Fiasco do nosso futebol começa na base

Por Renato Maurício Prado (O Globo)

Quem quiser entender onde nascem os problemas do nosso futebol deve prestar atenção nos jogos das divisões de base de qualquer estado ou cidade.
Até em campeonato de fraldinhas veremos técnicos tresloucados, à beira do campo, gritando “pega, pega”, incentivando faltas, condenando dribles e se preocupando mais em não sofrer gols do que em marcá-los . Por isso, privilegiam jovens parrudos, que atuam como brucutus, enquanto guris habilidosos ficam no banco (quando ficam).
Pior: os meninos que se destacam um pouco, logo são cercados, paparicados e incensados por empresários, parentes e dirigentes: transformam-se em semideuses intocáveis, vistos que são potenciais salvadores da pátria, graças às fortunas que poderão valer e amealhar, primeiramente aqui e logo no exterior.
Ou seja, muitos dos defeitos e mazelas que ajudam a acabar com o genuíno futebol brasileiro começam na infância e se cristalizam na adolescência dos nossos jogadores.
A obsessão pelos resultados (inclusive na danosa proliferação de campeonatos de seleções brasileiras sub-15, sub-20 etc.) transformou o trabalho de base (que deveria ser de fundamentos) numa máquina de moer tão fria e voraz quanto a bilionária indústria da bola que a Fifa capitaneia mundo afora.
Vamos lá: quantos craques de verdade seu clube formou nos últimos anos? Quantos incontestáveis shows de bola deu? Quantas vezes realmente valeu a pena ir a campo pra torcer?
A maldição das “goleadas por 1 a 0”; a obsessão por “proteger a casinha”; a paixão por volantes incansáveis e atacantes que não balançam as redes, mas ajudam a marcar; a bola parada como única jogada ensaiada; os incontáveis “chuveirinhos”, enfim, todos esses tipos de câncer, que transformaram o nosso outrora futebol arte num pastiche capaz de levar de sete numa semifinal de Copa em casa, começam na base.
Onde, faz tempo, substituiu-se a alegria de aprender a jogar bola pela neurose da vitória a qualquer preço. Jogar bem e bonito pra que? Quer ver espetáculo, vai no show da Ivete Sangalo!
A salgada conta chegou naquela trágica terça-feira no Mineirão. Está na hora de passar a régua e começar de novo. A partir de ampla reestruturação das nossas divisões de base, como fez a Alemanha, após um fiasco na Eurocopa de 2000 e, ironicamente, uma derrota para o Brasil, na final da Copa de 2002.

O fator de sucesso
É claro que há exceções: o Santos, por exemplo, que tem antigos craques à frente de sua base, tradicionalmente revela talentos como Diego, Robinho e Neymar. Mas de uma maneira geral, o panorama é desolador.
Quando nossos dirigentes entenderão que o sucesso nas categorias de infantis, juvenis e juniores deve ser medido pelo número de bons jogadores que, de fato, dão certo nos profissionais e não por títulos de campeonatozinhos que disputam? Quantos integrantes daquele time do Fla, campeão da Copinha em 2011, se firmaram até agora, em 2014?

Claro indício
Houve um tempo em que nossos principais jogadores eram as estrelas de seus clubes no exterior. Isto não acontece mais. Os titulares de Felipão ou estão na reserva ou são coadjuvantes. Nem Neymar é o protagonista do Barcelona. E mais: fora o moicano, nossos melhores jogadores são de defesa e não de meio-campo ou ataque…

Técnicos são culpados
Pouquíssimos são os técnicos daqui que ainda fazem seus times jogarem num estilo tipicamente brasileiro, privilegiando o talento e se preocupando mais em fazer o gol do que evitá-los. Cuca ex-Atlético-MG, e Marcelo, treinador do Cruzeiro, estão entre eles. Já Muricy, Abel e Tite são adeptos de, antes de mais nada, “proteger a casinha”.

Tsunami contra
Não faz sentido Felipão e Parreira permanecerem à frente da seleção. Para cada e-mail de “dona Lúcia”, defendendo a atual comissão técnica, desaguaram em minha caixa postal 200 outros revoltados com o trabalho deles…

7 comentários em “Fiasco do nosso futebol começa na base

  1. Boa análise do flamenguista. Marcelo talvez seja um bom nome, mas caiu na libertadores. E Cuca deve explicações sobre a derrota para o Mazembe marroquino. Ainda prefiro um alemão, argentino ou holandês.

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  2. Não consigo ver mais técnicos aqui que possam levar a frente a nossa seleção pentacampeã mundial, não temos treinador à altura para uma seleção tão história quanto a nossa. Mourinho e Guardiola seriam os melhores nomes para ser nosso técnico. Vantagem do Mourinho que já fala o português.

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  3. Quanto a Mourinho e Guardiola, que sãos os dois melhores do mundo, discordo só que por outros motivos. Guardiola, porque não gosto do tictac. Mourinho porque é estrela tipo Luxemburgo e briga fácil. Precisamos de um técnico bom sem estrelismo, tipo o da Argentina e o da Suíça.

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  4. Postagem que traz uma excelente análise que foca direto a origem do problema sem querer transferi-la, por simples conveniência ou preferência política, para outros aspectos que apesar não constituírem irrelevâncias não reverterão o quadro na hipótese remota de virem a ser neutralizados.

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  5. Texto do Maurício só reforça o que eu disse no post do Gerson sobre o Remo sub-20 campeão.

    Divisão de base é para formar jogadores, ensinar fundamentos, crivar os melhores, ensina-los a gostar de assistir futebol (muitos jogadores brasileiros não gostam) e oferece-los ao futebol profissional.

    Ao invés disso, os dirigentes pegam jogadores do profissional com idade para o sub-20 para disputar a final da competição.

    Pensamento retrógrado e danoso ao futebol… Tudo isso para disputar uma Copa Norte… Pergunto: quantos os jogadores o Remo revelou de fato? Quantos jogadores o PSC revelou de fato?

    Do Paissandu cito: Yago, Billy, Rafael Oliveira, Pablo, Neto (não está mais no PSC) e Leandro Carvalho. Muitos outros entraram no PSC em alguns jogos como Murilo e Araújo.

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  6. Vica subiu esta semana 6 pro time de cima. E celira ainda tem o Lima, centroavante do Benfica. O Remo tem A. Ruan, Jonatan e Roni, tendo emprestado Rodrigo pro Corintians. Traz o Reis que estava no Inter e liberou Jaime pro Flu. A política remista parece ser voltada pra ganhar títulos.

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  7. Somente acrescentar um fato. Ganso, foi abandoado por todos depois das duas cirurgias,ninguém quis saber dele.
    Mas vendo o que hoje acontece no nosso futebol, percebo que não somente Ganso perdeu ,mas toda uma geração de talento parecido ,estão virando zumbi. Os volantes venceram.

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