POR GERSON NOGUEIRA
O Remo foi goleado em Fortaleza e ficou em situação complicada para se classificar ao mata-mata da Série C. Por sorte, o empate entre ASA e Botafogo reabriu as chances, desde que na rodada final o time vença o América e o ASA não passe pelo ABC em Natal.
A rigor, o que aconteceu na Arena Castelão não chegou a ser surpreendente, levando em conta as últimas atuações do time até mesmo dentro de Belém – como no empate diante do Salgueiro.
Perder para o Fortaleza na capital cearense é resultado normal. O problema estava na ausência de forças e de organização para obter um placar melhor. O primeiro tempo foi até razoável. Mesmo em desvantagem, o Remo tinha motivos para acreditar numa recuperação na segunda etapa.
Acontece que para equilibrar as ações e pleitear o empate, que seria um belíssimo resultado, o Remo precisaria ter mais movimentação entre suas linhas, cuidando de não dar espaços e evitando abrir buracos defensivos.
Ocorre que o time se perdeu tanto no aspecto coletivo quando no individual. O primeiro gol cearense foi um primor de desatenção. Uma bola disputada com despretensão pelo lateral Wellington Saci permitiu um cruzamento perfeito para o interior da área e a finalização para as redes.
Renato Justi, o zagueiro estreante, ainda conseguiu empatar lançando mão de algo que o Remo faz pouquíssimas vezes: chutar de fora da área. Acertou uma bomba, que desviou na zaga e enganou o goleiro.
Quase ao final do primeiro tempo, o Fortaleza faria o segundo, em lance que contou com boa vontade da arbitragem. Um atacante em impedimento se abaixou para a bola passar, interferindo diretamente no lance.
Com a queda de rendimento na etapa final, o cenário que já não era favorável ficou muito pior. O técnico Waldemar Lemos, que já havia lançado Oswaldir sem explicar o motivo, precisou mexer na equipe, mas não tinha muitas alternativas disponíveis.
Ciro¿ Levy¿ Flamel¿ Como tem ocorrido sempre, nenhuma substituição funcionou. Com isso, a mínima resistência foi vencida e o Fortaleza consumou a goleada, contando ainda com a destacada colaboração do goleiro Fernando Henrique no lance do terceiro gol.
O leitor há de perguntar o que levou o Remo de Waldemar Lemos a regredir tanto nas últimas rodadas. Tenho uma teoria. O técnico, ao assumir, injetou ânimo no grupo e se beneficiou do entusiasmo geral pela fase de vitórias consecutivas em casa.
Aos poucos, porém, o trabalho foi sendo atrapalhado pelo desgaste físico de boa parte do elenco (Eduardo Ramos à frente) e agravado pela insistência do técnico com alternativas improdutivas. Fernandinho no ataque é a mais notória delas. Com parceiro tão pouco efetivo, a equipe não consegue aproveitar a boa fase de Edno.
Frequentes mexidas em posições importantes da defesa, com as contusões de Max e Henrique, também afetam a estrutura geral do time. O duo de volantes mostra sinais de esgotamento. Schmoller erra passes em excessos e Yuri nunca mais conseguiu ser o jogador ágil de outras jornadas.
Para adeptos de teorias conspiratórias, qualquer resultado mais espalhafatoso é logo um prato cheio para imaginar tramas de bastidores ou motim de jogadores. Foi assim em relação à derrota do Brasil na Copa de 1998, à surra para a Alemanha em 2014, ao fiasco do Remo na final da Copa Verde 2015 e agora em relação à goleada sofrida em Fortaleza.
Podia esgrimir um monte de argumentos contra a tese do ‘corpo mole’ (em face de salários atrasados), mas prefiro expor o mais óbvio: a limitação técnica do grupo de jogadores que o Remo reuniu para a competição.
Em alguns momentos, o time até foi bem e entusiasmou o torcedor. Ocorre que quase todos os jogos foram ganhos na transpiração e no incentivo maciço do torcedor. É chegada a hora, portanto, de apelar para essas mesmas valências a fim de manter viva a esperança no acesso.
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Chance de premiação dupla no Prêmio Puskas
Camilo começou discretamente no Botafogo. Ninguém levava muita fé nele, como em geral não se leva fé no time alvinegro como um todo. Foi preciso Jair Ventura Filho assumir o comando para que Camilo e outros jogadores passassem a produzir mais.
O Botafogo deixou de lado o formato defensivo e confuso dos tempos de Ricardo Gomes, passando a brigar sempre pela vitória. Sem medo. É claro que, com as deficiências que tem, corre riscos e pode se estrepar, como no confronto contra o Cruzeiro pela Copa do Brasil.
Ontem, contra a mesma Raposa, a Estrela Solitária brilhou. E Camilo assinou outra pintura de gol, emendando de primeira cruzamento vindo da esquerda. O time, de candidato à queda, já está a cinco pontos do G4.
E tudo graças ao filho do Furacão.
(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 12)