“Nevermind” completa 25 anos: com o tempo, Nirvana melhorou, mas não muito

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POR MARCELO MOREIRA, no Combate Rock

As comemorações dos 25 anos de lançamento do álbum “Nevermind”, do Nirvana, mudaram um panorama esquisito observado cinco anos atrás, quando o álbum completou 20 anos: hoje se analisa a obra com mais sobriedade e com menos histeria e chatice. Parece que as viúvas do grunge e de Kurt Cobain, o ex-guitarrista da banda que suicidou em 1994, tomaram um banho de lucidez – ou se cansaram de defender o trio de Seattle.

Criticar o trio de Seattle que mal sabia tocar e que compunha canções que eram meros pastiches do pior punk rock embolorado dos anos 70 continua sendo encarado como sacrilégio, heresia e insulto por uma legião ensandecida de fãs que na verdade têm pouco a comemorar – comportamento idêntico de apreciadores de coisas superestimadas, com Legião Urbana, Mutantes e Raul Seixas, entre outros.

O grunge morreu junto com seu principal nome pouco mais de três anos depois de surgir como um “fenômeno” midiático e artificialmente incensado por algumas gravadoras. Para a sorte de quem gosta de música boa, desapareceu em boa hora, mesmo que tenha deixado vestígios indeléveis em sua passagem pela humanidade.

Sobraram Pearl Jam, Soundgarden e Alice in Chains como sobreviventes do chatíssimo grunge. A primeira se tornou uma grande banda e acertou ao fugir do rótulo.

A segunda, a mais pesada, sempre foi a melhor cria de Seattle, de longe o melhor grupo e, talvez, o que mais tinha coisas legais a dizer. O terceiro não teve fôlego e naufragou, para ressuscitar e transitar entre o alternativo inofensivo e o hard rock pouco inspirado.

O grunge, para uma parte do Combate Rock, continua não passando de pseudomovimento musical com um número maior de de músicos ruins do que o normal e repleto de canções fracas -e de certa forma, dominado pela tosquice, com pouca qualidade e propósitos pouco claros.

”Nevermind” é tratado pela maioria da crítica como uma obra-prima e um marco de importância tal para a música pop comparável ao impacto do surgimento do punk rock, entre 1975 e 1976. É um exagero e tanto, desproporcional ao seu verdadeiro valor.

Com o tempo, é possível observar algumas poucas qualidades que a histeria do lançamento e das posteriores babações esconderam.

estética punk foi imitada à exaustão, acrescida da saturação de guitarras e da produção exagerada que se tornaram a marca do Nirvana e de outras obras do que se convencionou chamar de grunge.

Dispa ”Smells Like Teen Spirit” de toda a saturação de guitarra e da produção que valorizou o som alto e temos uma canção simplória, fraca e pouco inspirada. Mas tem alguns méritos, como um refrão razoável e um riff principal que não é tão ordinários como pensávamos que era. Está muito longe de ser extraordinário, mas não é péssimo.

”Come As You Are” é bem simplesinha, mas tem uma estrutura que cumpre a sua função, com uma introdução aceitável e um refrão que ”melhorou” com o tempo. É a melhor do álbum – ou seria a única canção decente?

”Breed” e ”Lithium”, pelos temas, não tão ruins como pensávamos, já que contam com riffs com alguma qualidade e letras não tão fracas. Entretanto, estão bem longe de serem boas. E é só.

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Marketing de guerrilha

Abraçado pela indústria musical já a caminho da decadência, Cobain e seu Nirvana ganharam status de gênios, por mais que os parcos recursos musicais e como compositor de seu líder ficassem explícitos a cada ano. Comparar a importância do Nirvana com a dos Ramones e do Clash, como muitos costumam fazer, é um insulto a estes artistas.

Do nada se criou uma cena que não existia, a indústria insistiu no embuste e forçaram a barra, colocando Seattle como capital de uma ”cena alternativa”, com moleques “despojados, independentes, mas criando algo novo e revolucionário”.

Houve a tentativa de se criar uma espécie de ambiente punk em plenos anos 90, mesmo com o punk morto e enterrado devido aos seus próprios vícios, defeitos e excessos. Coitados dos punks, pois afirmar que o grunge, seja como “movimento” ou como “estética”, era baseado no punk rock é uma ofensa gigante.

O movimento punk pode não ter sido tão relevante musicalmente quanto se imagina, segundo a opinião de muitos especialistas, mas como fenômeno cultural foi um marco na cultura ocidental, goste-se disso ou não. Impregnou o mundo de um sentimento de anarquia, revolta e desilusão como nenhum outro movimento jovem conseguiu. Goste-se ou não, aquilo foi uma revolução.

São apenas duas as conexões entre o punk e o grunge: a pouca duração e a quantidade nada desprezível de músicos ruins, que não sabiam tocar. No mais, o grunge como “movimento” musical ou de comportamento foi um embuste. Rapidamente cooptados pelo sistema, os músicos não passaram de marionetes nas mãos do mercado fonográfico.

Coisas desse tipo podem dar certo por um tempo – e deu, por uns três ou quatro anos. Entretanto, já surgem com data de validade, a não ser que seus melhores expoentes consigam se livrar do rótulo e progredir, como no caso do Pearl Jam.

O fato é que o grunge durou bem menos que o punk. Kurt Cobain, guitarrista e vocalista do Nirvana, mau guitarrista e compositor quase mediano, posou de garotinho atormentado e incompreendido e preferiu se matar a buscar ajuda para sua crônica depressão.

As únicas coisas boas que surgiram do Nirvana e do grunge foram o Foo Fighters e a ascensão de Dave Grohl, que era o baterista da banda de Cobain, como um bom frontman e líder de banda – e, curiosamente, um bom guitarrista, melhor até do que o colega de Nirvana que se matou…

O que mais Moro precisa fazer para causar a revolta dos movimentos progressistas?

POR CARLOS FERNANDES, no DCM

O líder indiano Mahatma Gandhi possui uma frase no mínimo emblemática, sobretudo para os obscuros dias que estamos atravessando. Diz ele:”Se ages contra a justiça e eu te deixo agir, a injustiça é minha”.

É uma reflexão desconcertante uma vez que imputa a responsabilidade pelas injustiças não só a quem a pratica, mas principalmente a quem permite passivamente que ela seja livremente praticada.

Numa das pontas da máxima de Gandhi encontra-se o juiz Sérgio Moro e a força tarefa da operação Lava Jato. Paradoxalmente, chegamos a um estado de exceção tal que ninguém mais no Brasil age mais escandalosamente contra a justiça do que os próprios membros do sistema judiciário.

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A parcialidade inconteste de Moro – tanto quanto suas motivações pessoais na condução de seus trabalhos – transformaram os ritos do processo penal brasileiro previstos em lei numa verdadeira inquisição onde os direitos civis e o amplo direito de defesa foram sumariamente abolidos.

A prisão de Guido Mantega enquanto acompanhava sua esposa no hospital para uma cirurgia contra um câncer superou, até agora, todas os espetáculos midiáticos já presenciados. Se antes a desproporcionalidade e a autopromoção de suas decisões eram fatores constantes, agora a desumanidade e a crueldade perante um ser humano se fizeram presentes.

Segundo o procurador Carlos Fernando Lima, foi uma “triste coincidência”. Não, não foi. Foi algo meticulosamente preparado. Se não em relação à esposa de Mantega, mas com certeza em relação às eleições municipais.

Ainda segundo o próprio Lima, a decisão de Moro em prender Mantega foi tomada em Agosto e só ainda não havia sido cumprida por “circunstâncias operacionais” como os “jogos do Rio”. O que as olimpíadas tem a ver com um mandado de prisão temporária é algo que jamais iremos saber.

De qualquer forma, diante à terrível repercussão e sem qualquer argumento que pudesse sustentar o encarceramento do ex-ministro, não restou outra alternativa a Moro senão revogar a prisão que ele próprio havia deferido.

Tudo isso nos traz à outra ponta da máxima de Gandhi, a que comporta àqueles que permitem que tamanha injustiça seja praticada diuturnamente.

Em tese, uma injustiça praticada a um, é uma injustiça praticada a todos. Mas dado o fascismo com que mentes reacionárias estão festejando os abusos cometidos por uma tríada encabeçada por Moro e que se estende pelo MPF e pela Polícia Federal, resta aos movimentos progressistas combaterem essa nova forma de tirania.

O fato é que não é isso que está acontecendo. A despeito das crescentes manifestações contra o governo ilegítimo de Temer, os movimentos progressistas vem assistindo, apáticos, a retirada violenta de uma presidenta legitimamente eleita, o esfacelamento do programa de governo vencedor nas urnas e a tenebrosa caça às bruxas promovida pela república de Curitiba que só cessará com a prisão do ex-presidente Lula.

Ou unimos todas as nossas forças e lutamos incansavelmente até a ordem jurídica ser novamente reestabelecida, ou mais do que vítimas, seremos cúmplices de toda a injustiça que está, dia-após-dia, destruindo a soberania de uma nação.