Por Gerson Nogueira
Nem bem passou a ressaca da Copa das Copas e eis que a torcida brasileira é surpreendida por um episódio inusitado, que faz pensar sobre o que de fato se passa na cabeça dos homens que comandam o futebol no Brasil. Refiro-me à comédia em torno da apresentação do novo coordenador de seleções da CBF. Gilmar Rinaldi, que todos conhecem dos tempos de goleiro do Inter e do São Paulo, passou os últimos anos representando interesses de jogadores e fechando transações entre clubes.
Seria a última das escolhas a se imaginar para um cargo que está diretamente ligado à valorização de atletas profissionais no Brasil. Nem o mais ingênuo dos torcedores desconhece o fato de que convocações para a Seleção significam a garantia de bons contratos futuros com clubes estrangeiros.
Não se está aqui pré-julgando Gilmar, como ele se fosse agir deliberadamente em prol de seus interesses, mas na escala de desconfianças envolvendo o futebol o papel dos empresários está lá no topo da lista, ao lado dos dirigentes de federações, e os motivos são mais do que conhecidos.
Até um dia antes de aceitar ser o coordenador das seleções (incluindo as amadoras), Gilmar ganhava a vida agenciando atletas e negociava com clubes do Brasil e do exterior. Como num passe de mágica, passou para o outro lado do balcão. A mudança de papel foi tão surpreendente quanto constrangedora para a CBF.
Pior foi a entrevista que o novo coordenador concedeu na quinta-feira, manifestando seus pontos de vista sobre os rumos do futebol brasileiro depois da vergonhosa surra diante da Alemanha. O máximo que foi possível extrair do pensamento vivo de Gilmar foi uma crítica ao uso de bonés com a expressão “Força, Neymar!”, que a Seleção usou antes do confronto fatídico na semifinal da Copa. Para ele, o correto teria sido um boné que expressasse apoio a Bernard, o substituto do camisa 10.
Cá pra nós, é muito pouco para um profissional que deveria chegar formulando ideias, apresentando planos de trabalho ou pelo menos esboçando um raciocínio aproveitável quanto ao futuro da Seleção e do próprio futebol brasileiro.
Pode ser que Gilmar nos surpreenda, mas por enquanto fica a sensação de que a CBF está apostando no mais do mesmo, evitando enfrentar de verdade os problemas que travam o futebol brasileiro e se refletem na seleção principal. A ausência de uma política de incentivo à formação adequada de craques é a mais grave das chagas que envolve o esporte das multidões no país.
Existem diversos outros problemas, mas o menosprezo pelas divisões de base está na origem dos demais. Enquanto não se achar uma saída para isso, pouco ou nada adiantará a troca de nomes determinada pelos caprichos dos maiorais da CBF.
É preciso atacar o mal pela raiz.
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A volta do Capitão do Mato?
Dunga, que saiu da Seleção em baixa depois do fracasso na Copa de 2010, parece estar a um passo de ser anunciado como novo comandante em substituição a Felipão. Neste fim de semana, segundo especula a imprensa sulista, o coordenador Gilmar Rinaldi deve sacramentar o retorno do Capitão do Mato ao escrete.
Ele assumiu o cargo há quatro anos com a missão de botar a casa em ordem depois da balbúrdia que afundou a campanha na Copa da Alemanha em 2006. Trabalhou com poucos veteranos e alguns novatos, conseguindo fazer uma boa campanha até cair diante da Holanda, em Porto Elizabeth, vitimado por falhas grotescas de Júlio César e Felipe Melo.
O problema é que, no comando da Seleção, Dunga imprimiu um estilo quase castrense, centrado na lei e na ordem, com algumas pitadas de fundamentalismo, por conta do fervor religioso de seu auxiliar Jorginho.
Poucos imaginariam que ele ganhasse nova chance, até por não conseguir emplacar na carreira depois de 2010. Ocorre que a confusão decorrente do desastre de Belo Horizonte afetou os dirigentes da CBF, que pelo visto ainda não têm ideia do grau de insatisfação do torcedor.
Pior do que as incertezas que rondam a aposta é constatar que o prestígio dos técnicos brasileiros está realmente na lona. Apesar de Marcelo Oliveira, Cuca e Tite serem merecedores de uma chance, Dunga volta a aparecer à frente de técnicos com longas carreiras no currículo.
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Desafios paraenses nos campeonatos nacionais
O Paissandu vai a Cuiabá conhecer a fabulosa arena da Copa e encarar um adversário animadíssimo, que está cada vez mais disposto a alcançar o acesso. Em terceiro lugar no grupo A, o Cuiabá passou todo o período da Copa treinando e fazendo amistosos, aprimorando conjunto. Bem diferente do Papão, que trocou de técnico e perdeu seu artilheiro (Lima).
Como perdeu pontos preciosos nas seis rodadas iniciais, o Paissandu terá que fazer a partir de hoje uma campanha de recuperação. Não pode mais se contentar em pontuar em casa (ou onde mandar seus jogos), pois tem que superar adversários como o Cuiabá, o CRB e o Crac, bem posicionados na tabela. Vica arma um time cauteloso, à espera de contra-ataques e tendo em Pikachu, posicionado como ala, a principal alternativa ofensiva.
Em Marabá, um Águia desesperado recebe o CRB de Ademir Fonseca. Na lanterna, o Azulão marabaense precisa reagir com vitórias para voltar ao bloco intermediário do grupo.
Já o Remo estreia finalmente na Série D neste domingo, recebendo o Moto Clube (MA), em Bragança, cercado de grande expectativa. A espera é alimentada pela torcida há mais de dois anos, com direito a choro, ranger de dentes e humilhações pelo caminho. Mas a ansiedade vem acompanhada de um sentimento de apreensão.
Com remanescentes da campanha vitoriosa no Parazão, o técnico Roberto Fernandes ainda não conseguiu dar ao time a solidez de jogo que uma competição nacional exige. A perda de peças importantes do setor de meio-de-campo contribuiu para isso.
A intenção de adotar um estilo ofensivo fica evidente com a opção pelos meias Robinho e Danilo Rios. Para o ataque, Fernandes confirmou Roni e Leandro Cearense, ficando Rafael Paty como opção para o segundo tempo.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 20)
