Até apresentadores da Globo estranham corte na transmissão do desfile da Vila Isabel

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POR MAURICIO STYCER, no UOL

A Globo começou a transmissão dos desfiles do segundo dia do grupo Especial do Rio por volta das 22h45 de segunda-feira (08), quando a Vila Isabel ainda passava pelo Sambódromo. A situação confundiu os narradores da emissora, Luis Roberto e Fátima Bernardes, já que eles se viram impedidos de descrever o final do desfile da escola de Martinho da Vila.

A abertura com a Vila Isabel passou ao vivo somente pelo portal G1, mas sua apresentação acabou cerca de 20 minutos antes do fim, com ainda dois carros por passar.

Num audio que vazou para os espectadores, Luis Roberto pergunta: “Faltam duas alegorias. Isso não vai ser narrado pra Globo? Pro compacto?” A resposta não é ouvida, mas possivelmente foi “não” já que Fátima observa: “Nossa, se o compacto ficar sem esse final vai ficar muito estranho.”

Como tem feito já há alguns anos, por causa da queda de audiência, a Globo dá início às transmissões do Carnaval com o desfile já em andamento e exibe, ao final, um compacto com a apresentação da primeira escola. Este ano, a emissora cogitou não mostrar as duas primeiras escolas de cada noite, mas acabou recuando.

Estácio de Sá (domingo) e Vila Isabel (nesta segunda) foram as escolas prejudicadas em 2016.

Atualizado às 10h30: Já na manhã desta terça-feira, a Globo exibiu um compacto de cerca de 45 minutos do desfile da Vila Isabel, encerrado abruptamente por Luis Roberto com uma imagem da atriz Aghata Moreira, logo depois da passagem da ala Teatro dos Mamelungos — sem mostrar o final da escola. Como previu Fátima, ficou estranho.

Atualização do blog: no Pará, a transmissão do desfile oficial de segunda no Rio só começou quando o Salgueiro (segunda escola da noite) já estava há 50 minutos na avenida. No caso da Vila Isabel, o enredo homenageava Miguel Arraes, político pernambucano que foi um dos grandes nomes da oposição de esquerda ao regime militar de 1964. 

5 comentários em “Até apresentadores da Globo estranham corte na transmissão do desfile da Vila Isabel

  1. Na nossa terra, onde a memória cabana deveria ser valorizada pelo povo, e é de certo tão rejeitada pela elite, que exigiu a troca da “aldeia cabana” para “aldeia amazônica”, a identidade cultural e histórica cabana é reprimida por essa elite que teme o fortalecimento cultural e identitário do povo com as próprias raízes. Nessa nossa terra, a avenida 25 de setembro, que marca a participação histórica (e discutível) da PM paraense contra Antônio Conselheiro, em Canudos, teve a denominação alterada para Rômulo Maiorana, cuja história significa nada para o povo, a não ser a reiteração do discurso liberal à moda tupiniquim. A rejeição da mídia aos temas caros ao socialismo é apenas a realização de veto, ou censura, contra práticas e políticas mais à esquerda. Isso é vergonhoso.

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  2. O que você afirma, Ferdinando, é a realização da censura às ideias de esquerda. Compreensivelmente, o lumpemproletariado, aquela fração desorganizada do proletariado e desprovida da consciência política proletária, muitas vezes miserável e sem qualificação técnica para o trabalho, é a mais suscetível a servir aos interesses burgueses, pela compra de votos, pelo cabresto, pela propaganda político-ideológica. É por isso que a maioria da população, colocada no lumpemproletariado pela propaganda enganosa da direita, do discurso do mérito e do direito divino, repete o discurso liberal sem se dar conta do prejuízo para si e de si. É dizer, a ausência do Estado na vida cotidiana é tida como normal; que os políticos corruptos são a normalidade; e que não adianta tentar mudar, porque o conformismo impede iniciativas populares de mudança de paradigma.

    Uma mudança que sugeriria à legislação brasileira é a limitação de reeleições para apenas uma para todo e qualquer cargo de representação, seja no executivo, seja no legislativo. Por exemplo, um vereador eleito, só poderia ser reeleito apenas uma vez, independente de os dois mandatos serem consecutivos ou não. Não é possível que se defenda um discurso de alternância apenas para cargos do executivo, mas, via de regra, todo posto de representação deveria obedecer a uma regra simples como esta, porque vemos políticos se perpetuarem nas câmaras, assembleias e congresso nacional. Esses eleitos e reeleitos para três e quatro mandatos, ou mais até em alguns casos, são tão culpados pela corrupção quanto os chefes do executivo, porque não têm disposição para investigar correligionários, porque não querem ser investigados. A ampliação da limitação de reeleições para o legislativo teria um efeito benéfico, penso, para a democracia.

    Não adianta defender uma posição sem argumentos e sem propor alternativas, apenas maldizendo o contrário, ainda mais quando no caso em tela há um político de importância histórica para o seu Estado, como Miguel Arraes; mesmo porque no samba, e na cultura em geral, não se trata de votos, mas de consciência e conhecimento.

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  3. É a sua opinião nada surpreendente, caro Lopes. Não preciso escrever tantas linhas para afirmar que Miguel Arraes foi só mais um político em época diferente.

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