
POR GERSON NOGUEIRA
Foi uma estreia e tanto.
Não somente pelo placar tranquilo e surpreendente dentro da casa do vice-líder das eliminatórias do continente. Valeu, principalmente, pela movimentação do time e a velha ofensividade resgatada. Com o triunfo, Tite abre sua história na Seleção Brasileira da melhor maneira possível, calando seus críticos (inclusive este aqui) quanto à convocação de jogadores para o escrete.
A Seleção enfrentou 2.750 metros de altitude acima do nível do mar e um adversário tinhoso, que vem se notabilizando por ignorar a hegemonia de argentinos, brasileiros e uruguaios na América do Sul. Foi este Equador renovado e forte que sofreu seu pior revés nas eliminatórias, desabando perante um Brasil organizado e determinado a conquistar a vitória.
Nem lembrou aquela Seleção amedrontada dos primeiros confrontos válidos pelas eliminatórias, ainda sob o comando de Dunga. Foi a excessiva timidez ofensiva e um respeito exagerado por adversários mais modestos que levaram o Brasil a ficar em situação perigosa na tabela de classificação.
Gabriel Jesus, autor de dois gols e vítima do penal convertido por Neymar aos 26 minutos do segundo tempo, foi indiscutivelmente o dono da partida. Não que tenha se esmerado em lances individuais, mas pela extrema objetividade nas jogadas de área.
O gol de abertura deixou os equatorianos confusos, pois até então mantinham média pressão sobre a zaga brasileira, levando algum perigo em jogadas pelas extremas. Em desvantagem, os donos da casa partiram para tentar o empate e abriram as linhas defensivas.
Foi então que Gabriel Jesus aproveitou os caminhos para mostrar o futebol que ficou devendo no torneio olímpico, quando frustrou expectativas e chegou a ser apontado como engodo por alguns.
Aos 41 minutos, marcou o segundo gol, tocando de calcanhar para o fundo do barbante. Cinco minutos depois, recebeu bola junto à grande área e mandou um chute forte, que entrou no canto esquerdo da meta equatoriana. Outro golaço.
O placar não espelhou o equilíbrio reinante no confronto, principalmente no primeiro tempo, mas fez justiça ao desembaraço e à persistência dos brasileiros. A equipe de Tite valorizou bem a posse de bola, com Neymar exercendo um papel flutuante, e buscou sempre infiltrações na área para explorar a lentidão da defesa adversária.
No aspecto defensivo, o Brasil teve atuação impecável, permitindo poucas chances ao ataque do Equador ao longo de todo o jogo. Um reflexo natural das orientações de Tite, conhecido pelo esmero com que cuida da marcação e do posicionamento da zaga.
Além da atuação primorosa de Gabriel Jesus, a Seleção contou com o volante Casemiro, do Real Madrid, em tarde inspirada. No geral, todo o time teve bom desempenho, até mesmo o contestado Paulinho, que Tite foi buscar no futebol chinês.
Para um técnico estreante, a atuação destacada do time após pouco tempo de preparação é um tremendo cacife para enfrentar os próximos desafios, principalmente quanto à credibilidade perdida junto ao torcedor. É fato que a medalha olímpica já facilitou essa retomada, mas faltava um teste de verdade para a seleção profissional.
Além de melhorar sua posição na tabela, o Brasil pôs abaixo um antigo tabu. Nunca havia derrotado o Equador fora de casa em partidas de eliminatórias. O último triunfo em gramados equatorianos foi a goleada de 6 a 0 pela Copa América-1983.
Tite ganha tempo, tranquilidade e ânimo para desenvolver um trabalho de fôlego no comando do escrete. É só o começo, mas valeu a pena ver como o time se distribuiu em campo e perseguiu a vitória, afinal alcançada no último quarto da partida.
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Direto do blog
“O ‘elenko’ é horrível e as escalações limitadas assim como tem sido as substituições sempre tardias e equivocadas. É inadmissível a esta altura do campeonato ainda ter no elenko, jogadores do tipo do Ratinho, Celsinho e Alexandro, que graças aos céus não entrou em campo contra o Tupi.
Vejo que o Celsinho serviria bem em time de quarta divisão onde alguns adversários jogam na cadência do futebol dos anos 70, mas são raros.
Ratinho nem para banco, ontem por pouco ele não entregou ao atacante do Tupi o que seria o primeiro gol mineiro. Fraco no ataque e bisonho na defesa não entendo o porquê de mantê-lo. Coisas que só a direção poderá prestar constas no final do campeonato.
Esperando um Tupi atrás, o esquema de Dado foi totalmente desfeito com uma marcação alta e de saídas rápidas do time mineiro, e pelo contrário, os toques excessivamente laterais e para trás do time bicolor não deram o menor trabalho ao time visitante.
Sem trocadilhos mas, o entupimento de oito bolas nas redes bicolores foram demais pois o Tupi luta única e exclusivamente para fugir do rebaixamento.”
Miguel Ângelo Carvalho, cada vez mais preocupado com a campanha alviceleste na Série B
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Uma nova oportunidade de reabilitação
Confronto desta noite contra a Luverdense é daqueles jogos naturalmente encardidos, mas que podem representar a retomada do bom caminho. Apesar do bom momento vivido pelo time da casa, que tenta se estabilizar no bloco intermediário, o Papão tem chances de se reabilitar depois da catastrófica jornada em casa frente ao Tupi.
Dado Cavalcanti, que já começa a sofrer o desgaste que experimentou no começo da competição e que levou ao seu afastamento, sabe que o time não pode correr o risco de um novo tropeço. Não só pela reação da torcida, mas pela própria situação na tábua de classificação da Série B.
(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 02)