Em defesa da liberdade

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POR GERSON NOGUEIRA

A última grande manifestação popular na Cidade Luz aconteceu por ocasião do triunfo da seleção de Zidane sobre o Brasil, que resultou na conquista da Copa do Mundo de 1998. Muitos imaginavam que aquele ajuntamento humano jamais seria igualado. Pois foi. Na tarde deste domingo, 11 de janeiro, Paris se encheu de gente, não para comemorar um campeonato de futebol, mas para mostrar ao mundo que o país não se curvará ante à fúria sangrenta do terrorismo.

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10897090_1024859247529930_1772135587124896596_nO destemor estampado na marcha de milhares de pessoas pelas principais avenidas parisienses é um recado ao mundo civilizado. Pena que o presidente da maior nação do planeta tenha preferido ficar em Washington. Obama, ao contrário do que se imaginava, não compareceu. Talvez tenha sido aconselhado pelos serviços de inteligência a não se arriscar em campo aberto. Como sabemos, a paranoia americana não tem limites, assim como o seu pragmatismo político.

Depoimentos de repórteres e pessoas comuns indicam que Paris está visivelmente com medo de novas agressões, como a que vitimou 12 jornalistas na redação do periódico Charlie Hebdo. Nada mais natural, a essa altura. O importante é que nem isso fez com que a população receasse sair às ruas para repudiar o terrorismo e a insanidade, em defesa do sagrado direito de expressão – respeitadas as regras democráticas.

E pouco importa a essa altura se alguns destemperados começam a vislumbrar nos ataques um “direito dos terroristas” em face das críticas e sátiras religiosas do Charlie Hebdo. Desmiolados existem e existirão sempre, capazes de não enxergar o óbvio: nada, rigorosamente nada, justifica matar. Principalmente por motivos tão fúteis, xenófobos e bizarros.

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4 comentários em “Em defesa da liberdade

  1. Esse tema é muito complicado. Minha opinião é a seguinte.

    Acho que todos tem o direito de expressar sua liberdade.

    Mas todos devemos entender que isso pode ter um preço, caro ou insignificante.

    Como cristão e evangélico, vou até a Bíblia, e lembro do ato de Jesus Cristo, nunca ninguém exerceu a liberdade de expressão como ele com tanta coragem e amor pelo que objetivava.

    Jesus comprou briga com todos daquela época, com dono de porcos a doutores da lei.

    Mas claro , não quero comparar o meu mestre aos cartunistas, mas apenas mostrar que o ato dele custou um preço, a sua morte.

    O que na verdade acabou sendo o nosso lucro.

    Terroristas são bandidos da pior espécie. Acho que o povo semelhante deles reprovam tal atitude, mesmo sabendo que as charges são sim uma ofensa a eles.

    Os bons jamais matariam alguém, mas os malvados sim.

    Ao fazer as charges os cartunistas usaram a sua liberdade de expressão, liberdade essa que ofendeu muita gente, liberdade essa que custou-lhes a vida, porque nem todos levam “desaforo” pra casa.

    Só uma pergunta, porque e pra quê fazem estas charges? Até hoje não entendo a razão disso.

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  2. Pois é, é um tema mesmo muito complicado. Esse jornal ridicularizava deus e o mundo e no final os jornalistas que faziam esse jornal e essas chacotas foram assassinados e se tornaram os mártires da liberdade de expressão.
    Se no início os europeus caçavam os judeus, logo depois os mouros, agora é a vez dos muçulmanos.

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  3. Religião é matéria do campo da metafísica, do ponto de vista filosófico, já difícil de entender a quem é teísta, quanto mais a um ateu, como eu, detido ao campo do conhecimento científico. Ao meu ver, a motivação do comportamento terrorista de muitos muçulmanos não é nem religiosa, nem histórica, mas política.

    Uma breve revisão da história mostrará que povos árabes e hindus deram grande contribuição à matemática e às ciências. Sociedades da região do oriente médio floresceram enquanto a Europa submergia na escuridão da idade média. Não custa lembrar que os povos do leste europeu e oriente médio deram proteção ao conhecimento filosófico e científico dos gregos, após a queda do império romano, na virada da idade antiga para a média, como em grandes bibliotecas preservadas e mantidas pelo império bizantino, aquilo que sobrou do império romano, o do oriente. Líderes cristãos viram nessa literatura uma ameaça a autoridade religiosa. Estavam certos. Esse movimento se repete hoje, agora encarnado pelos líderes muçulmanos.

    É bom entender, o comportamento moral e a ética são anteriores às religiões, as grandes e as pequenas. É preciso conceber que nenhuma religião é possuidora da moral mais correta ou melhor que outra. A religião pode ensinar muito da convivência social, pacífica e frutífera, mas também tem o potencial de armar mentes e corações para lutas sangrentas. Essa é uma característica de toda religião, inclusive do catolicismo.

    As charges são uma crítica política a uma certa culturalização muçulmana muito presente na França de hoje. Uma culturalização que enxerga subversão na liberdade de expressão e pensamento.

    Enxergar ofensas gratuitas na arte dos cartunistas é interpretar ao pé da letra o significado das charges. Interpretar ao pé da letra as escrituras de um livro sagrado é o grande erro dos fundamentalistas, sejam muçulmanos, cristãos ou judeus. A intolerância prolifera de todos os lados numa leitura que não se dá ao trabalho de considerar contextos e fatores históricos.

    Até onde sei, somos preparados e civilizados para responder críticas com críticas, responder provocações com inteligência e civilidade. A história dos muçulmanos mostra que são muito capazes disso, invejavelmente capazes de responder provocações como estas com inteligência e moral. Assassinatos e retaliações são uma forma de política, não de religião. Principalmente de uma que já deu mostras históricas de tolerância e respeito com o estrangeiro e com o diferente muito antes de o ocidente o fazer.

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