Os donos do mundo

POR GERSON NOGUEIRA

Cristiano Ronaldo e Lionel Messi duelam pelo troféu Bola de Ouro da Fifa há sete anos. Ninguém conseguiu se intrometer nessa batalha particular entre os dois grandes atacantes. Messi enfileirou quatro conquistas, de 2009 a 2012. CR7 venceu em 2008 e voltou a ganhar em 2013 e 2014.

Sua alegria incontida ao receber o prêmio das mãos de Thierry Henry, ontem, é plenamente justificada. Os planos de pulverizar os recordes do futebol, como um Schumacher dos gramados, estão mais vivos do que nunca.

O ano foi quase perfeito. Faturou quatro títulos, levou para casa 12 prêmios individuais e estabeleceu a impressionante média de quase um gol por partida (61 gols em 60 jogos), tornando-se indiscutivelmente um craque de primeira grandeza. Faltou apenas uma campanha mais convincente na Copa do Mundo.

Ao longo da carreira, os números de Cristiano são monumentais: em 715 jogos, o avante português marcou 460 gols, deu 151 assistências, conquistou três Bolas de Ouro e levantou 17 títulos. Ninguém discute que ele está hoje, ao lado de Messi, entre os principais jogadores da história do futebol moderno.

unnamed (17)O argentino, que acabou recebendo injustamente o prêmio de craque da Copa do Mundo realizada no Brasil, não cumpriu temporada das mais favoráveis. De talento pessoal indiscutível, Messi sofreu os efeitos da queda de rendimento do Barcelona depois da saída de Pep Guardiola.

Em comparação com o rival, La Pulga teve desempenho bem mais modesto. Foram 66 jogos, 58 gols, 22 assistências e nenhum título. Nada disso diminui o brilho de uma carreira fulgurante até aqui. Em pouco mais de 11 anos como profissional, Messi tem quatro Bolas de Ouro em casa, à frente de lendas como Zidane, Ronaldo Fenômeno, Platini e o próprio CR7.

Mais jovem que Cristiano, Messi parece ainda ter fôlego para ampliar seu cartel e a prova mais forte disso é que mesmo em ano ruim (como 2014) ele ainda entrou na lista de finalistas do maior prêmio individual do futebol mundial.

Pelo andar da carruagem, em situação normal, ambos ainda irão dividir o protagonismo de alto nível por mais duas temporadas pelo menos. Só a idade pode afetar essa rivalidade. Num futuro próximo talvez apenas Neymar, Bale e James Rodriguez sejam capazes de entrar na disputa.

Por característica, CR7 é um jogador de explosão e técnica apurada. Fisicamente mais completo, personifica a figura padrão do atleta. Consegue render em qualquer posição do ataque, inclusive o centro, e fazer gols de todo jeito.

Messi, ao contrário, concentra seus trunfos na habilidade e na intuição. Sem o mesmo porte e vigor físico de CR7, demonstra mais capacidade de surpreender. Seus dribles e inversões de posicionamento são quase impossíveis de marcar.

Todo esse encantamento não é capaz de disfarçar a maior frustração na carreira dos dois craques: a fraca contribuição às seleções de seus países. Na comparação com Maradona, por exemplo, Messi fica em flagrante desvantagem. Dieguito ganhou “sozinho” a Copa de 1986. Já Cristiano, que já se ombreia a Eusébio na idolatria dos lusitanos, padece com a histórica dificuldade de Portugal em mundiais.

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A aposta que termina em frustração

O ciclo de Leandro Cearense chega ao fim no Remo. Especulações apontam a Curuzu como seu provável destino, mas não há como esconder que sua passagem pelo Evandro Almeida foi bastante insatisfatória. O jogador sai frustrado por não ter conseguido agradar a exigente torcida azulina, principalmente pelo baixo rendimento na Série D 2014.

E o clube alimenta frustração ainda maior, pois o atacante não correspondeu às expectativas que levaram o presidente Zeca Pirão a investir alto na compra de parte de seus direitos econômicos, apostando na possibilidade de negociá-lo com o exterior.

Em mensagem postada no blog campeão, o grande benemérito Ronaldo Passarinho relembra o processo de negociação conduzido pela diretoria passada:

“Há dois anos, o Remo adquiriu 70% dos direitos econômicos do jogador, pela ‘módica quantia’ de R$ 170.000,00, com salário de R$ 20.000,00 no primeiro ano. No segundo, não sei. Àquela época, questionei o responsável pela operação, que me deu a seguinte resposta: ‘Calma, Ronaldo, ao final do campeonato de 2013, vamos vendê-lo para a Grécia, por 1 milhão de euros!’. A minha resposta foi imediata: ‘Para a Grécia? Inventa outro país, pois a mesma está falida’. Convenhamos que a quantia gasta foi um absurdo. LC, pela idade e pelo desempenho, não tem mercado capaz de investir tanto em sua compra. Espero ardentemente, que sob a direção do Pedro Minowa, com o futebol dirigido pelo Albany Pontes e pelo Miléo, não se cometam tantos desatinos”.

Para um atleta que chegou sob tamanha expectativa de lucro, Cearense sai com o Remo se contentando em deixar de ter despesas com ele – embora o jogador alegue que o clube lhe deve salários e gratificações.

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Baião promove campeonato sub-20

O I Campeonato Baionense Sub-20 foi vencido pela seleção de Joana Peres, em finalíssima realizada sábado à tarde, no simpático estádio do Norte América (antigo campo da Aviação).

O placar de 2 a 1expressa o equilíbrio técnico entre as equipes. A competição foi uma iniciativa do Conselho Municipal da Juventude, que já planeja promover um torneio feminino da modalidade.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 13)

 

Uma análise do “ódiojornalismo”

Por Ivana Bentes

Essa cultura do “ódiojornalismo” e o estilo Veja também aparecem na retórica dos articulistas e colunistas de diferentes jornais e veículos de mídia que formam hoje uma espécie de “tropa de choque” ultraconservadora (Arnaldo Jabor, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Merval Pereira, Demétrio Magnoli, Ricardo Noblat, Rodrigo Constantini, são muitos), que alimentam uma fábrica de memes de uma ultradireita que se instalou e trabalha para minar projetos, propostas, seja de programas sociais, seja de ampliação dos processos de participação da sociedade nas políticas públicas, seja de processos de democratização da mídia e todo o imaginário dos movimentos sociais.

Essa demonização da política tornada cultura do ódio se expressa por clichês e por uma retórica de anunciação de uma catástrofe iminente a cada semana nas colunas dos jornais e que retroalimentam, com medo, insegurança, ressentimento, uma subjetividade francamente conservadora de leitores e telespectadores.

Se lermos os comentários das notícias e colunas nos jornais (repercutidos também nas redes sociais), vamos nos deparar com um altíssimo grau de discursos demonizantes, raivosos e de intolerância, à direita e agora também à esquerda. Trata-se de uma redução do pensamento aos clichês, memes e fascismo, extremamente empobrecedora, mas incrivelmente eficaz.

Essa pedagogia para os microfascismos e a educação para a intolerância podem ser resumidos na retórica que desqualifica e aniquila o outro como sujeito de pensamento e sujeito político, o que fica explícito na fala de alguns colunistas.

Um exemplo muito claro, inclusive no seu cinismo, é este trecho de uma coluna do Arnaldo Jabor de 28/10/2014, pós-eleições. Com uma argumentação pueril e assujeitante que coloca eleitores, nordestinos e nortistas, pobres como “absolutamente ignorantes sobre os reais problemas brasileiros”, em um cenário pós-eleições em que “nosso futuro será pautado pelos burros espertos, manipulando os pobres ignorantes. Nosso futuro está sendo determinado pelos burros da elite intelectual numa fervorosa aliança com os analfabetos”.

Numa coluna anterior, de 14/10/2014, podemos ver como funciona essa pedagogia calcada na construção de memes e clichês, a obsessão anacrônica por Cuba e agora pelo “bolivarianismo” e o caráter ameaçador que se dá a qualquer política pública contemporânea e modernizante que tenha como horizonte a participação social:

“— Qual é o projeto do PT? — Fundar uma espécie de bolivarianismo tropical e obrigar o povo a obedecer ao Estado dominado por eles. — Que é bolivarianismo? — É um tipo de governo na Venezuela que controla tudo, que controla até o papel higiênico e carimba o braço dos fregueses nos supermercados para que eles só comprem uma vez e não voltem, porque há muito pouca mercadoria.”

Trata-se de metáforas primárias, mas capazes de se difundir velozmente em um “semiocapitalismo” para usar a expressão do ativista e pensador italiano Franco Beraldi, inspirada em Félix Guattari, que tem como base signos, imagens, enunciados que giram velozmente, viralizam, comovem. Essa é a base tanto do ativismo, da publicidade social, quanto do pensamento conservador. A questão é como desconstruir esses clichês e trabalhar para que essas mudanças em curso se massifiquem a ponto de se tornarem um novo comum.

A próxima desconstrução massiva da mídia se dará em torno das noções de “participação popular”, “liberdade de expressão” e “controle social”, buscando construir uma valoração negativa e associá-las a um projeto autoritário de “menos democracia” e de restrição de direitos, quando se trata justamente de redistribuir poder simbólico e capital midiático pelos muitos. Uma operação que está em curso e que busca articular: políticas de regulação da mídia com “censura” de conteúdos.”