O futebol com um pé no futuro

Por Gerson Nogueira

bol_dom_160613_15.psAlvo de críticas intensas pelo conservadorismo na aplicação das regras do futebol, a Fifa surpreendeu com o anúncio de um sistema tecnológico experimental na Copa das Confederações. Pela primeira vez, jogos entre seleções terão a monitoração de câmeras nos estádios para esclarecer se a bola cruzou a linha do gol.

A inovação é mais profunda do que parece. Se aprovada essa forma de esclarecer dúvidas, o futuro do futebol estará entregue aos sistemas tecnológicos, como já ocorre com o tênis e o basquete. O sucesso na Copa das Confederações representará a aprovação automática para uso na Copa do Mundo do ano que vem.

João Havelange, o mais longevo dos presidentes da Fifa e que recentemente saiu da entidade pela porta dos fundos, era imperial no posicionamento anti-tecnologia. Para ele, a dúvida que determinadas marcações suscitavam fazia parte do universo do jogo, funcionando como um aperitivo mais pelo potencial de gerar discussões e polêmicas.

Essa visão quase irresponsável da questão foi também partilhada por muito tempo pelo atual manda-chuva da entidade, o suíço Joseph Blatter, que só recentemente se mostrou simpático à adoção de dispositivos eletrônicos na bola e nas traves para dirimir dúvidas em lances de difícil interpretação.

O problema é que, como quase tudo que envolve a bilionária entidade, a escolha da empresa alemã GoalControl 4D como fornecedora dos equipamentos para monitoração nos estádios já desperta suspeitas de negociata. A firma germânica suplantou potências do setor e abocanhou o contrato milionário para, no lugar do olho humano, gerar mais de 500 fotografias por segundo em relação à bola e ao instante em que ultrapassa a linha fatal.

A outra ponta da discussão envolve os custos de uso do sistema. Cada nova arena brasileira gastará meio milhão de reais para implantá-lo. Seu aproveitamento durante um jogo de futebol sairá por R$ 8 mil. Serão 14 câmeras distribuídas nos estádios exclusivamente para processar as imagens do movimento da bola. Quando ela cruzar a linha do gol, um aviso instantâneo será disparo ao relógio de pulso usado pelo árbitro.

Como Havelange no passado, o francês Michel Platini, presidente da Uefa, já se manifestou diversas vezes contrário à utilização de recursos tecnológicos para esclarecer lances duvidosos. O que compromete a força do discurso de Platini é sua declarada oposição a Blatter e o projeto que alimenta de tomar o poder na Fifa. Por esse ponto de vista, tudo que o atual presidente propuser receberá imediata desaprovação do francês.

Em palestra dirigida aos árbitros que atuarão na Copa das Confederações, a Fifa procurou alertar para os riscos de falhas técnicas no sistema alemão, daí a necessidade de que os apitadores mantenham foco total nos lances, sem levar em conta a engenhoca criada para esclarecer.

Mais importante ainda é a controvertida autonomia concedida ao árbitro quanto a marcar ou não um gol duvidoso. Ao contrário do que pregam os defensores da modernização das arbitragens, o lance será interpretado pelo árbitro central, sem consulta a ninguém. Caso ele entenda que a máquina se enganou e confie mais em sua própria visão, pode ignorar o alerta enviado para o seu relógio.

Com isso, a Fifa entende que está preservando a essência do jogo e mantendo intocada a soberania do árbitro, um dos itens mais sagrados da história do futebol, respeitado quase como um dogma.

O problema é que isso pode levar a um dilema extra. Ao custo milionário do equipamento de controle, fica difícil aceitar e compreender que uma jogada capital seja interpretada erroneamente pelo apitador.

Algo assim como aconteceu naquele célebre Águia x Cametá, decidindo o primeiro turno do Parazão 2012, quando a bola entrou quase um metro na trave cametaense e o árbitro se recusou terminantemente a aceitar a informação do juiz de linha.

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Maquetes dos estádios da Copa

O DIÁRIO publica, em sua edição deste domingo, o segundo fascículo da série Miniestádios da Copa das Confederações, abordando a moderníssima Arena Pernambuco, construída nos arredores do Recife especialmente para a Copa do Mundo de 2014.

A série vai mostrar todos os seis estádios do torneio, sempre trazendo uma lâmina de papel com as peças para montagem da maquete de cada arena. Ao longo da semana, mais duas folhas de papel são publicadas, a fim de complementar a maquete.

O projeto é um sucesso editorial e de vendas, atraindo a atenção dos leitores paraenses e dos Estados retratados na série. A ideia é esclarecer o torcedor quanto à grandiosidade das obras erguidas nas cidades-sedes e permitir que faça as maquetes com as próprias mãos.

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Bola na Torre

No programa deste domingo, na RBATV, participação do novo presidente da Secretaria Estadual de Esporte e Lazer, Victor Miranda. Ele fala dos planos de revitalização do estádio Jornalista Edgar Proença, a partir de sugestões para a utilização da principal praça de esportes de Belém. A apresentação é de Guilherme Guerreiro, com participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba baionense. Começa por volta de meia-noite.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 16)

2 comentários em “O futebol com um pé no futuro

  1. Muuuuuito ingrato esse horário, prá mim não dá, ainda mais tendo que aturar aquela calhordice do pânico, que alguns chamam de humor; tô fora.

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  2. Ainda pouco a band mostrou aquela seleção brilhante do brasil com o ataque formado por Romario e Ronaldo. Como coadjuvantes os Juninhos pernambucano e PAULISTA, Denilson e cia ltda. Um timaço antes da copa de 2002.
    Isto sim era um time pós as seleções de 82 e 86.

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