Por Sérgio Saraiva
Vivemos momentos em que a modéstia, a prudência e o resguardo parecem ter sido deixados de lado. Poucos souberam ler tão bem o momento em que o Brasil e eles mesmos viviam como Nelson Rodrigues. Cruel e visceral, como só os que têm uma úlcera como companheira podem ser, decretou: “Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia”.
Pois bem, vivemos momentos de um recrudescimento tal da intolerância que parece-me que alguns agentes políticos se acham, se não a salvos de críticas, imunes à suas conseqüências e, assim, se permitem declarações que em momentos de maior cuidado não cometeriam.
O ministro Joaquim Barbosa resmungando entre dentes, mas não em baixo tom como quem falasse a si, saiu-se com o revelador “Foi por isso mesmo, ora” e desnudou a manipulação das sentenças da AP 470 para garantir a condenação a regime fechado dos réus.
Depois, o senador e candidato do PSDB às eleições presidenciais de 2014, Aécio Neves, em uma recepção em que era homenageado pela fina flor da plutocracia nacional, provavelmente sentindo-se protegido por estar entre iguais, entregou-nos sua proposta de governo: “Estou preparado para tomar as medidas necessárias, por mais que elas sejam impopulares”. Como não falava a populares e foi aplaudido, é certo que tais medidas não seriam o aumento dos impostos para os ricos.
Agora, outro senador pelo PSDB, Álvaro Dias, em entrevista relâmpago a Noblat nos deixa a todos boquiabertos com a sinceridade da revelação da estratégia de campanha tucana: “Ao mesmo tempo, precisamos desconstruir a imagem do governo, alimentando o noticiário negativo com ação afirmativa. A instalação da CPI da Petrobras vai ajudar nessa desconstrução”.
Sem dúvida, vivemos momentos em que parece que a modéstia, a prudência e o resguardo, assim como os pruridos de consciência em 68, foram mandados às favas. E por personagens que podem ser acusados de muitas coisas, mas não de serem idiotas.
Sinais de tempos novamente imprudentes?
Certamente, tempos imprudentes. Mas, reveladores. A justiça que faz justiçamento, a imprensa que desinforma em prol de uma facção política e uma oposição que não se mostra como alternativa de poder, apenas preposta de interesses alienígenas inconformados por não dependermos mais de organismos do capital financeiro pra fechar nossas contas.
A “imprudência” nos trará, ainda, a volta do descalçamento em aeroportos estadunidenses, bem como a proibição de brasileiros circularem em território nacional atendendo determinações do Tio Sam, como ocorreu na base de Alcântara(MA). Que o eleitor nos mantenha livres desses ‘imprudentes’.
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E o Nelson Rodrigues continua servindo aos interesses retóricos dos que jamais podem ser enquadrados no rol daqueles a quem o próprio Nelson acusa de perder a modéstia. Primeiro aos tucanos, com o Nelson Jobim; agora aos lullopetistas, com o Sergio Saraiva .
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Não vejo muita utilidade na modéstia, qualquer um saberia quando alguém é modesto e que, portanto, a modéstia é mera confirmação de que se sabe superior ao outro naquele momento. E o elogia à modéstia é se saber inferior. A vantagem que se aufere da modéstia, logo, é política. Puramente. A modéstia também é uma falsidade, com cada qual negando seu “state of art” para ambos se porem em uma ilusória igualdade, o que é um risco para o inferior nesta relação… Em todo caso, é a habilidade política que está em xeque nesse texto. Nossos políticos são truculentos e mostram um “muito à vontade” para dizer asneiras bastante natural, próprio de quem é dono da situação. É isso o que impressiona, a falta de uma habilidade na retórica, já que todo político vive de… bem… de seu próprio discurso. O alerta é bem esse: fale o que fale o político, preste bem atenção, pois é nessas horas que ele diz a que veio.
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