Do Blog O CAFEZINHO
É incrível – e previsível – a salivação da mídia com a nova etapa da Lava Jato.
Merval Pereira nem sequer disfarça: “Investigação da Bancoop pega Lula”.
O ódio os cega, porque na verdade pode acontecer o contrário.
Caso não encontrem nada, a Lava Jato, assim como a Zelotes, dará ao ex-presidente a ficha mais limpa entre todos os políticos do país.
O caso Bancoop é investigado há anos pelo ministério público de São Paulo, que tem um viés notoriamente tucano (vide o engavetamento, por anos a fio, das investigações do trensalão).
Nunca se provou nada contra Vaccari, nunca se encontrou nada contra Lula.
A Lava Jato age como um polvo investigativo, seus tentáculos se espalham para todo o lado, mas jamais tocam em nada que possa atingir politicamente a oposição.
A nova etapa da Operação é a prova disso.
É interessante a certeza de Merval. Como ele sabe que “pega” Lula? A investigação mal começou, como ele pode afirmar isso?
Não seria ao contrário: investigação do Bancoop pega a Lava Jato, que caiu numa armadilha?
A frase de Merval tem um sentido midiático, e por isso não está errada. Se o objetivo principal é a destruição política, então a nova etapa, de fato, “pega Lula”.
Nesta série documental da Netflix, Making a Murderer, uma das cenas mais chocantes é como os investigadores manipulam o depoimento de um adolescente, para que este acusa o réu de assassinato e inclusive se auto-acuse.
Eles fazem isso em poucas horas. Um garoto de dezesseis anos, inocente, com um QI baixíssimo, muito frágil emocionalmente, é forçado, sem violência, a aceitar um depoimento que os interrogadores praticamente lhe empurram goela abaixo.
A série chocou a opinião pública americana, porque mostra as autoridades como vilãs. Mas quem estuda a fundo a cultura judicial brasileira ou americana sabe que, infelizmente, esse tipo de coisa é mais comum do que parece.
Nos EUA, a figura da “conspiração” faz parte do imaginário do americano, porque, ao longo de sua história, foram tantas e tantas conspirações descobertas, ou encobertas, que ele sabe que elas existem por toda a parte.
Making a Murderer mostra o desenvolvimento de uma conspiração, para salvar a pele de alguns policiais e procuradores envolvidos na condenação injusta de um réu, e o fazem imputando-lhe um segundo crime.
Assim como no famoso caso Dreyfus, o trágico nisso tudo é que todos os atores envolvidos na conspiração, incluindo aí as instituições, tendem a levá-la, contra tudo e contra todos, até o fim.
O Estado tende a acobertar as conspirações, por um corporativismo natural. Assim, o Judiciário acoberta os erros da polícia e do Ministério Público, e a polícia e o Ministério Público acobertam os erros do judiciário.
O que acontece no Brasil, porém, é muito mais grave do que o episódio relatado em Making a Murderer, porque está em jogo não o destino de um ou dois réus, mas de centenas deles, e a coisa toda está ligada a um jogo político incrivelmente sujo e brutal.
Hoje já está claro que a Lava Jato puxou o PIB para baixo, desempregou centenas de milhares de pessoas, mas quem tem coragem de criticá-la?
Afinal, o escopo não é o “combate à corrupção”?
No entanto, quem combate a corrupção dentro do Judiciário, dentro do Ministério Público, dentro da Polícia Federal, uma corrução que se revela a luz do dia a cada vez que um vazamento seletivo acontece?
A Lava Jato mordeu a isca lançada por Lula. O ex-presidente queria mostrar à opinião pública exatamente o que está acontecendo agora: a investigação politizou-se, seus operadores estão tomados de profundo ódio político, e, diante do desafio de Lula de que “nenhum procurador, nenhum delegado, teria coragem de acusá-lo”, eles imediatamente deixaram a cabeça da cobra aparecer pra fora da superfície do lago.
Lula mexeu suas peças, e os procuradores caíram como patinhos. O que ele pretendia talvez fosse isso mesmo, atrair as atenções para ele, porque entende que ele consegue se defender.
O ex-presidente atraiu para si a fúria do tiranossauro da Lava Jato, permitindo que Dilma ganhe mais algumas semanas de paz, para poder levar adiante uma agenda positiva, visando o crescimento econômico e a geração de empregos.
É um jogo bruto, perigoso, sujo. O ex-presidente sabe disso, mas decidiu partir para a ofensiva, para acelerar a história. Ele disse isso aos blogueiros, que não quer a repetição de 2015. Se os conspiradores querem sua cabeça, então vem para o ringue, porque a luta começou.
Ao ir na direção de Lula, a Lava Jato deixou a bunda de fora. Seus flancos políticos ficaram expostos. As dúvidas agora serão maiores do que nunca: quer dizer que a intenção, no fundo, sempre foi essa? Destruiram-se centenas de milhares de empregos, prejudicou-se todo um setor, e no momento mais delicado, em décadas, para a indústria do petróleo, por causa de uma maldita vendeta política?
Basta ler a trilogia recente sobre a vida de Getúlio Vargas para entender as origens do que se passa hoje no Judiciário brasileiro. Só troca o personagem central a ser atingido e destruído politicamente.
Peraí, deixa ver se eu entendi: agora a desculpa de que tudo o que acontece de ruim nesse país era uma “conspiração das elites” e da “midia golpista” foi substituída pela lava-jato? Dificil quando a própria presidenta desarmada de sua prepotencia, vai a público pedir encarecidamente pela volta da CPMF depois de não admitir o quão falha foi sua politica economica. Aí desse jeito, fica fácil botar a culpa na lava jato.
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Uau! Goebbels pelo jeito fez escola.
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Quer dizer, então, que foi o próprio gestor máximo do partido rubro que se entregou ao sacrifício em prol da presidente?
Pois, sim!
A verdade é que, esta cada vez mais difícil encontrar desculpas.
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Não acho que Lula seja assim tão burro a ponto de chamar tanto a atenção assim para si, mas que a imprensa exagera, isso sim. De um lado e de outro, é dizer, das imprensas brasileiras de oposição e de situação, há exageros que criam mitos e lendas, como a do Lulinha ser dono da Friboi. Pois é isso aí mesmo, de um lado, a imprensa esquartejando Lula, e de outro, mitificando-o.
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Lopes, pela primeira vez, concordo INTEGRALMENTE com sua opinião.
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Mas a questão não é política, é policial mesmo, caro Oliveira. Não acho que Lula esteja acima da Lei. Se tiver que ser investigado, que seja. Por mim, tudo bem.
Em termos políticos, sou um socialista convicto, afinal, mesmo num regime capitalista, o Estado está para o povo, já que os ricos são os ricos, isto é, não precisam do SUS, das escolas públicas, da assistência social, e nem de políticas de geração de empregos. No entanto, as elites culpam sempre o governo pelas próprias incompetências e corrupção, e não enxergam no espelho os demais culpados pela crise, porque o pobre, esse trabalha duro. O PT, com o mesmo Lula antes, e com Dilma agora, fez mais pela realização de políticas públicas de saúde, educação e geração de empregos, assim como pela economia, que os antecessores. Não vejo a escolha pelo socialismo como o erro que levou o país à recessão, mas a infeliz combinação de queda de preço de commodities, queda de crescimento da China, seca mundial ano passado, e os fundamentos da economia nem tão bem consolidados assim, isto é, uma classe industrial forte e competitiva, o que também não se alcança num cenário economicamente desfavorável, quero dizer, e digo bem, fosse com Aécio estaríamos numa crise ainda mais grave pelo enfraquecimento do Estado, mesmo com fortalecimento político tucano, como com FHC. É por isso que o pobre saía perdendo, sempre, com FHC. Defendo as políticas públicas colocadas em prática pelo PT, mas não corruptos, caso comprovado, em nenhuma situação.
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