POR GERSON NOGUEIRA
Como já virou praxe às sextas-feiras, o Remo tomou novo susto anteontem com a notícia de que o presidente Pedro Minowa havia protocolado pedido de licença do cargo por 90 dias. Havia a especulação de que ele renunciaria formalmente, mas a opção pelo licenciamento é claramente uma manobra para tentar ganhar fôlego e retornar mais forte daqui a três meses.
Diante da iminente destituição pela Assembleia Geral do clube, que irá se reunir no dia 13 de julho, Minowa resolveu se antecipar. Caso venha a ser realmente destituído pela AG, ainda lhe restará a opção de buscar a reintegração por via judicial e trabalhando a imagem de vítima de perseguição no clube.
Não que o presidente esteja longe da verdade. Há, sim, gente interessada em sua saída, mas essa possibilidade só ganha força pelo estado geral de abandono do clube. As seguidas falhas administrativas e erros grosseiros de organização empurram naturalmente a gestão para a marca do pênalti.
Caso pretenda ainda permanecer na presidência, após a licença, Minowa precisará reunir um apoio que até hoje não conseguiu ter no clube. Colaboradores, conselheiros e beneméritos se afastaram, deixando-o isolado e sem margem de manobra. Venceu as eleições, mas na prática não se impôs como mandatário, abrindo espaço para que seus opositores se levantem nas instâncias internas do clube.
A coisa é tão confusa no âmbito político que até Zeca Pirão, responsável maior pela situação aflitiva que o clube atravessa do ponto de vista financeiro, estaria se apresentando como possível alternativa caso Minowa de fato desista de continuar como presidente. Dificilmente, porém, seria aceito pelos conselheiros depois dos diversos atos de irregularidade apontados pelo relatório da comissão investigadora nomeada pelo Condel.
Depois de ser avisado da inesperada decisão de Minowa, o presidente do Condel, Manoel Ribeiro, deu a entender que tende a optar por uma junta governativa. Ressalvou que se preocupa com o clube como um todo, não apenas com o futebol. Precisará explicar isso à torcida, ávida por resultados justamente no futebol.
Cabe notar que, muito além das ambições políticas de cada um, está o Remo. É o futuro do clube que está em jogo. Dirigentes e conselheiros têm a obrigação de assumir um posicionamento elevado e que mire nos reais interesses da agremiação, passando por cima dos projetos individuais.
A história em torno do acordo trabalhista com o jogador Athos é emblemática do momento conturbado que o Remo atravessa. Com direito a quase R$ 1 milhão em salários atrasados, o atleta aceitou duas tentativas de acordo rescisório, mas a diretoria (gestão de Pirão) não cumpriu o acertado e o caso se encaminhou ao tribunal, onde o advogado do clube teve que propor o acordo de R$ 400 mil, dividido em parcelas.
O mais grave de tudo é que, segundo o representante jurídico, ninguém no clube guardou os recibos de pagamentos feitos a Athos, que seriam decisivos na defesa do Remo.
São lambanças desse naipe que precisam ser eliminadas da vida do clube, independentemente de quem seja o presidente.
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Conmebol: devagar, quase parando
A Conmebol como sempre caprichou na lerdeza e evitou até o último instante se manifestar sobre a punição ao jogador Jara, do Chile, autor de prática imprópria às normas desportivas na partida contra o Uruguai. O bom senso indicava que Jara deveria ser afastado imediatamente depois da partida, pois as imagens da cena de mão boba configuram prova cabal da grave infração cometida pelo atleta.
Fiel à sua tradição de pouco rigor principalmente quanto a questões de natureza disciplinar, a Conmebol deixou a semana expirar sem revelar o que foi decidido sobre Jara. Anunciou uma estranha investigação, com toda pinta de artifício embromatório.
Só como comparação, na Europa casos disciplinares são julgados sob rito sumário, com divulgação imediata. Símbolo maior da velha cartolagem sul-americana, a Conmebol não consegue se libertar dos velhos vícios, nem mesmo em tempos de devassa na Fifa.
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Copa América premia favoritos
Com exceção do Brasil, cujo jogo aconteceu quando esta edição do Bola já estará impressa, os demais favoritos da Copa América estão garantidos na fase semifinal. O Chile, dono da melhor campanha e anfitrião do torneio, passou com dificuldades pelo Uruguai, em partida marcada por incidentes e pela fraquíssima atuação do árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci. Apesar disso, chega credenciado como real candidato ao título.
O Peru de Paolo Guerrero superou a Bolívia e é talvez o patinho feio da fase eliminatória, pois não estava entre os mais cotados.
Na sexta à noite, a Argentina só conseguiu avançar depois de emocionante série de penalidades forçada por um empate sem gols no tempo normal. Messi, Aguero (depois Tevez) e Di Maria criaram diversas situações de perigo, mas desperdiçaram quatro grandes chances contra um time colombiano tão preocupado em se resguardar que James Rodriguez jogou a maior parte do tempo como um volante recuado.
Duas seleções que gostam do jogo de habilidade e técnica, mas que exageraram nas faltas e jogadas de choque. Fica claro também que os jogadores que vêm dos campeonatos europeus sofrem com a sobrecarga física e não mostram o futebol que normalmente deslumbra o mundo.
Tudo isso contribui para uma competição de nível técnico apenas razoável, apesar de um forte sentido de rivalidade entre as principais equipes.
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Bola na Torre
Carlinhos, meia-armador do Papão, é o convidado da noite. Guerreiro comanda, com Tommaso e este escriba de Baião na bancada. Começa depois do Pânico, por volta de 00h10.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 28)