Jansen e a fúria dos hunos

POR GERSON NOGUEIRA

Jansen recebe o apoio de Gedoz após o gol contra diante do Brusque — Foto: Samara Miranda

Um lance infeliz, típica situação de acidente de trabalho, está gerando um turbilhão de problemas e aborrecimentos para o jogador Rafael Jansen e sua família. A bola involuntariamente encaminhada em direção às redes no jogo contra o Brusque, na quarta-feira à noite, foi com certeza o pior momento já vivido em campo pelo experiente zagueiro.

O gol deu vantagem parcial ao time do Brusque, mas depois foi superado pelos dois gols marcados pelo ataque remista já nos instantes finais da partida. A celebração dos jogadores em torno de Jansen mostrou claramente que todos ali estavam empenhados em obter um bom resultado para o time e que servisse como salvaguarda ao companheiro.

Apesar do êxito na obtenção do resultado que interessava ao Remo, cujo jejum de vitórias já durava sete jogos (a última ocorreu contra o Brasil de Pelotas, ainda na segunda rodada da Série B), o triunfo não foi suficiente para aplacar a ira dos anormais.

De forma perversa e covarde, um perfil fake na internet proferiu ameaças diretas à integridade de Jansen e de sua filha. Em uma mensagem, o internauta ou grupo de torcedores dirige-se à esposa do atleta, dizendo para que a família deixe Belém “antes que seja tarde demais”.

Em outro trecho da mensagem dirigida à rede social do zagueiro, o perfil recomenda que Jansen deixe o clube, voltando a ameaçar sua filha.

Absurda sob todos os pontos de vista, a manifestação criminosa não é infelizmente a primeira envolvendo jogadores do futebol paraense nos últimos meses. O primeiro a sofrer na pele a virulência dos falsos torcedores foi o atacante Edson Cariús. Temeroso de vir a ser atacado, ele pediu liberação e foi atendido.

Através de nota oficial, o Remo afirmou saber que o perfil não representa a maioria dos seus torcedores e garantiu que irá tomar providências através do departamento jurídico e junto às autoridades policiais. Atitude firme já deveria ter sido adotada por ocasião do episódio Cariús.

É inaceitável que o clube conviva com essa modalidade de terrorismo chantagista, cuja intenção óbvia é desestabilizar o grupo de jogadores e prejudicar a própria campanha remista no Campeonato Brasileiro, o que coloca em dúvida a própria origem dos ataques na internet.

Acertam os dirigentes ao avaliar que a atitude hostil não representa a opinião da imensa torcida azulina. Apesar disso, é necessário que o clube adote iniciativas concretas para descobrir a identidade dos criminosos virtuais, facilmente rastreáveis nos dias de hoje.

É o único meio de assegurar segurança aos jogadores e demais funcionários do clube. Ninguém consegue trabalhar normalmente num ambiente de insegurança e medo. Os exemplos de selvageria de determinadas facções de torcedores estão aí mesmo a confirmar que não pode haver contemplação com atos de banditismo.

A tolerância excessiva em relação a manifestações de grupos ditos “organizados” é uma espécie de aceno aos baderneiros. Há tempos que o futebol paraense é abalado pela existência de duas facções conhecidas pela conduta marginal e violenta, com históricos até de agressão a jogadores nos anos 80.

Nas últimas semanas, impossibilitados de invadirem locais de treinos, os mesmos grupos têm optado pela tática de emboscada no aeroporto de Val-de-Cans, hostilizando as delegações de PSC e Remo antes de embarque ou depois do desembarque.

O caso mais explícito vitimou jogadores do PSC, que foram empurrados e até chutados quando passavam pelo salão de embarque do aeroporto. Nicolas, alvo da ira desse ataque, teria tomado a decisão de deixar Belém a partir da ação agressiva e turbulenta em Val-de-Cans.

Ao Remo cabe ainda se posicionar juridicamente depois de descobrir a identidade dos responsáveis pelas ameaças a Jansen, atleta dos mais sérios e dedicados que o clube tem. Há mais de dois anos defendendo a camisa azulina, sempre foi exemplo e referência de profissionalismo.

É tempo de expurgar esse tipo de falso torcedor da vida dos clubes. Não contribuem em nada, só causam problemas e na maioria dos casos nada têm a ver com o futebol em si. Estão obviamente em busca de visibilidade e exposição midiática.

Acabam por se equiparar, em intenção pelo menos, ao sangrento episódio que vitimou o zagueiro colombiano Andrés Escobar, morto a tiros depois de ter feito um gol contra na derrota por 2 a 1 para os Estados Unidos, na Copa de 1994. Que jamais se permita que isso ocorra por aqui. Prevenir é sempre o melhor caminho.

Novo reforço bicolor chega em clima de otimismo

O ex-corintiano Rildo é o mais novo reforço apresentado pelo PSC para o prosseguimento da Série C do Brasileiro. Mostrou otimismo quanto ao futuro como atacante do Papão e consciente do desafio representado pela busca do acesso à Segunda Divisão.

Menos conhecido que Grampola, o outro nome anunciado, Rildo terá facilidade de adaptação. Reencontra ex-companheiros de passagens pelo Vasco e Corinthians. Jogou com Bruno Paulista, Paulo Roberto e Bruno Paulo.

Apesar de ansioso por jogar, Rildo não enfrentará o Altos, amanhã, às 19h, na Curuzu. Vai ficar como opção para o jogo seguinte, dia 25 de julho, contra o Manaus, na capital amazonense.

O terceiro atacante da leva de contratações do clube também já está na Curuzu. Tiago Santos, ex-Joinville, chegou ontem e pode até entrar contra o adversário piauiense.

Mas, assim como Rildo, Tiago ainda não está regularizado junto ao Boletim Informativo Diário da CBF.

Com o trio anunciado de forma até surpreendente pelo PSC, a torcida passou a manifestar mais confiança na caminhada bicolor na Série C. Um sintoma disso é que o mau passo diante do Ferroviário já foi praticamente esquecido.

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 16)

Brasil de Bolsonaro: quantidade de armas com civis dobra em três anos

O número de armas registradas por civis na Polícia Federal dobrou nos últimos três anos. É o que mostra o Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta quinta-feira (15). A estatística, dizem especialistas, é um resultado direto das políticas do governo federal que incentivam a aquisição de armas pela população.

Os dados, que são compilados, analisados e publicados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelaram ainda um crescimento 43% em apenas um ano nos pedidos de registro dos chamados CACs (caçadores, atiradores desportivos e colecionadores), que eram 200 mil em 2019, chegando a 287 mil em 2020.

Em 11 estados o crescimento no registro de armas de fogo por civis ficou acima da média nacional. O Distrito Federal ocupou a primeira posição disparado, com um aumento de 562% no último triênio. Lá, os cidadãos tinham 355.693 armas em 2017, número que chegou a 236.296 no ano passado.

Além do número de civis armados, aumentou também o tamanho do arsenal guardado dentro das casas dos brasileiros, já que mudanças na legislação propostas pela gestão de Jair Bolsonaro alteraram a quantidade de armas que cada cidadão pode comprar. (Da Revista Fórum)

A frase do dia

“O coronel Elcio Franco, envolvido em todas as versões de corrupção com vacinas, foi promovido da secretaria executiva do ministério para assessor especial da presidência. O governo miliciano leva meritocracia a sério”.

Toni Bulhões, engenheiro e tuiteiro

Leão espanta a fase ruim

Remo vence o Brusque pela 11ª rodada da Série B do Brasileiro

POR GERSON NOGUEIRA

O Remo conseguiu finalmente vencer em Belém, superando o Brusque, de virada, por 2 a 1. Um jogo que era dominado amplamente pela equipe azulina sofreu mudança traumática no segundo tempo, quando o zagueiro Rafael Jansen bateu contra as próprias redes, aos 15 minutos, fazendo o time afundar emocionalmente. A recuperação começou com a entrada do estreante Marcos Jr. aos 27’. Felipe Gedoz e o próprio Marcos se encarregaram da virada.

A narrativa da partida na primeira etapa mostrou um Remo mais dinâmico e organizado que nas últimas partidas. Trocou passes em velocidade, arriscou chutes de média distância e optou pelo jogo de habilidade para furar o forte bloqueio defensivo do Brusque. Faltou, porém, capricho e pontaria no arremate final.

Como novidade, o atacante Victor Andrade, estreante, movimentou-se muito e buscou sempre os dribles em velocidade, criando boas situações de perigo junto à área do Brusque. De maneira geral, o time controlava o jogo atuando dentro do campo adversário.

Lance da partida entre Remo x Brusque, válido pela série B.

Logo aos 4 minutos, Dioguinho acertou um chute rasteiro criando dificuldades para o goleiro Zé Carlos. Minutos depois, Victor Andrade arriscou e o goleiro deu rebote, mas Dioguinho chegou atrasado para conferir. O Remo insistia o tempo todo, com desenvoltura e variação de repertório.

Tudo teria sido perfeito se as várias chegadas com os alas e homens de centro resultassem em gol. Como Dioguinho, Gedoz e Victor Andrade não conseguiam acertar o gol, o Brusque se fortalecia no projeto de se defender. E fazia isso com gosto, usando até oito jogadores posicionados sempre atrás da linha da bola, o que dificultava as manobras do Remo.

Aos 18 minutos, Dioguinho tentou uma meia bicicleta e se lesionou na queda. Saiu do jogo e foi substituído por Wallace, que mudou um pouco a dinâmica do ataque, passando a trabalhar mais o passe para tentar furar as linhas de marcação do Brusque.

Victor Andrade insistia tanto nas jogadas de profundidade que acabou atraindo marcação dobrada. Mesmo sem ter o apoio constante de Tiago Ennes, ele levou vantagem sempre que partiu para os dribles curtos e em velocidade. Quase ao final do primeiro tempo, chutou em direção ao gol e a bola tocou na mão do lateral Airton, mas o árbitro ignorou o pênalti.

No intervalo da partida, Felipe Conceição trocou Erick Flores por Artur e o time ganhou em qualidade na articulação. Apesar disso, voltou em ritmo mais cadenciado, talvez pelo cansaço de Victor Andrade, que estava há vários meses sem atuar. Aos 13 minutos, ele foi substituído por Lucas Tocantins.

Quando o jogo ainda era travado mais no meio, com predomínio da marcação sobre a criação, veio o lance que parecia conduzir o Remo a mais um resultado desastroso dentro de casa. Aos 15 minutos, bola cruzada por Bruno Alves foi desviada por Rafael Jansen para as próprias redes. A bizarra finalização abateu por completo o time.

Por quase 10 minutos, o Remo não acertou nenhuma tentativa de reação. Os jogadores pareciam desanimados. Foi aí que Felipe Conceição lançou Renan Gorne e Marcos Jr. no lugar de Lucas Siqueira e Uchoa, mudando o eixo de mobilidade da equipe.

Marcos Jr. foi jogar adiantado, próximo a Gedoz e Gorne. Aos 32’, Artur entrou pela direita e tocou para Wallace junto à linha de fundo. O atacante deu um passe recuado para a entrada da área alcançando Gedoz, que chegava em velocidade. O chute saiu forte e rasteiro. A bola resvalou no goleiro e entrou.

Cinco minutos depois, Gedoz cobrou escanteio, a bola atravessou a área e foi desviada por Marcos Jr. no segundo pau para o fundo das redes. A vitória reabilitou o Remo numa partida cheia de dramaticidade e representou a saída da zona de rebaixamento, pulando para o 15º lugar. (Fotos: Samara Miranda/Fernando Torres)

Atuação coletiva sustentou a reação final

Nas observações pós-jogo, o técnico Felipe Conceição destacou a disciplina dos jogadores no cumprimento das orientações. Podia também ter enfatizado a mudança de perfil tático, com a utilização do 4-3-1-2 sem atacante de referência na área.

A entrada de Victor Andrade contribuiu para que o Remo pudesse trocar passes sempre em velocidade e em direção ao gol. Em torno dele, Dioguinho e Gedoz se revezavam nas subidas ao ataque.

O bloqueio dobrado do Brusque à frente da área foi bem sucedido ao longo dos 45 minutos iniciais, até porque o Remo não conseguiu aprumar as finalizações e errava no arremate de definição.

Vale destacar as substituições feitas desde o intervalo. Artur deu mais afirmação às jogadas de aproximação, tanto que participou do lance do primeiro gol chegando à linha de fundo.

Fica faltando uma colaboração maior dos laterais Tiago Ennes e Igor Fernandes, que ontem tiveram um papel mais discreto do que o habitual. Não esquecendo que o esquema sem centroavante de ofício requer intensa participação dos homens de lado.

Como atuação coletiva, o time fez sua apresentação mais encaixada no campeonato. Fica uma expectativa positiva porque foi apenas a segunda partida sob o comando do novo técnico, que naturalmente ainda está descobrindo as características e valências dos jogadores do elenco.

Com clareza e sem teorizar muito na hora de analisar a vitória, Felipe demonstrou humildade, principalmente ao atribuir méritos aos atletas. Assim é que se fala. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 15)

O passado é uma parada

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Stanley Kubrick dirige Woody Strode e Kirk Douglas no set de “Spartacus” (1960).

A bênção da amizade

No dia universal da poesia, vale a pena ver essa onde à amizade, da lavra de Fernando Pessoa.

Amigo para valer, amigos para sempre!” | Pão Diário

“Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.

Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril”.

Fernando Pessoa

O mistério em torno do dinheiro achado pela PF na casa do ex-candidato Eguchi

PF apreende dinheiro em operação que investiga suposto vazamento de informações no PA. — Foto: Reprodução / PF

A Polícia Federal fez buscas e apreensões hoje em quatro cidades paraenses no âmbito de investigação sobre o vazamento de informações sigilosas da própria corporação. Um dos alvos é o delegado da PF Everaldo Eguchi, que foi candidato a prefeito de Belém nas eleições de 2020, pregando austeridade e rigor no combate à corrupção. A Justiça Federal ordenou o afastamento do delegado de suas funções, com manifestação favorável do Ministério Público Federal.

O MPF considerou os fatos graves relatados pela PF, que “indicam que o investigado tem se valido de sua função na Polícia Federal para alcançar fins ilícitos e ilegítimos, havendo ele se apropriado, de maneira pouco republicana, do aparelho estatal para privilegiar interesses próprios”. Para o MPF, o afastamento de Eguchi se fazia necessário até para evitar que ele interfira nas investigações.

A operação desta quarta-feira, denominada Mapinguari, investiga, além do delegado, seis empresários suspeitos de envolvimento com a exploração ilegal do minério manganês. Eles teriam sido avisados, com antecedência, sobre uma operação ocorrida em 2018 que investigava a exploração ilegal de manganês na região de Marabá.

Com o vazamento das informações, a PF não conseguiu cumprir, “a época, mandados de prisão preventiva contra os suspeitos. O delegado Eguchi teria vazado as informações aos alvos em troca de financiamento para a campanha eleitoral. Em 2018, Eguchi foi candidato à deputado federal. Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Marabá, Goianésia, Parauapebas e Belém.

Delegado Federal Eguchi é o candidato do Patriota para a Prefeitura de Belém. — Foto: Elivaldo Pamplona/O Liberal

DINHEIRO VIVO

Uma grande quantia em dinheiro foi apreendida na casa do delegado, guardada em uma valise vermelha, mas o montante não foi informado pela PF. Havia notas de euro, dólar e real. Em nota, Eguchi negou envolvimento no caso e disse que “fará no momento oportuno os esclarecimentos com transparência e honestidade”. Vários questionamentos surgem em torno da misteriosa existência da soma em dinheiro (cédulas de R$ 20,00 e R$ 50,00, principalmente) na casa do ex-candidato a prefeito de Belém.

Com forte adesão de setores empresariais de Belém, Eguchi foi o segundo colocado nas últimas eleições municipais, em Belém. Ele contou com o declarado apoio do presidente Jair Bolsonaro, chegou até o segundo turno, quando foi derrotado por Edmilson Rodrigues (PSOL).