A importância da regra 18

POR GERSON NOGUEIRA

Alguns árbitros têm a estranha mania de chamar atenção – nem sempre da melhor maneira – para suas atuações. É o caso de Rodrigo Raposo, que está na berlinda desde quinta-feira à noite. Ele expulsou por motivo fútil o meia-armador Lucas Lima, do Santos, ainda no primeiro tempo do jogo com o Internacional, em Porto Alegre.

Lima já havia recebido cartão amarelo em interpretação também exagerada. Ganhou o segundo – e, consequentemente, o vermelho – ao tentar executar uma jogada ensaiada na cobrança de um escanteio. Tocou na bola e deu a volta para receber o passe de um companheiro.

unnamed-71Manobra perfeitamente legal, que o árbitro interpretou como um artifício para ganhar tempo, configurando antijogo. Teve que ouvir, ainda em campo e pelas horas seguintes, a explicação óbvia para a movimentação de Lima junto à bandeirinha de córner.

Antes, havia dado cartão amarelo ao lateral Victor Ferraz, alegando que este teria xingado o auxiliar. O jogador negou enfaticamente o gesto e se defende observando, com razão, que o árbitro nem acompanhava o diálogo à beira do gramado.

A exclusão de Lucas Lima, principal jogador do Santos e um dos principais talentos em ação no atual Campeonato Brasileiro, foi ruim para o jogo e péssima para a imagem que a arbitragem nacional tenta construir, depois de anos sucessivos de desgaste e desempenhos sofríveis.

Ex-árbitros costumam aconselhar os novatos a prestarem atenção à regra mais importante de todas: a simbólica 18ª, que é a do bom senso nas decisões. Significa que não adianta conhecer bem as 17 regras oficiais e orientações diversas da Fifa se não houver equilíbrio na aplicação.

O fato é que a tradição brasileira reza que o árbitro seja quase um ditador no comando dos jogos. Para conseguir fazer valer a autoridade não é incomum que alguns gritem e até xinguem (como fazia Dulcídio Vanderlei Boschilla) atletas. E o mais curioso é que torcedores e até jogadores concordem com essa forma de agir, como se a grosseria fosse aceitável.

Árbitros devem se impor naturalmente, conduzindo o jogo com correção, interpretando bem os lances mais intrincados e aplicando punições quando for necessário. Extrapolar no uso dos cartões é algo que não condiz com o conceito de autoridade natural.

Quando um árbitro se excede no gestual e na exibição de cartões acaba por revelar insegurança ou simples autoritarismo. Todos deveriam saber que a advertência não pode ser um mecanismo de intimidação, mas de alerta aos mais afoitos ou violentos.

Expulsar um atleta do jogo é o castigo radical, a pena máxima. Por isso mesmo, deve ser o último dos recursos. Lima foi excluído por uma inexistente manobra de retardamento de jogo, mas Rodrigo Pessoa foi condescendente com a troca de tapas entre outros dois atletas no mesmo jogo. Não deu nem cartão amarelo, preferindo contemporizar.

Ao refugar diante dos brigões, o árbitro deixou claro ali que não tinha critérios para as decisões estapafúrdias que tomou. A consequência direta da expulsão desatinada foi a intranquilidade transmitida aos demais jogadores, prejudicando seriamente a qualidade do espetáculo.

Outro aspecto a considerar é o surgimento de nuvens de suspeita de favorecimento ao Inter com a expulsão do principal homem do Santos. O Colorado, como se sabe, tenta escapar das últimas posições na tabela.

Que as lambanças de Raposo sirvam para que a comissão de arbitragem da CBF reavalie seus critérios e enquadre os apitadores, a fim de evitar que a reta final dos campeonatos seja influenciada pelo apito.

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Bola na Torre

Guilherme Guerreiro no comando da atração, que começa por volta de 00h20, logo depois do Pânico, na RBATV. Em pauta, a análise dos jogos de Papão e Leão nas séries B e C. Participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião.

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Boa atuação, péssimo resultado

O futebol tem caprichos insondáveis que, por vezes, contrariam a lógica natural das coisas. Pelo que jogou diante do Brasil, o Papão fez jus a uma vitória. Cometeu alguns erros, principalmente na cobertura da defesa e na saída de bola, mas foi sempre predominante, mantendo a posse da bola e tomando a iniciativa. A torcida saiu insatisfeita pelo resultado, que deixou o time em posição incômoda na classificação.

Em termos técnicos, o time fez um bom papel. Nem mesmo o gol sofrido logo aos 5 minutos atrapalhou a equipe, que partiu para buscar o empate da maneira tradicional e correta – pelos flancos. João Lucas, que havia vacilado no lance do gol do Brasil, virou um atacante pela esquerda, cruzando bolas perigosas em direção à área.

Aos 15 minutos, numa inspirada troca de passes entre Lucas e Tiago Luiz, este último acertou um belo chute no ângulo do goleiro Eduardo Martini, igualando o marcador e botando o Papão de novo no jogo.

Na etapa final, porém, sem a movimentação ofensiva de Tiago Luiz, o time não teve forças para ir atrás do gol da vitória, até porque Lucas e Mailson também pararam de fustigar a zaga gaúcha.

O técnico Dado Cavalcanti voltou a demorar para fazer as trocas necessárias. Rafael Costa entrou no lugar de Lucas, mas nada aconteceu. Depois, Mailson foi substituído por Bruno Veiga, igualmente sem qualquer consequência positiva.

A única boa notícia é que, contra o bem armado Brasil, o time jogou de forma organizada, buscando sempre a aproximação e executando boas manobras de ataque. Caso mantenha essa linha de atuação pode sonhar em terminar a Série B sem correr o risco de queda.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 11) 

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