeito, dar à eleição na CBF a dimensão de uma grande conquista regional é assinar atestado de ingenuidade e/ou desinformação histórica. Não há razão para festejos. A escolha é um arranjo do grupo que desgoverna e infelicita o futebol brasileiro há tempos.

Abro aqui um parêntesis: todos que convivem com Nunes sabem que é homem afável e simples, educadíssimo e amigo dos amigos. O erro está em vê-lo como alguém que não é: o grande redentor do futebol pentacampeão. Chega a até ser injusto, pois nunca teve esse perfil de desprendimento. Seu reinado de 25 anos na FPF é a prova maior do estilo conservador. Ora, se não contrariou a métrica local, como iria romper com as amarras viciadas da CBF?

Portanto, que ninguém se iluda ou espere milagres. Tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes.

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Blog campeão bate mais um recorde

O www.blogdogersonnogueira.com estabeleceu um novo recorde regional. Recebeu 7.964 visualizações e 4.919 visitantes (média de 1,62 visualização por visitante), com 118 comentários, na última quinta-feira, 14. O post sobre a proposta de torcida única no Re-Pa recebeu 4.824 visualizações no dia. Foi a segunda maior audiência da história do blog, atrás apenas dos 8.827 acessos do dia 21 de fevereiro de 2013.

São números que expressam a evolução e o prestígio do blog, hoje com a marca de 6,09 milhões de acessos e média diária de 3.641 visualizações (1.122 visitas). Nenhum outro blog regional, segmentado ou não, alcança tais marcas. Agradeço a todos os internautas e baluartes que ajudam a construir diariamente o blog campeão.

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Ano novo, velhas práticas

Através de seus dirigentes e executivos, a dupla Re-Pa tem unido o discurso de modernidade, projetando mudanças administrativas e até mesmo investindo na quebra de velhos conceitos. Na teoria, tudo muito bom. Na prática, antigos vícios reaparecem em todo o seu esplendor a cada começo de temporada.

O mais visível é a importação maciça de jogadores. Papão e Leão, juntos, contrataram até aqui 24 atletas. À Curuzu chegaram 16 (um foi liberado, mas será substituído). Ao Evandro Almeida, oito. Ambos ainda pretendem continuar com a gastança, devendo trazer mais reforços.

Por incrível que pareça, trata-se da primeira leva de aquisições. A segunda virá ao final do campeonato estadual, às vésperas do Brasileiro. No ano passado, o Papão contratou 40. Deve chegar bem perto disso nesta temporada. Nossos clubes fazem a alegria de empresários espertos e procuradores matreiros.

Os custos são naturalmente altos para os combalidos cofres do nosso futebol e, em determinadas situações, se tornam ainda maiores com a adição de pendências trabalhistas decorrentes de acordos mal costurados ou descumpridos.

É bem verdade que, nos últimos três anos, o Papão tem se destacado pelo zelo no cumprimento de obrigações, precavendo-se de litígios judiciais. O Remo, porém, ainda sofre com problemas desse gênero.

Chegou a hora de uma reflexão séria nos clubes quanto a esses gastos – alguns visivelmente desnecessários -, sob pena de a saudada nova era do nosso futebol morrer antes mesmo de começar a andar.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 17)