Papão treina no palco da semifinal de domingo

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O Paissandu realizou, na manhã desta quarta-feira (24), um treino técnico-tático no gramado do estádio Jornalista Edgar Proença, sob o comando do técnico Dado Cavalcanti. A prática deu ao treinador a oportunidade de testar algumas configurações de jogo e jogadas especialmente destinadas a explorar características do time do Águia, adversário na semifinal do próximo domingo, 28.

Depois do aquecimento, os jogadores se distribuíram em exercícios de posse de bola, passes e deslocamentos em espaço reduzido. Em seguida, Dado dirigiu treino tático, com direito a pausas para dicas e mudanças de posicionamento dos atletas.

Para o confronto com o Águia, a equipe deve ser a mesma que jogou contra o Tapajós: Emerson; Christian, Gilvan, Pablo e Lucas; Ricardo Capanema, Augusto Recife, Rafael Luz e Celsinho; Betinho e Fabinho Alves. (Foto: Ascom/PSC) 

No caminho novamente

(Colaboração preciosa de mestre Carlos Verçosa, via Face)

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Nestes tempos obscuros de caça
às bruxas, dedurismo premiado,
perseguição, prisão com base
em delação na falta de provas,
manipulação, suposição,
conjugação de verbos
no futuro de pretérito,
tempos de ameaças, arrogância,
conduta venal das vestais
da justiça, espetando sua espada
nas costelas da democracia

Nestes tempos obscuros
em que santos do pau oco,
arautos da moralidade
travestidos de justiceiros
contra a corrupção,
prendem antes de provar,
condenam antes de julgar
e destilam veneno e fel,
tempos autoritários
em que esses políticos togados
revelam toda sua frustração,
sua inveja e todo o rancor
acumulado em anos e anos
sem o poder do voto
e sem poder

Só me resta a indignação
e a lembrança do poema
em que Eduardo Alves da Costa
lembrou Maiakóvski um dia,
no silêncio do seu quarto,
e berrou como mau cabrito
a esses finos finórios truculentos
que invadem nosso jardim
na primeira noite e que hoje
já pisam as flores e ameaçam
matar nosso cão

NÃO PASSARÃO

eu passarinho

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NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão
de vozes,
o coração grita – MENTIRA!

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(poema dos anos 1960 – de Eduardo Alves dos Santos) 

O poder da ratoeira

POR GERSON NOGUEIRA

Nem todos os países têm colaborado como deveriam com a investigação do FBI sobre a máfia no futebol mundial, desmascarada a partir do escândalo na Fifa e em confederações nacionais. Um dos países que menos colaboram com as ações da Justiça norte-americana é justamente o Brasil, pentacampeão mundial em campo e um dos líderes em trambicagens envolvendo o futebol.

Para a quantidade de bandalheiras que envolvem dirigentes, empresários, agentes e empresas de comunicação, os organismos brasileiros de fiscalização têm sido muito econômicos nas contribuições ao FBI. Alguns aspectos precisam ser observados para que se compreenda a timidez investigativa por parte de policiais e promotores.

Desde que João Havelange assumiu o poder na Fifa, lá pelos anos 70, o Brasil passou a ser um dos grandes protagonistas do esporte das multidões, tanto pelo talento indiscutível de seus jogadores quanto pela capacidade de rapinagem de seus dirigentes.

O avanço da TV sobre o futebol se materializou com a transmissão de competições importantes e a cobrança de altas somas junto a grandes patrocinadores, ávidos por expor seus produtos para grandes plateias. Isso começou exatamente sob o reinado de Havelange.

Como a audiência dos torneios – principalmente a Copa do Mundo, a galinha dos ovos de ouro – passou a ter abrangência planetária, a Fifa se transformou em verdadeira fábrica de dinheiro, colecionando contratos milionários a cada novo evento e angariando cada vez mais influência política nos países membros.

A entidade poderia ter se conformado em ser apenas hiper lucrativa, mas resolveu ir muito além disso, beneficiando regiamente seus principais dirigentes, a partir de negócios ilícitos em larga escala ao redor do mundo.

Os clubes também fazem parte da ciranda financeira, na condição de protagonistas do espetáculo. Por conta disso, calcula-se que o mercado de atletas (entre contratações, empréstimos e transferências) movimenta hoje cerca de 4.5 bilhões de dólares/ano, sendo que 25% disso – mais de 1,1 bilhão de dólares – provém da lavagem de dinheiro.

Ao mesmo tempo, as corporações midiáticas hegemônicas em cada país passaram a ter papel importante na engrenagem, funcionando como sócias dos esquemas administrados pela Fifa.

Foi a partir dessa constatação que o FBI lançou-se à tarefa de desnudar as maracutaias praticadas pela Fifa. Começou botando a mão nos principais dirigentes – incluindo o brasileiro José Maria Marin –, por ocasião do congresso anual na Suíça e forçando o afastamento de Josef Blatter da presidência.

A partir daí, os americanos centraram esforços nas confederações nacionais e seguiu enjaulando muito peixe graúdo, incluindo o presidente da Conmebol, o secretário-geral Jerôme Valcke e o empresário brasileiro J. Hawilla, responsável por costurar todos os contratos de transmissão com a emissora líder de audiência no país.

Tudo isso e mais alguma coisa está no alentado livro que o repórter Jamil Chade está lançando, “Política, propina e futebol: como o Padrão Fifa ameaça o esporte mais popular do planeta”. Em entrevista a Luis Nassif, divulgada no site Jornal GGN, Chade revela que a obra esmiúça os escaninhos da grande operação desencadeada pelo FBI. O jornalista se especializou na cobertura da Fifa e estava em Zurique por ocasião da prisão dos chefões da máfia da bola.

O mais importante nisso tudo é que a teia de corrupção montada pela Fifa só se tornou possível pela fina sintonia entre federações nacionais e grandes grupos midiáticos, com força suficiente para travar investigadores curiosos e até políticos mais histriônicos. Um exemplo claro é a postura do ex-artilheiro Romário, hoje senador, que começou disparando para todos os lados e aos poucos sossegou o facho, principalmente quando as denúncias contra na CBF começaram a englobar certa rede de TV.

A simbiose existente entre os principais atores – e pelo imenso poder que detêm no país da Lava Jato – talvez explique a timidez das contribuições do MPF brasileiro para o trabalho do FBI. Por tudo isso, não há perspectiva de avanço. Por enquanto.

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Leão anuncia atacante de 31 anos

Depois de reforçar adversários com jogadores da base, o Remo vai aumentando seu quinhão de veteranos. Como em relação a Ítalo, Murilo, João Vítor, Yuri e Alisson, o atacante Potita é uma indicação do técnico Leston Junior.

Como quase todos os demais citados, está na faixa acima dos 30 anos, o que é sempre um aspecto preocupante tanto para a disputa do Parazão quanto para as demais competições da temporada.

Recomendado por passagens anteriores pelo Bahia e Chapecoense, Potita vem do Brusque de Santa Catarina e é meia-atacante. Deve ser o companheiro de ataque do goleador Ciro.

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Barça avança e La Pulga derruba paredão

E Lionel Messi conseguiu finalmente derrubar o último paredão. Depois de sete confrontos, o craque argentino superou o goleiro Petr Cech, do Arsenal, marcando duas vezes e encaminhando classificação às quartas de final da Liga dos Campeões.

O Arsenal até fez jogo duro no primeiro tempo, quando teve boas chances e pecou nas finalizações. Aliás, perder gol contra o Barcelona é erro que costuma custar muito caro, pois o time do trio MSN não costuma perdoar.

No segundo tempo, quando o Arsenal se insinuava e rondava a área catalã, Neymar puxou um contra-ataque fulminante e tocou para Messi fazer o primeiro gol. Depois, quase ao final, Flamini cometeu pênalti sobre La Pulga e o próprio bateu para decretar a vitória.

Para o jogo de volta, o Arsenal terá que ser quase perfeito para derrubar o favoritismo do Barça, que entrará em campo podendo até perder por 1 a 0. O time de Luis Enrique já é avassalador sem ter nenhuma vantagem. Imagine quando encara um adversário em seu campo e podendo administrar as ações.

Campeão, o Barcelona dispõe de um trio ofensivo soberbo, vivendo grande momento e aterrorizando qualquer sistema defensivo. Não é apenas o do Arsenal que tombou diante da irresistível categoria de Messi, Neymar e Suarez. Nos dias de hoje, nenhuma defesa joga de cabeça fria contra esse trio.

(Coluna publicada no Bola desta quarta-feira, 24)

Origem social parecida gera distorções no Judiciário, afirma sociólogo

POR CLARA ROMAN

A independência e o fortalecimento das instituições de controle, como Polícia Federal, Judiciário e Ministério Público, permitidas sobretudo nos 13 anos do Partido dos Trabalhadores à frente da Presidência da República, melhoraram o controle sobre as instituições. No entanto, na avaliação de Leonardo Avritzer, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a composição social semelhante dos funcionários desses poderes gera distorções.

“Ministério Público e o Judiciário querem convencer que eles são os representantes do interesse do povo. Mas isso não é real”, afirma o professor. Para Avritzer, consciente ou inconscientemente, esses funcionários representam uma classe muito restrita, e que, até por suas funções, não dá conta de responder às demandas políticas e sociais do país.

Esse fortalecimento se deu, segundo ele, por ações como a estruturação do Tribunal de Contas da União (TCU), a partir de 1992, devido à pressões de movimentos sociais que na época pediam o impeachment do ex-presidente Fernando Collor e o fortalecimento da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo o sociólogo, uma das causas das distorções ocorre pelo próprio critério de seleção para a composição desses cargos. A exigência do diploma de Direito para o Ministério Público e Judiciário acaba selecionando pessoas com um perfil parecido: jovens, de classe média, de algumas universidades específicas. Com uma origem social similar, esses funcionários têm uma visão única sobre o governo e o Estado, o que gera distorções.

Ainda que essa classe se autoproclame defensora do povo, não é ela que vai propor soluções para o país, afirma Avritzer. “A saída da crise não estará nas instituições de controle. Apresentar respostas e reconstruir o projeto democrático é papel dos políticos”, afirma ele.

“’Super’ Moro pode querer prender todo mundo. Mas isso não vai mudar os problemas estruturais que o país tem”, afirma o cientista político sobre as prisões efetuadas pela operação Lava-Jato.

Problemas estruturais esses que estão ligados ao presidencialismo de coalizão, explica o professor. O presidencialismo de coalizão, como é chamado o sistema político brasileiro, exige que o presidente eleito pela maioria popular tenha que dialogar constantemente com a Câmara dos Deputados e o Senado Federal.

O problema, afirma o cientista político, é que muitos desses deputados não têm um projeto de país, mas sim um projeto pessoal de enriquecimento próprio e para o seu partido. “O Congresso Nacional sempre esteve à direita do Executivo, mas essa distância aumentou com o PT, que está mais à esquerda”, analisa.

Avritzer, autor do livro “Impasses da Democracia no Brasil”, afirma que seu trabalho se concentrou mais no diagnóstico, e não nas soluções. Um fortalecimento do Executivo, com a entrada de funcionários bem preparados e de perfil técnico, e uma reforma política que mude as regras do financiamento de campanha podem ajudar a melhorar o que ele chamou desses ”impasses na democracia”.

Esse ano, algumas mudanças já entraram em vigor no calendário eleitoral. A presidenta Dilma Rousseff, seguindo decisão do STF, vetou no texto o financiamento privado de campanhas. O fim do financiamento privado é justamente uma bandeira histórica do PT.

Golpe judiciário já está na etapa final

POR ANDRÉ ARAÚJO, no Jornal GGN

A operação Lava Jato é essencialmente um golpe político para mudar as relações de poder na República. Hoje a pauta do Estado é ditada pelo Judiciário. A marcha do regime está na mão do fórum federal de Curitiba, com a completa cobertura das instâncias superiores. O que vai acontecer na economia e na política depende essencialmente do Judiciário, amparado pelo Ministério Público como força auxiliar. A culpa exclusiva desse completo desequilíbrio entre os poderes clássicos de um Estado é dos governos do PT.

O PT aprendeu a jogar a política  no nível das eleições, mas não assumiu a política de poder.

Corrupção em escala bem mais profunda e letal existe no México, mas lá o Estado é fortíssimo, os ratings estão excelentes, a economia vai bem. Não há nenhuma dúvida sobre quem manda no México: é o presidente, um verdadeiro imperador.

Poder é ter armas, é saber manejá-las, é saber escolher a infantaria e a força blindada. O PT não tem o conhecimento ancestral do poder, aquilo que um ACM tinha, apenas como exemplo. Para ACM a nomeação de um delegado no interior da Bahia era algo importante, uma projeção de seu poder. O PT começou a falhar quando abandonou José Dirceu em 2005, depois abandonou todos os feridos pelo caminho. Um bom exemplo é pretender expulsar Delcídio Amaral que sequer foi julgado, apenas saído de uma prisão discutível, sendo ele elemento de proa no Senado. Porque foi preso virou leproso?

É assim que pensam no PT. Onde está a virtuosa confraria de companheiros de luta? Grandes políticos mundiais foram peisioneiros em certas etapas da vida e nem por isso foram repelidos pelos seus seguidores e correligionários

Tropa que abandona soldado não tem vida longa. Erros monumentais de julgamento levaram a outros erros. Nomear Márcio Thomás Bastaos apenas porque era bom advogado criminalista levou ao erro de aceitar eleições internas por associações de procuradores, abrindo o presidente mão de um valiosíssimo pedaço de poder na PGR. Nomeações absurdas de ministros da Supremo. Não se salva a lealdade da maioria deles, quando a lealdade na Suprema Corte é algo absolutamente exigível nas maiores democracias do mundo. Um juiz não trai quem o nomeia. Roosevelt só nomeava amigos de copa e cozinha, de fins de semana em Hyde Park  para a Suprema Corte e lá deveriam agir como leais ao presidente. Era o que se esperava e em plena democracia, regime que não dispensa o jogo imemorial do poder, feito de relações de lealdade.

Como foi possível o PT errar tanto e continuar errando? O PT conhece a política, mas não sabe operar o poder.

O país já está fora do Estado de Direito há bons dois anos. Prisões abusivas e não fundamentadas ou com base em motivos aleatórios tipo “pode fugir” ou “pode atrapalhar as investigações”. Jurisdição de um país inteiro sob um juizado local como se isso fosse algo lógico. Prisões por simples suspeitas ralas de ouvir dizer o que o outro disse de um terceiro. Uma delas quase quebra um dos grandes bancos da América Latina. Como pode um Judiciário tão pouco sábio – por causa de um Cerveró se joga na fogueira um banco com 350 bilhões de reais de ativos? Não tem noção de proporção?

Na vida real e não nas apostilas há poucas empresas santas, há poucas empresas bandidas, mas há um enorme meio de campo de empresas que eventualmente cometem irregularidades até por sobrevivência. Um empresário que comete um delito circunstancial – por exemplo, não recolhe contribuições ao INSS porque a empresa está em crise financeira – não é um criminoso profissional; cometeu um delito de circunstância. Esse será o grande alvo da prisão após a decisão de  2ª instância. Não serão bandidos da pesada, o alvo de mudança anti-constitucional são os empresários, que não são criminosos de malavita, são pessoas que derrapam na vida empresarial, como um bom motorista pode às vezes derrapar.

O grande alvo da Lava Jato e das recentes decisões do Supremo não são os criminosos da frase oca “os criminosos não passarão sobre a Justiça”. André Esteves é criminoso profissional, nasceu no crime e dele vive? Claro que não. E, no entanto, a fase teve o caso dele como âncora. A perseguição da classe produtiva pelos improdutivos da economia pode fazer o Brasil desaparecer. Centenas de empresários que têm recursos estão indo embora do país, fechando empresas e empregos porque o clima de insegurança jurídica está subindo a cada dia, já não há mais garantias constitucionais.

A operação Lava Jato é um teste de limites da ilegalidade a cada fase, a tudo o Congresso e o Poder Executivo assistem como sonâmbulos, sem reagir.

E com isso o Judiciário tomou gosto por mandar e haja dinheiro para supersalários e “adicionais”. O mesmo dinheiro que juízes e procuradores dizem que “fazem falta à saude e educação” quando se referem à corrupção, mas o dinheiro dos supersalários também faz falta à saude e educação. Sai do mesmo guichê do Tesouro Nacional que na outra janelinha paga a corrupção. Triplicar salários por disfarces de “auxílios” tambem é uma forma de dilapidar dinheiro público. A farra não está só na Petrobras, tambem rasga-se dinheiro público em outras plagas.

Sob qual critério e comando a Polícia Federal destaca 300 agentes para uma operação, esta última? Quem dá a prioridade? A própria polícia? Isso não existe no planeta.

Quem estabelece as prioridades da polícia é o Poder Político, não a própria policia. Esses 300 homens não têm outra agenda a não ser pegar empresários? Não há operações dessa escala para tráfico de drogas, de armas, de madeira, de contrabando? Por que os morros do Rio têm armas tão modernas? Qual a operação destinada a acabar com essa farra das armas às vésperas de uma Olímpiada?

O Brasil está em um pântano de autoridade jamais visto. Cada pequeno ditador faz o que quiser mas há um imenso perigo institucional em dar poder a quem pode algemar e andar com armamento de guerra e máscara de degolador do ISIS para prender em casa empresários idosos. Usarão esse armamento pesado  e uniforme para fazer um rastreio de armas no complexo do Alemão?

O golpe midiático-judiciário-policial já está na etapa final, a prudência indica que certos ocupantes de palácios devem já acomodar a bagagem porque quem já está na etapa 23ª  está chegando aos finalmentes, depois de fazer chacota de “golpe paraguaio”. Lá o golpe foi elegante, Lugo não foi preso e hoje é senador. Aqui a coisa vai lembrar Robespierre.

Brasil é o país que menos colabora com o FBI nas investigações contra a máfia do futebol

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POR LUIS NASSIF, no Jornal GGN

Nos anos 70 a TV a cabo começou a ganhar força, assim como as transmissões esportivas internacionais. As redes de TVs tornam-se globais. E os eventos esportivos ganharam dimensão internacional. Ao mesmo tempo, a inclusão da África e da Ásia no negócio futebol ampliaram de forma inédita seu alcance.

É nesse novo quadro tecnológico que o futebol se torna um negócio bilionário. Na hora certa, no lugar certo, o cartola brasileiro João Havelange ajudou a dar forma final à FIFA. Desde os anos 20 o esporte já se constituía nos eventos de maior audiência do rádio. Com os avanços tecnológicos, os grandes espetáculos esportivos passaram a dispor de uma audiência global. E, dentre todos os esportes, nenhum chegou perto da popularidade e abrangência do futebol.

Em pouco tempo monta-se a rede global, com os seguintes personagens:

1.     A FIFA.

2.     As confederações

3.     Os clubes

4.     Os grupos de mídia hegemônicos em cada país filiado.

A parte econômico-financeira é composta do patrocínio aos torneios globais, torneios regionais e campeonatos nacionais. E os eventos os financeiros ocorrem na compra de direitos de transmissão para cada um dos eventos e nos patrocínios, e no mercado de jogadores.

A partir desses elementos teceram-se as relações de influência que acabaram resultando na organização criminosa desbaratada pelo FBI.

A base do poder na FIFA são as confederações nacionais.

Para garantir a perpetuidade do poder, há uma aliança simbiótica entre os dirigentes da FIFA, os grupos de mídia nacionais e os dirigentes das Confederações.

Em parceria com a FIFA os grupos de mídia conseguiram a exclusividade para os grandes eventos, que garantem os grandes patrocínios. E conseguiram os patrocínios para os eventos regionais e nacionais. O dinheiro captado serviu para irrigar os clubes e garantir a perpetuidade política dos grupos que controlam as confederações.

Por seu lado, a parceria sempre se dá com os grupos de mídia politicamente mais influentes. E garante a blindagem dos dirigentes das confederações – não apenas perante os governos nacionais como perante os sistemas de investigação locais.

Esse modelo criou tal blindagem político-policial que acabou transbordando para outras formas de ação de crime organizado, como a lavagem de dinheiro através do superfaturamento dos contratos e do comércio de jogadores.

Segundo dados da OCDE, o mercado de jogadores movimenta US$ 4 bilhões/ano, dos quais US$ 1 bilhão proveniente de lavagem de dinheiro. Parte relevante do dinheiro lavado vem dos subornos pagos por emissoras de televisão e patrocinadores aos dirigentes esportivos.

A internacionalização do futebol

A ampliação da globalização acabou introduzindo novos elementos nessa equação. O primeiro, o da criação da cooperação internacional para o combate ao crime organizado, que ganhou ênfase após os atentados das torres gêmeas.

Como as organizações criminosas atuavam em nível global, havia a necessidade de uma cooperação em nível internacional. E aí sobressaiu a maior competência dos órgãos de investigação norte-americanos, especialmente devido à integração entre o FBI e as forças de segurança, conforme anotou Jamil Chade, correspondente do Estadão em Genebra, em entrevista ao GGN, sobre o seu livro “Política, propina e futebol: Como o PADRÃO FIFA ameaça o esporte mais popular do planeta”.

E aí entraram em cena os interesses geopolíticos norte-americanos, a noção histórica de interesse nacional amarrado aos interesses dos grandes grupos que se internacionalizam. Um dos últimos mercados nacionais protegidos era o das comunicações. E, nesse mercado fechado, as transmissões de partidas de futebol sempre foram um fator crítico para a hegemonia das emissoras. Basta conferir a imensa luta da Record para tentar romper com o monopólio das transmissões da Globo.

A entrada do FBI nas investigações coincide com a ofensiva internacionalizante dos grandes grupos de mídia norte-americanos e, também – segundo Chade – com as manifestações de junho de 2013 no Brasil, que passaram a percepção de que a opinião pública nacional não mais aceitaria passivamente a corrupção dos dirigentes esportivos.

Quando o FBI entrou na parada, o jogo passou a virar. A imensa organização criminosa começou a ruir. E, no rastro desse desmonte, teve início a invasão final dos grupos de mídia norte-americanos sobre os superprotegidos mercados nacionais de mídia. Segundo Chade, empresas como a Time Warner, Disney, ESPN montaram estratégias inicialmente fechando contratos com países e clubes menores, de maneira a cercar os esquemas dos clubes maiores, que dominavam as confederações.

Para se ter uma ideia do impacto do fim do monopólio das transmissões esportivas, analise-se o mercado britânico. Com a pulverização dos canais pagos, o único evento que consegue chegar em 15 pontos de audiência são as transmissões de partidas de futebol. O restante não passa de 5 pontos.

O papel da Globo na corrupção da Fifa

O imenso poder político desses grupos garantirá algum tempo a mais de blindagem, antes que a longa mão do FBI chegue até aqui. Em alguns casos, o que garante é a aliança com os governos nacionais.

Segundo Chade, a primeira reação dos dirigentes teria sido lamentar que as prisões tivessem ocorrido na Suíça. “Se isso acontecesse na América Latina, já tínhamos resolvido tudo e estaríamos em casa”, comentou um argentino, membro da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). “Mas eles não estavam no Brasil nem em outra república latino-americana. As prisões ocorreram justamente na Suíça, país que passou a colaborar de forma estreita com os EUA”, continua Chade.

No caso brasileiro, a Globo estreitou relações com o MPF, tornando-se a principal âncora da Lava Jato. No seu horizonte estratégico, certamente estavam os problemas que vinham pela frente. As principais operações identificadas foram compra de votos para a Copa de 1998, para a Copa de 2010 e a compra de apoio para a eleição de Blatter em 2011. E, importante, “a realização de acordos para a Taça Libertadores, a Copa América, a Copa do Brasil e as suspeitas sobre os Mundiais de 2018 e 2022”.

Continua o livro:

“De uma maneira constante, segundo a Justiça, a propina teria sido paga a Teixeira e Havelange para que influenciassem a Fifa na decisão de quem ficaria com os direitos de transmissão das Copas de 2002 e 2006, incluindo o mercado brasileiro”.

Continua o livro: “Uma rede de televisão no Brasil é citada como uma das envolvidas no suborno, ainda que seu nome tenha sido mantido em sigilo no documento público, uma vez que o processo não era contra ela. Naqueles Mundiais, os direitos de transmissão eram da Rede Globo. Para os suíços, o serviço dos dois cartolas teria sido comprado por essa e outras empresas que queriam manter contratos e relações com a Fifa. O documento revela uma movimentação milionária nas contas de Teixeira e Havelange. Ambos receberam subornos no valor total de pelo menos 21 milhões de francos suíços, depositados em contas abertas em paraísos fiscais. Os pagamentos ocorreram entre 1992 e 2004, e o tribunal decidiu processar os brasileiros por “atos criminosos em detrimento da Fifa”.

Prossegue a denúncia que “subornos compravam influência na Fifa e garantia de contratos no Brasil”. Esse esquema começou a operar em 1970, segundo o procurador Thomas Hildbrand, quando Havelange assumiu o poder. Testemunhas ouvidas por ele sustentaram que “o dinheiro vinha, em grande parte, de empresas que pagaram pela transmissão das imagens das Copas de 2002 e 2006. No caso do Brasil, o valor do contrato era de US$ 220 milhões. Outros contratos chegavam a US$ 750 milhões”.

Segundo eles, Teixeira e Havelange agiram com tal impunidade porque, por conta da “cultura” brasileira, as propinas equivaliam a suplementação de verbas. “Seria essa a suposta “cultura” dos brasileiros”, constata Chade. “Mais do que um absurdo e uma ofensa a milhões de pessoas, a estratégia da defesa revela, no fundo, a imagem que a entidade tem do país e de seus representantes. Essa imagem, de tão enraizada, foi usada até mesmo diante da Justiça”.

O melhor exemplo da forma como a FIFA agia foi na imposição do estádio de Brasília.

“Poucos dias após a final da Copa do Mundo, o estádio mais caro do Brasil e o terceiro mais caro do mundo recebeu outro momento de decisão: cem casais realizaram suas festas de bodas no palco que havia servido ao Mundial. O evento chegou a ser transmitido pela TV Globo, que pagou parte dos direitos da Copa e apagou qualquer tipo de crítica ao evento. Na reportagem, a emissora insistia que o casamento coletivo tinha sido uma ‘grande emoção’ e que o estádio havia criado novas oportunidades. Com apenas dois times e ambos na quarta divisão do futebol brasileiro Brasiliense e Luziânia , o Distrito Federal passou a ser a imagem do escândalo da Copa do Mundo e de seu legado inexistente. Meses depois do final do Mundial, a falta de jogos no estádio Mané Garrincha levou o governo do DF a transferir parte de sua burocracia para o local e ocupou as salas com suas diferentes secretarias. Do lado de fora, o estacionamento feito para as torcidas se transformou em garagem para os ônibus da cidade. Um ano depois da Copa, o rombo no estádio era de mais de R$ 3,5 milhões”.

Sobre a corrupção cultural

O combate à corrupção exige mudança de padrões culturais. Não se pode aceitar passivamente conviver com empresas sobre as quais pairam suspeitas de atividades criminosas. Afinal, como declarou o procurador Deltan Dallagnol “o nosso parâmetro para lidar com a corrupção deve ser o crime de homicídio. Quem rouba milhões, mata milhões”. A declaração foi dada na Globonews.

Segundo ele, o simples combate às pessoas corruptas não vai fazer com que a corrupção acabe no Brasil. “Nós precisamos mudar o sistema”, declarou no Programa do Jô. O mesmo bordão foi brandido pelo procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, para criticar a Lei de Leniência: “Infelizmente, a despeito de todas as obrigações internacionais assumidas pelo Brasil, as primeiras e únicas tentativas do Governo após a publicação da Lei Anticorrupção foram sempre no sentido de contorná-la, de desrespeitar o mínimo ético imposto por essa legislação”.

Carlos Fernando é vice-secretário de cooperação internacional do MPF, setor incumbido de buscar apoio nas investigações internacionais e de fornecer elementos solicitados pelos parceiros. Segundo Chade, o Brasil tem sido o país latino-americano que menos atendeu aos pedidos do FBI até agora.