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  1. Carta aberta em resposta à reportagem sobre a máfia das órteses e próteses

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    Carta aberta em resposta à reportagem sobre a máfia das órteses e próteses

    por Harlem Carvalho*

    Noite triste para Medicina brasileira em 4 de Janeiro de 2015. Ontem assisti melancolicamente a matéria sobre as indecentes propinas na comercialização de próteses na TV. Este escândalo é antigo, vem prejudicando todo o frágil sistema de assistência à saúde no País, não encontra guarita na respeitada comunidade médica e é combatida pelo CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Apenas agora a imprensa resolveu tardiamente dar enfoque.

    A matéria foi muito reveladora mas ficou incompleta. Não alcançou toda a cadeia de PROFISSIONAIS NÃO MÉDICOS que chafurdam na mesma lama, ganhando dinheiro indevidamente também, como representantes comerciais, técnicos especializados nas aludidas peças, diretores de hospitais, gestores de saúde ligados ao Governo, gestores dos próprios planos de saúde e até auditores. Além de não dar ênfase em toda cadeia do crime, focalizou o “médico” indistintamente, como se todas as especialidades participassem deste teatro de vampiros. A MENSAGEM SUBLIMINAR deletéria passada à população foi muito danosa aos profissionais honestos, que são a maioria absoluta.

    O ponto que faltou ser colocado no “i” é o CONTEXTO GERAL DE CRISE NO MODELO ASSISTENCIAL À SAÚDE NO BRASIL. Tudo começa pela massificação sem qualidade do ensino médico em péssimas faculdades públicas e privadas, formando médicos incompetentes e antiéticos com a autorização governamental de quem deveria impedir esta distorção. Como o Brasil pode ter mais faculdades de Medicina que os EUA e China, perdendo apenas para a Índia ? A problemática chega às cenas lamentáveis que testemunhamos ontem, passando pelas emergências lotadas, as mensalidades caríssimas dos planos, a negativas de cobertura, a escassez de bons profissionais e de serviços dignos, o aviltamento dos salários e honorários médicos.

    É preciso ficar claro que a carapuça não cabe na cabeça dos bons médicos de verdade, os quais são vítimas também pois são prejudicados com a sangria de valiosos recursos de todo o sistema. O desperdício acaba sendo compensado no achatamento da remuneração do médico honrado, que não se sujeita à fraude. Estamos fartos dos oportunistas desonestos entre nós e há tempos pedimos justiça neles.

    Nós, bons médicos, não somos como aqueles poderosos de plantão em Brasília que banalizam intencionalmente a corrupção para criar a cortina de fumaça do vale-tudo e de que todos seriam ladrões mesmo. Estamos majoritariamente contra eles desde as eleições de 2014. Já nos identificam como inimigos a serem destruídos porque incomodamos e denunciamos, junto com outros bravos segmentos sociais, seus planos maquiavélicos de poder total. Ficou claro, há tempos, para nós suas ameaças e sua campanha difamatória de todos os lados, como a de ontem.

    Avisamos que continuaremos na posição privilegiada ao lado de nossos sofridos pacientes, que não se deixarão envenenar indistintamente pela matéria jornalística ardilosamente calculada. Hoje, como em todos outros dias, vamos estar lutando por eles, cumprindo com nosso juramento sagrado e fazendo mais do que nossa obrigação, a fim de compensar os desmandos de uma minoria de maus médicos, dos Governos e dos planos de saúde. A população sabe separar o joio do trigo e os médicos do bem não precisam temer as fezes lançadas ao ventilador como ontem no horário nobre.

    *Harlem Carvalho é Graduado em Medicina pela UFBA em dezembro/1997 e Especialista em Oftalmologia pela UNICAMP desde janeiro/2001.

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  2. A reportagem é oportuna e é desnecessário dizer que em toda classe profissional há mocinhos e bandidos, e reduzindo o problema a termo, pelo enfoque do texto do Dr. Carvalho, há contrapontos importantes.

    Por primeiro, se tome que a medicina é uma verdadeira caixa-preta. O conhecimento médico é muito restrito aos médicos. E isso não é lógico. Veja, o conhecimento da Física não está restrito ao físico, como o da Química não está ao químico. Médicos precisam conhecer bem os fundamentos de Física e Química para exercer a profissão com propriedade. Mas o saber médico em si é uma exclusividade profissional mantida por tradição. Quem questiona a supervalorização social do médico? Foucault, em “O Nascimento da Clínica”, evidencia isso, apontando para a apropriação do corpo do paciente, o que só é possível graças ao desconhecimento do corpo.

    Segundo ponto. A proximidade entre médico e paciente favorece a apropriação do corpo do paciente pelo médico, o que é uma conclusão facilmente deliberada da leitura da obra de Foucault, supra mencionada. Nessa relação, o resultado perseguido pela ação médica, que é o alívio ou a cura de uma enfermidade, torna o paciente muito grato, sem dúvida. Isso significa que pode haver a fragilização do paciente na relação pré-estabelecida com o médico, podendo causar até mesmo desvantagem financeira ao paciente.

    Terceiro ponto. Não há, de modo algum, e nem pode haver, a pauperização do conhecimento médico pelo simples aumento das vagas ofertadas nos cursos de medicina do país. O Brasil necessita de mais médicos e por isso o governo amplia a oferta de vagas. Nunca houve tanto investimento nas diversas áreas de conhecimento como atualmente. Há a mesma queixa de queda de qualidade por parte da OAB, quanto aos bacharéis em direito. E também do CREA, sobre os engenheiros. Pura bobagem, isso tudo é uma ação de proteção de mercado. Uma das regras do capitalismo é a de que a competição, pela oferta, reduz os preços. Jamais se poderia afirmar, como quer o mercado, que o fenômeno da queda de qualidade do serviço se deva à qualidade da instituição formadora. Isso se deve à fragilização do sistema de ensino superior, posto que a universidade pública esteve sucateada e vem sendo paulatinamente recuperada. Em vez de transformar universidades públicas em centros de excelência e de referência para as futuras graduações de faculdades particulares, elas foram desmanteladas e perdeu-se a oportunidade de direcionar o desenvolvimento da graduação para as necessidades de cada região do país. Esse e outros fatores de políticas públicas para universidades restringem a formação de mais profissionais de medicina.

    Quarto ponto. A causa mais provável da “queda de qualidade” alegada é antes a formação do nível médio recebido pelos calouros. É fato que há cursos com mais tradição que outros, mais disputados. Duvido seriamente de que os mesmos alunos, os melhores segundo a colocação no vestibular, não se sairiam bem numa instituição privada e ajudariam a melhorar a reputação das faculdades privadas. Ou seja, há um claro movimento de migração dos melhores alunos para as faculdades mais tradicionais, públicas, em detrimento às novas, particulares, o que torna o problema muito mais um problema de sociologia da educação que de qualidade ou de capacidade técnica. Instituições como Harvard, MIT e Cambridge oferecem bolsas de estudos aos melhores alunos porque querem manter a reputação da universidade, não apenas pelo quadro de professores, mas pela qualidade dos trabalhos científicos apresentados por seus alunos.

    Quinto ponto. Vendedores e representantes das indústrias ligadas à saúde, como a farmacêutica, fazem visitas regulares a médicos em seus consultórios. Já ouvi resposta diretamente de um médico que esse é um modo de ficar por dentro das novidades sobre remédios e tratamentos. Isso é preocupante porque cada novo fármaco tem sua própria bula, seus efeitos e contra-indicações. Ele deveria procurar informações na literatura científica, e não em manuais de vendedores.

    Vou parar por aqui porque a lista é grande e continua. Isso é só para mostrar o quanto o paciente é dependente do médico, o quanto ele entrega ao médico, e o quanto se faz pelo paciente. A livre concorrência não se faz sem ética e não há ética sem vigilância. Não há como corroborar a afirmação de que os médicos honestos são maioria simplesmente porque não se pode afirmar que os CRM’s atuam sem corporativismo. É dizer, há mesmo independência e justiça que permita rapidamente investigar supostos erros médicos e punir os médicos que tenham mesmo se desviado da ética profissional?

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