POR GERSON NOGUEIRA
Programas de sócio-torcedor se transformaram em importante fonte de receita para os clubes de futebol. Por isso, são uma febre no Brasil e no mundo. Os exemplos vêm dos principais clubes. O Benfica, de Portugal, que está perto de completar 250 mil sócios e é o atual recordista mundial, consegue pagar grande parte de sua folha mensal com o dinheiro proveniente do ST.
As equipes italianas, espanholas e inglesas seguem a mesma trilha. Mesmo as que nadam em dinheiro, proporcionado pelos ricos patrocinadores, não abrem mão do sócio-torcedor. Além de se constituir num dinheiro seguro, a cada mês, o programa fideliza clientes e amplia o alcance da marca.
O Remo, que tinha 16 mil sócios (mais de 9 mil adimplentes) cadastrados em 2015, sob a coordenação de André Cavalcante, ameaça dar um passo atrás ao planejar a redução de vantagens que eram oferecidas anteriormente. Por decisão de diretoria, o ST do Leão não mais terá gratuidade nos jogos. Passa a pagar ingresso (50%) como qualquer outro torcedor nas partidas programadas para o estádio Evandro Almeida.
A justificativa dos dirigentes é a diminuição da capacidade do Baenão, que deverá ter apenas 7 mil lugares disponíveis durante o Campeonato Paraense e a Copa Verde. Se a razão for essa, é mais um motivo para resguardar os direitos dos sócios torcedores, a fim de permitir que o programa se mantenha de pé em meio às dificuldades vividas pelo clube.
Sob qualquer ponto de vista, obrigar o ST a pagar ingresso representa uma quebra de contrato – com consequências até na esfera judicial – e é também o caminho mais curto para que o programa perca ainda mais associados. Atualmente, depois da temporada de insucessos no futebol, o clube tem pouco mais de 2 mil sócios adimplentes.
Com tal quantidade fica até mais fácil cumprir o que estava acordado anteriormente, sem que isso represente grandes perdas de receita na bilheteria. E é importante considerar que, ao invés de contabilizar o ST como um prejuízo pontual nas rendas, o clube deve levar em conta que a mensalidade já entrou nos cofres antes mesmo de a bola rolar.
A experiência das grandes agremiações nacionais mostra que o ST veio para ficar e é um aliado na luta para combater o crônico déficit do futebol profissional no país. O Remo, se cumprir o que alguns diretores já anunciam, estará caminhando em sentido contrário ao que ocorre no resto do país. Os clubes que mais investiram na captação de ST são Palmeiras, Corinthians, Internacional e Grêmio, que não deixam de criar mecanismos de incentivo e fidelização dos sócios.
Um bom exemplo para os demais clubes é o Internacional, que, em 2015, era o líder nacional em ST, com 148 mil cadastrados, faturando algo em torno de R$ 2,5 milhões mensais. Neste ano, com o crescimento de Palmeiras e Corinthians, o Colorado caiu para o terceiro lugar, mas segue com a política mais agressiva de captação de sócios. A ideia é associar o máximo de torcedores, desde as crianças (com mensalidade de R$ 10,00) até o plano adulto mais caro (acima de R$ 200,00). A estratégia tem como maior atrativo a garantia de voto para todos os sócios.
É improvável que a proposta do Inter seja equivocada e a do Remo correta. Ao estimular a debandada de sócios, o clube só acentua um de seus mais graves conflitos: a dificuldade de aceitar a modernização da gestão. As ideias de alguns dos novos dirigentes azulinos remetem ao pensamento vigente nos anos 70, quando o ST era realidade apenas na Europa.
Outras medidas, simultâneas à restrição do acesso ao Baenão, indicam que o programa vai sofrer uma profunda desaceleração, que pode conduzir à sua extinção. Se isso ocorrer, será uma perda inominável, com reflexos danosos para a vida financeira do clube.
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Ainda sobre o 6º Enecob
Deixei de mencionar na coluna de segunda-feira que o 6º Enecob foi realizado por iniciativa do jornalista Leandro Mazzini, através de sua prestigiada coluna Esplanada, que é publicada diariamente pelos principais jornais do país, entre os quais o nosso DIÁRIO. Compareci para representar o jornal, atendendo ao convite de Leandro.
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A luta para achar um camisa 10
Mais do que a iminente perda de seu executivo de futebol, Alexandre Faria, cortejado pelo Sport-PE, o que realmente preocupa os dirigentes do Papão é a procura febril por um meia-armador de qualidade, capaz de substituir à altura Tiago Luiz, o camisa 10 que encantou o torcedor e ajudou a afastar os riscos de rebaixamento quando entrou em cena no returno da Série B.
Os problemas enfrentados pelo Papão nas últimas temporadas sempre passam pela figura do organizador. Em 2015, o time conseguiu terminar o Brasileiro em sétimo lugar sem ter um camisa 10 efetivo. Dado Cavalcanti baseou o seu sistema no apoio dos laterais Pikachu e João Lucas, abrindo mão de uma transição mais qualificada no meio.
Neste ano, Celsinho começou como titular e foi valioso no Parazão e na Copa Verde, mas caiu drasticamente de rendimento na Série B, fazendo com que os técnicos (Dado e Dal Pozzo) tivessem muitas dificuldades na montagem da equipe no primeiro turno. Quando Tiago Luiz chegou, o time repentinamente ganhou em competitividade e se tornou quase imbatível dentro de casa.
Sua saída, motivada por uma pedida acima do orçamento do futebol do clube, abriu uma lacuna que os dirigentes se esforçam por preencher, até aqui sem êxito. Jonas, ex-América-MG, é uma aposta, mas outros nomes continuam a ser analisados e buscados. O tempo conspira contra e faltam boas opções no mercado.
(Coluna publicada no Bola desta quarta-feira, 21)