Com todos os jogos da noite à disposição nos canais a cabo, tive aquela sensação de desperdício que se abate sobre todo sujeito fanático por futebol: afinal, por que juntar tantas atrações num dia só, às vezes no mesmo horário, quando se poderia dividir democraticamente ao longo da semana?
Resulta desse congestionamento na televisão um óbvio prejuízo na observação de lances importantes. Depois de acompanhar a imperícia dos atacantes nas cobranças de penalidades entre Atlético-GO e Palmeiras e outra decepção vascaína, dediquei atenção a Corinthians x Flamengo e Santos x Atlético-MG, sempre dando aqui e ali uma espiada em Nacional x Cruzeiro e Grêmio Fluminense.
Enquanto tento acompanhar a peleja de corintianos e rubro-negros no Pacaembu, o Santos começava a fazer das suas na Vila, com André (em lance irregular) e Neymar. Quando me detive no jogo dos alvinegros, veio o segundo gol corintiano, com Ronaldo, aparentemente controlando o jogo. Chega a notícia do gol cruzeirense em Montevidéu. Quase ao mesmo tempo, fica-se sabendo que o Galo diminui e o Grêmio bate o Flu.
Muita informação circulando e tudo em aberto quando os times descem para os vestiários. O Flamengo depende de um gol para voltar à superfície. E volta, com um gol logo de cara, através de Vagner Love. Adriano segue ausente. Ronaldo passa a jogar de zagueiro, o Corinthians se desespera. Nos contragolpes, vantagem flamenguista. Ronaldo, num esforço supremo, quase acerta a cabeçada perfeita.
O Cruzeiro se classifica no Uruguai, o Grêmio despacha o Flu, o Santos elimina Luxemburgo e o Corinthians vê ruir seu fabuloso plano de conquistar a Libertadores no centenário. Talvez tenha faltado, além das mirabolantes ações de marketing, arranjar um atacante mais jovem, que revezasse com Ronaldo. Sim, ele fez gol, mas não agüenta mais o tranco com os beques, como no passado. Fim de linha para o Timão e, provavelmente, valsa do adeus para o fenomenal recordista de gols em Copas.
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Aos 70 anos, em boa forma, Romualdo Arppi Filho reapareceu há duas semanas em entrevista à reportagem da ESPN. Contou histórias de sua longa carreira, com especial atenção para a Copa de 1986 no México, quando apitou a finalíssima entre Argentina e Alemanha. Naquela tarde, segundo ele, Maradona só apareceu no jogo depois que os alemães haviam empatado em 2 a 2. Num lampejo, El Pibe lançou Burruchaga em contragolpe mortal: 3 a 2.
Sob a fama de “coluna do meio”, Romualdo construiu uma carreira inatacável. Não tem palpites sobre o Brasil de Dunga. Mas reservou para Carlos Eugênio Simon um comentário direto: pelo que apitou nos últimos anos, não merecia ir à Copa. E levantou um cartão vermelho, bem ao estilo Valdo Souza, para reforçar a sentença.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 6)