O que mais Moro precisa fazer para causar a revolta dos movimentos progressistas?

POR CARLOS FERNANDES, no DCM

O líder indiano Mahatma Gandhi possui uma frase no mínimo emblemática, sobretudo para os obscuros dias que estamos atravessando. Diz ele:”Se ages contra a justiça e eu te deixo agir, a injustiça é minha”.

É uma reflexão desconcertante uma vez que imputa a responsabilidade pelas injustiças não só a quem a pratica, mas principalmente a quem permite passivamente que ela seja livremente praticada.

Numa das pontas da máxima de Gandhi encontra-se o juiz Sérgio Moro e a força tarefa da operação Lava Jato. Paradoxalmente, chegamos a um estado de exceção tal que ninguém mais no Brasil age mais escandalosamente contra a justiça do que os próprios membros do sistema judiciário.

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A parcialidade inconteste de Moro – tanto quanto suas motivações pessoais na condução de seus trabalhos – transformaram os ritos do processo penal brasileiro previstos em lei numa verdadeira inquisição onde os direitos civis e o amplo direito de defesa foram sumariamente abolidos.

A prisão de Guido Mantega enquanto acompanhava sua esposa no hospital para uma cirurgia contra um câncer superou, até agora, todas os espetáculos midiáticos já presenciados. Se antes a desproporcionalidade e a autopromoção de suas decisões eram fatores constantes, agora a desumanidade e a crueldade perante um ser humano se fizeram presentes.

Segundo o procurador Carlos Fernando Lima, foi uma “triste coincidência”. Não, não foi. Foi algo meticulosamente preparado. Se não em relação à esposa de Mantega, mas com certeza em relação às eleições municipais.

Ainda segundo o próprio Lima, a decisão de Moro em prender Mantega foi tomada em Agosto e só ainda não havia sido cumprida por “circunstâncias operacionais” como os “jogos do Rio”. O que as olimpíadas tem a ver com um mandado de prisão temporária é algo que jamais iremos saber.

De qualquer forma, diante à terrível repercussão e sem qualquer argumento que pudesse sustentar o encarceramento do ex-ministro, não restou outra alternativa a Moro senão revogar a prisão que ele próprio havia deferido.

Tudo isso nos traz à outra ponta da máxima de Gandhi, a que comporta àqueles que permitem que tamanha injustiça seja praticada diuturnamente.

Em tese, uma injustiça praticada a um, é uma injustiça praticada a todos. Mas dado o fascismo com que mentes reacionárias estão festejando os abusos cometidos por uma tríada encabeçada por Moro e que se estende pelo MPF e pela Polícia Federal, resta aos movimentos progressistas combaterem essa nova forma de tirania.

O fato é que não é isso que está acontecendo. A despeito das crescentes manifestações contra o governo ilegítimo de Temer, os movimentos progressistas vem assistindo, apáticos, a retirada violenta de uma presidenta legitimamente eleita, o esfacelamento do programa de governo vencedor nas urnas e a tenebrosa caça às bruxas promovida pela república de Curitiba que só cessará com a prisão do ex-presidente Lula.

Ou unimos todas as nossas forças e lutamos incansavelmente até a ordem jurídica ser novamente reestabelecida, ou mais do que vítimas, seremos cúmplices de toda a injustiça que está, dia-após-dia, destruindo a soberania de uma nação.

Um comentário em “O que mais Moro precisa fazer para causar a revolta dos movimentos progressistas?

  1. O texto revela uma aparente contradição. Afinal, o autor reconhece uma crescente manifestação contra o governo ilegítimo de T e m e r, mas reclama que os movimentos progressistas estariam assistindo tudo apáticos.

    Ocorre que não há contradição. Na realidade o autor do texto está reclamando que a galera não está dando cumprimento às ameaças que os propagandistas do governo veiculava de suas tribunas – a reação violenta, a luta armada etc.

    Deveras, muito provavelmente a reação não vai passar disso que hoje temos: muita reclamação quanto aos atos do vice da impedida, hoje presidente, mas as reações físicas não vão passar daquelas realizadas pelas entidades a soldo.

    E não vai haver nada disso porque o que a esmagadora maioria da população pretende, o que ela busca, é o progresso social, e não pegar em armas, morrer, matar, destruir, com objetivos específicos de defender este, aquele ou aquele outro.

    Talvez a população até partisse para a radicalização, mas só se visse que os instigadores fossem os primeiros a fazer aquilo tudo que ficam pregando que seja feito. E isso se o obtivo não fosse garantir certas e determinadas pessoas, mas sim, o interesse coletivo.

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