Método Galvão proíbe mentir, mas aceita omissão

Por Mauricio Stycer

Há anos, Galvão Bueno vem repetindo a mesma definição sobre o seu método de trabalho. “Sou um vendedor de emoções”, explica a quem dá a honra de entrevistá-lo. O que isso quer dizer exatamente? Na conversa que teve com o comentarista Bob Faria, incluída no livro “Grito de Gol”, ele esclarece:

“Não adianta eu me esgoelar e dizer ‘que maravilha!!!’ se o jogo não presta. Mas também não posso dizer que o jogo não presta porque não posso convidar o telespectador a desligar a televisão”.

Ou seja, Galvão entende claramente que não pode mentir para o espectador, mas admite que a omissão é uma ferramenta de trabalho. No mesmo livro, o narrador desenvolve a ideia:

galvaobueno1“Onde é que você arranja energia para manter o cara ligado duas horas? No fim das contas, você é um chef de cozinha. Está faltando um pouco mais de pimenta, você vai colocar pimenta; está faltando um pouco de sal, você vai colocar sal; a comida está fria, você dá uma aquecida nela”.

Não chega a surpreender, por isso, um comentário feito por Galvão antes de começar uma transmissão de Fórmula 1 neste final de semana e vazado ao público sem que ele soubesse que era ouvido “Não vamos especificar tempo, porque na verdade ele está tomando meio segundo desde ontem”.

Quem acompanha F-1 entendeu na hora que era uma referência ao piloto brasileiro Felipe Massa, cujos resultados nas sessões anteriores de treino para o GP da Hungria o deixaram atrás do seu companheiro de Williams, o finlandês Valtteri Bottas, por uma diferença em torno, justamente, de meio segundo.

A orientação do narrador à equipe, portanto, era para não enfatizar a distância, grande para os padrões de F-1, que separava o brasileiro do finlandês. “Vendedor de emoções”, Galvão deve ter entendido que essa informação poderia desanimar o espectador brasileiro.

Massa largou em sexto lugar e chegou em quinto no GP. Bottas, que saiu em terceiro, chegou em oitavo. Um resultado não mais que razoável, mas festejado com muita emoção pelo vendedor Galvão. É o Brasil na F-1.

5 comentários em “Método Galvão proíbe mentir, mas aceita omissão

  1. Merece um prêmio quem consegue aturar esse chato por noventa minutos, eu não consigo nem por um segundo. Minha paciência estourou com o Galvão na final da Copa das Confederações de 1997, quando o Brasil venceu a Austrália por 6×0, com Ronaldo e Romário marcando três gols, cada. Na véspera, eu havia tomado o maior porre da minha vida e estava com uma dor de cabeça terrível durante o jogo, e para piorar, o Galvão puxou tanto o saco da dupla RO-RO que cada babação dele era como uma martelada na minha cabeça.

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  2. Eu não vejo problema em omitir que o jogo tá chato. Na verdade não preciso que me digam isso, é muito claro para mim a nossa pobreza futebolística. Por isso, torço apenas para o Clube do Remo, ainda que, mais pelo coração do que pela razão, pois o futebol brasileiro há muito carece de bons técnicos e jogadores, chega a ser uma lástima assistir a um jogo do campeonato brasileiro da primeira divisão, onde o único time que ainda joga um bom futebol é o Cruzeiro!

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