Danrlei marca, mas Papão segue sem vencer na Curuzu

O PSC voltou a tropeçar jogando dentro de casa pela Série C. Ficou no empate em 1 a 1 com o Altos-PI, apesar de ter atuado sempre no campo de defesa inimigo. O problema é que, apesar de atacar muito, o time não criava situações de perigo. O melhor momento foi aos 24 minutos, em cabeceio de Bruno Paulo que desviou no pé de Mimica e saiu para escanteio.

O Altos se fechava e explorava o contra-ataque. Na primeira boa jogada, chegou ao gol. Aos 33′, Lucas Campos chutou de chapa para abrir o marcador na Curuzu. O PSC não teve criatividade para construir jogadas na frente e, de vez em quando, fraquejava na marcação sofrendo alguns sustos.

Fomos maduros', avalia Vinícius Eutrópio após vitória diante do Santa Cruz  - Portal Roma News

No intervalo, o técnico Vinícius Eutrópio (foto) trocou Bruno Paulo por Danrlei, mas o PSC continuava lento nas saídas e errando muitos passes. Aos 20 minutos, em chute forte de Diego Matos, o goleiro Fábio deu rebote e Danrlei empatou. Logo em seguida, em boa arrancada, o centroavante quase marcou o segundo. Apesar de botar pressão nos minutos finais, o Papão não conseguiu chegar ao gol da vitória.

Com o resultado, o PSC caiu para a terceira posição no Grupo A da Série C, com 12 pontos, atrás de Tombense (1º) e Botafogo-PB (2º).

Com gols de Gedoz e boa atuação, Leão derruba a Ponte em Campinas

Jogadores do Remo comemoram gol de Gedoz

Com uma atuação bem encaixada ao longo dos dois tempos, o Remo conquistou sua segunda vitória seguida (ambos sob o comando de Felipe Conceição) e derrotou a Ponte Preta na noite deste sábado, em Campinas. Felipe Gedoz marcou os dois gols azulinos e Dawan descontou (de pênalti) para a Ponte. O Remo ainda teve um gol desmarcado erradamente pela arbitragem no segundo tempo. O resultado põe o Remo na 14ª posição na classificação da Série B.

A vitória começou a ser construída logo aos 9 minutos, após uma roubada de bola de Erick Flores, que em seguida deu passe perfeito para Felipe Gedoz bater rasteiro no canto esquerdo. O Remo continuou melhor na partida, teve mais duas chances com Lucas Siqueira e Dioguinho. O único lance perigoso da Ponte ocorreu aos aos 36 minutos, em cabeçada de Fessin que acertou a trave direita de Vinícius.

A segunda etapa teve um início equilibrado, mas o Remo se postava com segurança, procurando controlar o jog e saindo em escapadas pelos lados, com Dioguinho e Victor Andrade. A Ponte teve uma boa chance com Fessin, aos 20 minutos, mas dois minutos depois o Remo ampliou o marcador. Em novo lance de recuperação de bola no campo de defesa da Ponte, Gedoz desarmou Ednei, driblou o zagueiro Ivan e entrou na área finalizando para o gol vazio.

Marcos Junior ainda marcou o terceiro gol, após cabeceio de Renan Gorne, mas o auxiliar desmarcou erroneamente. Aos 36, uma falta de Igor Fernandes deu à Ponte um penal, que Dawan converteu. Mesmo sob pressão, o Remo conseguiu manter a serenidade e a troca de passes. No final, Renan Gorne teve grande chance em contra-ataque, mas foi desarmado junto à área.

De Pinochet a Bolsonaro, quão desumano é comemorar a morte de um genocida?

Por Vitor Farinelli, na Revista Fórum

Em 2006 eu já morava no Chile e vivi aqui o dia em que faleceu Augusto Pinochet um dos exemplos de vida de Jair Bolsonaro – de quem falarei depois. Milhares de pessoas foram às ruas do Centro de Santiago e também em outras cidades, para comemorar a morte. Também houve quem saiu para homenagear o ditador, mas isso ficou restrito aos bairros de elite da capital.

Pessoalmente, não sei se comemoraria a morte de alguém, mas me lembro claramente da minha reflexão na época, vendo aquelas pessoas felizes porque o tirano finalmente tinha morrido.

Muitas delas eram ex-presas políticas e familiares de pessoas que não sobreviveram àquela ditadura promovida por militares e liberais. Pessoas que buscaram Justiça pela via dos tribunais, mas ela nunca veio. O genocida nunca foi preso, graças às manobras judiciais que impediram sua detenção durante os últimos anos de sua vida, e graças à blindagem que mesmo os governos chilenos de centro-esquerda deram a ele – havia uma condenação contra ele em um tribunal da Espanha, a centro-esquerda rejeitou a extradição alegando que o condenaria “no Chile, como deve ser”, mas isso nunca aconteceu.

Diante daquela impunidade, a única reflexão possível era: quem sou eu pra dizer que aquelas pessoas que comemoravam estavam fazendo algo errado? Aquelas pessoas que esperaram por justiça pela via regular e esta nunca chegou, como eu poderia dizer que elas não tinham o direito de celebrar o fato de que aquele genocida já não existia mais?

Um mundo sem Pinochet era um prêmio de consolo. Conheci muitas dessas pessoas durante todos esses anos no Chile, e sei que a grande maioria delas queria sim que o ditador tivesse vivido pra conhecer a cadeia e pagasse pelos seus crimes, mas essa justiça nunca veio, e em um determinado momento, muito antes da sua morte, ficou claro que isso jamais iria acontecer.

Agora, no Brasil, se levanta nas redes sociais a ideia de que, supostamente, comemorar a possibilidade de que Jair Bolsonaro pode morrer. Alguém pode achar que é ridículo comparar Bolsonaro com Pinochet, porque um foi eleito e o outro não, mas depois de 540 mil mortes por covid (e contando), a maioria delas causada por uma política sanitária propositalmente negligente, e agora se está investigando inclusive se houve corrupção em meio a essa negligência. Quão menos genocida ele é em comparação com seu ídolo chileno?

Sendo assim, a única coisa que impede a reflexão que fiz no Chile, é o fato de que Bolsonaro ainda não morreu. Na verdade, nem mesmo o risco de vida é algo oficialmente admitido. Mas torcer pela morte de Bolsonaro, ou comemorar que ele eventualmente morra de obstrução intestinal, seria algo humanamente errado?

Primeiro, é preciso explicar que ao se tratar de um genocida, esses sentimentos são muito diferentes de algo casual ou cotidiano. Quando se trata de uma pessoa que cometeu um crime de roubo ou até de homicídio, em uma situação que afeta a vida de um pequeno grupo de pessoas, mesmo ao tentar se me colocar no lugar de alguém que perdeu um parente, um amor, uma amizade querida em casos assim, é possível racionalizar sobre sentimentos como perdão e compaixão, defender a ideia de “não se igualar” a quem cometeu esse erro e questionar o “olho por olho”.

Agora, lembre-se que no caso do Brasil não é só uma pessoa assim. Junto com as 540 mil mortes por covid no país há milhões de pessoas, uma grande parte da população brasileira que está nessa situação de ter perdido alguém sem sequer poder se despedir. Pessoas que perderam alguém com quem se convivia normalmente até que, em um dia qualquer, sem prévio aviso, veio um vírus e ela desapareceu, morreu sozinha e sequer teve direito a um funeral tradicional, devido às restrições sanitárias.

Aconteceu o mesmo com os desaparecidos nas ditaduras, no Chile e no Brasil. Em muitos casos, familiares das vítimas sequer sabem o que foi feito com os corpos. Outra coisa que une a pandemia com as tragédias das ditaduras é que muitos perderam mais de uma pessoa querida, e alguns chegaram a perder uma família inteira.

As pessoas sabem que a dor é resultado de toda uma política que afetou milhões de pessoas. Uma política baseada na ideia de não dar importância ao vírus e que morra quem tiver que morrer. E não foram só os que morreram. Também estão aqueles que padeceram a doença, mas sobreviveram. Alguns chegaram perto da morte. Alguns ficaram com sequelas. Até nisso a pandemia se assemelha as atrocidades cometidas em uma ditadura.

Diante desse sofrimento, essas pessoas não podem desejar o mesmo sofrimento ao responsável por essas políticas? É possível usar esse argumento de que “não se deve se igualar” a um genocida? Ou melhor: é possível “se igualar” a um genocida somente desejando mal a ele.

Em muitos casos, esse desejo é somente um “bem feito para ele”, sendo que “ele”, no caso, é um gestor que não só promoveu a morte como política pública, que não só vitimou seus entes queridos como ainda por cima tripudiou sobre eles, se burlou dos que morreram e dos que sofreram com a doença, dos que tiveram perdas de pessoas queridas. Bolsonaro riu do sofrimento alheio em transmissão ao vivo para todo o país, não uma, não duas, diversas vezes!

Também se trata, assim como no caso de Pinochet no Chile, de um sentimento de revolta amplificado pela impunidade, porque sua eventual morte pode significar que não será responsabilizado pelas suas políticas, e porque mesmo a sua sobrevivência não dá garantias de que ele pagará por seus feitos. A CPI da Covid caminha, mas as ameaças das Forças Armadas às instituições não dão garantias de que os resultados serão os esperados. Nem falar dos pedidos de impeachment, que estão travados no Congresso pelo Centrão bolsonarista regado a recursos públicos.

É muito bonito dizer que “quero o Bolsonaro vivo e condenado”. No começo dos Anos 2000, os chilenos também acreditaram no discurso da centro-esquerda de que “não vamos entregar o Pinochet para a Espanha porque vamos condenar ele em casa”. Tomara que seja assim, no caso do brasileiro.

Mas, ao se dizer isso, se estabelece um compromisso velado de que essa expectativa será cumprida. Que essa Justiça prometida vai acontecer. E se não acontecer, como não aconteceu no caso do Chile, ficará uma frustração que pode ter consequências muito grandes a médio ou longo prazo – entre os chilenos, isso se uniu a um acúmulo de frustrações que explodiram, todas juntas, em outubro de 2019.

Quem deseja ou pretende comemorar uma eventual morte do Bolsonaro é tão ser humano quanto qualquer outro, falível como qualquer outro, imperfeito como qualquer outro, incluindo os que se acham moralmente superiores por querê-lo vivo, mesmo admitindo que se trata de alguém que realizou uma política genocida.

O futuro do presidente está longe de depender de quem participa desse debate. De quem deseja o melhor ou o pior ao Bolsonaro. De quem acha normal torcer pela sua morte ou quem vê isso como algo repudiável.

Esse futuro está nas mãos dos médicos que o estão tratando, e dos políticos e dos militares que o apoiam – ou que eventualmente podem trai-lo. Para quem não faz parte de nenhum desses grupos, qualquer sentimento a respeito desse futuro é legítimo.

Victor Andrade é uma das esperanças azulinas diante da Ponte Preta

Victor Andrade teve destaque na partida diante do Brusque — Foto: Samara Miranda/Ascom Remo

O atacante Victor Andrade foi o grande destaque individual do triunfo do Remo sobre o Brusque, na quarta-feira. Ele estreou com atuação elogiada por todos. Aplicou 11 dribles (um recorde na competição) e participou intensamente das movimentações do ataque. Cansado, saiu no começo da etapa final, mas deixou excelente impressão. Arrancadas, dribles em velocidade, finalizações certeiras. Estes foram os pontos mais destacados na atuação do ex-santista.

Nas entrevistas, porém, o atacante prefere destacar a atuação coletiva do Remo. “Fico feliz em poder ajudar o grupo. O mais importante não é o individual, todos os atletas aqui estão para ajudar o Remo e estão em busca de um só objetivo. Nós sabemos qual é internamente e vamos em busca sempre”.

A vitória sobre o Brusque também trouxe um alívio no Baenão, quebrando a sequência de sete jogos sem vencer. “Achamos o caminho. O Felipe Conceição conseguiu dar uma cara nova para o time e nós conseguimos adaptar muito rápido a isso. O time entendeu bastante o que ele quer. Tenho certeza de que teremos excelentes resultados, pois estamos conseguindo colocar em prática o que é treinado”, opina.

Victor é uma das esperanças da torcida para o difícil embate de hoje contra a Ponte Preta, a partir das 18h30, no estádio Moisés Lucarelli, em Campinas (SP), pela 12ª rodada da Série B.

Rebeldia teen

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Por Sérgio Augustohttp://conteudolivrenews.blogspot.com/2021/07/

Para brasileiros e uruguaios, 16 de julho é uma data histórica pelo que aconteceu no Maracanã no jogo decisivo da Copa de 1950. Na história da literatura, o dia de ontem pertence a Catcher in the Rye , o romance que celebrizou JD Salinger, lançado pela Little, Brown justo um ano depois do Maracanazo, e aqui traduzido, tempos depois, pela visionária Editora do Autor (de Rubem Braga e Fernando Sabino) com o título de O Apanhador no Campo de Centeio .

Muita gente lamenta não o ter lido na idade mais adequada: a de seu protagonista e narrador, Holden Caulfield – ou seja, aos 16 anos – para plenamente usufruí-lo. Tal purismo, como quase todo purismo, parece altamente discutível. John Updike, por exemplo, só o leu aos 23, embora já lhe conhecesse alguns trechos que um companheiro de quarto na Universidade Harvard vivia a recitar obsessivamente.

Sou desse grupo de “retardatários”. Era cinco anos mais velho do que Caulfield quando devorei o livro pela primeira vez.

Já conhecia algumas coisas de Salinger, publicado na revista Esquire e o conto Um Dia Ideal Para os Peixes-Banana , publicado na revista Senhor , quando, em outubro de 1963, à procura de um livro de bolso no aeroporto que ainda se chamava apenas Idlewild (John Kennedy só seria assassinado no mês seguinte), para amainar o frisson de minha primeira viagem de Nova York a Los Angeles, bati os olhos em The Catcher in the Rye , na clássica edição da Signet, com o herói carregando um mala numa rua de Manhattan .

Se a revista The New Yorker já fizesse parte da minha vida, teria lido várias outras narrativas curtas depois reunidas em Nove Estórias , também traduzidas pela Editora do Autor. Década e meia mais tarde, ao folhear uma Esquire de 1945, comprada no sebo ambulante que fez o ponto na calçada do Teatro Municipal do Rio, deparei com o que me fez ter sido o primeiro conto de Salinger publicado num veículo de grande expressão. Com Outro título intrigante ( Este Sandwich não tem nenhuma Maionese ), era introduzido na abertura da revista com Uma foto e hum Bilhete do Autor.

Salinger não se deixava fotografar, mas ali estava ele, fardado, na frente aliada. “Tenho 26 anos de idade e quatro de Exército”, dizia o bilhete. “Passei os últimos 17 meses além-mar. Desembarquei na praia de Utah, no Dia D, com a Quarta Divisão, e estive no 12º Batalhão de Infantaria até o final da guerra. ” Era contista desde o 15 anos e no início sentira bastante dificuldade para “escrever de maneira simples e natural”. Fechando o bilhete, esta promessa, cinco ou seis anos depois desmentida: “Sou um velocista, não um fundista, e provavelmente nunca escreverei um romance”.

Tendo como pano de fundo um campo militar debaixo de chuva, o “sanduíche sem maionese” tinha como narrador o soldado Vincent Caulfield, que deixara na América um irmão, Holden, e uma irmã, Phoebe. Pensei estar diante do embrião de Catcher in the Rye . Vincent, pouco depois descobri, verdadeiro despontara num relato sobre o último dia de sua última folga no quartel, Último Dia do Último Furlough , publicado 15 meses antes no Saturday Evening Post .

Nesse conto, o soldado Vincent já se manifestava preocupado com o paradeiro de Holden no Exército. O irmão não desertara; apenas desaparecera, provavelmente morto em combate, com 19 anos. Porém, pelas minhas contas, Holden seria uma criança de 10 anos em 1944. Vincent morreria no conto O Estranho . Holden seria dependente oficialmente, e já descrito como um típico adolescente neurótico do pós-guerra, em I’m Crazy , publicado na revista Collier’s .

Nenhum desses contos foi incluído em Nove Estórias , desprezo estendido, ainda mais inexplicavelmente, uma Slight Rebellion na Madison . Publicado na última edição da The New Yorker de 1946, era quase um trailer do Apanhador , com Holden dotado de um sobrenome adicional (Morrissey), patinando com Sally Hayes na pista de gelo do Rockefeller Center e indo com ela assistir a uma peça na Broadway , com Alfred Lunt e Lynn Fontanne.

“Esse rapaz é louco”, argumentou o primeiro editor nova-iorquino um devolver os originais de The Catcher in the Rye . Irritado, Salinger entregou-os à Little, Brown de Boston. Rompendo com sua regra de não selecionar obras de estreantes, o Livro do Mês americano indicado como leitura para o verão de 1951. Em cinco semanas, já era o livro do ano. Nunca deixou de ser um best-seller mundial.

De louco Caulfield nada tem. Personagem-símbolo da rebeldia teen dos anos Truman-Eisenhower, cheio de prevenções contra a impostura dos adultos, dos “fones” de ambos os sexos, já o compararam a James Dean, Jesus, Hamlet e Don Quixote.

Os “phonies” mais carolas encrencaram com os 237 “goddams”, os 58 “bastards”, os 31 “Chrissakes” e expletivos do gênero proferidos pelo personagem, contra o qual moveram uma campanha moralizante, tenaz, mas infrutífera. Faz tempo que o Apanhador é leitura obrigatória no ensino médio – com o egrégio timbre de Faulkner, Harold Bloom, Updike, entre outros.

Gostaria de saber como os adolescentes de hoje reagem ao romance e se relacionam com Caulfield e sua desbocada impaciência com os adultos (“costumam dormir de boca aberta”), seu cinismo nervoso e sua opinião, para muitos preconceituosa e generalizante, mas inegavelmente divertida, sobre as mulheres (“sempre deixam a bolsa por onde a gente passa”), os professores (“ridículos”), as mães (“todas piradas”), e a Bíblia (“Jesus é legal, mas o resto é chato”).

Harold Bloom o releu. Achou-o ainda comovente, mas meio enjoativo. Eu ainda estou tomando coragem.

É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE ‘ESSE MUNDO É UM PANDEIRO’

Um grito

Por Leonardo Padura

Parece bem possível que tudo o que aconteceu em Cuba desde o último domingo, 11 de julho, tenha sido encorajado por um maior ou menor número de pessoas contrárias ao sistema, algumas delas até mesmo pagas, com o objetivo de desestabilizar o país e causar uma situação de caos e insegurança. Também é verdade que em seguida, como costuma acontecer nesses eventos, ocorreram atos oportunistas e lamentáveis de vandalismo. Mas acredito que nenhuma das evidências tira um pingo de razão do grito que escutamos. Um grito que também é fruto do desespero de uma sociedade que atravessa não só uma longa crise econômica e uma crise pontual de saúde, mas também uma crise de confiança e uma perda de expectativas.

A esse clamor desesperado, as autoridades cubanas não deveriam responder com os habituais lemas, repetidos há anos, e com as respostas que essas autoridades querem ouvir. Nem mesmo com explicações, por mais convincentes e necessárias que sejam. O que se impõe são as soluções que muitos cidadãos esperam ou exigem, alguns se manifestando na rua, outros dando sua opinião nas redes sociais e expressando sua desilusão ou discordância, muitos contando com os poucos e desvalorizados pesos que têm em seus empobrecidos bolsos e muitos, muitos mais, fazendo filas em um silêncio resignado por várias horas sob sol ou chuva, inclusive com a pandemia, filas nos mercados para comprar comida, filas nas farmácias para comprar medicamentos, filas para conseguir o pão nosso de cada dia e para tudo imaginável e necessário.

Acredito que ninguém com um mínimo de sentimento de pertencimento, com um sentido de soberania, com uma responsabilidade cívica pode querer (ou mesmo acreditar) que a solução para esses problemas venha de qualquer tipo de intervenção estrangeira, muito menos de natureza militar, como chegaram a pedir alguns, e que, também é verdade, representa uma ameaça que não deixa de ser um cenário possível.

Também acredito que qualquer cubano dentro ou fora da ilha sabe que o bloqueio, ou embargo comercial e financeiro dos Estados Unidos, como queiram chamá-lo, é real e se internacionalizou e intensificou nos últimos anos. E é um fardo muito pesado para a economia cubana (como seria para qualquer outra economia). Aqueles que vivem fora da ilha e querem hoje ajudar seus familiares em meio a uma situação crítica, podem comprovar que existe e o quanto existe ao serem praticamente impedidos de enviar uma remessa para seus familiares, só para citar uma situação que afeta muitos. É uma política antiga que, aliás (às vezes alguns esquecem), praticamente todo o mundo tem condenado por muitos anos nas sucessivas assembleias das Nações Unidas.

E não acredito que alguém possa negar que também foi desencadeada uma campanha midiática na qual, até das formas mais grosseiras, foram divulgadas informações falsas que, do princípio ao fim, só servem para diminuir a credibilidade de seus gestores.

Mas acredito, junto a tudo o que foi dito acima, que os cubanos precisam recuperar a esperança e ter uma imagem possível de futuro. Se a esperança se perde, perde-se o sentido de qualquer projeto social humanista. E a esperança não é recuperada pela força. Ela é resgatada e alimentada com soluções, mudanças e diálogos sociais, que por não chegarem têm causado, entre tantos outros efeitos devastadores, os anseios migratórios de tantos cubanos e agora provocam o grito de desespero de pessoas entre as quais certamente havia criminosos oportunistas e pessoas pagas para tanto. Embora eu me recuse a acreditar que no meu país, a esta altura, possa haver tanta gente, tantas pessoas nascidas e educadas entre nós que se vendam ou cometam crimes. Porque se assim fosse, isso seria fruto da sociedade que os fomentou.

A forma espontânea com que um número notável de pessoas também tem se manifestado nas ruas e nas redes, sem se atrelar a nenhuma liderança, sem receber nada em troca ou roubar nada pelo caminho, deveria ser um alerta. E penso que é uma amostra alarmante das distâncias que se abriram entre as esferas políticas dirigentes e as ruas (e isso foi até mesmo reconhecido pelos dirigentes cubanos). Só assim se explica que o que aconteceu, sobretudo em um país onde quase tudo se sabe quando se quer saber, como todos nós também sabemos.

Para convencer e acalmar os desesperados o método não pode ser o das soluções de força e obscuridade, como impor um apagão digital que cortou há dias as comunicações de muitos, mas que não impede as ligações de quem quer dizer alguma coisa, a favor ou contra. Muito menos pode se empregar como argumento de convencimento a resposta violenta, especialmente contra os não violentos. E já se sabe que a violência pode ser não apenas física.

Muitas coisas parecem estar em jogo hoje. Talvez até depois da tempestade venha a calmaria. Talvez os extremistas e fundamentalistas não consigam impor suas soluções extremistas e fundamentalistas, e não se enraíze um perigoso estado de ódio que tem crescido nos últimos anos.

Mas, de qualquer forma, é necessário que cheguem as soluções, respostas que não deveriam ser apenas de natureza material mas também de caráter político. E assim uma Cuba melhor e inclusiva poderia responder às razões desse grito de desespero e perda de esperanças que, em silêncio, mas com força desde antes do 11 de julho, vinham de muitos de nossos compatriotas. Esses lamentos que não foram escutados e cujas chuvas originaram esse lamaçal.

Como cubano que vive em Cuba, trabalha e acredita em Cuba, presumo que tenho o direito de pensar e expressar minha opinião sobre o país em que vivo, trabalho e acredito. Já sei que em momentos como este e ao tentar expressar uma opinião, acontece de ser “sempre reacionário para alguns e radical para outros”, como disse certa vez Claudio Sánchez Albornoz. Também assumo esse risco, como um homem que almeja ser livre, que espera ser cada vez mais livre.

Leonardo Padura. El hombre que mira desde la esquina – Palabra Pública

Mantilla (Havana), 15 de julho de 2021.

(Tradução de Isabella Meucci)

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Leonardo Padura Fuentes nasceu em Havana em 1955. Formado em Letras (Spanish Language and Literature) pela Universidade de Havana, trabalhou como escritor, jornalista e crítico literário até a década de 1990, quando ganhou reconhecimento internacional por uma série de romances policiais estrelando seu mais famoso personagem, o detetive Mario Conde. Mas foi com o romance O homem que amava os cachorros (Boitempo, 2013) que Padura se consolidou no mundo literário, ganhando prestígio para além do gênero policial. Traduzida para vários países (como Espanha, Portugal, França e Alemanha), a obra recebeu diversos prêmios internacionais – Prix Initiales (França, 2011), Prix Roger Caillois (França, 2011), Premio de la Critica (Cuba, 2011), XXII Prix Carbet de la Caraïbe (2011) e V Premio Francesco Gelmi di Caporiacco (Itália, 2010). Em 2012, Padura recebeu o Premio Nacional de Literatura de Cuba. Seu romance, Hereges (Boitempo, 2015), ganhou o X Prêmio Internacional de Romance Histórico “Ciudad de Zaragoza” e foi finalista dos prêmios Médicis e Fémina. Leonardo Padura ganhou em 2015 o Prêmio Princesa das Astúrias, pelo conjunto de sua obra. Pela Boitempo, publicou também Máscaras (2016), Paisagem de outono (2016), Passado perfeito (2016), Ventos de quaresma (2016), A transparência do tempo (2018), O romance da minha vida (2019) e o mais recente, Água por todos os lados (2020).

Avião sobrevoa Nova York com a faixa “Stop Bolsonaro”

Nesta sexta-feira (16) a população de Nova York, nos Estados Unidos, foi surpreendida por uma mensagem contra o presidente brasileiro Jair Bolsonaro circulando pelo céu. Na verdade, voando. Isso porque avião com uma faixa de protesto sobrevoou os arredores da Estátua da Liberdade, um dos monumentos mais visitados do mundo, e a região de Wall Street, coração do capitalismo estadunidense.

A frase “Save de Amazon, Save Lives. Stop Bolsonaro”, que em português significa “Salve a Amazônia, Salve vidas. Pare Bolsonaro”, pode ser vista por milhares de pessoas em diferentes pontos da metrópole. O ato foi uma iniciativa do coletivo Brazilian Resistance Against Democracy Overthrow de Nova York (BRADO-NY).

“Um alerta à comunidade internacional sobre a crise que assola o Brasil, graças à gestão de caráter genocida e de descaso ao meio-ambiente de Jair Bolsonaro”, dizem os organizadores.