Donga, um caboclo baionense

POR ANTONIO FERNANDO RAMOS

A minha chegada na Vila Dutra não poderia ser melhor. Estacionei o carro diante de um bar, que não estava funcionando, onde tem uma mesa de bilhar, Lá estava um senhor moreno “pegando sol”, me dirigi a ele para perguntar pelo João “Crioula”, líder comunitário que fora meu contato.
10926317_699670693485487_523274347996235001_oChegando mais perto do senhor, que estava sentado, pude identificá-lo: Donga! Um filme longo passou pela minha cabeça: Lembrei-me de meu padrinho Sandoval, de quem, consta, Donga fora ama, quando morou com o saudoso Enéas, pai do meu padrinho. Lembrei-me que ele foi irmão da Dona Quelé, amiga da minha mãe. Nunca esqueço de sua “brejeira” (hábito de marcas nacos de tabaco) e das enormes cusparadas que dava do parapeito de casa em direção ao quintal. Uma das vezes acertou um irmão, o Sandro.
Lembrei-me que ele fora vaqueiro dos cordões de boi, junto com o finado Bala, marido da Guiomar (cujos filhos homens receberam nomes de personalidades: Garrastazu Médici, Jarbas Passarinho e Clodoaldo).
Mas uma coisa marcou o Donga para quantos o conheceram: era o melhor tocador de onça de Baião. Para os que não sabem, a onça é um “ancestral” da cuíca, só que feita cavada em um tronco, o rosto era de couro de jibóia e o “pau do meio” de flexeira.
Seu filho houvera chegado e começamos a conversar. Soube, então, que ele tem 96 (noventa e seis) anos. Está lúcido, anda pela vila, mas se queixa de reumatismo. Quis testar sua lucidez e perguntei pela Vassourinha e ele me contou que tinha como companheiros o Tio Binga e o Zé Gaia. Perfeito! Tempo bom, onde reuniam na Vila Cametá nas tardes para ensaiar as composições do Tio Binga (que é cantor e compositor, além de folclorista). Mas isso é outra história. 

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