POR GERSON NOGUEIRA
A princípio, pode parecer que o Re-Pa deste domingo vale pouco. A interpretação deriva do fato de que, na quarta rodada do returno, o jogo não vai determinar a classificação ou a eliminação de um dos times. Não tem, portanto, caráter decisivo. Mas há, sim, um aspecto importante a ser considerado. São dois times em busca de afirmação.
Invicto há 9 jogos, o Remo já deveria se considerar devidamente aprovado pela torcida. Só que não. Poucas vezes ao longo dessas nove partidas o time mostrou consistência, segurança e confiabilidade. Talvez só mesmo na vitória sobre o Rio Branco, no Mangueirão, pela Copa Verde.
Contra o Princesa do Solimões, a vitória fora de casa parecia a prova de que o time havia encontrado a sonhada maturidade. No confronto de volta, no Mangueirão, depois de perder uma fieira de gols, padeceu com o cerco imposto pelos amazonenses na etapa final.
No Parazão, a situação não é tão diferente. A equipe evoluiu neste returno, mas tem oscilado muito de rendimento, indo de momentos satisfatórios a situações incômodas numa mesma partida.
Foi assim, por exemplo, contra o Tapajós, quando fez cinco gols e tomou outros cinco. Chegou a estar perdendo por 4 a 2, reagiu bravamente e virou para 5 a 4, mas acabou vitimado por falha que resultaria na penalidade e na concessão do empate.
A última exibição confirmou todas as impressões desconfiadas sobre o time. Diante do modesto Gavião, um dos piores times do campeonato, o time fez um primeiro tempo razoável, mas no segundo tempo aceitou intensa pressão e esteve a pique de perder a vantagem mínima no placar. Um jogo que tinha tudo para ser tranquilo tornou-se tenso e dramático.
O Papão, que ficou invicto por sete jogos, tem trajetória semelhante quanto à instabilidade. A troca de técnicos logo no começo do Parazão alterou planos de trabalho, mas pouco mudou a maneira de jogar. Apenas uma vez o time foi eficiente e satisfez as expectativas do torcedor.
Logo na estreia de Dado Cavalcanti, recebendo o Nacional na Curuzu, a equipe se impôs desde o começo e conquistou uma vitória irretocável por 4 a 1. Defesa, meio-campo e ataque funcionaram azeitadamente. A marcação encaixou, os deslocamentos aconteceram quase de maneira sincronizada e as chances não foram desperdiçadas.
Tudo parecia caminhar bem, mas depois disso o time passou a enfileirar atuações confusas e inseguras, até mesmo quando venceu. Exemplo disso foi o jogo contra o Castanhal, quando a vitória foi conquistada com extrema dificuldade, depois de um sufoco imposto pelo adversário.
Os dois jogos seguintes, pela Copa do Brasil e Copa Verde, resultaram em empates e atuações pouco inspiradas. Em Rio Brilhante, vencia por 2 a 0, mas permitiu que o desconhecido Águia Negra alcançasse a igualdade. Em Manaus, contra o Naça, ocorreu o inverso: o time entrou recuado, aceitando o plano de jogo dos donos da casa e só foi reagir no final.
A última apresentação pelo Parazão desnudou todos os problemas acima citados. Um comportamento errático, a partir dos 30 minutos de jogo, determinou a derrota frente ao Independente, em Tucuruí. Imprensado em seu campo de defesa, o Papão não encontrou meios de se livrar da arapuca armada pelo Galo Elétrico e escapou de um placar mais dilatado.
Por todas essas razões, o clássico entre os velhos antagonistas, que é sempre uma celebração, hoje terá também o caráter de prestação de contas. Será uma boa oportunidade para desmentir a impressão ruim deixada por ambos até aqui.
———————————————————–
A era do futebol gourmet
São Paulo, locomotiva econômica do país, vive disputa entre os grandes clubes pela captação de sócios torcedores. O gatilho foi disparado no final do ano passado com o êxito do Avanti, programa de ST do Palmeiras, que é hoje o que mais cresce no país. Assustados, Corinthians, S. Paulo e Santos passaram então a se mexer para não ficar para trás.
Em meio a isso, vantagens na forma de descontos e até milhagem de ingressos são oferecidas, sem contemplar o torcedor de perfil mais humilde. Enquanto os sócios têm acesso garantido aos grandes jogos, o antigo arquibaldo se vê obrigado a pagar em média R$ 200,00 por ingresso se quiser ver jogos medianos.
No Rio, a batalha ainda não é tão acirrada, mas o Flamengo já privilegia seu ST quando manda jogos no Maracanã, gerando cenários bizarros como aqueles 5 mil gatos pingados na imensidão do estádio na partida contra o Bangu no meio da semana. Tudo porque o torcedor comum teria que desembolsar cerca de R$ 120,00 para ver um jogo chinfrim.
Entre nós, a situação avança nessa direção, embora lentamente. Com calendário fechado para a temporada, o Papão anuncia 12 mil adesões (nem todas adimplentes) ao seu ST. O Remo dobrou seu contingente de ST nas últimas semanas, chegando a quase 5 mil. Apesar dos números modestos, começa a se consolidar a tese de que o futuro do futebol está no ST, o que justificaria cobrar ingressos sempre na faixa de R$ 50,00.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Tenho muitas dúvidas sobre o ST e prefiro esperar para ver o desenrolar dos acontecimentos.
———————————————————–
Clássico marcado por equilíbrio de forças
Time por time, reina um grande equilíbrio entre os titãs neste começo de temporada. Se o Papão tem a zaga mais experiente, com Dão e Willian Alves, o Remo compensa com o vigor de seus jovens beques, Igor João e Yan. A lateral direita é um raro ponto de clara superioridade bicolor, com a presença de Pikachu.
Na zona de marcação, o Papão tem Augusto Recife, Radamés e Jonathan. O Remo alinha Dadá, Felipe Macena e Alberto. Na criação, discreta vantagem azulina, com Eduardo Ramos versus Rogerinho. O ataque mantém a tendência geral de nivelamento, com Bruno Veiga/Aylon contra Val Barreto/Roni.
———————————————————–
Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda a atração na RBATV, a partir de 00h15. Na bancada, Giuseppe Tommaso, Ronaldo Porto e este escriba de Baião debatem a 4ª rodada do returno do Parazão.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 29)