A força dos emergentes

POR GERSON NOGUEIRA

O Parazão começa neste fim de semana, trazendo as expectativas iniciais de uma temporada que pode ser bastante lucrativa para o futebol paraense, sob todos os pontos de vista. Um campeonato que estabelece com clareza o confronto entre capital e interior. De um lado do ringue, os dois grandes de Belém. Do outro, oito representantes interioranos, dos quais pelo menos cinco com chances concretas de fazer boa figura.

Será uma batalha interessante de ver, principalmente no turno, quando as forças estão bem mais parelhas. Com reforços que ainda estarão se adaptando ao clima e aos gramados, a dupla Re-Pa deve enfrentar dificuldades na primeira metade da disputa. No returno, tudo tende a favorecer o maior entrosamento dos times de Belém, que levam a vantagem de contar com elencos mais numerosos e homogêneos.

De todo modo, o Parazão deixou de ser uma competição de final previsível, como ocorria até 2010. Ao longo de décadas, Leão e Papão se revezavam nas conquistas, dando pequenas brechas para a Tuna, que volta e meia beliscava um título.

Depois que a competição se tornou estadualizada e Independente e Cametá derrubaram o muro de Belém, a competição continuou deficitária, mas adquiriu um perfil mais atraente.

Os emergentes perderam o respeito e passaram a arrancar resultados dentro da capital enfrentando. Sem recear a força das torcidas da dupla Re-Pa, equilibraram de vez o confronto e hoje ninguém pode afirmar que exista um favorito absoluto ao título.

O Papão desponta como o time mais preparado para a refrega. Manteve o técnico Dado Cavalcanti e contratou muito (18 jogadores). Conta ainda com remanescentes da campanha na Série B do ano passado. O investimento revela o grau de importância que o clube dá ao campeonato, que não vence há duas temporadas.

Com aquisições mais modestas, o Remo vem em segundo lugar no grid. A principal novidade está no comando técnico: o mineiro Leston Junior estreia no Parazão sob o olhar ainda desconfiado do torcedor azulino e correndo os riscos que o torneio costuma oferecer a treinadores forasteiros.

Dos interioranos, cinco se destacam: Independente, Cametá, Tapajós, São Francisco e Águia. Pelas boas campanhas recentes dos quatro primeiros e o histórico do clube marabaense, o grupo tem potencial para criar muitos problemas para os dois rivais da capital.

É bom lembrar que, apesar do triunfo do Remo em 2015, Independente e Parauapebas se posicionaram logo atrás, reservando ao Papão um incômodo quarto lugar.

Apesar de alertados para a evolução dos times do interior, Leão e Papão costumam facilitar em alguns momentos da disputa, principalmente quando se envolvem com competições paralelas – Copa do Brasil e Copa Verde neste ano. E é justamente aí que mora o perigo.

Logo na estreia, hoje, diante do Águia no Mangueirão, o Remo deve sentir na pele o grau de dificuldades que encontrará na caminhada em busca do tri. Sem esquecer que no ano passado, também com um técnico importado (Zé Teodoro), o Leão foi surpreendido pelo franco-atirador Parauapebas. É bom não facilitar.

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Incrível! A Primeira Liga pode dar certo

Bem ao contrário do que se imaginava, a Liga Sul-Minas-Rio pode se consolidar como um movimento de libertação dos clubes brasileiros. Ainda é algo em gestação, mas a causa tende a crescer em volume e significado. Os clubes envolvidos mostraram musculatura política ao bancar a competição mesmo depois de uma portaria extemporânea produzida pela CBF, sem a assinatura do presidente em exercício, coronel Antonio Carlos Nunes.

Depois de superar esse embate inicial, a Primeira Liga tem tudo para ganhar consistência e arrebanhar mais clubes. A ausência dos paulistas é até agora o principal ponto de vulnerabilidade, mas já há ensaio de participação de Corinthians e Palmeiras em 2017. Não por acaso, na sexta-feira, a CBF avisou que “apoia” a iniciativa, comprometendo-se a incluir o torneio no calendário nacional.

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Papão obtém atestado de boa conduta 

Na Assembleia Geral Ordinária do Papão, na última sexta-feira, o presidente do Conselho Deliberativo, Ricardo Gluck Paul, informou que o clube obteve o certificado de regularidade perante o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O documento é um atestado de boa conduta.

Fato inédito na história alviceleste, a certificação junto ao FGTS comprova o acerto e a seriedade do grupo Novos Rumos, que assumiu o poder há três anos com a eleição de Vandick Lima. A proposta era de colocar o Papão no trilho e as atitudes comprovam isso.

Prometeu e está cumprindo.

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Luz acesa e CT na mão

No Remo, além de mandar religar a energia no ginásio Serra Freire, André Cavalcante começa a cumprir metas de campanha. O ato mais ousado até aqui é a parceria encaminhada com um empresário dono de um complexo esportivo em Águas Lindas, que dispõe de nove campos de futebol, quadras, academia, salas para o departamento médico e piscinas.

O espaço será usado como centro de treinamento do futebol profissional e das divisões de base a partir de março, quando o estádio Evandro Almeida já estará sob reforma. Como os estatutos do clube não permitem um contrato maior que o mandato do presidente, o acordo terá duração de nove meses.

A vantagem é que a área já está semi-pronta, permitindo que o elenco de futebol possa se preparar adequadamente para as quatro competições agendadas para 2016 – Parazão, Copa do Brasi, Copa Verde e Brasileiro da Série C. Pela primeira vez, em muito tempo, o Remo pode dizer que tem um CT para chamar de seu – mesmo que sob empréstimo.

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Bola na Torre

Sob o comando de Guilherme Guerreiro, a bancada do programa terá Valmir Rodrigues, Giuseppe Tommaso e este escriba de Baião. Em debate, a rodada inicial do Campeonato Paraense. O programa começa logo depois do Pânico, por volta de 00h10.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 31)

O passado é uma parada…

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Muhammad Ali nocauteia Sonny Liston em 2 minutos e 8 segundos, conquistando o cinturão dos pesos-pesados, em Lewiston, Maine (EUA), 1965.

Isto não é jornalismo

POR MINO CARTA, na CartaCapital

O comportamento da mídia nativa é o sintoma mais preciso da decadência do Brasil

Incomodavam-me, em outros tempos, os sorrisos do sambista e do futebolista. Edulcorados pela condescendência de quem se crê habilitado à arrogância. Superior, com um toque de irônica tolerância. Ou, por outra: um sorriso vaidoso e gabola.

Agora me pergunto se ainda existem sambistas e futebolistas capazes daquele sorriso. Foi, aos meus olhos, por muito tempo, o sinal de desforra em relação ao resto do mundo, a afirmação de uma vantagem tida como indiscutível. Incomodou-me, explico, considerar que a vantagem do Brasil, enorme, está nos favores recebidos da natureza e atirados ao lixo pela chamada elite, que desmandou impunemente.

Quanto ao sambista e ao futebolista, não estavam ali por acaso. Achavam-se os tais, e os senhores batiam palmas. Enxergavam neles os melhores intérpretes do País e no Carnaval uma festa para deslumbrar o mundo.

O Brasil tinha outros méritos. Escritores, artistas, pensadores, respeitabilíssimos. Até políticos. Ocorre-me recordar a programação do quarto centenário de São Paulo, em 1954, representativa de uma metrópole de pouco mais de 2 milhões de habitantes e equipada para realizar um evento que durou o ano inteiro sem perder o brilho.

Lembro momentos extraordinários, a partir da presença de telas de Caravaggio em uma exposição do barroco italiano apresentada no Ibirapuera recém-inaugurado, até um festival de cinema com a participação de delegações dos principais países produtores.

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A passar pela visita de William Faulkner disposto a trocar ideias com a inteligência nativa. Não prejudicaram a importância da presença do grande escritor noitadas em companhia de Errol Flynn encerradas ao menos uma vez pelo desabamento do primeiro Robin Hood de Hollywood na calçada do Hotel Esplanada.

A imprensa servia à casa-grande, mas nela militavam profissionais de muita qualidade, nem sempre para relatar a verdade factual, habilitados, contudo, a lidar desenvoltos com o vernáculo. Outra São Paulo, outro Brasil.

Este dos dias de hoje está nos antípodas, é o oposto daquele. A despeito da irritação que então me causava o sorriso do futebolista e do sambista, agora lamento a sua falta, tratava-se de titulares de talentos que se perderam.

Vivemos tempos de incompetência desbordante, de irresponsabilidade, de irracionalidade. De decadência moral, de descalabro crescente. Falei em 1954: foi também o ano do suicídio de Getúlio Vargas, alvejado pelo ataque reacionário urdido contra quem dava os primeiros passos de uma industrialização capaz de gerar proletariado, ou seja, cidadãos conscientes de sua força, finalmente egressos da senzala.

Não cabe, porém, comparar Carlos Lacerda com os golpistas atuais, alojados na mídia, grilos falantes dos barões, a serviço do ódio de classe. Lacerda foi mestre na categoria vilão, excelente de fala e de escrita.

Os atuais tribunos de uma pretensa, grotesca aristocracia, são pobres-diabos a naufragar na mediocridade. Muitos deles, como Lacerda, começaram na vida adulta a se dizerem de esquerda, tal a única semelhança. Do meu lado, sempre temi quem parte da esquerda para acabar à direita.

Os sintomas do desvario reinante multiplicam-se, dia a dia. Alguns me chamam atenção. Leio, debaixo de títulos retumbantes de primeira página, que o ex-ministro Gilberto Carvalho admitiu ter recebido certo lobista.

Veicula-se a notícia como revelação estarrecedora, e só nas pregas do texto informa-se que Carvalho convidou o visitante a procurar outra freguesia. De todo modo, vale perguntar: quantos lobistas passam por gabinetes ministeriais ao praticar simplesmente seu mister? Mesmo porque, como diria aquela personagem de Chico Anysio, advogado advoga, médico medica, lobista faz lobby.

Outro indício, ainda mais grave, está na desesperada, obsessiva busca de envolver Lula em alguma mazela, qualquer uma serve. Tanto esforço é fenômeno único na história contemporânea de países civilizados e democráticos. Não é difícil entender que a casa-grande está apavorada com a possibilidade do retorno de Lula à Presidência em 2018, mesmo o mundo mineral percebe.

Mas até onde vai a prepotência insana, ao desenrolar o enredo de um apartamento triplex à beira-mar que Lula não comprou? A quem interessa a história de um imóvel anônimo? Que tal falarmos dos iates, dos jatinhos, das fazendas, dos Rolls-Royce que o ex-presidente não possui?

Este não é jornalismo. Falta o respeito à verdade factual e tudo é servido sob forma de acusação em falas e textos elaborados com transparente má-fé. Na forma e no conteúdo, a mídia nativa age como partido político.

Rock na madrugada – Eric Clapton/BB King, The Thrill Is Gone