O grande trunfo da velocidade

Por Gerson Nogueira

bol_seg_170613_23.psHá gente que se entusiasmou a ponto de entender que o Brasil já tem um time. Em formação, mas um time. Mestre Tostão foi enfático nessa crença. Continuo cabreiro. A vitória sobre o Japão empolgou em alguns momentos, embora apresentando quedas preocupantes de qualidade em instantes importantes do jogo. Cabe observar também que o adversário não é exatamente uma referência no primeiro escalão do futebol mundial.

Ainda assim, com todas as cautelas, deu para perceber sábado que a Seleção Brasileira começa a ganhar uma estrutura competitiva, alicerçada no que há de mais precioso e ao mesmo tempo mais traiçoeiro nesse time: a jovialidade.

Com a exceção de Júlio César e Fred, dois jogadores acima da faixa dos 30 anos, o restante do time titular é quase todo formado por jovens atletas, com maior concentração de garotos no setor fundamental do meio-de-campo, onde pontificam Oscar, Paulinho, Luiz Gustavo e Neymar, que também funciona como meia em determinadas situações. Na suplência, Felipão conta ainda com Fernando, Hernanes e Jadson.

Técnicos não costumam abrir o jogo quanto aos planos imediatos ou futuros, mas está claro que Felipão que concentra todas as suas fichas na capacidade de dar velocidade ao time. E está certíssimo. Significa basicamente fazer com que os passes possam fluir rapidamente, envolvendo os adversários e explorando o fôlego privilegiado que a equipe tem.

Desde que o futebol ainda engatinhava no aspecto profissional o conceito de velocidade se destaca como um dos mais importantes. Hungria de 1954, Brasil de 1970, Holanda de 1974 e a Espanha de 2010, cada um à sua maneira, são times que aliavam formidável capacidade de sair rapidamente do próprio campo, valendo-se do excepcional talento de alguns atletas. Os mais rápidos sempre conseguem sobrepujar os sistemas de marcação, por mais rígidos que sejam.

Não se pode afiançar que apenas por ser veloz um time está no panteão dos grandes, mas quando consegue aperfeiçoar essa virtude se impõe frente aos concorrentes. Espanha e Alemanha, as duas melhores seleções da atualidade, baseiam sua força essencialmente na transição rápida e no esmero para envolver a marcação inimiga através de triangulações e tabelinhas em alta velocidade.

Além do golaço de Neymar, da presença marcante de Paulinho no meio e da criatividade de Oscar na armação, o Brasil que derrotou o Japão deu pistas de que pode vir a jogar como os melhores times do mundo. Não podia haver melhor notícia a esta altura.

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Espanha cada vez mais azeitada

Quem viu, ontem à noite, a Espanha encarar o Uruguai com desenvoltura e certa facilidade certamente ficou impressionado. Do time campeão mundial na África do Sul, em 2010, para a equipe que conquistou a última Eurocopa já era possível notar uma evolução expressiva. Pois o que parecia quase impossível parece ter se materializado: a Fúria engrenou ainda mais, com os mesmos jogadores.

Vicente Del Bosque conseguiu fazer com que o time flutue quase sem esquema definido, apenas centrado na incessante troca de passes, com tanta perfeição que às vezes até desanima os adversários. Contra os uruguaios, que são bons marcadores, essa vantagem ficou ainda mais evidente.

Quando Iniesta e Xavi, motores do time, põem aquele carrossel para funcionar a Espanha se torna praticamente imbatível. Quebrar o passe e interromper a velocidade são desafios de qualquer adversário que os encare. No papel, parece missão plenamente possível. Na prática, não é tão simples assim.

Luiz Suarez, o craque uruguaio, terminou a partida extenuada e admitindo humildemente que é muito difícil marcar os espanhóis. A questão é de tempo e espaço. Contra outros times, o jogo acontece bastando marcar os homens. Contra a Fúria é necessário marcar homem e bola.

Depois do confronto de ontem, tenho dúvida se haverá adversário capaz de parar a Espanha nesta Copa das Confederações. A máquina está muito azeitada e jogando por música.

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Um show solo de Andrea Pirlo

No Marcanã quase lotado, a Itália surpreendeu positivamente na vitória sobre o México. Ao contrário de outros tempos, quando se notabilizava pela marcação quase bovina, a Azzurra desta vez dá mostras de que resolveu modernizar seu estilo.

Com a defesa forte de sempre, passou a ter meias ofensivos, que se aproximam de Mário Balotelli no ataque e tornam a equipe mais agressiva do que sempre foi. No meio, o maestro Andrea Pirlo encarrega-se de efetuar a articulação.

Apesar do jeito cadenciado, que ninguém se engane: a Itália não é mais a mesma. Está apostando também na diminuição de espaços e na concentração de bons passadores no meio-campo. Pirlo é apenas o decano, mas tem bons coadjuvantes.

Ontem, em particular, o veterano superou todos os seus discípulos, exibindo um estilo que todo craque deveria ter. Não descuidou um instante sequer da proteção aos zagueiros, mas foi impecável na distribuição. Foi presente no apoio aos homens de ataque, chegando até a sofrer um penal não marcado pelo fraco árbitro chileno. E, por fim, foi decisivo e magistral ao cobrar a falta que redundou no primeiro gol.

Pirlo é a prova de que, muitas vezes, a idade não atrapalha o talento.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 17)

7 comentários em “O grande trunfo da velocidade

  1. Foi bom ver o Brasil tentando resgatar o toque e a posse da bola pelo máximo tempo de jogo possível. Era assim em 1994 e muita gente achava improdutivo, houve até um compositor, subitamente investido na postura de comentarista da Folha de São Paulo que encerrava seus escritos com a frase, “faltam tantos dias para o Brasil perder a Copa”.
    Vimos ontem a Espanha jogando dessa forma e a torcida pernambucana vaiando inicialmente, talvez por achar feio o que não era espelho, mas, depois teve que render-se e admitir que tratava-se realmente de espetáculo, afinal, raro é o time que faz seu primeiro gol antes de ter cometido a primeira falta. Enfim, o que temos visto é a satisfação geral do torcedor com aquilo que foi até aqui apresentado. Tomara que o Brasil continue a evoluir.

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  2. Penso, Gerson e amigos, que a Espanha apenas confirmou tudo que pensávamos sobre ela.. Fúria joga o melhor futebol do mundo, e não é de hoje e, como falei, é forte candidata ao título dessa Copa das Confederações e do mundial em 2014, no Brasil… O jogo, ontem, foi 2 x 1, mas, pelas oportunidades perdidas, e pelo gol, “achado”, de falta do Uruguai, poderíamos dizer que 6, 7,… x 1, seria o placar mais justo… Espanha joga, o futebol corretamente jogado, por isso, será soberana, por muito tempo, se as outras seleções continuarem a jogar aquele futebol manjado.. 4-4-2, 3-5-2….. Te dizer…

    Tá na hora dos grandes técnicos brasileiros se reciclarem…

    No final dessa Copa, penso que a classificação, ficará assim:
    1º – Espanha – Campeã
    2º – Brasil ou Itália
    3º – Itália ou Brasil

    É a minha opinião.

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  3. Gerson,

    Estou ansioso para um possível confronto entre Espanha e Brasil, e ai meu cumprade quero ver os críticos metendo o pau nesse futebol de segunda do Brasil.

    Jogo da Espanha é fantástico, não tem posição definida, bola de em pé em pé, todo mundo marca, eles abalam psicologicamente o outro time em 20 minutos de jogo.

    Espanha x Brasil = Barcelona x Santos.

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  4. Minhas humildes observações sobre a seleção da Espanha.

    As virtudes principais da seleção espanhola são:
    1- Sufocar o adversário com uma marcação ferrenha e eficaz, não dando espaço, notem que a bola quando em poder do adversário, os espaços são reduzidos e geralmente a bola retorna ao poder da Espanha em pouco tempo.
    2- Quando a bola estando em poder da Espanha, os jogadores se agrupam em 3 ou 4, propiciando condições de toque de bola com qualidade. Dificilmente observamos passes longos nessa seleção.
    3- O preparo físico, talvez seja a principal virtude desse selecionado, sem ele dificilmente imporiam uma marcação tão eficiente, e vejam que no final do jogo, os jogadores não demonstram estar extenuados depois de tanto se doar em campo.
    4- O plano tático fielmente cumprido pelos jogadores em campo, só em ver o treinador na maior parte do tempo sentado já demonstra a sua satisfação com o desempenho da equipe.
    5- A qualidade individual dos jogadores.

    Apesar de todos esses fatores positivos dessa seleção, continuo apostando na seleção Italiana na conquista da Copa da Confederações, por tudo que jogou ontem e pode evoluir mais, considero a única seleção que pode neutralizar as ações da seleção da Espanha. A Itália se doa ao máximo em campo, além disso evoluiu dentro de suas características de marcação e desempenho no ataque. Claro que gostaria incluir o Brasil, e como gostaria, mas infelizmente não vejo no momento essa qualidade no futebol brasileiro. Porém, no futebol como todos sabem, a surpresa de vez enquanto surge nos resultados do futebol.

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  5. Porque, Heleno, os outros times não tem a mesma qualidade para trocar passes. O Brasil chegou a ensaiar isto contra o Japão, mas só acertava passes no campo de defesa, quando ia para o ataque não acertava três seguidos.

    Atuação da Espanha ofuscou merecidamente o fraco futebol do Brasil e o Neymala continua o mesmo, sempre fazendo gols em seleções fracas, como o Japão. Contra México e Itália, veremos que a realidade não é aquela pintada diante do medíocre selecionado nipônico…

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  6. A Espanha já era, seu futebol manjado de bons passes de bola travam se tiverem boa interceptação, coisa que o Felipão saberá fazer muito bem.

    Detalhe para os esquecidos oi desapercebidos.

    1° tempo 2X0 Espanha, contra um Uruguai medroso, irreconhecivel bem longe de suas tradições e com gol contra do Lugano.

    2° tempo 1X0 Uruguai jogando mais determinado e com a entrada do Lucas deles, o Lodeiro.

    Final 2X1, sem tirar os meritos da Espanha, mas o certo é que o Uruguai se não fosse covarde, arrancaria o empate facilmente

    Esse titulo é do Brasil, anotem!

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