POR GERSON NOGUEIRA
Tudo faz crer que teremos finalmente uma Copa Verde digna da força popular dos nossos clubes. A edição de 2021 é daquelas feitas sob medida para a dupla Re-Pa brilhar. Explico: pela primeira vez, por força das mudanças impostas pela pandemia ao calendário do futebol brasileiro, os dois velhos rivais têm a chance de chegar à competição com elencos reforçados e reais possibilidades de brilhar no torneio.
A situação é particularmente auspiciosa para o Remo, que conquistou o acesso à Série B e vai reformular o elenco nas próximas semanas, podendo avançar e chegar às etapas decisivas com o time mais forte que já conseguiu apresentar na competição.
Sonho antigo dos azulinos, que bateram na trave na edição de 2015, a Copa Verde já registra duas conquistas do PSC, campeão em 2016 e 2018. O Cuiabá, que acaba de chegar à Série A, também ganhou duas vezes – 2015 e 2019. Brasília (2014) e Luverdense (2017) levaram as outras edições.
Na sempre cabalística sétima competição, é bem provável que o campeão seja paraense, apesar de uma concorrência cada vez mais diversificada – presenças de Atlético-GO, Cuiabá (atual campeão) e Vila Nova. A rigor, só depende de planejamento e seriedade.
O Leão, que estreia no próximo fim de semana, tem uma trajetória errante na CV, com direito a vexames inesquecíveis, como a eliminação para o Santos-AP, nas quartas de final de 2017. Ao todo, foram 32 jogos, 15 vitórias, 7 empates e 10 derrotas, com 55 gols marcados e 40 sofridos.
O Papão, bicampeão do torneio, fez 47 jogos e obteve 29 vitórias, 13 empates e 5 derrotas. Foram 89 gols marcados e 38 sofridos. Os bicolores souberam aproveitar a condição de disputantes da Série B para impor superioridade em duas edições, chegando a cinco finais e a uma semifinal.
A responsabilidade maior em relação à Copa Verde é indiscutivelmente dos remistas, pois a competição foi sempre encarada com certo relaxamento, sem constituir-se em prioridade, lá pelas bandas do Evandro Almeida.
O bônus também vale o esforço. Apesar de ter diminuído o valor da recompensa, a CBF dá como prêmio ao campeão a classificação automática à terceira fase da Copa do Brasil, o que garante uma verba em torno de R$ 2 milhões.
Para a torcida, há a chance de dois confrontos entre Leão e Papão, visto que o clássico só está mesmo garantido no Campeonato Estadual. No Brasileiro, ambos não se cruzarão em 2021.
Bola na Torre
O programa tem o comando de Guilherme Guerreiro, com participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Começa logo depois do jogo da NBA, na RBATV, por volta de 00h20.
Em pauta, a final da Série C e o começo da Copa Verde. Premiações e participação do telespectador. A direção é de Toninho Costa.
Após campanha brilhante, Dourado chega à Série A
Com o empate entre CSA e Brasil-RS, na sexta-feira, o Cuiabá tornou-se o terceiro time a garantir acesso para à Primeira Divisão do Brasileirão. A campanha espetacular do Dourado na Série B foi iniciada sob a batuta de Marcelo Chamusca e prosseguiu, brilhantemente, com o desconhecido Alan Aal, que havia sido dispensado pelo Paraná Clube.
O clube sobe pela primeira vez à Série A com apenas 20 anos de existência. De quebra, fará com que a Arena Pantanal, “elefantes branco” construído para a Copa de 2014, finalmente seja usada à altura no principal campeonato nacional. Bem melhor que Manaus, cuja arena é mais utilizada em peladões.
O clube foi fundado por Gaúcho, ex-ídolo do Flamengo, em 2001. O atacante morreu em 2016, mas o trabalho inicial prova ter sido bom: o Dourado é um grande case de sucesso.
Volante evita mico e salva dignidade rubro-negra
No vídeo sobre marqueteira visita de Bolsonaro ao treinamento do Flamengo em Brasília, o volante Gerson salvou a honra rubro-negra. Aparece claramente desconfortável em meio ao convescote (sem máscaras), cruzando os braços e se apoiando num papo qualquer com o segurança para não entrar na rodinha oba-oba dos outros jogadores.
Consciência é tudo. Gerson agiu bem, preservou a dignidade que resta ao clube mais popular do país nesse esforço ridículo para se aliar ao poder. O volante foi vítima há algumas semanas de xingamento racista em jogo com o Bahia. Fez a denúncia e o caso tramita na Justiça.
É claro que jamais poderia ser incoerente. Afinal, como se sabe, o atual presidente nunca perdeu a oportunidade de manifestar desconforto, ironia e deboche em relação a negros, antes e durante o mandato.
E o Flamengo deveria, apesar de ter um cartola intimamente afinado com as ideias do governante, manifestar empatia com as 215 mil vidas perdidas para a covid no país. Pandemia que foi alvo de gracinhas e atitudes irresponsáveis por parte de quem teria que liderar o combate a ela.
É justo registrar que os torcedores repudiaram com vaias e palavrões a manobra oportunista, compensando a empolgação bovina de jogadores como Gabigol, Pedro e William Arão, que conversaram com Bolsonaro.
Nem foi a primeira vez que Jair Bolsonaro, que se diz palmeirense, dá um jeito de surfar na popularidade do rubro-negro. Já se reuniu em duas ocasiões com o presidente do clube, Rodolfo Landim. Uma delas com a impressionante pauta de garantir o retorno do futebol em meio à pandemia.
(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 24)
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