POR GERSON NOGUEIRA
Os aviões pousam trazendo reforços em penca para a dupla Re-Pa. Pelas minhas contas, nas últimas duas semanas foram pelo menos 17 (12 só para o Papão) desembarques. É muita gente, sem dúvida, mas cabe notar que desta vez há um fato a justificar tanto desembolso por parte dos clubes. Os velhos titãs fecharam a temporada 2014 com elencos enxutos, depois que vários jogadores encerraram contrato ou foram dispensados.
Li e ouvi muitas opiniões de torcedores, reclamando das contratações em larga escala, principalmente no Papão. A crítica não é totalmente descabida, pois se ampara na noção de que os clubes devem conter a todo custo o ímpeto consumista. Está cravada na memória coletiva a lembrança recente de gastanças homéricas, com resultados desastrosos.
Apesar de guardar semelhanças com métodos costumeiramente usados pelos dirigentes, a política atual já se pauta por um cuidado maior na avaliação dos jogadores, levando em conta as necessidades do time e o custo de cada aquisição, além de considerar aspectos extracampo, como o comportamento e a disciplina profissional.
Para isso tem contribuído decisivamente a profissionalização da gestão. Entre nós ainda é um processo em fase embrionária, mas que já apresenta pontos positivos. A entrada em cena da figura dos executivos remunerados é um dado importante, que pode fazer com que o futebol do Pará, pelo menos quanto à dupla Re-Pa, dê o esperado salto rumo à modernidade.
Detalhes tão pequenos marcam a diferença entre clubes organizados e outros administrados à moda antiga. Com os gerentes executivos, os clubes deixaram de lado aquele hábito antigo de trombetear contratações antes de fechar o negócio.
Cartolas, bate-paus, corneteiros e apaniguados saíam pelas emissoras de rádio alardeando a vinda deste ou daquele atleta, situação que se revelava muitas vezes mentirosa. Quando o acerto não se concretizava, o ônus ficava todo com o clube, visto como pouco confiável tanto pela torcida quanto pelos representantes de jogadores.
Quando o Remo trouxe Sérgio Papelin há três anos, buscava começar essa atualização de seus procedimentos no futebol. Houve algum avanço, mas Papelin era uma ave rara em meio à confusão reinante no clube. Seu trabalho foi observado por outros clubes e ele voltou no ano passado para organizar a gestão no Papão, com saldo bastante positivo. Deu tão certo que a nova diretoria remista tratou de ir buscar um executivo e encontrou Fred Gomes.
A atual política de contratações, mais austera e menos espalhafatosa, está diretamente atrelada ao estilo de trabalho tanto de Papelin quanto de Fred. Ambos gostam do trabalho silencioso, evitando os holofotes. O fato é que, depois de anos, o anúncio de reforços passou a ser responsabilidade das assessorias de imprensa, como deve ser.
É claro que a simples presença de executivos profissionais não garante 100% de acerto nas contratações. Futebol não é ciência exata, nem é regido pelas leis da matemática. Muitas vezes um jogador que se destaca no Maranhão ou em Alagoas não funciona no Pará, e vice-versa. Acontece.
O papel dos executivos é o de minimizar a possibilidade de erros. Cercam-se de todas as informações possíveis para fazer contratações pontuais, adequadas às posses do clube. Não inventaram ainda uma fórmula melhor do que esta para garantir êxito nesse negócio complexo chamado mercado da bola. Feito o dever de casa, resta torcer para que a sorte abençoe as escolhas e apostas dos eternos rivais.
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Perigo: sangue nos olhos do matador
Leandro Cearense deixou o Remo, onde havia sido titular durante toda a temporada passada, para encarar uma disputa renhida por um lugar no ataque do Papão. Aceitou um contrato de risco, que terá duração de quatro meses, prorrogáveis se o jogador for aprovado.
Significa que sua chegada é cercada de desconfiança, ao contrário dos demais reforços adquiridos pelo Papão, inclusive o desconhecido gaúcho Aylon, apresentado ontem junto com ele. Todos têm contrato válido até a disputa da Série B.
Como conhece bem o Parazão, o ex-azulino pode surpreender. Foi artilheiro pelo Cametá há três anos e leva sobre os demais a vantagem de conhecer bem as características de jogo dos times regionais e, principalmente, os gramados onde o torneio será disputado.
Sua passagem pelo Remo marcou uma inflexão negativa na carreira. Marcou gols, mas não foi o jogador decisivo que a diretoria remista esperava ter ao adquirir 70% de seus direitos econômicos. A frustração foi tanta que Cearense saiu sem que a torcida manifestasse qualquer protesto.
Pelas palavras do jogador, ele também saiu frustrado. E reside aí a grande possibilidade de uma volta por cima com a camisa do Papão. Além de assumir paixão de torcedor pelo clube de Suíço, parece imbuído daquela faísca de motivação capaz de mover céus e terras.
Cearense está com sangue nos olhos. Foi desafiado a provar seu valor. Cuidado com ele.
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Bola na Torre
Giuseppe Tommaso apresenta o programa, com a participação de Valmir Rodrigues, Ronaldo Porto e deste escriba de Baião na bancada. Em pauta, a semana do futebol paraense. Começa por volta de 00h10, logo depois do Pânico, na RBATV.
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Equívocos marcam a Seleção da Fifa
A coisa aconteceu no meio da semana, mas não posso deixar passar. Dona Fifa, que já havia pisado na bola ao eleger Messi o craque da Copa no Brasil, derrapou de novo na escolha da seleção de melhores do ano. Escalar Tiago Silva e David Luiz soou como deboche diante das atuações de Miranda, Mertesacker, Godin e Hummels na temporada.
Não por acaso a presença dos dois na lista gerou todo tipo de gozação nas redes sociais. Depois dos 7 a 1 em BH nenhum zagueiro brasileiro merecia ganhar prêmio.
O mesmo vale para a descabida inclusão de Iniesta no meio-campo, quando Hazard, Vidal e Pogba tiveram um ano muito mais inspirado.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 18)