Torcida do Papão protesta na sede e pede a cabeça do executivo

Um grupo de torcedores do Paissandu compareceu, ontem à noite, à sede social – localizada na avenida Nazaré – protestar contra a demissão do técnico Hélio dos Anjos e pedir a saída do presidente Ricardo Gluck Paul e do diretor de futebol, Felipe Albuquerque.

O protesto foi pacífico. O grupo, formado por cerca de 100 pessoas, levou faixas e cartazes para manifestar sua insatisfação com a mudança de comando técnico, culpando o executivo pela saída de Hélio dos Anjos e criticando a diretoria.

Paysandu: Em protesto, torcida pede saída de presidente e executivo de futebol - Crédito: Alexandre Alencar

Presidente esclarece saída de Hélio: “Não aceitou a cobrança”

Para esclarecer as circunstâncias da demissão do técnico Hélio dos Anjos, o presidente do PSC, Ricardo Gluck Paul, concedeu entrevista no começo da tarde, no estádio da Curuzu. Relatou que o treinador estava pressionado desde a derrota frente ao Paragominas, na semifinal do Parazão, mas admitiu ter ficado surpreso com o pedido de demissão do técnico.

Presidente do Paysandu comenta demissão de Hélio dos Anjos: 'Não gostou da cobrança' - Crédito: Junior Cunha

“O Hélio foi o treinador mais longevo de 2013 pra cá e um dos maiores da história. 472 dias de Paysandu. Pós quarentena, o Paysandu vem com números que justificavam um ambiente de cobrança na Curuzu. No momento em que perdemos o jogo para o Paragominas, eu dizia que essas coisas eram resolvidas na Curuzu. Fiz uma reunião com o Hélio e o Guilherme. Fiz cobranças duras com relação ao desempenho desse jogo, tivemos uma conversa respeitosa. Coloquei as minhas preocupações, pedi explicações e viajamos. Tivemos uma reunião no hotel em Goiânia. Reunimos no almoço e ele me disse que estava profundamente incomodado com a minha cobrança e com o ambiente de cobrança, e de que todo mundo virou técnico no Paysandu. Eu disse que era o presidente do Paysandu e cobrava do porteiro ao técnico de futebol, ninguém aqui está livre de cobrança”, explicou Ricardo. 

Sobre as contratações, que Hélio sempre mencionava nas entrevistas, o presidente expôs seu ponto de vista. “Ele fala das contratações, o que na minha visão não é local para discutir em coletiva de imprensa. Nesta semana Hélio praticamente se despediu do elenco. Na sexta-feira, na roda com o plantel, ele falou que iam contratar um técnico no lugar dele para passar a mão na cabeça dos jogadores. O Hélio me disse que o Guilherme ouviu que o Felipe teria dito que estariam esticando a corda do Nicolas. O Nicolas é o nosso jogador – pelos dados de GPS – que tem mais corrido em campo, sempre acima da média. (…) É natural que o diretor de futebol se preocupe com a condição de um atleta. Armar para tirar um atleta de um jogo importante, tem uma distância do tamanho do mundo. Falei que precisava de situação relevante da acusação de tirar o Nicolas de campo. Na cabeça do Hélio era porque estávamos armando para justificar uma demissão dele, como se não bastasse três derrotas na Série C. Não me falta coragem, em momento algum, porque já mandamos técnico invicto embora”.

Ricardo seguiu explicando o problema envolvendo o atacante: “O Nicolas saiu batido na quarta-feira, reclamou dor, exame feito e foi encaminhado na sexta-feira à noite um laudo do Hospital Porto Dias indicando grau 1 na lesão. Houve um esforço coletivo para o Nicolas jogar. Se não fosse o estadual, ninguém iria sustentar por conta dos resultados na Série C. Lembrei a ele que durante todos os momentos difíceis do Paysandu eu estava do lado dele. Falei ao Hélio que durante este período a mesma torcida que hoje está fazendo barulho pela saída é a mesma que pedia a cabeça dele em outros momentos. O Hélio chegou a dizer que tinha uma informação de que passamos o final de semana ligando para técnico prevendo a queda dele. Isso é tão inverdade que agora estamos trabalhando com a busca de um novo técnico”, afirmou.

Apesar da demissão de Hélio, Ricardo garante que o elenco está alinhado com a diretoria. “Lamento muito a saída do Hélio. Tenho muito orgulho do que fizemos aqui nesses 472 dias. A torcida pode ficar tranquila, no seguinte sentido: o plantel do Paysandu está 100% comigo. 95% desses atletas vieram por ação da diretoria de futebol e renovaram pela diretoria de futebol. Não podemos cravar resultado, mas o elenco está fechado conosco. Estamos a dois pontos do G4 e o nosso desafio no momento é encontrar um técnico que esteja à altura do Paysandu e alinhado com a nossa convicção de futebol”.

Hélio dos Anjos deixa o comando técnico do PSC

Técnico Hélio dos Anjos pede demissão do Paysandu - Crédito: Fernando Torres

A diretoria do Paysandu anunciou na manhã desta terça-feira, 15, através das redes sociais, que Hélio dos Anjos não é mais o técnico do time.

” O Paysandu Sport Club informa que Hélio dos Anjos não é mais técnico da equipe de futebol profissional bicolor. O treinador pediu demissão no início da manhã desta terça-feira,15. Além dele, os auxiliares-técnicos Guilherme dos Anjos e Marcelo Rocha também deixam o clube. A instituição agradece a eles pelos seus serviços prestados”, diz a nota.

No Twitter, Hélio também se manifestou: “Grato ao @paysandu, COMISSÃO TÉCNICA e meus ATLETAS. Título paraense, invencibilidade contra o rival e ainda ficou faltando algo que nos tiraram. Tenho muitos motivos, e nunca abrirei mão dos meus princípios. Obrigado torcedor que tem a minha cara, intenso porém sempre RETO!”.

Um gigante da grande área

POR GERSON NOGUEIRA

Mesquita, Bira (centro) e Júlio Cesar Uri Geller no Remo, em 1978 — Foto: Arquivo Ferreira da Costa/O Liberal

Quando chegou ao futebol paraense, em 1976, Bira teve que encarar um desafio raro: optar por uma das duas grandes forças regionais. Começou vestindo a camisa do PSC, mas no ano seguinte, após um acordo que envolveu até questões relacionadas ao tapetão, transferiu-se para o Remo e assumiu a condição de emérito goleador.

Desembarcou no Evandro Almeida para integrar um time recheado de grandes jogadores. Tinha, porém, o desafio de substituir simplesmente o maior ídolo da história do clube, o gigante Alcino. Essa missão acabou facilitada pela identificação imediata com a casa e a torcida. Ele mesmo se tornou um torcedor, condição que sempre destacava.  

Jovem ainda, mas com um rendimento que impressionava nos treinos, Bira teve força mental e destemor para assumir a camisa 9 azulina. Aos amigos, costumava contar que foi acolhido pelos mais experientes do grupo e que caiu na graça de todos pela humildade.

Para não fazer feio na comparação com o Negão Motora, corria e treinava mais, trabalhando o lado físico para enfrentar as defesas. Como não era muito alto, sabia que precisava ser mais rápido e certeiro.  

Chegava sempre à frente dos beques na luta dentro da área e era preciso no cabeceio à meia altura, com excepcional aproveitamento em cruzamentos no primeiro pau, antecipando-se aos zagueiros.

Esse desassombro, próprio da personalidade irreverente, Bira trazia de berço e foi cultivado na convivência com os irmãos no Esporte Clube Macapá, no começo da década de 70. Ao lado de Haroldo, Assis, Marco Antonio e Aldo, que despontaria depois no PSC e no Fluminense, o atacante aprendeu cedo a importância de ignorar cara feia.

Os 118 gols marcados pelo Remo (conforme levantamento do pesquisador Jorginho Neves) deram a ele o honroso posto de 5º maior artilheiro da história do clube, sendo que a maioria dos gols nasceu de lances que se desenrolavam na grande área.

Com arrancada e explosão impressionantes, tinha facilidade para mudar de direção em plena corrida naquele curto espaço de terreno (16,5 x 16,5 metros). Ali resolvia as coisas, beneficiando-se da excepcional retaguarda de meio-campo e beirada que teve naqueles três anos iluminados – 77 a 79.

Atuou com Mesquita, Mego, Aderson, Marinho, Cuca, Luiz Florêncio, Humberto, Bebeto e vários outros bons jogadores sob o comando de mestre Joubert Meira (1976 a 1978). Era essencialmente um exímio finalizador, mortal naqueles 16,5 metros de largura e comprimento à frente das traves.

Personagem de grandes momentos do futebol local, Bira iria cair no agrado do Inter, então bicampeão brasileiro. Antes, dividiu holofotes na estreia de Dadá Maravilha no PSC. Ambos badalaram o jogo e marcaram gols, com direito a abraços de quem entendia que a rivalidade boleira jamais pode se confundir com inimizade.

Ainda se enfrentaram cinco vezes, com cinco gols de Dario e quatro de Bira. Impressionado com a qualidade do jovem goleador, Rei Dadá o recomendou ao Inter, onde Bira coroaria a carreira, fazendo 35 gols e comandando o ataque colorado no título invicto de 1979.

O Tremendão (apelido que lhe foi dado por Ronaldo Porto) tem ainda o recorde de gols numa única edição do Campeonato Paraense – 32, em 1979. Foi protagonista da maior atuação individual que vi no Mangueirão. Em 1978, diante do Guarani de Campinas.

O Remo goleou o Bugre por 5 a 1. Bira fez os cinco gols. Careca descontou para os visitantes. Naquela tarde ensolarada, o camisa 9 não tinha como ser marcado ou contido. Semanas depois, aquele mesmo Guarani ganharia o título brasileiro da temporada.

Bira foi imenso. Cravou seu nome na galeria dos maiores atacantes do futebol do Pará e do Norte do país. Jamais será esquecido.

Dahas foi o responsável pelo ingresso de Bira no Remo

Ronaldo Passarinho, grande benemérito azulino, testemunhou os bastidores da travessia de Bira da Curuzu para o Baenão. E conta como aconteceu:

“Em 1976 seria o ano do nosso tetra. Como estava tudo armado contra nós, o Manoel Ribeiro exigiu Juiz da CBF. O rival não aceitou. Propusemos juiz da Fifa, de outro país. O Remo pagaria as despesas. Não foi aceito.

O Manoel, indignado, deu um murro na mesa e tirou o Remo da final. Tentemos demovê-lo. Nada feito. Dias atrás o Mesquita me lembrou que o time estava preparado para entrar em campo.

No início de 1967, o Manoel autorizou uma grande figura, Jorge Dahas, fanático pelo Remo a procurar o Bira. Assim foi feito e o Bira passou a ser nosso atleta”, relata Ronaldo.

Elielton: após a longa espera, a volta por cima em grande estilo

O maior vencedor da noite de sábado, na Curuzu, quando o PSC goleou o Imperatriz por 6 a 1, foi indiscutivelmente o ponteiro (sim, eles ainda existem) Elielton. Entrou no segundo tempo para contribuir com dois belos gols, de construção própria. O último, que fechou a peia, foi sensacional. Arrancou de sua própria intermediária até a área adversária, mantendo o domínio e evitando a perseguição dos zagueiros.

Apesar de estar no clube há mais de um ano, foi o seu primeiro gol com a camisa alviceleste. Parecia improvável que a noite fosse abrilhantada por ele. Afinal, substituiu o ídolo Nicolas, depois de ficar fora dos planos de Hélio dos Anjos desde o início da temporada.

Com os gols e a participação ativa no jogo, Elielton abre a perspectiva de voltar a ser titular e propiciando ao treinador a possibilidade de ampliar as opções ofensivas. A campanha do PSC na Série C acaba de ganhar um improvável reforço, saído do próprio elenco. A conferir.

(Coluna publicada na edição do Bola desta terça-feira, 15)