Um engodo e uma lição

POR GERSON NOGUEIRA

Os dois grandes da capital foram protagonistas de um mico monumental no meio da semana, vítimas de calote aplicado pelos promotores da tal I Copa Amazônia de Futebol. Caíram na esparrela por excesso de ingenuidade ou confiança exagerada. Acreditaram piamente na oferta de um cachê exageradamente generoso, de R$ 300 mil para cada um apenas pelo primeiro jogo. Com direito a mais R$ 200 mil para o time que chegasse à final e vencesse o torneio.

Da empreitada aloprada fica a lição para que se tenha mais cuidado com premiações mirabolantes. O povo costuma dizer que, quando a esmola é grande, o santo desconfia. Leão e Papão esqueceram essa lição milenar e mergulharam de cabeça na crença de que o evento era sério.

Os técnicos Sidney Moraes (PSC) e Zé Teodoro se posicionaram contra a participação, que iria interromper a preparação de seus times. Os dirigentes bateram pé, topando a parada e argumentando que a proposta financeira era irrecusável. E era. Errado foi não checar direito a procedência e o histórico dos promotores.

Divulgou-se que a empresa tinha tradição na realização de amistosos entre grandes equipes internacionais e até mesmo da Seleção Brasileira. Ninguém sabe dizer se isso é fato, mas a maneira como o grupo agiu em Belém demonstrou amadorismo e precipitação pouco comuns a grandes empreendedores do gênero.

unnamedO primeiro grande erro foi quanto ao preço dos ingressos. Cobrar R$ 50,00 (arquibancada) e R$ 100,00 (cadeira) é temerário quando o espetáculo é amistoso e envolve times em fase de montagem. Caso tivessem se preocupado em fazer pesquisa informal nas ruas de Belém ficariam sabendo que a torcida local não prestigia eventos caça-níqueis. Prefere jogos valendo ponto, taça ou acesso.

Era, portanto, jogo para R$ 20,00 (arquibancada). Como o preço inicial foi rechaçado pelo público, veio a segunda iniciativa reveladora de desorganização: a liberação de meia-entrada para pessoas de qualquer idade, afrontando o direito de quem havia comprado ingressos pelo preço inicialmente cobrado. A ausência de maior divulgação, restrita a três dias antes da partida, também contribuiu para o fiasco.

Do ponto de vista do torcedor que foi ao Mangueirão, o jogo foi interessante e valeu pela boa movimentação dos jogadores. Os clubes, porém, saíram perdendo como instituições. Foram levados na conversa pelos promotores e, no intervalo do clássico, chegaram a cogitar de desistir do jogo, não voltando para o segundo tempo.

O pagamento de R$ 90 mil para cada clube ajudou a sufocar em parte a revolta dos dirigentes, evitando que a lambança se consumasse publicamente. Anteontem, os empresários liberaram mais R$ 40 mil, totalizando R$ 130 mil para os dois rivais.

Nas circunstâncias, às vésperas da abertura da temporada oficial e sem receita há dois meses, o dinheiro é bem-vindo. Com alguma boa vontade, poderia ser dito que o negócio acabou sendo benéfico para ambos os lados, mas a triste realidade é que a trapalhada evidencia a situação extremamente vulnerável dos dois maiores clubes do Pará.

Obrigados a viver de aparência, contratando mais do que normalmente podem pagar, Leão e Papão passaram os últimos anos desafiando a lógica e o bom senso. Sobrevivem do esforço de alguns baluartes e da mística da rivalidade, ainda capaz de arrastar multidões aos seus jogos.

Caso não adotem conduta administrativa mais rigorosa, continuarão à mercê de oportunistas e sempre dispostos a aceitar qualquer valor – até a metade do combinado em contrato – como pagamento de dívida.

Respeito é fundamental.

————————————————-

Peixe: exemplo a não ser seguido

Depois de vender Neymar, há dois anos e meio, o Santos deixou de ganhar títulos e também perdeu o trunfo para conseguir patrocinadores. Faturou na negociação cerca de 25 milhões de euros, abaixo do que ganharam os representantes do jogador e os investidores.

O que seria o caminho para buscar outros craques revelados na Vila virou apenas o símbolo de uma derrocada. Atolado em dívidas (de quase R$ 500 milhões), o clube mergulhou na crise política e o próprio caso Neymar ainda é alvo de discussões acaloradas, dividindo a comunidade santista.

Neste cenário, o clube deixou rapidamente de ser formador de craques e passou a ser visto como mais um gigante em agonia. Prepara-se para a temporada contentando-se com veteranos (Renato, Robinho, Elano) para o elenco, enquanto as ações judiciais pipocam.

Impressiona no caso santista o curto espaço de tempo entre o período de bonança e o das vacas magras. O Peixe, como tantos outros grandes clubes brasileiros, revela toda a debilidade de uma estrutura corroída por desmandos financeiros e administrativos.

————————————————-

Bola na Torre

Rogerinho, meia do Papão, é o convidado desta noite no Bola na Torre, na RBATV. Apresentação de Guilherme Guerreiro, com participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Começa logo depois do Pânico, por volta de 00h10.

————————————————-

Direto do blog

“Ambos os dirigentes caíram por opção no canto da sereia, já que até mesmo o reino mineral sabe que o valor de mercado de Remo e Paissandu, para realização de jogo amistoso, não é equivalente aos R$ 300 mil prometidos pela empresa. Vale destacar que sempre defendi a participação do Papão no torneio do Maranhão já que os R$ 60 mil (com direito a hospedagem) prometidos pelo torneio maranhense estão próximos do valor de mercado do clube, além da exposição sempre benéfica pela TV. Em síntese, no caso do PSC, o erro foi da diretoria que acredita que o time vale muito por estar na Série B. Se valesse tanto, como alguns pensam, a cota seria maior. Para valer mais, o PSC tem que começar a plantar para depois colher.”

Por Carlos Lira, torcedor consciente do verdadeiro tamanho dos nossos clubes. 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 25)

17 comentários em “Um engodo e uma lição

  1. Eu acho que os dirigentes sabiam da possibilidade do calote, mas arriscaram para ver o que dava. Tirando o mico monumental, não acho que foi grande o prejuízo. Não se pode falar de prejuízo da imagem dos clubes pois essa já esta arranhada faz tempos. O que valeu foi a movimentação e os 90 mil que caiu na conta dos clubes.

    Curtir

  2. Se tivessem os próprios clubes organizado o jogo, anunciado com um mínimo de antecedência, teriam ganho pelo menos o dobro. O amadorismo, como sempre, marca as atitudes dos dirigentes.

    Em tempo: acabei de ver a decisão da copinha. Péssima partida, decidida numa falha horripilante do goleiro. Se o futuro do nosso futebol for isso…

    Curtir

    1. Concordo, amigo Davi. Uma pelada infame, horrorosa. E o Coringão com aquela sorte habitual. Ou o goleiro ajuda, como hoje, ou então o árbitro dá um jeito de se enganar kkk…

      Curtir

  3. Concordo plenamente, amigo Gerson… É uma coisa pra se esquecer, essa lambança feita pelos empresários e os clubes..

    Agora, penso que, se Remo e PSC querem mesmo ganhar dinheiro em início de temporada e não atrapalhar o planejamento adotado, é só oficializarem, desde já, um Re x Pa da pré temporada, em janeiro de 2016… É salutar, pois cada clube apresentará suas contratações, neste jogo, o que chamaria um bom público… É estudar e oficializar e vender ingressos já no início de janeiro de 2016… Com planejamento certo, tudo dará certo.

    Concordo com o amigo Celira… PSC, principalmente, na figura de seu presidente, que pensa que vale muito mais que os outros, sem ainda ter um time adequado às tradições do PSC, estando este, na série B

    É a minha opinião

    Curtir

  4. Troféu Camisa 13…..

    A festa de lançamento da 23ª edição será no dia 27/01, com direito a uma palestra especial para a comunidade esportiva paraense.

    O convidado será o presidente da Federação Catarinense de Futebol (FCF), Delfim Peixoto Filho, que falará sobre o sucesso do futebol de Santa Catarina. Zaire Filho, será um dos organizadores do evento. Presença do jornalista JB Telles, um dos mais consagrados do país. No lançamento do Troféu Camisa 13, vários dirigentes, jogadores e jornalistas participarão do evento e o torcedor será o centro das atenções.

    Curtir

    1. Amigo Cláudio, o Zaire é o organizador do evento, seu coordenador geral e o homem que toca o Troféu Camisa 13 desde sua criação, há 23 anos.

      Curtir

  5. Como disse, Remo e PSC não valem os 300 mil prometidos, mas (e aí concordo plenamente com o Gerson) os clubes devem cobrar o valor acertado no contrato, mesmo que judicialmente, posto que, aceitar metade do valor é mostrar que somos amadores/pirangueiros.

    Curtir

  6. Ei se não fui o primeiro, mas certamente fui um dos primeiros a comentar que isso seria fracasso total. Acertei em cheio. Não tenho bola de cristal, mas apenas analisei a situação com base no histórico e nas circunstâncias que envolveram o vento. Ou seja, 50 reais era preço de jogo decisivo em Belém, valendo 03 pontos. Observem que o Paysandu utilizou esse preço esse preço, no brasileiro, reta final, jogo decisivo e mesmo assim a galera chiou, imaginem um amistoso nesse preço???? Outra é que a nação bicolor, torcida milionária do norte quando resolve prestigiar o clube ninguém e nada consegue impedir essa torcida, nem mesmo preço de ingresso. Ocorre é que essa torcida está um tanto quanto desmotivada nesse início com as contrações que foram feitas pela nova diretoria do Maia, isso não é novidade até pelos comentários aqui no blog. Aí certamente não prestigiariam esse evento com ingresso a essa exorbitância. Se a nação bicolor estivesse satisfeita com as contratações, motivada , mesmo com ingresso caro, muitos prestigiariam e com isso também a torcida do outro lado também iria na barca e poderíamos ter um razoável a bom público. Se os ingresso fossem a 20, 25 certamente lotaria, como ocorreu se não me engano ano passado ou retrasado no REXPA amistoso vencido pelo Paysandu que deu mais de 20 mil pagantes.

    Curtir

Deixar mensagem para Cláudio Santos - Técnico do Columbia - Val de Cans Cancelar resposta