
POR GERSON NOGUEIRA
Dado Cavalcanti já conhecia a situação, mas volta a experimentar aquela sensação meio incômoda pós-clássico, quando o torcedor esquece tudo o que foi feito antes e prende-se apenas à mística que envolve o Re-Pa. Cenas de protesto, xingamentos e até pedrada em ônibus marcaram a saída da delegação do PSC do estádio Jornalista Edgar Proença, domingo à noite.
Eterno insatisfeito, o torcedor põe a boca no trombone para criticar pontualmente jogadores. Irritado com a derrota frente ao maior rival, não livra a cara de ninguém. Por sorte, para o PSC e para o próprio Dado, o trabalho iniciado há menos de dois meses garantiu classificação à segunda fase da Copa Verde e metade do caminho andado rumo à terceira etapa.
Além disso, no Parazão, a campanha bicolor vinha sendo irrepreensível desde que Dado chegou. Três vitórias acachapantes – sobre Parauapebas, Castanhal e São Raimundo – deram total tranquilidade ao time e classificação antecipada às semifinais.
O problema, como sempre, é que no meio do caminho há uma pedra chamada Re-Pa, que demarca as decisões dos grandes rivais e também limita seus passos. Explico: os clássicos da fase classificatória não determinaram grandes abalos para nenhum dos lados, nem para o bem, nem para o mal. Vencendo ou perdendo, ambos são semifinalistas.
Acontece que, por menos relevantes que sejam os danos para a classificação no Estadual, os resultados deixam sempre um rastro de turbulência, principalmente quando ocorre uma sequência de duas derrotas.
Dado faz muito bem em propor a imediata virada de página, sinalizando que batalhas importantes na CV estão à porta. A vida continua e o time precisa manter o foco, sem se abalar com o desenlace do Re-Pa. Com isso, o técnico lança uma manta protetora sobre o elenco e também sobre o próprio projeto do Papão para o primeiro semestre da temporada.
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A longevidade do garoto-propaganda do penta
O tradicional lançamento do álbum de figurinhas da Copa do Mundo teve, ontem, a presença também tradicional de Cafu nesse tipo de eventos. Talvez por ter sido um dos capitães de Seleção Brasileira menos destacados da história de títulos mundiais, além de ser o único sobrevivente da dinastia, o lateral do penta virou garoto-propaganda dos mais solicitados em grandes eventos.
A ironia é que, seguramente, Cafu não está nem entre os 10 melhores laterais da história do futebol brasileiro. Aqui mesmo no Pará temos uns dois ou três que foram bem melhores que ele. Prova mais do que óbvia de que títulos mundiais nem sempre premiam os realmente grandes.
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Prestígio permite a Tite abusar da liberdade poética
Talisca, Taison, Fred, Fagner, Neto, Willian José, Rodrigo Caio e Fernandinho. Sete jogadores listados por Tite para os amistosos com a Rússia e Alemanha simbolizam o nível técnico um tanto desigual da Seleção que se prepara para nova tentativa de conquistar o hexa.
Todos os grandes escretes nacionais tinham lá sua cota de nomes questionáveis, justificados sempre como escolhas pessoais do treinador, como se os demais não fossem. O grupo atual não é diferente, mas chama atenção a expressiva quantidade de atletas, que teriam dificuldade para arranjar vaga de titular em qualquer time da Série A brasileira.
É óbvio que a vitoriosa (e inédita) campanha nas Eliminatórias deu a Tite uma espécie de salvo-conduto especial, segundo o qual ele pode fazer todas as besteiras possíveis sem perder o prestígio. Receio apenas que esteja confiando perigosamente na própria sorte.
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Lá, como cá
Para desmistificar a lenda de que o futebol europeu é mais paciente com seus técnicos, o Hamburgo demitiu ontem o técnico Bernd Hollerbach, contratado há apenas sete semanas.
Quem assume o cargo é Christian Titz, do time sub-21. Por sinal, Hollerbach já é o nono treinador demitido no campeonato alemão deste ano.
(Coluna publicada no Bola desta terça-feira, 13)








