Por Gerson Nogueira
O Brasil estreia na Copa das Confederações e, ao contrário de tantas outras vezes, não pode ser visto como franco favorito. Nem estou levando em conta a colocação ruim no ranking da Fifa, explicável pela não participação nas eliminatórias, mas tomando por base as últimas participações nacionais em competições importantes.
A última conquista de vulto foi coincidentemente na última edição da Copa das Confederações, em 2009, na África do Sul. Naquela ocasião, sob o comando de Dunga e ainda sob desconfiança generalizada, o Brasil não teve muitos problemas para chegar à final contra os Estados Unidos, seu adversário mais difícil no torneio. O triunfo solidificou a posição do Capitão do Mato, que a partir de então se tornou intocável.
Desta vez, não há dúvida quanto à intocabilidade de Felipão à frente do escrete. É o técnico dos sonhos da cúpula da CBF, tem um título mundial a ostentar e não parece vulnerável a eventuais apupos da torcida. Nem mesmo um insucesso na Copa das Confederações será capaz de ameaçar a posição do técnico gaúcho.
As preocupações de Felipão se concentram certamente na estruturação do time, que evoluiu nos últimos confrontos amistosos, mas ainda está longe de inspirar confiança plena. De positivo, o técnico tem reafirmado sua aposta em Neymar como o grande astro da companhia.
Felipão decidiu abraçar a causa de Neymar, mesmo que não exista consenso no país do futebol quanto à condição de craque do ex-santista. Muitos continuam a vê-lo como mero artefato de propaganda, situação reforçada pela fase pouco produtiva do atacante em 2013. As comparações com Robinho, outro santista que surgiu com muito brilho e aos poucos foi saindo de cena, são cada vez mais frequentes.
Com o mérito pessoal de ter apostado tudo em Ronaldo Fenômeno quando o mundo marchava em direção oposta, em 2002, Felipão tem crédito junto à galera, mas sabe que eventuais tropeços na Copa de podem acabar com a sua paz. O torcedor, normalmente atento quando o tema é Seleção Brasileira, está ainda mais sensível a um ano da Copa do Mundo.
Para fazer bom papel na Copa das Confederações e vencer a Copa do Mundo, Felipão precisa muito de um Neymar no nível daquele garoto que explodiu no Santos em 2009/2010. Caso consiga reeditar o futebol que jogava no começo da carreira, principalmente quanto à capacidade de surpreender com dribles e arrancadas, Neymar será certamente um dos astros do Mundial.
Acontece que, para atuar em alto nível e com resultados convincentes, Neymar precisa ficar inteiramente à vontade na Seleção. Até hoje, apesar de alguns espasmos, nunca atuou com a camiseta amarela como fazia vestindo o uniforme alvo do Santos.
Algumas soluções têm sido buscadas, como um discreto recuo para buscar jogo, como no amistoso contra os franceses, mas o artifício contribuiu para deixar Neymar ainda mais longe da zona de campo onde seu futebol mais brilha: o entorno e o interior da grande área. Tanto que seu melhor momento foi no lance do segundo gol, quando foi lançado por Lucas e tocou de primeira para Hernanes disparar o chute fatal.
Felipão adora jogar com centroavante fixo e Fred ganhou a posição pela precisão dos arremates. A dúvida é se o posicionamento centralizado de Fred não atrapalha as evoluções de Neymar, cuja presença não é mais tão frequente. A ausência de atividade mais intensa dos laterais Daniel Alves e Marcelo também contribui para o baixo rendimento do jovem avante. Por fim, a companhia de um jogador de força como Hulk em nada colabora para que o estilo técnico e habilidoso de Neymar desabroche.
Caso queira de fato aproveitar todo o potencial de seu melhor jogador, Felipão precisará rever seus planos para a arrumação ofensiva da Seleção. As soluções estão no próprio elenco: Hernanes e Lucas, hoje suplentes, ajudariam Neymar a sair da solidão atual no time.
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Expectativas em torno dos campeões mundiais
A Copa das Confederações é um torneio preparatório para o banquete principal. Isso inclui o teste das arenas suntuosas e a própria avaliação da força de algumas seleções. A campeã mundial Espanha é a grande atração, gerando expectativas sobre seu desempenho. A recente queda vertiginosa do Barcelona e do Real Madri, alijados das finais da Liga dos Campeões da Europa, pode influir na produção da equipe de Vicente Del Bosque.
A Itália, cuja tradicional capacidade de surpreender não pode ser menosprezada, vem cercada da habitual descrença. Desta vez, porém, traz um combo de experiência (Buffon, Pirlo) e juventude (Balottelli) que pode vir a ser uma das sensações da competição.
Os demais times, incluindo o Uruguai, devem ser considerados como coadjuvantes, embora o México já demonstre aqui e ali algumas pretensões maiores. E um dos motivos disso foi dado pelo próprio Brasil (de Mano Menezes) no recente torneio de futebol olímpico, em Londres.
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Um torneio para bolsos recheados
O ingresso mais caro a ser pago na Copa das Confederações custa R$ 684,00 da categoria 1 nas arenas Fonte Nova e Pernambuco – tema de fascículo especial neste domingo, no DIÁRIO. Só para efeito de comparação, na África do Sul, há quatro anos, os ingressos mais salgados chegavam a R$ 450,00.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste sábado, 15)