Cassação de Cunha não elimina um mistério: por que ele só caiu depois de derrubar Dilma?

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POR PAULO NOGUEIRA, no DCM

É aquela situação em que você deve rir e chorar ao mesmo tempo.

A cassação de Eduardo Cunha livra o Brasil de sua maior vocação de corrupção na história da República.

Um escroque, um achacador, um mafioso, um ladrão, um mentiroso compulsivo, um destruidor, um psicopata dedicado explusivamente ao enriquecimento pessoal: de tudo isso os brasileiros se livram de uma só vez.

Este é o motivo de festa.

A razão do travo amargo na celebração é uma pergunta que jamais foi respondida: por que isso só aconteceu depois que Cunha teve todo o tempo para comandar o processo de impeachment de Dilma?

Já se sabiam seus crimes quando ele, inexplicavelmente, continuou na presidência da Câmara dos Deputados no trabalho sujo de destruir 54 milhões de votos e acabar com a democracia.

Janot já tinha produzido um documento minucioso em que reivindicava a saída do rei dos corruptos e dos manipuladores.

Os suíços já tinham denunciado as milionárias contas secretas na Suíça, abastecidas com dinheiro sujo. Isso pouco depois de Cunha jurar na CPI da Petrobras não ter conta nenhuma fora das declaradas.

Mentiu, o que lhe custaria o cargo. E depois tratou os brasileiros como débeis mentais ao afirmar que era “usufrutuário” de um “trust” cujo dinheiro seria originário de negócios que ele “fizera” décadas atrás na África, ou coisa parecida.

Como Cunha teve livre conduto para tocar o impeachment mesmo diante de acusações colossais é um mistério.

Devemos esta aberração ao ministro Teori, que engavetou a solicitação de afastamento de Cunha por dias, semanas, meses para só fazer o que deveria ter feito prontamente depois que Cunha assassinou o governo Dilma.

Ele teve permissão para manter a pistola com a qual cometeria seu crime. Teori jamais explicou a demora monstruosa.

No mais, a cassação teve o roteiro previsível. Ratos abandonaram o rato-chefe.

Este, ao fazer a própria defesa, misturou ódio com uma autopiedade patológica. Chorou sem convencer ninguém da sinceridade das lágrimas, acusou desvairadamente os deputados que votariam em seguida, invocou Deus e falou na família.

Faltou hombridade, faltou dignidade, faltou tudo que faz um homem ser um homem.

A família Cunha — tirada Claudia, cúmplice — merece sim comiseração. Os filhos de Pablo Escobar, já que estamos na temporada de Narcos, foram vítimas de um pai sanguinário.

O único culpado pelas dores dos filhos de Cunha é ele mesmo. Se pensasse nos filhos, e menos em si próprio e nas perspectivas de enriquecer roubando, não teria feito o que fez.

Ninguém obrigou Cunha a seguir o caminho da criminalidade política.

Ele deve a si próprio, e a ninguém mais, toda a desgraça que, enfim, o alcançou.

Teve o que mereceu.

Xadrez da teoria do choque e do capitalismo de desastre

POR LUIS NASSIF, no Jornal GGN

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Há um conjunto de peças soltas no golpe que, quando devidamente organizadas, permitem entender de modo muito mais claro um dos aspectos mais relevantes: a influência externa.

São elas:

  • 1.     A campanha sistemática da mídia de destruição da autoestima nacional.
  • 2.     Recém instalado o golpe, a corrida do ouro entre Eduardo Cunha e José Serra, para ver quem se antecipava na aprovação da nova legislação do petróleo.
  • 3.     A ida repentina do senador Aloysio Nunes aos Estados Unidos, para conversar com membros do Senado.
  • 4.     Antes dele, a ida do Procurador Geral da República aos Estados Unidos, para reuniões com o Departamento de Justiça e outros setores sensíveis.
  • 5.     A bandeira mágica que acompanha o golpe, de colocar a salvação do Brasil no trinômia reforma da Previdência-livre fluxo de capital-desregulação/privatização.

Para juntar as peças acima, vale a pena um mergulho no livro “Teoria do Choque” da norte-americana Naomi Klein.

Peça 1 – o início da “teoria do choque”

A base do livro é a descrição de estudos psicológicos nos Estados Unidos, que teriam contribuído igualmente para o aprimoramento dos métodos de tortura da CIA e das intervenções político-econômicos em países conflagrados. Tratam-se dos estudos de 1963 de Ewen Cameron e Donald Hebb, sistematizando os princípios do que veio a ser vulgarmente conhecido como lavagem cerebral através do uso de eletrochoques.  A conclusão principal era a de que “a privação de estímulos (através da tortura) induz à regressão, despojando a mente do indivíduo do contato com o mundo exterior e forçando à regressão”.

Quando o prisioneiro mergulha em um estado de “choque psicológico”, ou “vivacidade interrompida”, é sinal de que está mais aberto a sugestões, mais disposto a ceder. Em situações mais brandas, mas nem por isso menos drásticas, mantem-se o réu detido, sem contato com o mundo exterior, com família, sem acesso a notícias, até que entre no estado da “vivacidade interrompida”. Se o trabalho for bem feito, delata até o casamento da princesa Leopoldina em Diamantina, onde nasceu JK (apud “Samba do crioulo doido”).

Para haver cura, seria preciso eliminar tudo o que existia antes. “Cameron estava seguro de que se varresse para bem longe os hábitos, modelos e lembranças dos seus pacientes, chegaria àquele espaço vazio primitivo”, diz Naomi. Em geral, os resultados alcançados foram os de deixar os pacientes com suas memórias fraturadas e sua confiança traída, constata ela. Mas abrindo o bico, que é o que interessava.

Cameron transpôs suas teses para o campo das ciências sociais, através de um livro onde pontificava sobre como preparar a reconstrução da Alemanha no pós-guerra. Propôs-se a desenvolver uma nova ciência social e comportamental, na qual os cientistas do comportamento passariam a agir como planejadores sociais. Nessa nova utopia não haveria lugar para os doentes e os fracos, que deveriam ser removidos para não influenciar as novas gerações.

Peça 2 – o capitalismo de desastre

Segundo Naomi, essa mesma tese da destruição-reconstrução foi desenvolvida pelo chamado capitalismo de desastre, a partir dos estudos e da pregação de Milton Friedman, da Escola de Chicago, inspirada nas teses de Cameron.

Em um de seus ensaios fundamentais, Friedman desenvolveu a estratégia de como se prevalecer de situações de crise – “crise real ou pressentida” enfatizou. Quando a crise acontece, dizia ele, as ações que são tomadas dependem das ideias que estão à disposição. “Esta, eu acredito, é a nossa função primordial: desenvolver ideias alternativas às políticas existentes, mantê-las em evidência e acessíveis até que o politicamente impossível se torne politicamente viável”.

Tão logo uma crise se instale, defendia Friedman, é essencial agir rapidamente, “impondo mudanças súbitas e irreversíveis, antes que a sociedade abalada pela crise possa voltar à tirania do status quo”. Nas suas contas, uma administração teria de seis a nove meses para realizar as principais mudanças. “Caso não agarre a oportunidade de agir de modo decisivo durante esse período, não terá outra chance igual”.

A fórmula salvadora consistia em medidas irreversíveis que atendam ao trinômio liberdade total para o capital-privatização/desregulação-cortes nos serviços e benefícios sociais. Alguma semelhança com o caso brasileiro?

Há inúmeros episódios em que se aplicou a teoria do choque, desde o golpe contra Allende, no Chile, ao enorme fracasso da ocupação do Iraque e ao desmonte total do sistema de educação pública de Nova Orleans, após o terremoto Katrina.

Foi o que Naomi testemunhou na guerra do Iraque. “Os arquitetos da invasão norte-americana e britânica imaginaram que o seu uso da força seria tão chocante, tão esmagador, que os iraquianos mergulhariam em um estado de vivacidade interrompida, muito parecida com aquele descrita no manual Kubark (da CIA)”.

O certo é que parte dos grandes empresários norte-americanos, evangelizados por Friedman, se imbuíram do chamado “destino manifesto”, de levar o capitalismo em estado puro para os povos primitivos. Personagens contemporâneos, como os irmãos Kock repetem os W.R.Grace, católicos de origem irlandesa que, nos anos 60, bancavam o padre Peyton e sua cruzada pelo “rearmamento moral”.

Desde Adlai Stevenson, a CIA tornou-se a parceria fundamental nessa cruzada capitalista, em que se misturam interesses empresariais, a pregação evangélica, a síndrome do “destino manifesto” e a geopolítica do Departamento de Estado. A última tentativa (fracassada) foi quando Otto Reich, do Departamento de Estado, articulou com os grupos de mídia venezuelanos a deposição do presidente Hugo Chávez.

Peça 3 – a “vivacidade interrompida” no golpe brasileiro

Em algum lugar do passado recente, o Brasil era uma nação prestes a entrar para o primeiro time. Indústria naval, cadeia produtiva do pré-sal, grandes empreiteiras, montagem de uma forte indústria nacional de medicamentos, multinacionais brasileiras começando a conquistar o mundo, a diplomacia brasileira se impondo nos principais fóruns globais. Em pouco tempo o país entrou na fase da “vivacidade interrompida”, a sensação da crise terminal, da falta de saídas, o pessimismo repetido 24 horas por dia, o fim do mundo ao alcance da próxima manchete. Instaurou-se a tal crise pressentida.

O que aconteceu?

A partir da AP 470, a imprensa explorou duas estratégias paralelas. Uma, a da luta contra a corrupção, personificada no PT e em Lula. Outra, a luta de classes, levantando diuturnamente as ameaças chavistas, estigmatizando as políticas sociais, enfatizando a falta de cultura e de verniz dos adversários. É por aí que tem início a cooptação das classes médias, da elite das corporações públicas e do próprio Ministério Público Federal, o reino dos PhDs contra o primarismo dos chavistas.

O brilhante desempenho de Lula e Dilma de 2008 a 2012 anulou a estratégia. Mas a imprensa não interrompeu sua campanha massacrante, sistemática, de desconstrução do que estava sendo feito. Valeram-se de diversos subterfúgios. Se se levantavam grandes obras, com 90% concluídas, enfatizavam os 10% que faltavam.

Em um programa social com 15 milhões de famílias assistidas, a manchete era a pequena corrupção identificada em um ponto qualquer do país. Na Copa do Mundo, enquanto os estádios e aeroportos eram construídos, destacava-se o fato de não estarem prontos. Entregues, o destaque era para a falta de sabonete nos banheiros.

Com os sinais de bonança revertendo, as manifestações de junho de 2013 foram o primeiro alerta de que que o pêndulo da opinião pública começava a inverter.

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Instalada a crise, a “teoria do choque” pode colocar a cabeça de fora. Parlamentares como Aécio Neves, no Senado, e Eduardo Cunha, na Câmara, trataram de bloquear toda a atividade parlamentar, negando ao governo Dilma as ferramentas mínimas para consertar os erros. Aécio, José Serra e Fernando Henrique Cardoso tornaram-se os porta-vozes do caos estimulando o movimento golpista nas ruas e nos jornais, enquanto a parceria PGR-Lava Jato-mídia tratava de incendiar a classe média com as denúncias de corrupção focadas exclusivamente no PT e em Lula.

Nesse período, para preparar o bote final o Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot foi ao Departamento de Estado pedir a bênção e voltou com malas digitais repletas de informações sobre as contas das empreiteiras no exterior e sobre a corrupção na Eletronuclear. Ali, na cooperação internacional, os Estados Unidos deram a contribuição mais ostensiva para o golpe. Outras contribuições demandarão algum tempo para virem à tona.

O discurso anticorrupção foi o mote que juntou todas as pontas, criando o sentimento da classe e fornecendo o álibi para quem pretendesse pular no barco da conspiração.

Peça 4 – o fator Dilma

Sob esse céu coalhado de bombas, há o fator Dilma Rousseff, é verdade. Poucas vezes na história teve-se governo mais desastrado e indefeso.

Montou a mais ousada política industrial desde o 2o PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) em torno do pré-sal e da Petrobras. Estaleiros, renascimento da indústria de máquinas e equipamentos, atração de laboratórios de grandes multinacionais ao país, montagem pela Petrobras de programas de compras públicas que dotariam o país de competência interna imbatível para tecnologia de extração de petróleo em águas profundas, internacionalização das empreiteiras. Toda essa responsabilidade nas costas da Petrobras. E, de repente, a Petrobras passa a ser sufocada pelos sub-reajustes de combustíveis, como parte da tática de empurrar a inflação com a barriga.

Dilma se fechou para todos os segmentos, dos movimentos sociais aos empresários, e ainda assistiu inerte a Lava Jato completar a destruição de parte relevante do PIB sem esboçar um gesto de resistência. O ciclo se fecha com sua teimosia em se candidatar à reeleição e a falta de vontade de Lula de enfrentar a bucha que surgia no horizonte.

Dilma não entendeu o terceiro tempo das eleições, que se iniciou no dia seguinte à abertura das urnas, trancou-se no Palácio, fez dieta e reapareceu em público no dia da posse, com um ministério tirado do colete, sem nenhuma espécie de articulação política e com um pacote econômico desastroso.

Consumou-se o desastre com o plano Joaquim Levy, uma tragédia óbvia e cantada, de que ajuste fiscal com recessão seria um desastre econômico e uma sinuca política.  Aliás, mote repetido várias vezes por Dilma em sua apresentação no Senado – mostrando que sempre descobre o caminho certo com alguns anos de atraso.

Dilma foi apenas o desastre que facilitou o golpe, mas que jamais poderia servir de álibi para a implantação do estado de exceção. A economia teria condições de se recuperar, não fosse o cerco do Congresso e da mídia. Estava-se longe do estado de caos retratado na cobertura jornalística, especialmente na pregação massacrante da Globo. Mas, o cavalo de Troia do governo – a PGR – já tinha deflagrado a ofensiva final.

Peça 5 – a corrida contra o relógio

Agora se entra naquele período crítico previsto por Friedman, de seis a nove meses sob a égide do “vazio primitivo” para enfiar goela abaixo do país as reformas previstas. Daí esse braço de guerra, com jornais abrindo manchetes esbaforidas, tipo se a reforma da Previdência não acontecer nos próximos dias, o futuro estará comprometido, e outras baboseiras destinadas à ralé da opinião pública. Ou a pressa de Serra e associados de correr com a lei do petróleo e a privatização acelerada na Petrobras, mesmo com a economia na bacia das almas.

A blitzkrieg esbarra, no entanto, nos seguintes fatores:

O “fora Temer”

É o fato novo, que vem em um crescendo, entrando por todos os poros do mercado de opinião, inclusive nas brechas abertas inadvertidamente pela mídia, é o Fora Temer. Há o risco concreto de que o tema ganhe os leitores de jornais. Daí a montagem do sistema de repressão e da tentativa de envolver as Forças Armadas, através dos factoides dos supostos terroristas islâmicos, como têm demonstrado as extraordinárias reportagens de Marcelo Auler (https://is.gd/kX67p6). Há alguma probabilidade de que pegue o discurso das “diretas-já”.

A ilegitimidade das reformas

Nenhum investidor minimamente informado apostará em reformas que dependem de um golpe para serem implementadas. Lula e Dilma avançaram em algumas reformas relevantes, pelo fato de possuírem credibilidade junto aos movimentos sociais e às esquerdas. Temer não tem nem credibilidade institucional nem pessoal. O que acontecerá a partir de 2018?

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A construção de Temer

Daí, a uma tentativa bisonha de construir uma imagem pública minimamente defensável para Temer. Repare na foto acima. É a cara do governo, Eliseu Padilha, cercado pelos holofotes da mídia. Uma breve pesquisa no Google mostrará uma extensa capivara do Ministro-Chefe da Casa Civil. Como tornar o governo legítimo? É o Eliseu de Canoas, do DNIT, dizendo-se defensor da Lava Jato e das reformas.

A tentativa de isolar Temer, como se fosse uma jovem virginal envolvida por malandros, não cola. Só o eminente jurista Celso Antônio Bandeira de Mello tenta acreditar nisso. A vida política de Temer está estreitamente ligada às de Eliseu Padilha, Eduardo Cunha, Moreira Franco, José Serra, Geddel Vieira Lima.

Mesmo abstraindo a biografia, Temer não conseguirá compor o figurino do estadista, ou meramente do presidente que paire acima das quizílias do dia-a-dia. É miúdo, vingativo, tem um linguajar antiquado, baixíssimo nível de informação, nenhuma empatia com o público. O jornal O Globo abriu uma enorme oportunidade para mostrar o lado “humano” de Temer e ele jogou fora dando um golpe no rei Arthur e colocando em seu lugar Carlos Magno, que, por sua vez, abriu mão dos Doze Pares de França para comandar os Cavaleiros da Távola Redonda, provavelmente em uma escaramuça lá em Diamantina, onde nasceu JK.

A alternativa encontrada foi focar em uma primeira dama jovem, bonita, discreta e… muda. Foi ridícula a solução encontrada, de tirar conclusões políticas do “look” branco que ela utilizou em uma solenidade qualquer. Ridícula por expor a necessidade dos jornais de arrostar o impossível e o ridículo para atender o governo Temer e fazer jus à bolsa mídia prometida por Eliseu Padilha.

O fator Lava Jato

Na Lava Jato há dois personagens acusados de jogo político, de perseguição ao PT e de proteção ao PSDB: o PGR Rodrigo Janot e o juiz Sérgio Moro. Janot não conseguirá desvencilhar-se do estigma simplesmente por não ter nem vontade nem condição política de indiciar Aécio Neves.

No entanto, há alguns sinais no horizonte de que Moro pretenda passar no teste de imparcialidade investindo na delação de Eduardo Cunha.

Consumada a cassação de Eduardo Cunha, a maior probabilidade é de que em poucos dias ele seja conduzido preso à Curitiba e submetido a uma delação conduzida por Moro. Isso ocorrendo, sairia das asas de Janot e se abriria alguma possibilidade de rompimento da blindagem sobre Aécio Neves e de ameaças concretas contra o governo Temer.

Há uma probabilidade – pequena, por enquanto – de crescimento do “diretas já” e de abreviação do governo Temer.

Trio da Federação Catarinense comanda PSC x Bahia

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O paranaense Héber Roberto Lopes, da Federação Catarinense de Futebol, será o árbitro de Paissandu x Bahia, hoje à noite em Belém, partida válida pela 25ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B. Hélber terá como assistentes Nadine Schramm Camara Bastos e Carlos Berkenbrock, também da FCF.

Dado deve repetir escalação contra o Bahia

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O Paissandu deve manter contra o Bahia, hoje à noite, o mesmo time do empate contra o Brasil-RS. No último treino, realizado na tarde desta segunda-feira (12), o técnico Dado Cavalcanti realizou um trabalho físico, sob o comando dos preparadores físicos Fred Pozzebon e Roni Silva. Em seguida, o técnico bicolor comandou um trreino tático e jogadas de bola parada com a equipe.

A provável escalação do Papão é a seguinte: Emerson; Ronieri, Lombardi, Gilvan e João Lucas; Augusto Recife, Ilaílson, Lucas e Tiago Luís; Leandro Cearense e Mailson. O jogo entre Papão e Bahia será realizado no estádio Jornalista Edgar Proença, às 19h15 desta terça-feira. (Foto: Ronaldo Santos/Ascom PSC)

Podridão política que gerou Cunha está viva e voa alto

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POR MÁRIO SÉRGIO CONTI, na Folha SP

O cavalheiro de Maceió alertou: “Você precisa conhecer um amigo meu lá do Rio. Ele sabe tudo, manda e desmanda na Telerj”. O guapo alagoano era Paulo Cesar Farias. O carioca que manjava tudo, Eduardo Cunha. Corria o ano de outro impeachment, 1992.

PC Farias deu a ficha do amigo depois de almoçar codornas, na sua casa paulista. Economista, fora um arrecadador eficaz e discreto na campanha de Collor. Chamado a ocupar um cargo subalterno na equipe de Zélia, preferira se assenhorar da telefonia fluminense. “É um ás”, avisou.

Mas a conversa com Cunha foi um caso de tédio à primeira vista. Como Collor caía em câmera lenta, o sabe-tudo engabelava com a cara dura de quem joga pôquer: “Paulo Cesar não me nomeou”. A política o aborrecia quase tanto quanto a economia. Não ofereceu café nem água.

Mais de 20 anos depois, outra entrevista. Apesar da gravata Charvet (que Walter Moreira Salles lançou aqui, imitando de Gaulle e Churchill), Cunha continuava amarfanhado, oco, enfadonho. Tomou água, mas teimou que PC não o indicara. Cumpriu-se, porém, a praga alagoana: virara um ás.

Cunha logo notou que não tinha chance como economista. A chefia do Ministério da Fazenda, ou do Banco Central, eram cargos de alta rotatividade, dedicados aos de alto coturno. Seus ocupantes fracassavam, mas logo retornavam aos bancos, onde ficaram milionários contando como o governo trabalhava.

Não havia lugar para economistas colloridos nesse esquema —que o digam Zélia, Antonio Kandir ou Ibrahim Eris. Foi aí que Cunha viu Deus, tornando-se radialista e pregador evangélico. Depois de PC, seu mestre foi Anthony Garotinho, também ele um carola a quem a república pseudolaica franqueou microfones de rádio.

Não se pode acusar Eduardo Cunha de, em duas décadas de carreira, ter sido iluminista. Como apóstolo da Assembleia de Deus, a maior denominação evangélica, com 65 milhões de crentes, só tratou de costumes. Seu catecismo foi obscurantista: ataques aos gays, à união dos do mesmo sexo, ao afrouxamento da lei sobre drogas.

Na política substantiva —porque é de pão que vive o homem, e não da palavra de Deus— Cunha foi a favor da iníqua desigualdade entre os brasileiros, da submissão do país ao parasitismo financeiro, do direito de herança total, dos impostos regressivos. Não precisava nem propalar isso porque o velho racionalismo burguês é hoje anátema.

Ninguém lhe deu combate. A Igreja Católica se calou por concordar com a sua pauta moralista. Sob João 23, os católicos agiram no desmonte da ditadura e na luta por justiça. Com João Paulo 2º e Bento 16, renderam-se à reação evangélica. Não só eles. Parlamentos, escolas, empresas, mídia —a capitulação foi geral.

Em nenhum lugar ela foi tão viciosa quanto na política. Cunha foi paparicado por todos os partidos, liderou a maior bancada da Câmara e a presidiu. Sem ele, o impeachment não prosperaria.

Agora, para que a derrubada de Dilma aparente ter sido justa, e para que a corriola que a abateu se diga implacável com os corruptos, o Brasil é instado a crer que a cassação de Cunha é histórica. Será festejar, no entanto, um sétimo lugar olímpico.

Vejam-se as eleições para prefeito. Em São Paulo e no Rio, vieram da máquina evangélica os candidatos à frente nas pesquisas. Russomanno e Crivella são uns ases, comemoraria PC. A podridão política que gerou Cunha está viva e voa alto.

Quem defende aposentadoria aos 65 anos nunca cortou cana ou carregou cimento

POR LEONARDO SAKAMOTO

Normalmente quem defende a imposição da idade mínima de 65 anos para aposentadoria somos nós, jornalistas, cientistas sociais, economistas, administradores públicos e privados, advogados, políticos.

Afinal de contas, o que são 65 anos para nós, que trabalhamos em atividades que nos exigem muito mais intelectualmente?

Diante da incapacidade de se colocar no lugar do outro, do trabalhador e da trabalhadora que dependem de sua força física para ganhar o pão, no campo e na cidade, esquecemos que seus corpos se degradam a uma velocidade muito maior que a dos nossos.

Ou seja, a menos que tenham tirado a sorte grande na loteria da vida, eles tendem a ter uma vida mais curta (e sofrida) que a nossa. No Maranhão, a média da expectativa de vida masculina é de 66 anos.

Já fiz esse debate por aqui, mas quero retomá-lo por conta da notícia de que o governo federal quer priorizar as mudanças no INSS entre todas as reformas que pretende tocar.

”Eu pessoalmente, e penso que falo em nome do presidente Temer, penso que nós não devemos nesse momento trazer para um debate mais amplo nenhum tema que não seja a reforma fiscal e a reforma da Previdência”, afirmou o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, nesta segunda (12). ”Penso que nós vamos centrar fogo neste momento até nós conseguirmos aprovar essas duas reformas, que são fundamentais para o Brasil.”

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Você que está, neste momento, fazendo mimimi para isso, provavelmente não costuma carregar sacos de cimento nas costas durante toda uma jornada de trabalho, cortar mais de 12 toneladas de cana de açúcar diariamente, queimar-se ao produzir carradas de carvão vegetal para abastecer siderúrgicas e limpar pastos ou colher frutas sob um sol escaldante.

Ou, se teve uma vida com essas provações e, mesmo assim, concorda com os doutores que defendem essa mudança em nome dos cofres públicos, achando que ”quem quer se aposentar antes dos 65 é vagabundo”, parabéns. Você consegue, como ninguém, exercer o papel de cão de guarda do capital alheio.

Aos 14 anos, muitos desses trabalhadores já estavam na luta e nem sempre apenas como aprendizes, como manda a lei. Às vezes, começaram no batente até antes, aos 12, dez ou menos. Afinal, no Brasil, acredita-se que o ”trabalho molda o caráter da criança”.

Os sábios que estão discutindo no Ministério da Fazenda a questão da imposição da idade mínima como requisito, além, é claro, do tempo de contribuição e/ou de serviço, deveriam ter que explicar a proposta, cara a cara, para um grupo de cortadores de cana ou de pedreiros.

Sem meias palavras, sem enganações. Se sair inteiro de lá, pode tocar.

O ideal seria, antes de fazer uma Reforma da Previdência Social, garantirmos a qualidade do trabalho no Brasil, melhorando o salário e a formação de quem vende sua força física, proporcionando a eles e elas qualidade de vida – seja através do desenvolvimento da tecnologia, seja através da adoção de limites mais rigorosos para a exploração do trabalho. O que tende a aumentar, é claro, a produtividade.

Mas como isso está longe de acontecer (basta ver a ”vida” dos empregados de frigoríficos em todo o país, que são aposentados por invalidez aos 30 e poucos anos por sequelas deixadas pelo serviço), a discussão talvez passe por um regime diferenciado para determinadas categorias. E, mesmo assim, não será simples, pois em algumas delas os profissionais são levados aos limites e aposentados por danos psicológicos – ou chegam aos 60 sem condições de desfrutar o merecido descanso.

Há milhões de pessoas, fundamentais para o crescimento do país, que se esfolam a vida inteira e não devem ser deixadas na beira da estrada quando deixarem a população economicamente ativa.

Infelizmente, o governo federal acha que o Brasil é um grande escritório com ar condicionado.

Eduardo Cunha virou cachorro morto para cães muito vivos

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POR FERNANDO BRITO, no Tijolaço

Ao contrário de muitos, este blog não festeja a execução pública de Eduardo Cunha como um episódio edificante à democracia e à ética na política.

Óbvio que é o papel de qualquer parlamentar decente votar pela exclusão de um tipo abjeto destes do parlamento.

A questão não são os decentes, são os indecentes.

Afinal, há décadas todos sabem que Cunha é um mafioso e isso não o impediu de ter maioria absoluta entre os deputados – os mesmos que hoje cortaram-lhe a cabeça – para eleger-se presidente da Câmara.

O que se revela é que, no parlamento brasileiro, nem mesmo prevalece a velha história da “honra entre ladrões”. Os ladrões estão lá, mas nem nisso há honra.

Os solitários 10 votos mostram que o agora esquálido e cambeta Cunha foi lançado ao rio como “boi de piranha”, para que as forças que um dia o tiveram como “boi sinuelo” – aquele que guia o rebanho – pudessem atravessar a água rasa da moralidade.

Ainda é cedo para saber se vai ser devorado sem tugir ou mugir – os comentaristas da Globonews  comemoravam na base do “agora ele vai para as mãos de Moro – no estranho senso de justiça que anda por aqui. Uma anomalia onde um juiz de província faz o Supremo parecer um bando de lenientes e cúmplices da corrupção, de tanto que se comemora tirar de lá um réu e jogá-lo ao “ferrabrás”.

Não é previsível o que fará, se não houver um acordo para livrá-lo – à ele e à mulher – do Torquemada curitibano. Num dos “melhores” momentos da noite, a deputada Clarissa Garotinho disse – e Rodrigo Maia mandou retirar dos anais (perdoem-me os que perceberem duplo sentido na palavra)  da Câmara – que um dos papéis do decaído deputado era o de “psicopata”.

Ele não percebeu que, desde o dia em que comandou a implementação do processo de impeachment – do qual exigiu da tribuna a paternidade – tornou-se um cachorro morto para uma matilha de cães muito vivos.

Vivos e vorazes.