Na esteira da eliminação humilhante na Série C, o Paissandu tomou decisão drástica: fechou para balanço, até o fim da temporada, por iniciativa da diretoria. Motivos foram alegados: contenção de despesas e receio de novos vexames. Tudo muito certo se não fosse um clube de massa, dono de torcida apaixonada e participativa.
Clubes populares têm compromissos incontornáveis, ditados pela paixão de seus torcedores. Mesmo que a situação seja de evidente aperreio, não adianta alegar redução de custos, política de arrocho, economia de guerra ou o que seja. O povo quer bola e pouco está ligando para questões contábeis.
Dirigentes precisam ser responsáveis e austeros, ainda mais em momentos de dificuldade, mas devem ter sensibilidade para entender que o futebol vive de afeto. Torcedores desenvolvem uma relação de devotamento ao clube de coração. E nada é mais frustrante para o aficionado do que passar quatro meses sem ver seu time jogar.
A iniciativa do recesso dividiu opiniões no clube e nas ruas. Houve quem apoiasse a idéia, baseando-se no prejuízo que o Paissandu amargou com a má campanha na Série C. Cálculos conservadores indicam perdas superiores a R$ 500 mil. A simples hibernação não significará que despesas serão zeradas.
Patrocinadores precisam ser recompensados com a exposição de suas marcas e um time de futebol só pode fazer isso se estiver jogando. Por mais de quatro meses, o Paissandu ficará sem se apresentar oficialmente, o que representa um ato de força em relação às expectativas do torcedor, geralmente fanático a ponto de não perder um simples treino.
Quanto à alegada preocupação com eventuais tropeços, em face da utilização de um time de pouca expressão técnica, cabe voltar os olhos para experiências passadas. O próprio Paissandu empreendeu no ano passado um giro proveitoso, apresentando-se em mais de 20 cidades.
Além de estreitar os laços com o torcedor interiorano, ainda beneficiou-se da descoberta de um bom jogador – no caso, o meia-atacante Fabrício, negociado posteriormente com o futebol internacional por cerca de R$ 400 mil, maior transação da história do futebol paraense.
Essa experiência única, de ir ao encontro da massa torcedora, como o Remo faz atualmente, não pode ser menosprezada. Pode ser a prenda necessária para purgar os pecados e voltar mais forte à superfície.
Bem, enquanto uns choram, outros vendem lenços – pregava Nizan Guanaes nos tempos em que ainda se dedicava a pensamentos originais. Enquanto a torcida paraense chora pitangas, a espanhola acompanha a partir de hoje o campeonato mais aguardado no planeta. Apesar de 18 competidores, o título estará sob ataque direto de Real e Barcelona, que gastaram 358 milhões de euros para reforçar seus times. No Bernabeu, pontificam Kaká e Cristiano Ronaldo. No Camp Nou, Messi e Ibrahimovic. Os quatro melhores jogadores do mundo dão à Espanha a condição de terra do futebol.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 30)
Dia: 29 de agosto, 2009
Flamengo 3, Santo André 0
Capa do DIÁRIO, edição de domingo, 30

Tentando decifrar Bob Dylan

Por Maurício Stycer
Quem já passou por este blog mais de uma vez deve ter percebido que sou fã de Bob Dylan. Isso não quer dizer que eu compreenda Bob Dylan. Ouço o músico e leio o que escrevem sobre ele já há 35 anos, mas com frequência me pego pensando, sem ter resposta, sobre os possíveis significados de algumas músicas e sobre o sentido de certas atitudes.
No magnífico documentário “No Direction Home”, Martin Scorsese tenta jogar alguma luz nos primeiros anos da carreira do músico (1961-1965), sem chegar a uma conclusão. Scorsese se detém num episódio-chave da trajetória de Dylan, o momento em que trocou o violão pela guitarra, causando profunda decepção nos fãs da música de protesto – o gênero que o tornou famoso naqueles conturbados anos de lutas pelos direitos civis, nos Estados Unidos.
Da soma de tudo que se vê e ouve no documentário, emerge a impressão que Dylan nunca foi um músico engajado nas causas dos anos 60. Não que fosse alheio ao que acontecia ou que não acreditasse no teor das músicas que escreveu – canções como “Blowin´ in the Wind” ou “The Times They are a Changin´”, que se tornaram verdadeiros hinos. Mas tenho a impressão, vendo o filme, que Dylan parece mais preocupado consigo mesmo do que com os anos 60.
E acho que essa é uma característica que percorre muitas das suas escolhas – pessoais e artísticas – ao longo do tempo. Não vejo isso como defeito, que fique claro. As idas e vindas na carreira, as diferentes opções religiosas, as escorregadas e os triunfos, Dylan nunca demonstra preocupação com o que vão pensar ou dizer dele e parece ter como único interlocutor a sua própria insatisfação.
Pensando nisso tudo, comento duas notícias aparentemente bizarras que circularam esta semana envolvendo Dylan. A primeira, a de que o músico está negociando emprestar a sua voz a um sistema de GPS; a segunda, que vai gravar um disco apenas com canções de Natal.
O próprio Dylan anunciou, na terça-feira, 25 de agosto, a novidade do GPS em seu programa de rádio, nos Estados Unidos. “Estou conversando com duas empresas”, disse o músico, cuja voz cada vez mais fanhosa parece ser tudo que você não quer ouvir quando estiver perdido procurando um endereço no carro.
Dylan fez piada sobre o assunto no rádio. “À esquerda na próxima rua. Não, à direita. Quer saber? Vá reto”. Em seguida, comentou: “Eu não deveria fazer isso porque, para onde quer que eu vá, eu sempre acabo no mesmo lugar – em Lonely Avenue”. E acrescentou: “Por sorte, não estou totalmente sozinho. Ray Charles me encontra lá.” A piada é uma referência ao blues “Lonely Avenue”, que Charles gravou com muito sucesso nos anos 50 e que teve posteriormente inúmeras versões.
Na quarta-feira, 26 de agosto, Dylan anunciou em seu ótimo site que vai lançar, no dia 13 de outubro, um álbum com canções de Natal, cuja renda será revertida integralmente para entidades beneficentes. A notícia causou algum espanto, inicialmente, em função do músico ter nascido numa família de origem judaica, ter se convertido ao cristianismo na década de 70 e voltado a praticar o judaísmo.
O projeto do disco de Natal, no entanto, vai muito além de um compromisso religioso. O músico doou todos os royalties a que tiver direito por este disco, para sempre, nos Estados Unidos, a uma ONG chamada Feeding America e está negociando um acordo semelhante com duas entidades na Inglaterra.
Dylan comentou no site: “É uma tragédia que 35 milhões de pessoas neste país (os EUA) – sendo 12 milhões de crianças – costumam ir para a cama com fome e acordem no dia seguinte sem saber quando vão comer novamente”. Mais claro, impossível.
Schumi ensaia volta às pistas
O heptacampeão mundial de Fórmula 1, Michael Schumacher, pode abandonar a aposentadoria para guiar pela Ferrari em 2010 se a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) permitir que a equipe corra com um terceiro carro.
– É correto dizer que, se tudo correr bem, por que não vê-lo em um dos nossos carros? – disse o chefe da equipe Ferrari, Stefano Domenicali, em entrevista com o jornal britânico Times de sábado. (Do DIÁRIO ON-LINE)
O alemão voador está realmente fazendo falta nesta F-1 decidida em pit-stop. Pena que ele recuou do projeto de substituir Massa, pois sua entrada em cena iria botar fogo no campeonato.
Capa do Bola, edição de domingo, 30

São Raimundo fica sem Torrô
Confirmado: o atacante Torrô não vestirá a camisa do São Raimundo na Série D. O presidente do Paysandu, Luiz Omar Pinheiro, teria liberado o jogador somente às 17h30 de ontem, e não houve tempo hábil para que o atleta fosse inscrito na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), já que o prazo se encerrava ontem.
Fonte que pediu para não ter seu nome identificado especulou que poderia ter existido um possível acordo entre Paissandu e Cristal para que não fossem liberados atletas para o Mundicão. Verdade ou não, é fato que em todas as propostas que o São Raimundo fez para os atletas bicolores, a pretensa negociação acabou dando para trás. (Com informações do DIÁRIO ON-LINE)
Não creio em complô envolvendo o Paissandu e qualquer outra equipe para prejudicar o S. Raimundo. Que interesse teria o bicampeão paraense em atrapalhar os passos do Mundico? Além do mais, do jeito que a Série D se desenha, o time santareno só não sobe para a Série C se vacilar muito nos próximos confrontos.
Rachão pode tirar Ricky do clássico
Angústia no São Paulo. Surgiu um problema de última hora para o clássico deste domingo pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro, contra o Palmeiras: o volante Richarlyson pode não ter condições de jogo até a partida decisiva. Ele sentiu dores no tornozelo esquerdo durante o rachão realizado na manhã deste sábado no CT da Barra Funda, saiu de campo mancando e imediatamente iniciou o tratamento com os médicos. Ficará sob observação até a avaliação na hora do almoço neste domingo, pouco antes do clássico. Se não puder jogar, as opções do técnico Ricardo Gomes para a posição são Arouca e Zé Luís. (Com informações da ESPN)
O volante são-paulino logo depois de sofrer a contusão
Macca e RC juntos no palco?
Roberto Carlos e o ex-beatle Paul McCartney podem dividir os palcos em 2010, se depender do vice-governador do Distrito Federal, Paulo Octávio. A informação é da colunista da Folha Mônica Bergamo. Segundo a colunista, a ideia é dos organizadores da festa de 50 anos de Brasília, no ano que vem. Paulo Octávio vai se encontrar hoje com o Rei e fazer o convite para que ele abra o show de McCartney, que está sendo negociado como atração principal do evento.
Grid favorece Barrichello
O italiano Giancarlo Fisichella, da Force India, surpreendeu neste sábado ao marcar o melhor tempo nos treinos classificatórios em Spa-Francorchamps e larga na pole position no GP da Bélgica, disputado no domingo. Ele divide a primeira fila com o também italiano Jarno Trulli, da Toyota. O alemão Nick Heidfeld, da BMW, que havia marcado o melhor tempo nos treinos livres que antecederam a corrida, correu em 1min46s500 e larga em terceiro.
A classificação final favorece o brasileiro Rubens Barrichello. O piloto da Brawn GP larga na quarta posição, enquanto seus adversários decepcionaram. O inglês Jenson Button, seu companheiro de equipe e principal adversário, larga na 14ª posição. Já os dois carros da Red Bull largam em 8º e 9º, respectivamente com o alemão Sebastian Vettel e o australiano Mark Webber.
A junta do motor (by Saramago)
POR JOSÉ SARAMAGO
Desde há mais de sessenta anos que eu deveria saber conduzir um automóvel. Conhecia bem, naqueles remotos tempos, o funcionamento de tão generosas máquinas de trabalho e de passeio, desmontava e montava motores, limpava carburadores, afinava válvulas, investigava diferenciais e caixas de mudanças, instalava calços de travões, remendava câmaras de ar furadas, enfim, sob a precária protecção do meu fato-macaco azul que me defendia o melhor que podia das nódoas de óleo, efectuei com razoável eficiência quase todas as operações por que é obrigado a passar um automóvel ou um camião a partir do momento em que entra numa oficina para recuperar a saúde, tanto a mecânica como a eléctrica. Só faltava que me sentasse um dia atrás do volante a fim de receber do instrutor as lições práticas que deveriam culminar no exame e na sonhada aprovação que me permitiria ingressar na ordem social cada vez mais numerosa dos automobilistas encartados. Contudo, esse dia maravilhoso nunca chegou.
Não são apenas os traumas infantis que condicionam e influem a idade adulta, também os que se sofrem na adolescência podem vir a ter consequências desastrosas e, como no presente caso sucedeu, determinar de maneira radicalmente negativa a futura relação do traumatizado com algo tão quotidiano e banal como é um veículo automóvel. Tenho sólidas razões para crer que sou o deplorável resultado de um desses traumas.
Mais ainda: por muito paradoxal que a afirmação vá parecer a quem das íntimas conexões entre as causas e os efeitos somente tiver ideias elementares, se nos meu verdes anos não tivesse trabalhado como serralheiro-mecânico numa oficina de automóveis, hoje, provavelmente, saberia conduzir um carro, seria um orgulhoso transportador em lugar de um humilde transportado.
Além das operações que comecei por referir, e como parte obrigatória de algumas delas, também substituía as juntas dos motores, essas finas placas forradas de folha de cobre sem as quais seria impossível evitar fugas da mistura gasosa de combustível e ar entre a cabeça do motor e o bloco dos cilindros. (Se a linguagem que estou a usar parecer ridiculamente arcaica aos entendidos em automóveis modernos, mais governados por computadores do que pela cabeça de quem os conduz, a culpa não é minha: falo do que conheci, não do que desconheço, e muita sorte que não me ponha aqui a descrever a estrutura das rodas dos carros de bois e a maneira de atrelar estes animais ao jugo. É matéria igualmente arcaica em que também tive alguma competência).
Ora, um dia, depois de ter acabado o trabalho e colocado a junta no seu sítio, depois de ter apertado com a força dos meus dezanove anos as porcas que sujeitavam a cabeça do motor ao bloco, dispus-me a realizar a última fase da operação, isto é, encher de água o radiador. Desenrosquei pois o tampão e comecei a deitar para a boca do radiador a água com que tinha enchido o velho regador que para esse e outros efeitos havia na oficina. Um radiador é um depósito, tem uma capacidade limitada e não aceita nem um mililitro mais do que a quantidade de água que lá caiba. Água que continue a deitar-se-lhe é água que transborda.
Algo de estranho, porém, se estava a passar com aquele radiador, a água entrava, entrava, e por mais água que lhe metesse não a via subir dançando até à boca, que seria o sinal de estar acabado o enchimento. A água que já vertera por aquela insaciável garganta abaixo teria bastado para satisfazer dois ou três radiadores de camião, e era como se nada. Às vezes penso que, sessenta e muitos anos passados, ainda hoje estaria a tentar encher aquele tonel das Danaides se em certa altura não me tivesse apercebido de um rumor de água a cair, como se dentro da oficina houvesse uma pequena cascata. Fui ver.
Pelo tubo de escape do carro saía um avultado jorro de água que, pouco a pouco, diante dos meus olhos estupefactos, foi diminuindo de caudal até ficar reduzido a umas derradeiras e melancólicas gotas. Que se passara? Tinha colocado mal a junta, tapara entre a cabeça do motor e o bloco o que deveria ter aberto, e, muito mais grave do que isso, facilitara passagens e comunicações onde não deveria havê-las. Nunca cheguei a saber que voltas teve de dar a pobre água para ir sair ao tubo de escape. Nem quero que mo digam agora. Para vergonha bastou. Possivelmente terá sido nesse dia que comecei a pensar em tornar-me escritor. É um ofício em que somos ao mesmo tempo motor, água, volante, mudanças de velocidade e tubo de escape. Talvez, afinal, o trauma tenha valido a pena.