Mais fácil do que o previsto

S FranciscoXPSC Parazao 2013-Mario Quadros (8)

Por Gerson Nogueira

Para um jogo que se prenunciava difícil e tenso, o Paissandu surpreendeu pela tranquilidade. Comportou-se como time grande que é. Desde os primeiros movimentos, quando o São Francisco era mais afoito no ataque, o time de Lecheva mostrou frieza, cumprindo uma estratégia eficiente. Posicionou-se corretamente, sempre na espera, mas evitando permitir que o adversário se impusesse pela correria e ocupasse espaço. Contribuiu para o sucesso dessa postura a movimentação do meio-de-campo, onde Eduardo Ramos ficou à vontade para centralizar as jogadas, explorando os espaços deixados pelas subidas dos azulinos. Foi o grande nome em campo, enquanto teve fôlego. Djalma, seu fiel escudeiro, atuava mais avançado, aparecendo nas laterais e ajudando os dois atacantes.

S FranciscoXPSC Parazao 2013-Mario Quadros (6)

A dinâmica da meia-cancha deu tão certo que, do outro lado, o principal articulador, Caçula, não apareceu como das outras vezes e terminou substituído no segundo tempo. O Paissandu atacava menos, mas sempre que ia à frente era com muito perigo, principalmente no primeiro tempo. Depois que João Neto fez o gol em lance confuso na área santarena, no final da primeira etapa, Lecheva não mudou o plano de jogo. Permaneceu bem postado, procurando se antecipar à pressão do São Francisco pelas extremas, vigiando principalmente o lado direito, por onde o arisco Ricardinho caía para explorar as saídas de Pikachu.

É justo dizer que antes de abrir o placar, o Paissandu teve pelo menos três oportunidades claras, desperdiçadas pelos atacantes. O São Francisco também chegou perto do gol, mas atuava mal, sem se organizar na meia-cancha e isolando seus atacantes. Um sintoma disso foi o baixo rendimento de Caçula, que não armou o jogo e não encontrou brecha para seus chutes de média distância. Penso que o Leão santareno se empolgou com a avaliação dos jogos contra a dupla Re-Pa em Belém, esquecendo-se que o Paissandu tem um dos melhores times do campeonato.
Com a obrigação de tomar a iniciativa, o São Francisco se perdeu completamente. Não encaixava a transição, nem imprimia a rapidez necessária na saída de bola. Vânderson e Esdras mantinham-se vigilantes aos passos de Caçula e Jefferson. Esse cuidado foi suficiente para interromper o passe e enervar os jogadores santarenos. Na afobação, desperdiçavam as poucas chances permitidas à entrada da área do Paissandu.
S FranciscoXPSC Parazao 2013-Mario Quadros (12)
No segundo tempo, Osvaldo Monte Alegre (que foi expulso por reclamação) tirou Jefferson e pôs Rodrigão para aumentar a pegada ofensiva. O problema é que Caçula, que já não rendia bem, ficou ainda mais solitário. Eduardo Ramos, sem aparecer muito, mantinha o mesmo ritmo do primeiro tempo, controlando o jogo, dando a cadência que interessava ao Paissandu. O São Francisco atacava muito, mas ameaçava pouco. No auge do falso cerco santareno, Zé Carlos só teve que fazer duas defesas. Os demais chutes, principalmente de Levy e Ricardinho, saíam sempre tortos.
Para espanto geral, Lecheva tirou Rafael e lançou o zagueiro Tiago Costa, mudando para o 3-5-2 em pleno voo. Diego Bispo ficou na sobra, Tiago e Raul cuidavam da antecipação, liberando Pikachu e Alvim para apoiar o ataque. O esquema deu certo mais por desorganização do adversário do que por méritos do Paissandu. Iarley substituiu João Neto e o ataque deixou de existir. Depois da troca, o único lance de área seria também o mais polêmico. Pikachu dividiu bola com Tales, que tocou primeiro na bola, mas trombou com o ala. O árbitro Dewson Freitas interpretou como lance faltoso, eu não teria tanta certeza.
S FranciscoXPSC Parazao 2013-Mario Quadros (16)
Com 2 a 0 no placar, a superioridade do Paissandu ficou ainda mais cristalina e o time passou a controlar o jogo. Deu tempo, porém, para Vânderson receber um cartão vermelho depois de aplicar carrinho frontal em João Pedro. A falta foi violenta, mas passou a impressão de que a expulsão veio mais como compensação pelo pênalti discutível.
No fim das contas, uma vitória sem atropelos, confirmando o amadurecimento do Paissandu no campeonato e praticamente definindo uma das vagas para a final do turno. Destaque do time e do jogo: Eduardo Ramos. Decepções: Caçula, no São Francisco, e Pikachu, apesar da bela cobrança de pênalti. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)

———————————————————–
O Remo é dos volantes
Ninguém pode acusar Flávio Araújo de incoerência. Para enfrentar o PFC em Paragominas, hoje à noite, ele prestigia alguns jogadores de meio – Endy, Tony e Gerônimo – e se mantém rigorosamente fiel ao esquema 3-5-2. Como a campanha é invicta e irretocável, não há muito o que questionar, embora o Remo corra o risco de ficar sem ligação entre defesa e ataque. É a mesma escalação usada contra o Águia, em Marabá. Não foi possível avaliar a atuação, pois o jogo não teve troca de passes ou bola rolando, apenas chutões no campo enlameado. Mas, enquanto as vitórias estiverem acontecendo, a opção de Araújo pelos volantes não será questionada.
É provável que o PFC do artilheiro Aleilson e do meio-campista Ilaílson tenha dificuldades para romper a barreira de marcação imposta pelo Remo. Mas, se os azulinos sofrerem gol logo no começo, será inevitável recorrer a um armador de ofício. Por isso mesmo, o meia Tiago Galhardo, que se recupera de contusão, viajou com a delegação. Sinal de que Araújo tem a exata noção dos perigos de um esquema que prioriza a defesa.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 14)