O anti-Nelson Rodrigues

Por Paulo Nogueira 
unnamed (86)O Anti-Nelson Rodrigues é uma das últimas peças de Nelson Rodrigues. O nome extravagante tem um motivo óbvio: o final é feliz.
Um beijo cinematográfico sela a história: os dois protagonistas estarão juntos para sempre, como num conto de fadas.
Isto é o anti-Nelson Rodrigues: suas peças jamais terminaram bem.
Fora do terreno da dramaturgia, temos hoje no Brasil o anti-Nelson Rodrigues. Paradoxalmente, é alguém que se considera um discípulo apaixonado de Nelson Rodrigues e o cita obsessivamente.
É Arnaldo Jabor.
Jabor é o anti-Nelson Rodrigues porque faz exatamente o oposto daquilo a que o maior dramaturgo brasileiro se dedicou com tamanho empenho.
Nelson Rodrigues gastou boa parte de seus incontáveis artigos nos jornais identificando, e combatendo, uma patologia nacional.
Ele dizia que o brasileiro era um Narciso às avessas, alguém que cospe na própria imagem.
Para ele, o futebol retirou o brasileiro da sarjeta emocional em que se arrastava desde sempre. O primeiro título mundial, em 1958 na Suécia, fez o brasileiro finalmente se orgulhar de seu país, e de si mesmo.
Isto, sabia ele, era fundamental para a construção do país. Você não constrói nada – uma família, uma empresa, muito menos um país – sem que as pessoas sintam respeito por elas mesmas e pelo grupo a que pertencem.
O anti-Nelson Rodrigues faz o oposto.
Em seus artigos e comentários no rádio e na tevê, Jabor se esmera em depreciar o Brasil e os brasileiros.
Numa fala na CBN que viralizou na internet, e já é um clássico das grandes asneiras da mídia, Jabor disse algum tempo antes da Copa que o Brasil daria um vexame mundial.
Nossa incompetência para organizar um evento de tal envergadura ficaria brutalmente exposta, segundo ele.
Veio a Copa e ela foi o anti-Jabor.
No mesmo texto em que vaticinou o apocalipse futebolístico, ele disse que o Brasil não é sequer o terceiro mundo. É o quarto.
Os ouvintes e leitores de Jabor são regularmente massacrados com a mensagem de que o país deles não presta – e nem eles.
Razões objetivas para detestar o Brasil ele não tem. Em que outro país teria o espaço na mídia que o Brasil lhe oferece? Em que outro país faria palestras a 20 mil reais ou mais a hora?
O Brasil é uma mãe amorosa para Jabor. E Jabor devolve o amor com desprezo. Ele lembra, neste sentido, o Oswaldinho de o Anti-Nelson Rodrigues. A mãe o adora, e ele a despreza com ferocidade. “A senhora sempre liga na hora errada”, grita Oswaldinho ao telefone numa cena à mãe rejeitada.
Por que tanto ódio?
É alguma coisa que só o próprio Jabor pode responder. Eis um homem atormentado, você logo percebe.
Teria sido o fracasso no cinema o responsável pela raiva que inunda Jabor? Só ele sabe.
O que ele talvez não saiba é o mal que, como Anti-Nelson Rodrigues, faz aos que o ouvem no rádio, o leem nos jornais e o vêem na tevê.
Jabor projeta sobre eles, impiedosamente, toda a sua amargura, todas as suas frustrações, todo o seu rancor.
Os que hoje o levam a sério um dia, caso acordem, podem desejar algum tipo de indenização por terem sido devastados numa coisa tão importante como o respeito por si mesmos.
É uma conta que jamais poderá ser paga – nem pelo anti-Nelson Rodrigues que atende por Jabor e nem por ninguém.

A sentença eterna

“Não importa quão necessária ou justificável seja uma guerra, ela será sempre um crime.”

De Ernest Hemingway

Diálogo e bom senso para reformar o futebol

Em reunião entre o Bom Senso FC e a presidenta Dilma Rousseff, na tarde desta segunda-feira, o Brasil deu um encaminhamento importante rumo a um futebol mais moderno e democrático. Foram discutidos três passos iniciais: primeiramente, a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, ligada ao fair play financeiro pleiteado pelo movimento; depois,  a democratização da estrutura política do futebol e, por fim, o Plano Nacional de Desenvolvimento do Futebol.

Segundo Toninho Nascimento, Secretário Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor do Ministério do Esporte, em alguns dias deve ser fechada a proposta com relação à Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte. A presidenta Dilma Rousseff ainda se reunirá com os clubes para ouvir as contribuições finais para que o projeto seja adaptado às necessidades imediatas do futebol brasileiro.

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Ricardo Borges Martins, diretor-executivo do Bom Senso FC, ressaltou, em entrevista coletiva, a necessidade de mais instrumentos de fiscalização: “É necessária uma apresentação semestral da Certidão Negativa de Débitos e um comprovante de pagamento dos funcionários”.

Toninho destacou ainda que o Ministério do Esporte se preocupa com a relação entre empresários e clubes – julga que não é hora de fortalecer ainda mais o poder dos empresários, e sim destinar uma parte maior do dinheiro da venda dos atletas aos clubes – e com a negociação de jogadores muito jovens.  “É o começo da modernização. A curto prazo, a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte; a médio prazo, a democratização e a longo prazo o Plano Nacional”, afirmou Enrico Ambrogini, outro diretor-executivo do movimento.

Foi-se o homem, ficou o estilo

Por Fábio Chiorino

Logo no primeiro take da entrevista exclusiva do programa Fantástico (Rede Globo) com Neymar, alguém aparece ao fundo, de braços cruzados, acompanhando a pergunta inicial dos apresentadores Tadeu Schmidt e Renata Vasconcellos. A cabeça está cortada, mas aparenta ser a figura do pai de Neymar. Ou de algum assessor de imprensa. Enfim, alguém que está lá para monitorar tudo o que é dito pelo jovem de 22 anos.

Destoando da postura mais incisiva na coletiva de imprensa dias após o vexame contra a Alemanha, Neymar parecia ter ensaiado todas as falas. Quase como um jogral programado para evitar danos, acusações ou polêmicas. Um alienígena que parasse na frente da TV naquela noite poderia jurar que era mais um astro pop de uma boyband qualquer. O boné com a rubrica do jogador, os óculos e brincos modernosos. Neymar não era mais o escudo da CBF que soube enfrentar os jornalistas com galhardia. Era apenas um jovem soltando clichês insignificantes.

downloadMas por quê? Neymar honrou a camisa amarela durante a Copa e foi, segundo estudo da Pluri Consultoria, o único jogador brasileiro que saiu valorizado do Mundial. Não foi brilhante em todos os jogos, mas procurou a todo o momento ser o líder de uma equipe desorganizada que o procurava como esperança única. Conceder uma nova entrevista agora só faria sentido se assumisse algumas opiniões importantes, com a cabeça mais fria, em um estágio em que todos se perguntam como o Brasil pode retomar o seu protagonismo dentro de campo.

Mas nem o melhor Media Training consegue prever alguns deslizes. Ao ser indagado sobre as falhas na preparação da Seleção brasileira, Neymar negou, mas sua fala perdeu sentido ao afirmar: “Eu sou um cara que não entende muito de tática”. Apesar da insistência dos jornalistas, o jogador se esquivou e preferiu não remoer as análises sobre a participação do Brasil na Copa do Mundo.

Quando a pauta guinou para o futuro da Seleção, Neymar também foi evasivo e não opinou sobre a possibilidade de um técnico estrangeiro. Abriu uma exceção ao admitir que o país tem problemas na formação dos atletas e que está alguns degraus abaixo de Alemanha e Espanha. Na sequência, perdeu-se tempo com mensagens dos amigos internautas, piadas nas redes sociais e perguntas sobre seu relacionamento amoroso como a atriz Bruna Marquezine. Depois, mais alguns questionamentos sobre destaques da Copa, sua contusão e o tempo de recuperação.

A entrevista foi mais bem treinada que a Seleção brasileira na Copa do Mundo. Após o drama vivido, a celebridade estava de volta. Sem nenhuma mensagem importante para ser compartilhada com a audiência. Muito menos alguma visão mais lúcida sobre o buraco em que o Brasil se meteu. O líder da Seleção não estava lá para contribuir com a discussão, e sim para encerrá-la. Não remoer. Não entender. Não apontar. Nada.

Se espremer a entrevista, sobra muito pouco. Ou resta apenas um diálogo curto, tolo, solto, que curiosamente traduz o que se viu na noite de domingo.

Tadeu Schmidt: “Você usa óculos mesmo ou é só charme?”
Neymar: “Isso é só um estilinho”.

A impressão é que Neymar tem pressa para apagar logo esse fracasso de sua carreira. Porque precisa estar rapidamente pronto para ressurgir, marcar gols, causar euforia, vender cuecas. Deixe que seus empresários ganhem os microfones para acusar os técnicos e companheiros pelo revés. O Neymar daquela coletiva de imprensa já não existe mais. Foi um lapso, um erro, uma ousadia desencorajada pelos manuais de marca. A derrota não está lá para ser aprendida, absorvida, mastigada com raiva. É uma bobagem. É uma intrusa que atrapalha o seu estilo. Um estilinho.

Arquitetos sugerem que arenas se tornem casas

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Sylvain Macaux e Axel de Stampa são arquitetos da 1Week 1Project. E eles, preocupados com as questões sociais que afligem o Brasil enquanto a festa da Copa do Mundo passava pelo país, pensaram em uma ideia para aproveitar de forma melhor os 12 estádios construídos para o evento. Como? Transformá-los em casas para sem-teto.

“O que é mais global, alardeado na mídia, e questionável do que a Copa do Mundo? Nós lemos, como todos, sobre os protestos sociais no Brasil, sobre todo o dinheiro gasto para a Copa do Mundo. Nós tentamos encontrar uma resposta para a questão da nossa maneira, com um conceito e uma imagem poderosos”, disse Macaux em entrevista ao siteFast Company. “Os estádios são tão grandes que são quase absurdos.”

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O custo total dos estádios ficou em quase R$ 8,5 bilhões, o que espantou os arquitetos. Por isso, eles acreditam que os apartamentos em estádios ajudariam a “distribuir” melhor tal soma com os 18,6% da população que vivem na linha da pobreza. Para Macaux e De Stampa, mais da metade dos 250 mil sem-teto do país poderiam viver nessas habitações sugeridas.

O custo total dos estádios ficou em quase R$ 8,5 bilhões, o que espantou os arquitetos. Por isso, eles acreditam que os apartamentos em estádios ajudariam a “distribuir” melhor tal soma com os 18,6% da população que vivem na linha da pobreza. Para Macaux e De Stampa, mais da metade dos 250 mil sem-teto do país poderiam viver nessas habitações sugeridas.

Pelos projetos apresentados, eles pensaram em dois estádios para realizar a empreitada: o Mané Garrincha, em Brasília, e a Arena das Dunas, em Natal. Para o estádio na capital federal, a área externa – com vários pilares de sustentação – receberia os pequenos apartamentos; para a construção potiguar, as partes de dentro e de fora abrigariam as casas – até com vista para o campo.

“Seria uma experiência e tanto. Talvez os donos recebessem alguns convidados para assistir aos jogos. Mas se você não gosta de futebol, pode ser problemático”, brincou o arquiteto. “É um pouco de ambição, mas nós gostaríamos de trazer as pessoas para se questionarem sobre os contextos sociais que sempre acompanham esses programas.” (Da ESPN)

Papão sai em busca de mais três reforços

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O gerente de futebol do Papão, Sérgio Papellin, informou à Rádio Clube que o clube pretende fazer mais três contratações para a Série C. O pedido foi feito pelo técnico Vica, que identificou carências no elenco e pretende arrumar o time ainda nesta primeira fase da competição. Vica quer dois zagueiros e um atacante. Alguns atletas já foram sondados, mas as negociações não avançaram em função de desacordos salariais. Papellin discordou do técnico quanto à atuação em Cuiabá. Para o gerente, o time não foi bem e precisa reagir. Já o treinador considerou satisfatório o desempenho da equipe, apesar da derrota por 3 a 2. (Foto: MÁRIO QUADROS/Bola)

Remo comprou bolas “piratas” para treinamento

Diretores do Remo, a pedido do técnico Roberto Fernandes, se apressaram em comprar 10 bolas para a equipe treinar para a Série D. Detalhe: as bolas teriam que ser, obviamente, as oficiais do torneio, fabricadas pela Nike. Ocorre que, por um descuido, as bolas adquiridas são genéricas (piratas). Com isso, os jogadores acabaram treinando para a estreia com as bolas erradas. A informação foi repassada pelo repórter Paulo Fernando Bad Boy, da Rádio Clube, que promete dar mais detalhes sobre a lambança no programa “As Últimas do Esporte”, que a emissora transmite a partir de 22h.

Atletas do Brasília estavam regulares, diz CBF

A CBF enviou na manhã desta segunda-feira um ofício ao STJD, informando que todos os jogadores do Brasília estavam regulares (com prorrogações de contratos feitas em tempo hábil) e aptos a atuar contra o Papão na decisão da Copa Verde. Segundo a entidade, teria ocorrido uma pane no sistema de informática, obrigando a publicação no BID, com efeitos retroativos, no dia 18 de junho de 2014. A comunicação é assinada pelo diretor de Registro e Transferências da CBF, Luiz Gustavo Vieira de Castro.

O departamento jurídico do Paissandu ainda não se manifestou oficialmente sobre o posicionamento da CBF. Abaixo, a reprodução do ofício que foi enviado ao STJD e também encaminhado à Federação Paraense de Futebol.

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A sentença eterna

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“Dói, não importa de que lado as bombas estão caindo”.

(by Eddie Vedder) 

Confirmado: Dunga volta ao comando da Seleção

Por Pedro Mota Gueiros – O Globo

2010_339120643-2010070159977.jpg_20100701Há exatos 100 anos, a seleção brasileira tinha tudo pela frente ao iniciar sua trajetória com vitória por 2 a 0 sobre os ingleses do Exeter City. Na terça-feira, no primeiro dia do seu segundo século, só resta o passado como estímulo e ameaça para o futebol pentacampeão do mundo manter sua hegemonia. Depois de o Brasil sair da Copa humilhado como o anfitrião que cai com a cara no bolo, o chamado à lucidez não resistiu à tendência de negar a realidade. No momento em que o esporte nacional necessita de uma internação para recuperar a identidade e o prestígio de outrora, a CBF contratou um ex-empresário de jogador, Gilmar Rinaldi, para coordenar a reestruturação, e anunciará a volta do técnico Dunga, símbolo maior do futebol de resultados e da combatividade, dentro e fora do campo.

Enquanto o mundo se pergunta aonde foi parar a alegria e a beleza do futebol brasileiro, os dirigentes preferem exibir a outra face. Ao levantar a taça do tetra, Dunga fez da sua maior glória uma explosão de palavrões e impropérios contra aqueles que supostamente o perseguiam desde a derrota de 1990. Se o revanchismo marcou seu momento de maior alegria, o atual descrédito que cerca a seleção suscita reações tão surpreendentes quanto a virtual escolha da CBF. A julgar pelo fato de a entidade ter anunciado o nome de um gaúcho em quatro das últimas cinco trocas de técnicos, o presidente da federação do Rio Grande Sul, Francisco Noveletto, tem legitimidade para confirmar a volta de Dunga, que comandou a seleção entre 2006 e 2010, com bons resultados até a derrota para a Holanda nas quartas-de-final da Copa da África do Sul.

— Depois que o Dunga acertou para voltar à seleção, sumiu do radar, mas não tenho raiva dele. Até porque, se viesse falar comigo, teria de me contar tudo sobre o retorno — disse Noveletto, ao Lancenet, lembrando que estava intermediando a ida do técnico para a seleção da Venezuela até que o interesse da CBF mudou o rumo da negociação. — É um homem de caráter, correto e ideal para comandar esse processo de reestruturação. Sou opositor ferrenho da atual administração, não fui consultado para nada, mas não poderiam ter escolhido um nome melhor para a seleção.

Depois de antecipar a contratação de Gilmar, a Rádio Joven Pan, de São Paulo, também já dava como certa a assinatura do contrato para a volta de Dunga. Apesar do comando gaúcho à beira do campo, a CBF conserva sua ligação histórica com o Rio de Janeiro apenas por obediência ao estatuto que só permite a retirada da sede da capital fluminense com a anuência dos presidentes das 27 federações. Com a renúncia do ex-presidente Ricardo Teixeira, seu sucessor José Maria Marin manteve a estrutura anterior até o fim da última Copa. A partir de agora, a transição surge como uma declaração de princípios de Marco Polo Del Nero, atual comandante da Federação Paulista e presidente eleito da CBF para mandato que já começou de fato embora o cartola só tenha direito a tomar posse do cargo no ano que vem.

— Não vai levar mais de um ano e meio para as pessoas reconhecerem que o valor do trabalho da última comissão técnica – disse um integrante da gestão anterior, lamentando a troca de Luis Felipe Scolari por Dunga. — A atual geração do futebol brasileiro não tem um único jogador como protagonista no futebol europeu, nem o Neymar que ainda está se firmando no Barcelona. Como o time que tinha, o Felipão foi muito longe ao levar o Brasil entre os quatro. É bom lembrar que o Dunga nem chegou às semifinais em 2010.

As acusações entre antigos aliados só reforçam a prevalência dos projetos pessoais sobre soluções institucionais. Antes que se estabeleça uma discussão sobre o papel da CBF, para além da negociação de patrocínios e de amistosos para a seleção, a imediata troca de nomes celebra a mudança para manter a máquina em funcionamento. Antes que a rejeição angariada por Dunga, principalmente por conta de sua relação difícil com a imprensa, sirva para condenar sua escolha, é preciso separar as relações pessoais da sua capacidade de trabalho. Desde os tempos de jogador, Dunga foi mais avaliado pelo temperamento do que pelo futebol. Apesar do apetite pelos carrinhos e divididas, era um volante que raramente errava passes e que usava o lado de fora do pé para dar lançamentos, como aquele em que Romário fez um dos gols na vitória sobre Camarões em 1994.

A dificuldade de estabelecer as nuances que formam a personalidade esportiva de Dunga faz o futebol brasileiro sofrer de uma certa bipolaridade desde 1982. Embora aquela seleção tenha sucumbido ao maior equilíbrio do ótimo time da Itália, sua eliminação foi interpretada como a vitória da força sobre a técnica. Desde então, a tendência dos técnicos brasileiros a encher o meio-campo de volantes, a começar por Telê Santana, que jogou com Elzo e Alemão em 1986, deu origem a Era Dunga, que já entra no segundo século da história da seleção. Visto como uma antítese da última geração romântica do futebol brasileiro, Dunga se alimentou desse confronto que até hoje prejudica o diálogo entre a organização e o talento.

A BUSCA PELO EQUILÍBRIO

Enquanto os campeões do pragmatismo insistem que a beleza da geração de Zico, Sócrates e Falcão tem a marca da derrota, os românticos preferem perder com classe do que ganhar de qualquer jeito. Muitas vezes, os extremos estão de um lado só. De símbolo da derrota de 1990 a capitão da conquista na Copa seguinte, Dunga foi líder capaz de preservar o gênio de Romário em 1994 e de dar uma cabeçada em Bebeto quatro anos depois. A busca pelo equilíbrio de todo o futebol brasileiro começa pelo seu futuro comandante.

Reação normal depois de um período de extrema excitação, a depressão pode se tornar algo mais grave quando os sintomas se agravam em vez de serem atenuados com o tempo. Passada uma semana do fim da Copa, as decorações e as lembranças ainda vivas fazem o torcedor brasileiro vagar pelas ruas como um zumbi, à espera do próximo revés. Depois da saraivada de gols nos últimos dois jogos, as declarações de Felipão, de que o trabalho fora bem feito.

Remo decepciona na estreia

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Por Gerson Nogueira

O Pará não podia ter um recomeço pior de temporada nos torneios nacionais. Foi apenas um ponto conquistado em nove disputados. Duas derrotas e um empate, sendo este em casa. Paissandu, Remo e Águia demonstraram fragilidades e limitações diante de adversários de nível apenas razoável.

Com a bola mostrada ontem pelos nossos três representantes, o cenário mostra-se dos mais desanimadores. Fica difícil acreditar em acesso e é cada vez mais visível o fantasma de rebaixamento, pelo menos no caso do Águia, que permanece em último lugar no grupo A da Série C.

Em Bragança, com atuação cheia de altos e baixos, o Remo escapou de uma derrota frente ao Moto Clube logo na estreia. No começo do jogo, Danilo Rios e Robinho conseguiram criar boas situações de ataque, mas o último arremate era sempre defeituoso.

Mas, aos 32 minutos, no primeiro deslize da defensiva azulina, nasceu o gol maranhense. Ao contrário dos atacantes remistas, Fabiano não desperdiçou a oportunidade diante do goleiro Maick Douglas e disparou para as redes, marcando 1 a 0.

A vantagem deu ao Moto a confiança necessária para continuar insistindo e buscando mais gols, aproveitando-se do nervosismo que passou a dominar a equipe de Roberto Fernandes.

Veio o segundo tempo e o Remo continuava cambaleante. Empurrado pelos torcedores, ia à frente, mas esbarrava sempre na retranca do Moto ou na imperícia de seus próprios atacantes. A situação só mudou com a entrada de Val Barreto no lugar de Roni.

De estilo agressivo, Barreto passou a levar perigo dentro da área e acabou responsável pelo gol de empate já nos acréscimos. Depois de falta sobre Leandro Cearense dentro da área, aos 49 minutos, Barreto pegou a bola e converteu a penalidade.

Muito pouco para um time que se preparou desde o final do Campeonato Paraense e tem a Série D como prioridade máxima na temporada. A competição está apenas começando, mas Fernandes terá que trabalhar muito para arrumar a casa.

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Papão cai na Arena Pantanal

Na estreia oficial de Vica como técnico, o Papão sucumbiu ao Cuiabá, sofrendo gols em sequência, não tendo força e organização para reagir em busca do empate. O primeiro tempo foi muito ruim, com excesso de passes errados e poucas jogadas de perigo.

O Cuiabá entrou mais resoluto na etapa final, aproveitando o incentivo da torcida e chegou ao gol logo aos 8 minutos. Marcelo Toscano subiu mais que os zagueiros e desviou para as redes.

A pressão continuou e dez minutos depois veio o segundo gol. Careca, ex-bicolor, aproveitou rebote de Douglas e marcou.

Em rápida subida ao ataque, nasceu o primeiro gol alviceleste. O atacante Ruan bateu forte da entrada da área, abrindo perspectivas de uma reação. Ocorre que o Cuiabá nem deixou o Papão se animar.

Com boa saída para o ataque, o time mato-grossense explorava os contragolpes, sempre com chegada forte na área bicolor. Aos 39, Gilsinho ampliou o marcador com um chute que encobriu o goleiro Douglas.

De cabeça, Gabriel Barcos ainda marcaria o segundo gol paraense, aos 43 minutos. O Papão insistia, com cruzamentos seguidos, mas o setor defensivo do Cuiabá funcionou bem, não dando oportunidades para uma reação final.

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Águia desaba em Marabá

A mais desastrosa atuação paraense na rodada aconteceu no estádio Zinho Oliveira, em Marabá, onde o Águia foi dominado pelo CRB e permaneceu na lanterna do grupo com apenas quatro pontos.

A partida foi confusa na maior parte do tempo, com o Águia tendo pouco espaço e quase nenhuma criatividade para manobrar na intermediária alagoana. Depois de um contra-ataque, aos 42 minutos do primeiro tempo, o volante Gleydson abriu o placar.

O Águia tentou buscar o empate, com Aleílson mais avançado, mas foi o CRB que acabou se dando bem no segundo tempo. Aos 30 minutos, o ex-bicolor Alex William marcou o gol da vitória.

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Uma novela cheia de especulações

10488089_674683359274976_355920493349842589_nA boataria em torno do novo técnico da Seleção Brasileira tomou conta do noticiário esportivo no fim de semana, superando em grau de relevância a chinelada sofrida pelo lanterninha Flamengo em Porto Alegre, mais uma corrida zicada de Felipe Massa e até a acachapante derrota da seleção de vôlei para os EUA na Liga Mundial.

Será engraçado se as previsões da Jovem Pan, da Placar e do Extra se revelarem furadas amanhã, por ocasião do anúncio oficial do técnico da Seleção pelos dirigentes da CBF. Já há uma segunda versão indicando que Leonardo poderia ser o novo comandante, embora a aposta em Dunga seja mais forte até o momento.

Muito além do retrocesso que uma eventual volta de Dunga representa, tal escolha deixaria a Seleção Brasileira numa espécie de círculo vicioso entre quatro treinadores, todos unidos pela presunção e a falta de reciclagem: Parreira (1994 e 2006), Zagallo (1998), Felipão (2002 e 2014) e Dunga (2010).

Será que o futebol brasileiro não consegue revelar novas cabeças?

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 21)