O mistério do perna-de-pau

Por Gerson Nogueira

Quando a presença do incrível Hulk no time de Felipão é cada vez mais questionada, cabe recorrer aos compêndios para entender esse estranho encanto que os bondes despertam em técnicos brasileiros. A rigor, toda Seleção Brasileira que se preze sempre tem um para chamar de seu.

Até as seleções imortais, dos tempos felizes da superpopulação de craques, não abriam mão de um perna-de-pau simpático entre os titulares. Na era de ouro, em 1958 e 1962, havia o pernambucano Vavá, o Peito-de-Aço, primeiro centroavante de estilo tanque da história do nosso futebol a se consagrar mundialmente.

Vavá destoava naquela orquestra afinada, repleta de virtuoses – Pelé, Nilton Santos, Didi e Mané –, mas jamais negou fogo. Fazia o trabalho sujo, encarregando-se de marcar os gols feios, batendo de canela e até de carrinho. Beneficiava-se, é claro, da excelência técnica de seus parceiros de equipe.

bol_qua_190613_15.psEm 1970, a Seleção era tão estrelada contra as primeiras campeãs. Além de Pelé, pontificavam Tostão, Gerson, Rivelino, Clodoaldo, Jairzinho e Carlos Alberto Torres, mas o time reservava espaço para Brito – e Fontana, um reserva ainda mais casca-grossa que o titular.

Até mesmo a celebrada seleção de 1982 incluía um emérito perna-de-pau entre artistas da bola. Serginho Chulapa quase não é citado, mas era o centroavante titular daquele timaço montado por mestre Telê. Era o patinho feio de um elenco estelar, que tinha Zico, Sócrates, Junior, Falcão, Éder, Leandro e Cerezo.

Na seleção de Parreira, em 1994, desfilavam craques como Romário e Bebeto, mas Dunga liderava a ala dos brucutus, tão importantes quando os atacantes na conquista do tetracampeonato. Aliás, poucas vezes um título mundial dependeu tanto do esforço da legião dos botinudos.

O próprio Felipão capitulou para os grossos na conquista do penta em 2002. O time dependia da categoria decisiva de Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos e Ronaldinho Gaúcho, mas não diminuía a importância operária de Cafu, Anderson Polga e Kléberson.

Hulk está para o time de 2013 como Chulapa estava para a cultuada seleção de Telê. Seu estilo é chucro, baseado na correria e na força bruta. Como Serginho em 2002, até agora não provou utilidade para o esquema montado. Aliás, há um ano, na Olimpíada de Londres, foi um dos responsáveis pelo fiasco do time dirigido por Mano Menezes.

Nem assim perdeu espaço no escrete. Nas entrevistas, Felipão sublinha tanto a importância do jogador que passa a impressão de que seu time é Hulk e mais dez. Curiosamente, apesar de todas as críticas e até vaias, Hulk é tão titular quanto Neymar e Tiago Silva. Tem vaga mais assegurada na equipe principal do que Oscar, Fred e Marcelo. Não fez um gol até agora, não consegue matar uma bola direito, mas botou o jovem Lucas no banco.

É quase, por assim dizer, um fenômeno. Técnicos têm manias e adoram fazer pirraça, principalmente quando percebem que um jogador é mais alvejado pela torcida. Felipão parece ter comprado a briga por Hulk. Quanto mais vaiam, mais ele prestigia o atacante.

Nesse ritmo, arrisco dizer que o capricho do técnico vai fazer de Hulk uma peça sempre obrigatória na Seleção. Não importa. Seja qual for a teoria que Felipão invente para justificar sua escalação, Hulk é um legítimo representante da dinastia dos brucutus.

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Espaço para os sábios velhotes

Enquanto Andrea Pirlo esbanjava técnica, clarividência e maestria no gramado do novo Maracanã, domingo passado, fiquei cá com meus botões pensando o que faz do futebol um esporte tão generoso em relação a certos craques. Assim como Clarence Seedorf, Pirlo passou pelo Milan e cultiva um gosto refinado pelo passe. É tão dedicado a esse fundamento que costuma acertar todos, tanto os curtos quanto os mais esticados.

Ainda como Seedorf, ele sabe como ninguém distribuir o jogo e localizar companheiros bem posicionados entre os beques. Aparece na área e até se arrisca como meia-atacante, embora seja rigorosamente um volante de origem. Para os padrões brasileiros, Pirlo é quase um meia-armador. Aliás, atua na faixa onde os técnicos brasileiros costumam prender seus armadores.

No dinâmico e veloz futebol europeu, Pirlo faz o que todo fã de futebol aprecia. Valoriza a posse de bola, trata-a com enlevo e é generoso na entrega. Jamais distribui passes quebrados ou lançamentos tortos. É quase um ourives na arte de tratar bem a bola. Seedorf, tão veterano quanto, revela o mesmo prazer estético pelo jogo. E o mundo agradece a cada apresentação de ambos, lamentando que a aposentadoria esteja próxima.

No Brasil, alguns velhotes têm o mesmíssimo perfil de Pirlo e Seedorf. Zé Roberto, do Grêmio, e Alex, do Coritiba, estão jogando o fino da bola. O meia, principalmente, tem sido um dos destaques da fase inicial do Brasileiro. Em tempos de ausência de vida inteligente na meia-cancha nacional é quase um luxo fechar os olhos para tantos talentos.

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Um adversário sempre encardido

O México não assusta ninguém, mas costuma criar problemas quando vê o Brasil pela frente. Curioso perfil tem o escrete mexicano. Desde que sediou duas Copas, sua torcida passou a achar sua seleção é uma das melhores do mundo. Chegam aos mundiais sempre muito entusiasmados, apostando alto e acabam saindo nas oitavas ou quartas de finais.

Não vai ser diferente nesta Copa das Confederações, mas Felipão pode ter dissabores hoje se não vigiar bem as laterais do campo, por onde Guardado e Chicharito Hernandéz sabem se infiltrar em velocidade. Em Londres, há um ano, Mano Menezes pagou um alto preço por não acreditar na correria dos mexicanos.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 19)

60 comentários em “O mistério do perna-de-pau

  1. – Penso, Gerson e amigos, que o Hulk, até seja um bom jogador… O grande problema é que temos jogadores melhores que ele por aqui.. Aí, fica difícil engolir sua convocação, quanto mais sua escalação como titular… Penso que Ronaldinho faria melhor que ele..

    – Zé Roberto, nem tanto, mas o Alex encaixaria como uma luva nesse meio campo da Seleção. Vale lembrar que Felipão conhece ele, e muito bem…

    – Uma coisa é certa, se o Brasil não conseguir sua classificação, hoje, já era…

    É a minha opinião.

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    1. Lucas, que é banco, seria uma opção muito mais produtiva para tornar o time ofensivo. É simples: jogador rápido e habilidoso, Lucas é muito mais difícil de ser marcado.

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  2. O Hulk está para a seleção assim como o Neymala está para garoto propaganda da rede globo. Com toda sua truculência, o Hulk tem até se tornado mais efetivo, daquilo que se espera, do que o Neymala, que não joga para o grupo e sim para a platéia. O cara fez um gol, um único gol e mais nada durante todo o jogo, e foi a babação da semana.

    Te dizer!

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  3. Gostei Gerson Nogueira, fizestes um belissimo comentário sobre a seleção brasileira, em relação aos pernas de pau que conseguiram milagrosamente ganharem espaço na seleção e convocados para a copa do mundo, mesmo contra a vontade de torcedores e da imprensa nacional. Nesse caso do Hulk, acrescento que no timaço da copa 82, perdemos a copa por uma tragédia do futebol, pois o titulo seria merecido, mas devemos lembrar que o per de pau serginho chulapa, alem de não poder ajudar porque era perna de pau, o cara ainda atrapalhou ao tirar dos pés do zico ou da cabeça do zico um gol certo, dando uma de zagueiro da italia, lembras??? Esse gol perdido poderia levar o Brasil á decisaõ e ao titulo. No caso do Hulk, se não ajudar espero que não atrapalhe, porque perna de pau tem muito disso.

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  4. Naquele fatidico lance, a bola foi cruzada pela esquerda do goleiro Dino zoff, passou por toda a zaga italiana que falhou, e a bola iria sobrar livre, livre, livre para serginho ou zico mandar para o gol, sendo que zico estava melhor posicionado e faria concerteza o o gol sem nenhuma dificuldade e sem chance de defesa para zoff, mas chilapa se antecipou, e aí não lembro se chutou ou cabeceou no canto esquerdo de zoff, para fora, passando a bola rente ao poste esquerdo. Zico quando viu aquele lance balancou a cabeça negativamente e depois baixou, talvez prevendo nosso eliminação. o jogo estava 3×2 para a italia

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  5. em relação e neymala concordo que o camarada está so jogando com a fama mas futebol neca neca. mas quanto a hulk dizer que é ou poderá ser decisivo, so se for contra nós igual como fez na decisão olimpica ou igual como foi “decisivo”o chulapa na copa 82, e olha que o chulapa no santos era um goleador

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  6. Falando de Hulk… É um atleta dedicado taticamente e empenhado em prol do coletivo, mas um jogador tecnicamente mediano. Quem tem um Lucas não pode prescindir do seu talento em campo. Há que se encontrar lugar pra ele de alguma forma na onzena principal. E hoje, dentro da proposta tática de Felipão, seria no lugar de Hulk.

    Muitos cantam em verso e prosa a carreira de Hulk no Velho Mundo, mas calma aí… Hulk atuou pelo Porto e hoje joga no Zenit, ou seja, fez nome em duas ligas que pertencem ao segundo escalão do futebol europeu. Basta assistir aos jogos e constatar que até alguns times de série B do Brasileirão seriam competitivos na Liga de Sagres.

    Prova disso, é o enorme êxodo de jogadores tupiniquins desconhecidos para o futebol português que fazem carreira, nome e pé-de-meia na terra de Dom João VI. Viram até mesmo ídolos… vide, o próprio Hulk…

    Até acho que a lugar pra ele no elenco, como uma opção no banco para defesas fortemente fechadas em que de repente o potente chute de fora da área possa servir como arma, mas fora isso, é mais um entre muitos casos de operários da bola, como o Gerson bem colocou, presentes na Seleção Canarinho, como Vavá, Brito, Serginho, Cafu, etc

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  7. Acho que o problema aqui é de duas ordens. A primeira é realmente o deserto de craques de que se ressente o Brasil. O segundo é que há jogadores que mesmo sendo detentor de um futebol mais qualificado, não dispõe da estrutura psicológica necessária para desenvolver este mesmo futebol na Seleção. Aí, aqueles que não são craques, como o Hulk, às vezes acabam assumindo a vaga daqueles que sendo bons jogadores no Clube, não conseguem o mesmo desempenho na Seleção. Eu, como a maioria prefiro o Lucas, mas é preciso ver se ele tem a têmpera para necessária para assumir a absoluta titularidade, coisa que ele ainda não conseguiu nem lá na França. Tomara que ele tenha!

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  8. Lucas foi titular do PSG nos últimos 4 jogos da Champions League Antonio! Contra Valência e Barcelona, logo após voltar de uma lesão… E lembremos, que a taça européia é a mais importante competição para os grandes clubes do outro lado do Atlântico…

    Ser reserva em jogos do Francês e Copa da França não quer dizer absolutamente nada, pois lá, existe a cultura de se fazer um grande rodízio na onzena titular do elenco em jogos de menor expressão.

    Abraço meu caro!

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  9. kkkk Verdade Gerson, e o papai lembrou outro grosso aqui: Chicão!!! Que jogou a Copa de 78, enquanto Falcão, o Rei de Roma ficou chupando dedo no Brasil…. Brincaaaanagem, diria Tim Maia!

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  10. Fala Israel! Mas cá pra nós, brilhar no segundo escalão do futebol europeu é bem mais difícil do que no brasileirão. Daqui a pouco o imperador faz um golzinho no Inter e já vão querer o cara na Copa. Aliás, se o Hulk quisesse jogar no Brasil, alguém duvida de que ele iria ser disputado a tapa e que se daria muito bem?

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  11. Fala Maurício!
    Veja bem, tenho minhas dúvidas quanto a estas dificuldades em relação ao futebol do Brasileirão. O que os diferencia é aquilo que estamos cansados de debater por estas bandas: planejamento, gestão profissional, organização e evolução tática, o aprimoramento do futebol coletivo ou do futebol total (que é mais velho do eu, diga-se).

    Mas, tecnicamente, eles estão um patamar abaixo ou dois. Basta nos perguntarmos quantos craques de primeira grandeza o futebol português, russo e turco, por exemplo, revelaram ao mundo nos últimos 20 anos??? Figo, Cristiano Ronaldo, Rui Costa e, e, e, e…. Pensemos…

    Não a toa, seus campeonatos estão povoados de jogadores brazuca. Prova inconteste da nossa qualidade inata para condução e habilidade com a pelota. E aí há também uma equação inversamente proporcional: Quanto mais dinheiro e organização lá, menos craques por aqui…

    Só que estamos falando da Seleção Brasileira. Para ela, tudo isso é indiferente. Ela pode contar com os melhores, independente de onde joguem. E sob este aspecto, definitivamente, em minha opinião, Hulk que é o ponto-chave aqui, não está entre eles.

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  12. Israel, dois elementos militam a favor de sua opinião. Em 2013, o Lucas esteve em campo em 10, dos 19 jogos que ainda restavam do campeonato Francês, temporada 2012/2013. Esteve em campo nos 4 jogos que o time francês disputou da liga dos campeões. Com efeito, levando em conta que ainda se ressentiu de contusão, é de asseverar que ele vem tendo êxito no início de sua escalada na França.

    Agora, lhe chamo atenção para um aspecto, sobre o qual me pergunto se tem alguma significância acerca do que você afirmou no seu comentário: o Matuidi (37), o Ibra (34), o Sirigu (33), o Maxwell (33), Pastore (34) dentre outros, estiveram presentes em um número significativíssimo dos 38 jogos do campeonato francês 2012/2013. Enfim, isso me dá a impressão que estes realmente já são titulares do time independentemente da competição.

    Outra coisa, reafirmo que não duvido que o Lucas tenha futebol pra ser titular na França, ou mesmo noutro clube do mundo, nem mesmo no time da CBF. O que acho é que ainda precisa ser verificado se ele dispõe, além do excelente futebol, daquele plus indispensável para disputar uma copa como titular absoluto. A têmpera psicológica que distingue determinados jogadores de outros. A propósito, o Raí é um ótimo exemplo de jogadores que foram craques em clubes, inclusive na própria França, mas pela carência daquele plus não resistiram à copa. O Ronaldinho Gaúcho, numa escala menor pode ser outro exemplo, colhido no futebol francês. O próprio Juninho Pernambucano também pode ilustrar este exemplário.

    Abraço pra você também, meu caro.

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  13. Saudades das notícias e jogos do Papão. Não vejo a hora dessa Copa da Confederações chegar logo ao fim. Até entendo a vontade e desejo dos remistas, que por eles a Copa se prolongaria até o final do ano, assim teriam por quem torcer e não precisariam ficar torcendo por 19 times. Mas pra azar deles, dia 02.07.2013, voltarão a cruel realidade.

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