Jornal tira onda com o Imperador

O jornal ‘Meia Hora’, do Rio de Janeiro, tirou sarro da não convocação de Adriano para a Copa do Mundo. O atacante foi nome certo na maioria das listas de Dunga nos últimos anos, mas não estará na África do Sul com a delegação brasileira. Em seu lugar, o treinador chamou Grafite, do Wolfsburg. Na publicação carioca, Adriano aparece em frente a um ônibus com letreiro “Copacabana”. Além disso, o ‘Meia hora’ chama a lista de Dunga de “selebancão”.

Coluna: Diferenças que preocupam

Messi, Higuaín, Tevez, Diego Milito, Palermo, Agüero e Lavezzi. Sete atacantes integram a lista de 30 convocados por Diego Maradona para a seleção argentina que disputará a Copa na África do Sul. Mesmo considerando que serão cortados ainda sete jogadores para a inscrição definitiva, a clara preferência pelo ataque escancara a identificação do técnico com o futebol ofensivo.
Por força de suas origens, é compreensível que Maradona defenda o conceito de que a melhor defesa é o ataque. Não estaria sendo fiel à sua história e ao próprio DNA se advogasse a prevalência dos cabeças-de-área sobre as cabeças pensantes.
É claro que os idiotas da objetividade poderão dizer que, pensando assim, ele terá dificuldades no futebol defensivista de hoje, com setores de marcação extremamente eficientes na função de anular dianteiros. O recente exemplo da Inter de Milão, que se fechou na retranca e eliminou o agressivo Barcelona da Liga dos Campeões, ainda martela na cabeça dos que preferem brucutu a craque.
Pode ser que Maradona enfrente, de fato, problemas para avançar na competição. Ao contrário de Dunga, que chegará à África do Sul escoltado por sete volantes, o ídolo argentino limitou – ainda na pré-lista – em seis a quantidade de marcadores no meio-campo. Diferenças que expõem o abismo entre as histórias e visões de cada um deles sobre futebol.    
Como o volante forçudo e aplicado que foi, Dunga vê beleza onde o resto da humanidade observa apenas transpiração e, às vezes, muita truculência. Aprendeu a dominar com perfeição a arte de roubar a bola de um adversário ou matar uma jogada, tornando-se muitas vezes o estraga-prazeres da festa. Nas peladas de rua, devia detestar atacantes dribladores. E, pelo que demonstra ao longo da carreira, continua a nutrir profundo desprezo pela classe, em descompasso com a torcida, que estará sempre ao lado de quem faz gol e proporciona alegria.
 
 
Apesar de todas as críticas feitas ao Maradona treinador, desconfio que estamos em desvantagem nessa disputa pré-Copa. Tivemos o azar de escalar um volante para cuidar do escrete, enquanto os argentinos têm o privilégio de contar com um super craque comandando o time. Nada impede que Dunga, no fim da história, saia como o grande vencedor – seu guru Parreira, em 94, também sorriu por último.
Mas, como naquela Copa, a primeira decidida na cobrança de penalidades, é quase certo que iremos sofrer até o último momento. Dunga, por sinal, na entrevista em que anunciou a convocação, defendeu o princípio purificador do sofrimento. Lembrou, tentando fazer piada, que só sofrem aqueles que têm um time disputando decisão de campeonato. Pelé, Garrincha, Tostão, Ronaldo e outros gênios nos ensinaram que é possível torcer sem sofrer. Ainda prefiro a velha escola. 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 14)