Sete homens, nenhum ataque

Por Gerson Nogueira

Leandrão, Val Barreto, Leandro Cearense, Tiago Potiguar, Ratinho, Roni, Zé Soares. No papel, uma variedade de opções para a montagem de um ataque com poder de fogo. Na prática, poucas combinações funcionaram razoavelmente. Roberto Fernandes, há dois meses no Evandro Almeida, convive com o dilema que tirou o sono de Charles Guerreiro e Agnaldo de Jesus antes de sua chegada.

unnamed (50)São sete homens e nenhum destino certo. Alguns dos atacantes até funcionam isoladamente, mas todos demonstram uma estranha incapacidade de estabelecer parcerias. O ataque formado por Leandrão e Leandro Cearense, mais recente dupla, não vingou nas partidas mais recentes. Em parte pelas características de ambos, mas principalmente pela ausência de alternativas no meio-de-campo.

Aliás, assim como o problemático ataque, o setor central do time segue devendo atuações convincentes. E, pela incapacidade de municiar seus atacantes, o Remo sobrevive de lampejos individuais e situações fortuitas, nascidas do oportunismo, de bolas lançadas a esmo na área ou do mero acaso.

Ao longo dos dois turnos do campeonato, o time marcou 32 gols, quantidade necessária para acumular nove vitórias e sete empates em 19 jogos disputados até agora. São números que escondem o fato de que o Remo cumpre jornada instável, sem conseguir cravar sequer uma atuação empolgante, aquele tipo de jogo especial que enche os olhos do torcedor.

Tudo isso num cenário de baixíssimo nível técnico do torneio, cuja disputa real se restringe a seis das oito equipes. Prova eloquente do desnível entre os times é a expressiva diferença de pontos da dupla Re-Pa em relação aos demais competidores.

Quando Charles era o técnico, o Remo testou seguidamente as duplas Leandrão-Potiguar, Leandrão-Ratinho e Val Barreto-Cearense. Nenhuma se firmou, como dificilmente qualquer outra daria certo, pois inexistiam jogadas destinadas aos homens de área. Mas que ninguém crucifique Charles, pois o desacerto permaneceu com Agnaldo e persiste com Fernandes.

Leandrão, alvo de críticas ácidas da torcida, padece de isolamento crônico na área. Fica entregue à disputa direta com a dupla de beques inimiga, enquanto o time se mostra errático nas tentativas de fazer a bola chegar até ele. A situação beira o absurdo. Conhecido pela facilidade para o cabeceio, não há registro de um jogo em que o atacante tenha recebido mais de duas bolas altas e bem cruzadas.

Por conta disso, o campeonato está quase no fim e o torcedor remista não sabe dizer quem são os titulares de seu ataque. Aliás, ninguém sabe. Nem os jogadores, nem Roberto Fernandes, muito menos o leãozinho de pedra do Baenão. Pelo motivo simplório de que tais titulares não existem. Titularidade vem de hábito e repetição, condições que o Remo não concedeu a nenhum de seus avantes para que tentassem se firmar.

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A primazia do anti-futebol

O jogo chucro entre Atlético de Madri e Chelsea no meio da semana, cercado de expectativas e loas da imprensa europeia, serviu para nos restituir a glória. Ao contabilizar os 300 cruzamentos, as 200 trombadas e os incontáveis recuos de bola, avaliei, cá com meus botões, que o Brasil não está assim tão atrasado em relação à Europa, pelo menos no que diz respeito a times retranqueiros.

Diego Simeone e José Mourinho deram uma aula de como não jogar bola preocupados em ser fiéis a essa praga chamada “futebol de resultados”. Ora, quem disse que esses caras são superiores a similares nacionais do gênero, como Muricy, Tite, Celso Roth, Abelão, Mano Menezes, Geninho e outros do mesmo naipe?

Sim, ainda resta uma esperança de fazer a rica Europa se curvar à expertise brazuca. Vendo aquela saraivada de açoites na coitada da bola, pensei de imediato: espera aí, de retranca nós entendemos. Nem se metam a besta!

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Um poema para Edyr

Eduardo Queiroz, velho parceiro de Edyr Proença nas rodas boêmias, poéticas e musicais da Cidade Morena, em torno do célebre Clube do Camelo, irrompe com um tributo ao comentarista cuja opinião ninguém discutia. “Sonhei com Edyr” é o título da carinhosa homenagem, que li no Cartaz Esportivo da Rádio Clube e aqui reproduzo na íntegra:

“Sonhei com Edyr

contando a mais nova

Estava num canto da sala

dizendo pra gente

espanta a tristeza

põe a bola pra frente

porque a vida não para

Estava até renovado

o Proença trajado

de atleta do bem

Vinha encestando a tristeza

batucando na mesa

Bom dia, Belém!

Seu colega, é impossível

seu nome apagar

velho amigo e parceiro

Na emoção de um Re-Pa

de um bate-papo no bar

de um passeio em Mosqueiro

Por essas e outras

deito no branco papel

esta emoção verdadeira”

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Bola na Torre

Time completo de analistas neste domingo na bancada do programa campeão de toda rodada. Guerreiro, Tomazão, Valmireko e este escriba baionense comentam a abertura da Série C e projetam as semifinais do returno do Parazão. Na RBATV, a partir de 00h20.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 27)

16 comentários em “Sete homens, nenhum ataque

  1. O mesmo está acontecendo com Leandro Damião no Santos, o time não tem um esquema tático definido para municiar o ex-atacante da seleção. No Remo, como bem colocado no post, padece do mesmo equívoco.

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  2. Tragam Rafael Pati e Aleison, e efetivem de vez Athos no meio de campo, que o problema falta de gols do Remo acaba.E, tragam um goleiro que saiba saiir do gol para intercptar cruzamentos.

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  3. Acompanhei muitas transmissões da PRC5, com comentário do velho Edir Proença.Apesar de remista fervoroso, seus comentários eram sempre imparciais, isentos de qualquer paixão clubistica.

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  4. Boa reflexão sobre o rival, amigo Gerson. Penso que, no momento, pouco se pode fazer prlo rival, posto que, em termos de esquema tático, o mesmo não terá como mudar, ja que falta pouco para o término do Paraense.

    De modo geral, acredito que o Remo deva contratar laterais melhores para a disputa da série D, ja que, o Remo carece de jogada de linha de fundo por conta da baixa produtividade de seus laterais; até mesmo Alex Ruan não vem bem este ano.

    Sobre os jogadores de meio do Remo, penso que estes são qualificados para série D. Todavia, não saberemos como estes jogarão o brasileiro, pois, o paraense os afetou muito. A pressão por resultados e a falta de um padrão de jogo levaram estes jogadores a uma queda de rendimento absurda (emocional, pesa muito no esporte).

    Em síntese, como expressa a coluna, o problema do Remo está longe de ser plantel.

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  5. O Remo só carece de dois jogadores, um armador com características defensivas, mas com qualidade e velocidade para chegar ao ataque, uma espécie de Jhonnatan melhorado, e um ponta veloz para municiar o centroavante, seja este quem for. Se até agora o Pirão não descobriu que este é o ponto fraco do time, é sinal de que não é tão entendido em matéria de futebol como o julga ser, coisa que eu, um leigo no assunto já sei há muito tempo.

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  6. – O CR com os velhos problemas de 6, 7 anos: sempre alguma coisa dá errado e acaba se transformando em uma bola de neve ou que não consegue se encaixar nas pretensões da equipe. Caso a se classifique para a Série D, essa dificuldade pode fazer com que o time não passe da primeira fase.

    – Quem diria, até a zuropa tem seus dias de futibol tupiniquim.

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  7. Não sei pra que tanto bafafá. O liaum não divisão, não tem título que preste, tem em ranking ridículo e esse pessoalzinho aí, quer o que?
    Não tem nada de errada. Esse timeco, está exatamente onde deveria estar. Qual é a novidade?

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  8. Depois do episodio de ontem da fuga das galinhas, nem com estes 7 poderá contar

    E haja milho no galinheiro

    có có có có có có có kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  9. Não há mais meio-campistas brilhantes. Simples assim. Nem Messi, nem Neymar. O que há são os times entrosados, preparados, pagos, planejados. Que o Leandrão não recebe bola na área, todo mundo já sabe. Que o ER33 não consegue criar, todo mundo já percebeu. Que o Zé Soares não é mais aquele, todo mundo já viu. Que o time do Remo não tem o apoio dos laterais, isso também é bem notório. O que não se nota é que foi uma grande perda de tempo investir em 3 volantes no meio. Perdeu-se, por isso, o tempo necessário para armar o time ofensivamente. O Remo não teve nenhum aproveitamento do tempo em que ficou sem calendário…

    Apontando possíveis soluções seria de pensar em manter a dupla André-Jhonnatan na cabeça de área, Levy e Alex nas laterais e Max e Andrade no miolo da zaga. Fabiano ainda é um goleiro confiável, a defesa é que não o tem sido nem para ele e nem para ninguém. Mas essa é a defesa, com Levy, Raphael, Max e Alex, André e Jhonnatan, tão bem pensada na teoria, e que deixa muito a desejar na prática… Como? Penso que todo 4-4-2 é pensado na posse de bola, coisa que o ataque azulino não tem, porque sucumbe rapidamente a uma marcação mais forte do adversário. Sem posse de bola, a defesa é martelada repetidamente e, assim, tende a sucumbir à insistência. O problema é tático e de entrosamento. Se, por um lado, a defesa sofre porque o ataque não opera bem, por outro lado é papel do treinador dar consistência ao ataque, aprimorando o que deve dar a posse de bola ao time: passes. O Remo erra muitos, mas muitos passes. Não é segredo pra ninguém, o passe é um fundamento do futebol, e que deve ser insistentemente treinado. Não tem jeito, todo mundo precisa treinar. Até o Zico treinava batida de falta ao extremo. Até o Senna treinava para ser o pole positiion. Treinar fundamentos, parece, é o que falta para o Remo.

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