O país onde Cunha é blindado e Lula é perseguido

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POR PAULO NOGUEIRA

A Lava Jato perdeu o pudor.

O nome Triplo X, referência sibilina ao mítico ‘Triplex do Lula’ é um acinte. Está claro que se trata de erradicar não a corrupção – mas de caçar Lula.

Fosse outro o propósito você não teria um ataque tão sistemático a Lula enquanto um homem como Eduardo Cunha borboleteia, livre para armar as delinquências em que é mestre.

Era mais honesto batizar a operação como Caça Lula.

Os suíços entregaram de bandeja documentos que comprovam corrupção em níveis pavorosos de Cunha. Ele mentiu, sonegou, inventou desculpas aberradoras e usou até a palavra ‘usufrutuário’ para tentar encobrir sua condição de dono de milhões na Suíça.

Não foi apenas isso.

Depoimentos de fontes variadas coincidiram em relatar ameaças de paus mandados de Cunha contra pessoas que pudessem dizer coisas comprometedoras contra ele.

Vídeos mostraram expressões aterrorizadas de delatores ameaçados por homens de Cunha. Parecia coisa de Máfia. Falaram até na família. Em filhos. Disseram que tinham o endereço para a retaliação.

Não foi um depoimento nesse gênero. Foram pelo menos três, dois de delatores e um de um deputado que era um problema para Cunha na Comissão de Ética que o julga.

Que mais queriam? Que um cadáver amanhecesse boiando num rio?

E as trocas de emails com empresas beneficiárias de medidas provisórias?

Com esse conjunto avassalador de evidências, Eduardo Cunha aí está, na presidência da Câmara, ainda no comando de um processo viciadíssimo que pode cassar 54 milhões de votos.

Cadê a Polícia Federal? Cadê Moro? Cadê uma operação realmente para valer para investigar as delinquências conhecidíssimas de Cunha.

Nada. Nada. Nada.

É uma bofetada moral inominável nos brasileiros. É a completa desmoralização da política.

Enquanto a vida é mansa para Cunha, para Lula é uma sucessão infindável de agressões.

Virou piada que até ser amigo de Lula se caracterize como algo capaz de incriminá-lo. Mas coloquemos o adjetivo certo: é uma piada repulsiva.

Um apartamento banal numa praia banal – a cidade plebeia do Guarujá – adquire ares de uma propriedade suntuosa que Lula jamais poderia comprar. É um tríplex, uma palavra feita para impressionar e ludibriar a distinta audiência.

Não interessa se quatro ou cinco palestras de Lula seriam suficientes para comprar o apartamento. Não interessa se ele tem documentos que comprovam que ele não comprou, afinal, o imóvel.

O que importa é enodoar a imagem de Lula. Caracterizá-lo como um corrupto, um ladrão, um monstro de nove dedos. O maior vilão da história do Brasil.

Alguém – PF, Moro, imprensa – deu um passo para saber se a residência de Eduardo Cunha é compatível com seus rendimentos de deputado? Alguém apurou se ele tem condições de bancar uma vida de fausto para a mulher, à base joias e extravagâncias como aulas de tênis no exterior?

Ninguém.

É um país doente aquele que protege Eduardo Cunha e investe selvagemente contra um homem que cometeu o pecado de colocar os excluídos na agenda nacional como nenhum outro desde Getúlio Vargas.

Estamos enfermos – e Moro e sua Lava Jato são sintomas eloquentes dessa nossa deformação moral.

14 comentários em “O país onde Cunha é blindado e Lula é perseguido

  1. Concordo que o caso do Cunha evolui muito lentamente. Já podia estar bem mais avançado. Inclusive, porque se já estivesse não estaria servindo agora de cortina de fumaça.

    Mas, o articulista precisa atentar que o Moro nada tem a ver com isso. Quem é o responsável pela lerdeza cunhista é o stf, é o Ministro Teori.

    Mas, a verdade é que o Moro também é uma válvula de escape.

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  2. Como o Moro tem a ver com o processo do Cunha se este tem foro por prerrogativa de função no STF?? Ele não é juiz competente para todos os processos de corrupção no país.

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  3. Pois é, caro Oliveira, o caso do Cunha está no STF, pelo foro, ok. Mas com essa lava jato sem fim, certamente tem. Não quero misturar alhos com bugalhos, quero dizer que os investigadores são os mesmos e nada acontece. A justiça e a polícia são seletivas.

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  4. Exatamente, amigo Lopes. Diferentemente do que diz o articulista, tentando confundir os desavisados, o Moro nada tem a ver com a demora a demora no caso Cunha. Esta demora é de responsabilidade do Supremo e do Ministro Teori. E o articulista sabe disso, eis que mais de uma vez já escreveu sobre o assunto, cobrando o Janot e o M. Teori. Meu comentário foi feito exatamente para corrigir o articulista.

    Quanto à lava a jato, que é sim, responsabilidade do Moro, é preciso lembrar que mesmo ainda não tendo terminado muita gente já foi julgada. Demais disso, bem estar atento que um fator que muito colabora para a demora é a cmplexidade do caso.

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  5. Não é a complexidade do caso, caro Oliveira. Muitas das delações não geraram provas. Muitos dos presos estão nessa condição para não atrapalhar as investigações, em prisão preventiva. Inclusive, alguns foram soltos por falta de provas. Parece mesmo haver um esquema corrupto político na Petrobras, mas aí onde estão as provas contra todos aqueles que a mídia acusa, mormente do governo? Sabe?, não creio num governo de anjinhos, como não creio numa mídia totalmente honesta.

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  6. Bom, Lopes, respeito sua opinião, mas, tendo a crer que um caso como este, com múltiplos acusados e diversas ramificações, e que está longe de se restringir à Petrobras, não pode ser concluído assim tão rapidamente. Máxime porque o juíz não é senhor absoluto das iniciativas. Estas dependem do Ministério Público, o qual, por sua vez, precisa do auxílio da polícia, receita federal e outros órgãos. Ademais, muita coisa depende de ouvir os acusados, testemunhas, informantes etc. Os malfeitos são graves não podem ser investigados superficial e rapidamente, e eventualmente as consequencias são pesadas demais para os acusados que não podem ser punidos assim mediante investigações sem critério.

    Quanto às provas, é exatamente atrás delas que a investigação segue. Sobre as prisões, de fato, algumas não foram mantidas e outras foram convertidas em medidas menos penosas, mas, a verdade é que a maioria foi mantida pelos tribunais superiores. Resultado semelhante há relativamente às delações.

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  7. Ah, Lopes, esqueci de comentar sobre seu comentàrio a respeito dos governantes e da mídia. Sobre estes dois aspectos, digo que estou inteiramente de acordo com você.

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  8. Sobre as decisões de Moro, dados apontam que menos de 4% delas foram reformadas pelos Tribunais Superiores, incluindo neste percentual os habeas corpus impetrados diretamente nos tribunais, fato que esvazia as argumentações de que suas decisões “não tem provas”.
    Se realmente o juízo de Curitiba estivesse praticando arbitrariedades, suas decisões não se sustentariam nas instâncias superiores, lembrando que os acusados contam com a defesa de competentes e bem remunerados advogados.

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