Bastidores do rompimento entre Unimed e Flu

POR GIAN AMATO, em O Globo

As velhas rixas entre Unimed e Fluminense se renovam em 2015. Mais do que dinheiro e títulos, o que faltou na relação entre Celso Barros e Peter Siemsen foi carinho. De ambas as partes. Ao comentarem os bastidores do rompimento da parceria de 15 anos, em dezembro de 2014, pessoas ligadas tanto ao grupo da patrocinadora quanto ao do clube apontam a vaidade, o ciúme e a inveja como os pecados que afastaram os tricolores de coração.

2014_703559563-fluminense-celso-barros.jpg_20140403Sem grandes oponentes políticos nas Laranjeiras, o presidente Peter Siemsen teve dentro de seu próprio gabinete o pior obstáculo ao convívio harmonioso com a ex-patrocinadora. Partidários da manutenção da parceria esbarraram sempre na insistência do rompimento, motivada pelo grupo político que ajudou a eleger e a reeleger Siemsen. Barros (foto ao lado) ainda não tinha decidido pela saída quando soube que, em paralelo, já havia a articulação e um princípio de negociação com o novo patrocinador master, a Viton 44. Foi o estopim.

– Quero ver, sem a Unimed, se os resultados vitoriosos dos últimos anos terão continuidade – disse Barros, ao recusar a proposta de Peter de transferir a marca da cooperativa do peito e das costas, partes nobres da camisa, para as mangas.

Antes mesmo de dezembro chegar, o Fluminense jogava em campo a sorte da vaga na Libertadores. Para mostrar força durante temporadas passadas, Barros prometia sempre o dobro, e até o triplo, do prêmio individual oferecido pelo Fluminense aos jogadores por objetivos alcançados. Dividir para governar era a estratégia, minada no ano passado pela falta de dinheiro que enfraqueceu o poder da Unimed dentro do grupo.

– Quando fomos campeões em 2012 (Brasileiro e Carioca), Celso procurava saber quanto o Fluminense pagava por jogo. Se fosse R$ 2 mil, ele dava R$ 5 mil por jogador. A confiança era tanta, e o dinheiro também, que a Unimed chegou, em certo momento, a depositar na sexta-feira, antes da rodada – disse um ex-integrante da comissão técnica que pediu para não ser identificado.

siemsen2Considerado um estranho no ninho do futebol das Laranjeiras em seu primeiro mandato, em 2011, Peter (foto à dir.) obteve apoio de Barros, mas era protocolar. O presidente da Unimed sempre teve ótimo relacionamento com o antecessor na presidência tricolor, Roberto Horcades. Eram amigos e a relação viveu, durante os dois mandatos, momentos de paz e uma conquista inédita, a Copa do Brasil, quando Celso entrou no vestiário campeão e anunciou que pagaria um prêmio maior do que o prometido.

Celso e Horcades almoçavam, jantavam e conversavam ao telefone constantemente. Com Peter, a relação era um tanto indigesta.

– Ele veio? Não acredito. Quem chamou? – disse Celso aos comensais durante um almoço em uma churrascaria, momentos antes de Peter sentar à mesa.

O almoço era uma armação. Cada um foi convidado por um amigo em comum, sem que o outro soubesse. Foi uma última tentativa de reunir o que já estava a caminho da ruína.

– Celso é um cara vaidoso. Queria conversar, participar… Gosta que, a toda hora, digam para ele como o patrocínio era maravilhoso, o melhor do Brasil. Coisa que o Peter não sabia, e não gostava, de fazer – disse um ex-treinador do Fluminense.

Já para Renato Gaúcho, que disse diversas vezes, em inúmeras entrevistas, que não ouvir o patrocinador era um pecado, Celso era como um pai. Quando o Fluminense perdeu a Libertadores no Maracanã, em 2008, para a LDU, Renato deixou o estádio no carro do presidente da Unimed. Momentos antes, o técnico, campeão da Copa do Brasil com o time um ano antes, chorava copiosamente no vestiário, com uma toalha sobre o rosto para esconder as lágrimas.

Celso gostava de proteger os jogadores. E, ainda mais, os treinadores de sua preferência. Peter detestava saber que os técnicos davam mais atenção a Barros e essa mágoa começou a transformar a comissão técnica em 2014. Ao decidir contratar Cristóvão Borges, Peter precisou abrir o cofre e, pela primeira vez em anos, o pagamento da comissão técnica não teve a participação da Unimed.

VOLTA PROGRAMADA

Celso havia participado da contratação dos antecessores Abel Braga, Renato Gaúcho, Vanderlei Luxemburgo e Dorival Júnior… Sequer se reuniu com Cristóvão. Na primeira semana de trabalho, Celso esperou a reunião, um aceno do Fluminense e do treinador. Que não houve…. Mas a retaliação aconteceu. A Unimed cancelou a premiação pelo avanço do time à segunda fase da Copa do Brasil.

– O Fluminense contratou um treinador novo, e poderá pagar também a premiação – disse Barros, à época.

Fora da camisa, mas dentro da política do clube. Celso tenta ganhar tempo e recuperar espaço até a próxima eleição. Ele diz que, oficialmente, estará fora, mas articula o apoio ao candidato de oposição ao grupo de Peter. Seja quem for. Até lá, ainda mantém a sua influência pelo que resta de poder econômico ao fazer pressão pela saída dos jogadores. É o preço do divórcio, pago pelo Fluminense por um casamento que acabou mal.

3 comentários em “Bastidores do rompimento entre Unimed e Flu

  1. Um casamento que deixa o Flu doente. O Porco quando casou com a Parmalat foi mais feliz.

    Espero que os clubes brasileiros caiam em sí e parem com esse papo de aceitar que outros paguem salários de 300 mil pra cima a certos jogadores.

    O Fluminense que se sinta aliviado em não ir a falência depois dessa.

    Precisamos voltar a plantar, deixar de preguiça ou de baronismo, tirando uma de empresário.

    Curtir

  2. Quem tem a grana tem tudo, é o presidente, chefe, diretor, comandante, como queiram chamar. Siemsen deveria baixar a bola. Vamos ver o que será do meu tricolor com esse novo patrocinador master.

    Curtir

Deixe uma resposta