Coluna: Nas asas da gambiarra

A notícia pode ter passado em branco para o torcedor, mas nos próximos meses deverá cair como bomba sobre as finanças do Paissandu, com sérios e imediatos desdobramentos. O ex-jogador Didi, que pendurou as chuteiras na Curuzu e foi repentinamente promovido a gerente de futebol e a técnico do Time Negra, deixou Belém na última sexta-feira fazendo sérias ameaças. Promete briga na Justiça para reaver o dinheiro que o clube estaria lhe devendo.
Pelas contas de Didi, o Paissandu terá que desembolsar pelo menos R$ 2 milhões. Seria a soma de salários atrasados pelas três funções e o não pagamento do aluguel de seu apartamento. Mais que isso: diz ter testemunhas do próprio clube que podem atestar essas dívidas não pagas.
O caso é simbólico dos tortuosos caminhos trilhados pelos grandes clubes do Pará. Os erros, tão primários e repetidos, geram até desconfiança quanto aos agentes envolvidos. Custa a crer que um dirigente, razoavelmente informado sobre os deveres trabalhistas, permita que a situação de um funcionário chegue ao absurdo denunciado por Didi. Duvido que, em suas empresas, esses dirigentes ajam com tamanha negligência.
Sempre que surgem histórias cabeludas como essa vêm à baila a necessidade de uma lei de responsabilidade fiscal (ou contábil) para o futebol profissional. Na prática, isso já existe, mas o mecanismo é devidamente toureado pela invencível malandragem brasileira.
A quase esquecida Lei Pelé prevê prestação de contas e publicação de balancetes, condições necessárias para habilitar legalmente clubes e federações à assinatura de contratos e convênios. O ex-presidente do Remo, por exemplo, deixou o cargo sem prestar contas públicas do exercício financeiro de 2010. Apesar do abuso, saiu de cena sem sequer ser incomodado.
Quando a lei for aplicada com rigor, os clubes terão suas receitas e despesas verificadas de perto e os dirigentes serão obrigatoriamente vigiados. Só então irresponsabilidades como a do caso Didi poderão ser evitadas. Nesse mundo ideal e utópico, que só otimistas incuráveis são capazes de imaginar, teremos também cada vez menos aventureiros dirigindo clubes. Até porque a maioria só se arvora a mexer com futebol porque o muro é baixo e há uma conveniente ausência de fiscalização. 
  
 
Até lá, porém, jogadores em fim de carreira, sem mercado lá fora, terão sempre abrigo generoso nos clubes de Belém. Nosso pobre futebol garante polpudas aposentadorias, propiciada por dirigentes incapazes de compreender a real natureza de suas funções.
Didi veio jogar no Paissandu ganhando salário incompatível com sua condição técnica. Ganhos que todos, inclusive ele, sabiam que não seriam pagos. Não da forma convencional. Mesmo assim, topou o negócio. Sabia, desde sempre, que no final sairia ganhando – e o Paissandu perdendo.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 16)

13 comentários em “Coluna: Nas asas da gambiarra

  1. COMENTEI na outra matéria sobre o assunto Didi que enquanto não houver seriedade, transparência (a fim de possibilitar a real fiscalização até do torcedor mais humilde) haverá sempre essas lambanças no futebol paraense. REMO e PAYSANDU são uma farra para esses aventureiros em fim de carreira.
    Os dois clubes são iguais. A diferença é que no Remo o caldo entornou mais cedo, em função das contratações mal feitas e desrespeito quanto aos deveres trabalhistas, principalmente na década de 90. Já o Paysandu, que teve uma oportunidade de ouro na vida de sair da mesmisse e trilhar o mesmo caminho de Goiás e Atlético Paranaense, para não ficar atrás do Remo, está na mesma direção.
    É PENA que uma considerável parte de sua torcida fique empolgada com migalhas, como o recente torneio do Suriname, somente pelo fato de estar um passinho à frente do Remo.

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    1. Valetim, voce já passou do ponto pra saber o que é gozação de torcedor. Eu mando as minhas mais sei a realidade. Agora, não é um passinho a frente, é um passo largo.

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      1. Ei tio Berlli, esse Valentim aí é o Tonico (profenomeno@uol.com.br) que cansou de ser humilhado no VOZ DA GALERA. Agora vem dar uma de comentarista. Oh dó.

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    2. Amigo! Não estamos um passinho a frente de vocês e, sim dois passos e meio. Vocês não tem divisão, ou já esqueceu desse “detalhe tão pequeno de nos dois” o teu time, está no limbo do futebol, quase sem existência nenhuma, então seja mais humilde com suas palavras, porque mesmo que estivessemos na mesma divisão o Paysandu, ainda e infinitamente superior ao teu Remo, no que se trata em questão de titulos e vitórias marcantes contra adversários de expressão.

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  2. Gerson, meu ponto de vista sobre essa ocorrências são acertos entre as partes para quem ambos saiam ganhando. Como disse na primeira vez que este assunto foi postado, não dar para acreditar que atrás desses fatos não haja má intenção. RR, AK e outros do passado já deram provas disso. Brigar voto a voto para administrar clubes quase falidos não seria coerente.

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  3. Some-se a isto a clara intenção de Rezende e LOP em se eternizarem no clube, estribados em cabritos, e vemos como as coisas se encaixam perfeitamente. Dirigentes que colocam dinheiro do bolso para manter seus clubes e precisam ser reembolsados depois. A situação é evidente.

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  4. Gérson, quando você levanta a bola e escreve que “os erros, tão primários e repetidos, geram até desconfiança quanto aos agentes envolvidos… e Duvido que, em suas empresas, esses dirigentes ajam com tamanha negligência…” talvez as afirmativas sejam a mais pura verdade. É o típico caso de polícia ou de jornalismo investigativo. Esperar fiscalização por parte da torcida, do Conselho fiscal ou mesmo da oposição é pura ilusão.Agora é importante ressaltar que há mecanismos para se impedir a repetição desses “erros”. Quanto aos comentarios do Valentin( torcedor se contenta com migalhas) e do Berlli ( as más intenções) concordo plenamente.
    O Tavernard Neves aqui no blog, postou a resposta ao questionamento que se fazia outrora: Porque o Didi ao parar de jogar, continuou exercendo outras funções no Paysandu e não foi embora como qualquer um? Assim respondeu: “Enquanto não pagarem o que devem a ele ficará por aqui.”
    Gérsom e amigos do blog, por mais otimista que sejamos, não vislumbro nenhuma perspectiva de mudança para os nossos clubes, pois mesmo que consigam subir de série, com esse tipo de administração, cairão no ano seguinte, ou por pura sorte conseguirão se manter por curto período nas séries A ou B. Séries C e D são o resto e é isso o máximo que conseguiremos nos manter. O Paysandu na série C e o remo nem na escória do futebol brasileiro está…porque? Por iso aí.
    É triste, lamentável, mas a mais pura verdade. So´nos resta a gozação em cima daquele que os torcedore acreditam está pior.

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  5. Esse DIDI realmente é um trapalhão. Nunca que o PAPA TITULOS DO NORTE deve tudo isso pra ele. Ele é quem deveria pagar o CAMPEÃO INTERNACIONAL. Nunca jogou nada e agora está com esse garganta toda. Sai pra lá encosto.

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  6. Nem vaca de presépio nem cão raivoso. Assim deve se portar um orgão deliberativo para não se omitir nem atrapallhar a administração de um clube (coisas internas/publicas e não internas//privativas). O torcedor lamenta a situação mas não aceita a crítica que alcança seu clube e com isso cria ambiente ao dirigente para agir como bem lhe aprouver. De um lado dirigentes apaixondas e por isso amadores, do outro, torcedores passionais e por isso incoerentes, todos, acompanhado por uma imprensa acridoce.

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  7. Diálogo entre dirigente de um club de massa de uma capital nortista de um país qualquer: (os nomes são fictícios)!

    telefonema:

    – Alô Dedi?
    – Eu!
    – E aí? vamos fechar o negócio?
    – Pode ser…, como se faz?
    – Eu faço que vou mas não vou…
    – Sei…
    – E tu faz que não vai e acaba indo. sacou?
    – Claro, claro! jogo no “casarão” da praça Brasil?
    – Pode por! mete ficha!!
    – Amanhã mesmo entro de sola!!
    – Ok! Ok! Olha…
    – Hum..??
    – Metá-Metá, falou?
    – Feito!! pode deixar!!
    – Escuta Dedi!
    – oi?
    – Conheces mais alguma velheira pra entrar nessa onda?
    – Talvez…. Quanto levo??
    – Depende??
    – Depende de quê?
    De quanto o cara quer “puxar” do Peipão!
    – trintinha ta bóm?
    – feito!
    – Em grana certo? nada de cheque!
    – Ficafrio DOP! Cê é meu chapa!!..rsrsr!
    – Assim ta feito!
    – Abração!
    – Outro!!
    – beijo nas crianças!!
    – pode deixar!

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