Adeus ao último camisa 10

17182714

POR GERSON NOGUEIRA

Já faz algum tempo que o Brasil não produz um meia-armador clássico, daqueles que honram a mística camisa 10. Alex, um dos últimos moicanos, acaba de abandonar os gramados. O outro é Ronaldinho Gaúcho, que ainda se arrasta pelos campos, mas cujo futebol desapareceu em 2007 e nunca mais foi encontrado.

Os anos 70 e 80 e o começo dos 90 foram bem mais generosos com a posição mais cultuada do futebol. Daquela época é possível lembrar rapidamente de grandes nomes da posição. Rivelino, Zico, Mendonça, Zenon, Neto, Rivaldo, o nosso Geovani, Djalminha.

Talvez por isso seja imensa a nossa inveja dos argentinos, que nos últimos tempos têm nos superado nesse departamento. Não estou falando de Maradona, gênio, ou Messi, fora-de-série. Refiro-me a meias excepcionais, como D’Alessandro, Pablo Aymar, Ariel Ortega e, principalmente, Juan Román Riquelme. Todos criativos, jogando de cabeça erguida e bola colada aos pés, como reza a cartilha do futebol argentino.

Para nosso azar, Riquelme saiu de cena ontem, aos 36 anos. Anunciou a aposentadoria no estilo discreto que sempre cultivou. Com o ar superior, que muitos confundiam com marra, disse que preferia parar porque não recebeu propostas que o motivassem a continuar. Melhor assim do que ficar por aí enganando, como tantos outros.

unnamed (20)Jogava muito e não se está dizendo isso porque é a hora da despedida. Sem favor algum, Riquelme foi um dos melhores jogadores argentinos de todos os tempos. O que não é pouco, num país que sempre teve facilidade para revelar meio-campistas talentosos.

No plano internacional, o meia que começou no Argentinos Juniors e despontou no Boca Juniors em 1996 só não atingiu o patamar de um Zidane por não conseguir pontificar num grande time da Europa. Acontece. Zico e Sócrates também foram atrapalhados por essa circunstância desfavorável, própria dos fatores imponderáveis que rondam o futebol.

Os europeus podem não ter a dimensão exata da categoria de Riquelme, mas os sul-americanos, sim. Era, por assim dizer, uma atração permanente da Taça Libertadores, desfilando seu futebol elegante com a mesma presteza. Tive o privilégio de vê-lo em campo na Copa de 2006. Mesmo sem maior brilho, era especial.

Curioso notar que, ao contrário de tantos outros armadores, Riquelme sempre chutou muitíssimo bem com a esquerda e com a direita, desferindo petardos de média e longa distância. Seu posicionamento livre, caindo pelos lados e investindo pelo meio, desarvorava a marcação. Fazia muitos gols, quase sempre decisivos.

De certo modo, era quase como Garrincha, o gênio de um drible só. O argentino saía de seus marcadores sempre com fintas conhecidas, mas ninguém conseguia marcá-lo. Infelicitou muitas torcidas brasileiras e foi fiel ao seu amado Boca até o fim. No auge, quando convidado a jogar pelo rival River Plate, foi sucinto: “Não jogo lá nem f…”. Grande Román.

Os fãs do jogo bonito devem muito a “El Señor Futebol”. Obrigado.

————————————————–

Um reforço há muito esperado

Bismarck, o jovem meia-armador que o Remo apresentou ontem, esteve muito perto de vir jogar no futebol paraense nas últimas duas temporadas, mas sempre havia um empecilho a impedir sua contratação. Por indicação de Zé Teodoro, o jogador foi adquirido para entrar na briga pela camisa 10 do Leão no Parazão.

Por tudo que sempre se falou aqui, Bismarck tem tudo para corresponder aos anseios da exigente torcida azulina. Depois de se destacar no sub-18 do Icasa, subiu para a categoria profissional e chegou a jogar contra o Papão, marcando gol, há dois anos. Negociado com o S. Paulo, não teve muitas chances.

Com volantes habilidosos, como Dadá, Fabrício e Felipe Macena, o meio-campo do Remo pode ganhar muito com a chegada dele, que tem como trunfo a facilidade para dribles e passes.

No Re-Pa, apesar do natural desentrosamento, o setor foi o ponto alto do time azulino. Enquanto Ilaílson, Macena, Fabrício e Eduardo Ramos tiveram fôlego, o Remo dominou a partida e envolveu bem a marcação do Papão. Não por coincidência, quando os três últimos foram substituídos o time caiu vertiginosamente de produção. Bismarck tem tudo para tornar a meiúca azulina ainda mais qualificada.

————————————————

Parazão barra o pau de selfie

E não é que a febre do pau de selfie (epa!) não vai contaminar os jogos do Campeonato Estadual. Ainda bem. Por razões preventivas, o objeto de consumo preferido de muita gente – homens e mulheres – está terminantemente barrado nos estádios paraenses. Torcedores mais descolados certamente sentirão falta do referido artefato.

Quem confirmou a proibição foi o coronel PM Antônio Cavalcante, ontem, explicando que o pau de selfie poderia ser usado em possíveis arruaças entre gangues nos estádios. Ideal para fotografias por celular de pessoas e grupos, a haste metálica foi criada no Japão ainda nos anos 80, mas só teve utilidade reconhecida nestes tempos de era digital.

———————————————–

Quando a emoção prevalece

A TV exibiu ontem matéria que resume bem a paixão extremada do torcedor e sua reação diante do ídolo. André Laranjeira, botafoguense roxo, casado com uma botafoguense e pai de crianças que levam Botafogo até no nome, foi colocado frente a frente com o ex-zagueiro Sandro, ídolo alvinegro no começo dos anos 2000.

Surpreso com a chegada de Sandro a sua casa, André desmoronou. Chorou como criança. E, como não podia deixar de ser, sua emoção contagiou Sandro. Uma cena tipicamente botafoguense, que só um botafoguense (como este escriba) é capaz de compreender.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 28) 

9 comentários em “Adeus ao último camisa 10

  1. Riquelme, além das brigas com diferentes treinadores, que inviabilizaram algumas convocações, nunca teve jogadores a sua altura na seleção argentina durante seu auge futebolístico… Messi padece do mesmo mal, apesar de ser mais bem acompanhado (Di Maria, Aguero, Mascherano, Tevez, Higuain entre outros).

    Curtir

  2. Gerson, lembro-me do Riquelme, que acabou com a soberba paulistana, representada, na ocasião, pelo Palmeiras, na final da Libertadores, no Pacaembu. Riquelme fez um golaço. O Boca ganhou o título.

    Curtir

  3. Dizer que o messi não é bem acompanhado não me parece certo. Di Maria e Aguero são dois dos melhores jogadores do futebol mundial atualmente. Ainda tem o lavezzi, o Higuain, o Mascherano, o Zabaleta, Pastore…
    Quem sofre é o Neymar que antes tinha a companhia de fred e hulk, e agora de Diego Tardelli(!?).

    Curtir

  4. Flilipe,

    Di Maria até vai, tanto que fez muita falta na final (penso até que a Argentina ganharia, ja que teve mais chances durante o jogo), mas tomar Aguero craque mundial é dificil de engolir… Há pelo menos um time de jogadores melhor que o avante argentino. Ainda nesta toada digo que o mesmo vale para Mascherano, Higuain, Lavezzi e companhia… Não são jogadores ruins, longe disso, mas é fato que a seleção Argentina vive basicamente do talento de la pulga e Di Maria… Mas não há como negar que os que jogam ao lado de Messi são bem melhores do que os que jogaram ao lado de Riquelmi.

    Sobre Neymar digo apenas o seguinte, o time era fraco e foi mal selecionado, mas acima de tudo era muito mal treinado.

    Curtir

  5. Riquelme tinha muita semelhança com o Zidane. No Leão, espero que este Bismarck realmente complemente a briga pelo meio de campo. Na segurança, quase tudo que previna a violência é bem vindo.

    Curtir

  6. Infelizmente o futebol sul-americano fica mais pobre com a aposentadoria do marrento Riquelme. Se eu não estou enganado, em decisão de Libertadores contra times brasileiros, ele perdeu apenas uma, que foi contra o Corinthians em 2012.

    Curtir

Deixar mensagem para Carlos Lira Cancelar resposta